Hoje o novo dicionário não ilustrado ficou-se no ilusionismo semiótico. No desprezo pelas palavras. Mas ainda apenas com aqueles sinais que pouco valem sem elas. Um chorrilho de “xis entradas” ao bom estilo das revistas do psicologismo fácil e flácido. Puras psicolites. Até porque de facto se os sentimentos não servirem para ser explorados servem para quê? ( entradas 466 a 474 )
" ; " - Quando não se consegue viver com a imperfeição. Nunca decidimos se é desta que vamos partir para outra. São as vidas de “ponto e vírgula”. Vidas medrosas de dizer que já acabámos, que não damos mesmo mais que aquilo.
" : " - Precisamos sempre de descobrir uma consequência. Nada se consegue fechar numa vaga simplicidade, num incipiente desconchavo. São as vidas de “dois pontos”, da “vertigem da justificação”.
" () " – Não conseguir viver tudo por atacado. Perdidos no meio da continuidade, refugiados no mito da reflexão. São as vidas de “parênteses”. Saltando de “livro branco” em “livro branco”.
" . . . " – A incapacidade de terminar em beleza explícita. Deixar sempre a entender que nós estamos mais além, mas que por vezes não podemos dizer. São as vidas de “reticências”, do ” não sei se vocês estão a ver”. Irónicos de polichinelo.
" «» " - Estar por conta. Esperar que façam por nós. Pensar que tudo se repete. Não compensa o esforço de aproveitar a singularidade. São as vidas em “aspas”. Do já foi tudo explicado.
" ! " – Deslumbrem-se connosco. Coitados dos que não nos podem desfrutar em condições. Vá aproveitem enquanto tenho tempo para vocês. São as vidas de “ ponto de exclamação”. Saracoteios de convencimento empinado.
" - " - Juntar sem fazer tocar. Deixar afastado sem perder a ligação. Vítimas duma condição de eternos medrosos do outro, mas também seus dependentes. São em vidas de “hífen”. As vidas babadas de compromissos.
" _ " - Carregar no lombo a lógica dos outros. Ser falangetas duma manápula pensadora. São as vidas de “travessão”, dos que se limitam a seguir os rastos duma mijadela vaidosa, julgando-se no trilho de predadores.
" ? " – Fazer da dúvida a idolatria mais à mão de semear. Batotices da pura ignorância. Incapazes de lidar com a aparência de contradição. São as vidas de “ponto de interrogação”. Amantes da verdade em versão flatulenta.
Seremos tudo isto. Meros instrumentos de pontuação. Não. Somos antes valentes rabiscos.
Desgraçadamente nenhum creme adelgaçante quis patrocinar esta coisa.
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dicionário não ilustrado
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