Litografia de Leonid Tishkov (n. 1953), de 1994, incluída num conjunto de 20 denominado ‘Estômago em aflição’, e dedicado ao nosso aparelho digestivo e à nossa alma. Pertence à ‘LS Collection’ de livros de arte russos do séc XX. (Esta digitalização manhosa foi retirada do catálogo da sua exposição na Europalia.russia de 2005)
com a tripa às costas
Litografia de Leonid Tishkov (n. 1953), de 1994, incluída num conjunto de 20 denominado ‘Estômago em aflição’, e dedicado ao nosso aparelho digestivo e à nossa alma. Pertence à ‘LS Collection’ de livros de arte russos do séc XX. (Esta digitalização manhosa foi retirada do catálogo da sua exposição na Europalia.russia de 2005)
Litografia de Leonid Tishkov (n. 1953), de 1994, incluída num conjunto de 20 denominado ‘Estômago em aflição’, e dedicado ao nosso aparelho digestivo e à nossa alma. Pertence à ‘LS Collection’ de livros de arte russos do séc XX. (Esta digitalização manhosa foi retirada do catálogo da sua exposição na Europalia.russia de 2005)
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das leituras na praia
"Il y a dans les jardins zen de Kyoto un sable blanc à gros grains, qui a la propriété de refléter les rayons de la lune."
[por um moço nascido em Cuba e chamado Calvino, Italo, a quem deu na ideia escrever um livro que a Seuil de Paris editou (ora deixa-me ver... este em 1998) com o, afrancesado enfim, nome de "La Collection de Sable"]
"Il y a dans les jardins zen de Kyoto un sable blanc à gros grains, qui a la propriété de refléter les rayons de la lune."
[por um moço nascido em Cuba e chamado Calvino, Italo, a quem deu na ideia escrever um livro que a Seuil de Paris editou (ora deixa-me ver... este em 1998) com o, afrancesado enfim, nome de "La Collection de Sable"]
Die Bibliothek der Fantasie
(isto em alemão soa com outra pintarola)
1. secção ‘valha-me deus’
«Há muitos anos ( mas é como se fosse ontem) que tenho ao serviço da minha arte uma vivaz donzela, mas nem por isso nova no ofício.
Chama-se Fantasia.
É um pouco depreciativa e burlesca (...) e diverte-se trazendo-me a casa (...) a gente mais insatisfeita do mundo : homens , mulheres, adolescentes, envoltos em estranhas histórias das quais não encontram maneira de sair»
(Tradução livre de excerto do prefácio de ‘Seis personajes en busca de autor’ . edição espanhola da obra do nosso amigo Pirandello , na Cátedra, pg. 83, saidínha da prateleira nº 100, onde estão os livros que se compram para se dizer que se tem.)
2. secção ‘eles & elas’
«A Fantasia também vende mais que a Ficção Científica (...) porque as mulheres, que são quem compra mais livros, lêem mais fantasia e os homens, que preferem a tecnologia à magia, lêem mais ficção científica»
(dum tal de João Barreiros, numa entrevista ao 6ª (suplemento do DN) que estava deitado em cima do sofá praticamente ao deus dará)
3. secção ‘figuras de estilo’
«Comme tous les poètes d’école, les poètes fantaisistes se sont dèfinis contre ceux de l’école précédente, les symbolistes, en l’occurrence. Ils les trouvaient vagues et emphatiques: ils seraient précis et ironiques. Leur point bas sera donc la frivolité, leur point haut la légèreté.»
