As anotações de um picheleiro dos afectos

Caderno 1 - Tratado de educação sentimental para homens bons

6º capitulo - Vulcão de estrelas

A noção pós romântica de que o homem é um ser geneticamente impreparado às mãos do ser hormonalmente superior que é a mulher faz ciclicamente algum sucesso estético, no entanto, este pequeno compêndio em capítulos não pretende abusar de nenhum efeito de miserabilismo lírico.

Para a mulher, o sentimento-amor vem programado como sendo um resíduo tóxico, algo como o subproduto duma parafilia que o espécime masculino não conseguiu estripar da sua cadeia artesanal de sentimentos avulsos. Ciente deste defeito de fabrico do homo sapiens, - versão com pendentes na zona púbica - a mulher fez, desde há muito, correr a ideia generalizada de que está sempre em suspenso duma grande paixão que a apazigúe que nem uma canção do José Pedro Pais, dando, por isso, azo a que o homem desenvolva aquela lúbrica convicção de que se pode constituir no objecto essencial para a mulher alcançar tal desiderato e, de brinde, ainda brincariam às enfermeiras.

Ora que a paixão se apresente como constituinte essencial na vida da mulher, concedo como hipótese de trabalho, mas nenhum sinal evidencia que seja pelo homem. O homem é uma alavanca afectiva da mulher. Segurança, conforto, animal de companhia, espelho amestrado, fecundador asseado. O macho-homem é para a fêmea-mulher o ser logístico por excelência, e o afecto-amoroso um puro amplificador de entropia.


Fica uma questão pertinente no ar: como é que o homem ao longo dos séculos não aprende? Atentemos que o homem até aprendeu a tirar pura merda do rabo dos filhos; em situações limites, entenda-se. A explicação é esta: a mulher desgasta-se na produção da renda, mas o homem resolve despachar a coisa logo com o bibelot. Um bibelot é uma coisa que se pode adorar, uma renda é algo pensado para se construir. A mulher pensa que constrói o homem, o homem pensa que a mulher o decora. O amor-sentimento é um mero joguete nesta equação interminável.

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