A “bola” acabou. A fada foi madrinha.



Um ”lagarto” como eu olha para um Benfica-Sporting com a mesma terna inquietação com que olha para a economia da salvação. O buraco de uma agulha...a porta estreita... o reino dos céus só aparece mesmo quando a gente não está à espera.

"Infelizes" dos que não podem desfrutar deste mareamento que produz a “aficción” clubista do futebol.

Não sabem que só um insulto mais ou menos sussurrado, ou uma vontade-bem-sentida de esganar alguém é que podem libertar uma alma aparelhada pelas grilhetas do incompreensível. É o absoluto-relativo que se torna apenas absoluto. Despedimos a razão e estamos a borrifar-nos para a justa causa. Os olhos já não vêem, apenas fazem uma refracção viciada, vibrante e viciante. Como numa tragédia. Como numa comédia.

Um penalty é um regaço. Quando o leitinho escorre para o nosso lado.

A estética da “bola” não se pode dizer que seja complexa, nem sequer rica, mas gosto de vivê-la num conceito de fronteira: ”Interessante”. E ainda de conviver com ela na baba do ideal romântico a “ver lá muito mais do que aquilo que lá está”. Não estou com a nostalgia do divino, nem do infinito, mas apenas a embebedar-me na vitória. O novo dicionário não ilustrado hoje para festejar foi enfrascar-se numa delectatio morosa. ( entradas 410 a 418)



Política da “paradinha” – Gostar de refrear um pouco para insinuar que se vai legislar num sentido, para depois poder “atirar” à vontade para o lado contrário da populaça, que fica a fazer aquela carinha de carneiro mal morto, olhando conformada para a sobranceria do “rematador”, e derramando suspiros sobre o infortúnio da sua condição.



Políticos de “fora-de-jogo” – Quando a realidade está a avançar, eles ficam parados à espera de que lhes ponham outra vez o mundo ao pé deles, e no estado em que eles o encomendaram.



Políticos de “arremesso lateral” – Pelam-se por ver os outros aos encontrões, aparentemente em suspenso daquilo que eles vão fazer. Da sua actividade não sai nada de jeito, e o seu momento de glória é mesmo quando estão apenas a ameaçar que fazem.



Políticos de “carga de ombro” – Não pensam de jeito, não se antecipam a nada, não tomam a iniciativa, apenas correm atrás dos outros, esperando o momento de desequilíbrio para se encostarem, fazendo então aí a figura dos fortes e avisados que agem sempre dentro da lei.



Política de “simulação” – No fulgor que é o drible, a política extasia-se em passar por onde não se espera. De surpreender. Mas não gosta que atrapalhem, que façam muitas perguntas. Fazer de incompreendidos no meio duma trapaça, é então uma matreirice que ora rende muito bem, ora entala a enguia a caminho do ensopado.



Políticos da retranca – Estão sempre à coca para aproveitar uma falha de marcação dos amargurados que desconfiam dos iluminados; logo lançam um contra-ataque fatal, sôfregos com o prenúncio do massacre.



Políticos de “folha seca” – Não agem de frente, nem agem com balanço próprio, aproveitam sempre os factos que lhes aparecem a saltitar, para aplicarem uma sapatada bela, irónica e blasé, com o ar de que chegam sem esforço onde os outros se têm de esfalfar e carpir.



Políticos de “chuta para canto” – Viver no sufoco de ser controlado, de ter de mostrar serviço, de fazer pela vida, é uma canseira para mamíferos que não gostam de respirar fundo com frequência. Como as suas prerrogativas não incluem umas guelras de serviço para poder ir relaxar para os corais, a única safa é mesmo, de vez em quando, entreterem o resto pessoal com as notícias servidas a preceito.



Políticos da “bola de ressaca” – São aqueles que deixam rolar os factos quando eles vão aparecendo pela primeira vez, e resguardam-se para apanhá-los mais a jeito, já depois de terem sido trabalhados e embrulhados pelos comentadores de turno.

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