(do (muito bom) ‘Dicionnaire égoiste de la littérature francaise’ de Charles Dantzing, Grasset, pg 289, retirado da prateleira 90 , onde qualquer livro tão bem assenta)
4. e a inevitável secção de ‘comes & bebes’
« tenta encontrar um lugar nas suas recordações para o cassouret, um denso estufado de carne e feijão (...) , mas sem a memória do paladar nem a memória cultural vêm ao seu auxílio. E no entanto, o nome, a visão, a ideia, atraem-no, redespertam nele uma instantânea fantasia, não tanto na boca quanto no eros: do meio de uma montanha de banha de ganso surge uma figura feminina que unta de branco a pele cor de rosa, e já ele se imagina a si próprio a abrir caminho em direcção a ela»
(de ‘Palomar’ do Italo Cavino, sacado duma prateleira qualquer da estante duma mulher)
Não encontrei nada na secção ‘estender a ropinha’, mas, com mais vagar, procurarei melhor
(isto em alemão soa com outra pintarola)
1. secção ‘valha-me deus’
«Há muitos anos ( mas é como se fosse ontem) que tenho ao serviço da minha arte uma vivaz donzela, mas nem por isso nova no ofício.
Chama-se Fantasia.
É um pouco depreciativa e burlesca (...) e diverte-se trazendo-me a casa (...) a gente mais insatisfeita do mundo : homens , mulheres, adolescentes, envoltos em estranhas histórias das quais não encontram maneira de sair»
(Tradução livre de excerto do prefácio de ‘Seis personajes en busca de autor’ . edição espanhola da obra do nosso amigo Pirandello , na Cátedra, pg. 83, saidínha da prateleira nº 100, onde estão os livros que se compram para se dizer que se tem.)
2. secção ‘eles & elas’
«A Fantasia também vende mais que a Ficção Científica (...) porque as mulheres, que são quem compra mais livros, lêem mais fantasia e os homens, que preferem a tecnologia à magia, lêem mais ficção científica»
(dum tal de João Barreiros, numa entrevista ao 6ª (suplemento do DN) que estava deitado em cima do sofá praticamente ao deus dará)
3. secção ‘figuras de estilo’
«Comme tous les poètes d’école, les poètes fantaisistes se sont dèfinis contre ceux de l’école précédente, les symbolistes, en l’occurrence. Ils les trouvaient vagues et emphatiques: ils seraient précis et ironiques. Leur point bas sera donc la frivolité, leur point haut la légèreté.»
(do (muito bom) ‘Dicionnaire égoiste de la littérature francaise’ de Charles Dantzing, Grasset, pg 289, retirado da prateleira 90 , onde qualquer livro tão bem assenta)
4. e a inevitável secção de ‘comes & bebes’
« tenta encontrar um lugar nas suas recordações para o cassouret, um denso estufado de carne e feijão (...) , mas sem a memória do paladar nem a memória cultural vêm ao seu auxílio. E no entanto, o nome, a visão, a ideia, atraem-no, redespertam nele uma instantânea fantasia, não tanto na boca quanto no eros: do meio de uma montanha de banha de ganso surge uma figura feminina que unta de branco a pele cor de rosa, e já ele se imagina a si próprio a abrir caminho em direcção a ela»
(de ‘Palomar’ do Italo Cavino, sacado duma prateleira qualquer da estante duma mulher)
Não encontrei nada na secção ‘estender a ropinha’, mas, com mais vagar, procurarei melhor
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In a minute, sir
Uma maid é uma maid (não, aquilo não é uma farda fetichista nem de dominatrix, desengane-se) e não está ao seu serviço senão para o satisfazer. Sente-se, quieto, e escute "your life as a sequel" dos Lambchop em fundo (daradada... should i know your place / and my place or undiscovered / through a curtain or refinery / not certain or temporary / daradada...) como preliminar para a degustação da minha por enquanto apenas receita de perna de borrego com nabos:
Aproveita-se uma perna de borrego previamente assada (é o mais sensato, claro, quando os dentes já acusam o uso). Desossa-se com cuidado e envolve-se delicada mas completamente em tiras acetinadas de presunto (porco, ok? reabilitado do fundo do esterco pela citação de Bernard Shaw via Abrupto) 15 den. Polvilha-se com farinha de trigo (fina ou ultra-fina, com um pom-pom de preferência) e leva-se ao lume em manteiga derretida (mas não liquefeita porque seria mais inútil que um bronzeador de écran total). Logo que tenha tomado cor (a gosto, há quem prefira tons de carne mais claros), junta-se-lhe um caldo de bom cognac (por todos os santos, a evitar o vodka, em absoluto!) e deixa-se cozer em fogo brando (por todo o tempo necessário, ainda que à custa de muito investimento em energia e doses maciças de resiliência). A meio da cozedura (ou quando se sentir abrandar a resistência carnal) juntam-se-lhe cenouras, batatas, cebolinhas e finalmente nabos, tudo partidinho por quartos (mas nunca ao acaso! haja preceito e cuidado, isto não é uma jardineira!!!). Logo que os legumes estejam cozidos ('ternes' como dizem os franceses, já a dobrar sem opôr resistência a dedos ou garfos) põem-se de lado, deitados numa travessa, ornamentando a carne doirada. Serve-se quente, de imediato. Como ao pecado. Da dita, mas sem o murillo para evitar cenas nas revistas cor-de-rosa ou alarido em blogs de histéricas vegan ou auto-consideradas honorárias da LPN.
