O mundo é das crianças



O Pai Natal sentiu que já estava mas era a “encher o saco”, e nem esteve para esperar pelos Reis. Decidiu ir-se já embora, mas como é uma pessoa de bem e educada, não se foi sem nos deixar umas palavrinhas.



“No ano passado tinha-vos dado aquele brinquedo novo dos blogues. Vi que andaram muito excitados, e eu fico sempre muito contente quando os meninos se satisfazem com as coisas lhes dou sem pedirem. Agora vejam lá... aquilo é bonito, mas não é para vocês estragarem. Brinquem com compostura, porque só se fazem crescidos dando-se ao respeito; e se é verdade que só vos lê quem quer, há meninos que são muito crédulos e ainda acreditam em tudo o que vocês dizem; pensem nas vidas que podem estragar.

Aliviem pois, mas também não sejam muito chatos. Mesmo assim eu distraio-me a ver meninos que passam o tempo a dizer porque é que escrevem, porque é que não escrevem, porque é que escrevem sobre isto, mas já não escrevem sobre aquilo, desfazem-se em explicações porque é que estiveram sem escrever, que se calhar não aguentam a pressão de escrever sempre, que afinal escrever é giro, e agradecem, e incensam, e é porque os compreendem, e é porque não os compreendem, e é porque não são como os outros, e é porque são como todos. Se calhar já estou arrependido de vos ter desmamado do Messenger cedo demais...

Olhem que os senhores do blogger deram-me isto na condição de trocar. E ainda podem desligar a coisa da ficha. E isso dava-me pena, porque ver os meninos entretidos sem chatearem os senhores crescidos, é das melhores coisas que eu posso fazer pela paz no mundo.

Houve um menino que ficou chateado porque não queria um blogue, e que preferia ter recebido mesmo a pista de automóveis. Fiquei com pena, mas pode ser que ele ainda perceba que é praticamente a mesma coisa: só se brinca com carrinhos a fingir, e anda-se sempre à volta não se saindo do mesmo sítio.

E esta coisa de chamarem ao brinquedo o “sítio” também é comovente. Mesmo sem vos ter oferecido uma assinatura da “Science et vie”, já vos vejo a tratarem o conceito do “Espaço” sem complexos, e sem as limitações da física clássica. Enternecem-me quando dizem, do género: “ aqui neste meu espaço”. É o verdadeiro amor à topografia.

A próxima revolução será quando descobrirem mesmo a nova força básica da natureza. A inspiração provocada pela nova descoberta do núcleo do átomo do conhecimento, dará às vossas palavras uma força que tirará definitivamente a verdade do poço. Qual “gravidade”, qual “electromagnética”: será a força do blog. A força das ideias livres correndo e desafiando o seu destino, ao arrepio das profecias.

Poderei nessa altura ir descansar, até porque as minhas renas estão a ficar incontinentes e eu já não ganho para as fraldas.”

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