As anotações de um picheleiro dos afectos

Caderno 2 – Compêndio de teoria politica para mulheres curiosas

2º capitulo - Joelho femea

Uma das questões cruciais para o sucesso da mulher-política é a organização e qualificação do seu assessoramento (*). A mulher quer-se assessorada em condições e para tal precisa de assessores competentes e dum local conveniente para se assessorar; como um bom assessoramento nunca é de mais, poderia mesmo dizer-se que para a mulher o assessuro morreu de velho, não fosse o caso de, geralmente, ela dar cabo dele antes.

Para o assessoramento da mulher-política o elemento essencial é o famoso ‘Gabinete de Estudos’. A escolha do local e da decoração do Gabinete de Estudos representam um momento chave na carreira de qualquer mulher-política.

A mulher empossada, antes de definir qualquer política que seja, deve, em primeiro lugar, escolher os cortinados do ‘gabinete de estudos’. O cortinado estará para a mulher-política como o chauffeur está para o homem: é um confidente leal, um cúmplice para os seus devaneios, e não poucas vezes o primeiro a abrir-lhe a porta para um mundo cruel, ingrato e impiedoso. Mas a mulher alcança aqui uma grande vantagem: consegue falar com o cortinado sem complexos, como de igual para igual se tratasse.

Escolhido o cortinado que lhe enquadre, resguarde e preserve o assessoramento, a mulher deve virar-se para o almofadado. Ora o almofadado do gabinete de estudos assume um papel determinante nos assessoramentos mais agressivos e impulsivos. O assessoramento de impulso ocorre geralmente em momentos de crise, quando são exigidas por vezes medidas mais radicais e de implementação rápida, e um bom almofadado é condição sine qua non para que assessor e assessorada não trilhem uma virilha num despacho, ou mesmo fiquem colados a uma napa jurídica de qualidade mais ruim.

A escolha dos assessores é igualmente um momento muito delicado na carreira de qualquer mulher que tenha enveredado pela política como alternativa aos Arraiolos. O assessor ideal deve ser maneirinho, certeiro no powerpoint, bons conhecimentos de línguas (por causa da ratificação de tratados internacionais), e – preferencial (**) – saber fazer trancinhas. Um assessor prendado pode ser um autêntico assessoiro.

A mulher bem assessorada apresenta assim índices de eficácia muito interessantes, e há autores que inclusivé defendem a mulher assessorada em detrimento do homem a fungar do nariz.


(*) Se atentarmos bem nas primeiras críticas a MFL pelo inefável Lino foi precisamente a de que estava «mal assessorada».

(**) Vidé ‘capítulo 1 – Tarraxa’

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