[Nota de edição: apesar de continuar 'sentado e quieto' e só sair desta posição quando receber instruções nesse sentido, assumo uma desconfiança natural - no sentido (shakespeariano) de impulsiva - sobre receitas sem sal e com a demasiada exposição dos legumes 'deitados numa travessa'; e, a despropósito, deixo-lhe ainda, querida mad'am, a sugestão de visitar umas clássicas-costas-nuas-de-homem, que tanto a inspiram, na seta despedida; ternement, antº]
[Acatada a sugestão para admirar o másculo exemplar, pétreo como convém, em exibição na Seta despedida, concluo da necessidade de uma viagem rápida a Nápoles para reeducar o gosto - da última vez que lá estive preocupei-me com o cone do Vesúvio, infrutiferamente. Servidora sua consciente que sou, peço-lhe encarecidamente que retorne às, muito suas, afrodites agachadas e deixe, por conta de quem melhor domine o tema, os apolos erectos. Já pode levantar-se, é claro. a.]
[Já levantado e recomposto, e ‘se a minha constituição é tão boa, minha mente/ tão genuína e minhas formas tão autênticas’ sinto-me agora qual homo erectus – fraudulentamente shakespeariano, claro - a olhar para o cone do Vesúvio e a pensar numa bela sardinhada acompanhada de pão de lenha da Ereira, se é que me permite mais esta agachada gourmeterie desafroditada; antº ]
[Por bem o escuto, odmundo, preferindo embora o bobo. Mui me espantara tão fermosas propriedades de constituição, mente e formas, fruto fossem, que não apenas ideia de vis gentes, de 'fugaz e natural lascívia'. Por mim aqui me basto, posto que 'comigo está tudo certo desde que como eu preciso'. E de momento apenas lhe peço que me faça chegar as molas porque a roupinha, que havia a lavar, por hoje lavada está, estendida à lua será e amanhã outro sol a corará. a.]
Assinalados por ' - excertos de falas de Edmundo, Rei Lear (1.2)
Uma maid é uma maid (não, aquilo não é uma farda fetichista nem de dominatrix, desengane-se) e não está ao seu serviço senão para o satisfazer. Sente-se, quieto, e escute "your life as a sequel" dos Lambchop em fundo (daradada... should i know your place / and my place or undiscovered / through a curtain or refinery / not certain or temporary / daradada...) como preliminar para a degustação da minha por enquanto apenas receita de perna de borrego com nabos:
Aproveita-se uma perna de borrego previamente assada (é o mais sensato, claro, quando os dentes já acusam o uso). Desossa-se com cuidado e envolve-se delicada mas completamente em tiras acetinadas de presunto (porco, ok? reabilitado do fundo do esterco pela citação de Bernard Shaw via Abrupto) 15 den. Polvilha-se com farinha de trigo (fina ou ultra-fina, com um pom-pom de preferência) e leva-se ao lume em manteiga derretida (mas não liquefeita porque seria mais inútil que um bronzeador de écran total). Logo que tenha tomado cor (a gosto, há quem prefira tons de carne mais claros), junta-se-lhe um caldo de bom cognac (por todos os santos, a evitar o vodka, em absoluto!) e deixa-se cozer em fogo brando (por todo o tempo necessário, ainda que à custa de muito investimento em energia e doses maciças de resiliência). A meio da cozedura (ou quando se sentir abrandar a resistência carnal) juntam-se-lhe cenouras, batatas, cebolinhas e finalmente nabos, tudo partidinho por quartos (mas nunca ao acaso! haja preceito e cuidado, isto não é uma jardineira!!!). Logo que os legumes estejam cozidos ('ternes' como dizem os franceses, já a dobrar sem opôr resistência a dedos ou garfos) põem-se de lado, deitados numa travessa, ornamentando a carne doirada. Serve-se quente, de imediato. Como ao pecado. Da dita, mas sem o murillo para evitar cenas nas revistas cor-de-rosa ou alarido em blogs de histéricas vegan ou auto-consideradas honorárias da LPN.
[Nota de edição: apesar de continuar 'sentado e quieto' e só sair desta posição quando receber instruções nesse sentido, assumo uma desconfiança natural - no sentido (shakespeariano) de impulsiva - sobre receitas sem sal e com a demasiada exposição dos legumes 'deitados numa travessa'; e, a despropósito, deixo-lhe ainda, querida mad'am, a sugestão de visitar umas clássicas-costas-nuas-de-homem, que tanto a inspiram, na seta despedida; ternement, antº]
[Acatada a sugestão para admirar o másculo exemplar, pétreo como convém, em exibição na Seta despedida, concluo da necessidade de uma viagem rápida a Nápoles para reeducar o gosto - da última vez que lá estive preocupei-me com o cone do Vesúvio, infrutiferamente. Servidora sua consciente que sou, peço-lhe encarecidamente que retorne às, muito suas, afrodites agachadas e deixe, por conta de quem melhor domine o tema, os apolos erectos. Já pode levantar-se, é claro. a.]
[Já levantado e recomposto, e ‘se a minha constituição é tão boa, minha mente/ tão genuína e minhas formas tão autênticas’ sinto-me agora qual homo erectus – fraudulentamente shakespeariano, claro - a olhar para o cone do Vesúvio e a pensar numa bela sardinhada acompanhada de pão de lenha da Ereira, se é que me permite mais esta agachada gourmeterie desafroditada; antº ]
[Por bem o escuto, odmundo, preferindo embora o bobo. Mui me espantara tão fermosas propriedades de constituição, mente e formas, fruto fossem, que não apenas ideia de vis gentes, de 'fugaz e natural lascívia'. Por mim aqui me basto, posto que 'comigo está tudo certo desde que como eu preciso'. E de momento apenas lhe peço que me faça chegar as molas porque a roupinha, que havia a lavar, por hoje lavada está, estendida à lua será e amanhã outro sol a corará. a.]
Assinalados por ' - excertos de falas de Edmundo, Rei Lear (1.2)
Desmaker residence
Shelf service
Estava instalado o alvoroço; a residente mais ilustre tinha solicitado uma camareira bibliotecária. Dizia que psicóloga também dava porque tinha ouvido dizer que os psicólogos dão para tudo, mas era essencial um talento específico em alinhar lombadas e traças por um critério que lhe permitisse nunca se atrasar para o buffet de carnes frias. Dizia-se possuir uma biblioteca singular com obras de fusão, praticamente únicas e de irrepetível originalidade, difíceis de catalogar, de emprateleirar e absolutamente inlincáveis mesmo nos sites mais glamoroso-gutemberguianos.
Apresentou-se uma serviçal trajando de negro rendado, de coxas robustas e olhar de récita parnasiana que logo disse: «farei com as suas prateleiras o que a seda faz ao meu busto». «Olhe que os meus livros são como a minha sedução: de difícil arrumação» respondeu a residente caprichosa e repleta daquela ironia que distingue o sumol da sangria. Parecia instalar-se no ar um ambiente de desafio: uma bibliotecária de espanador e uma hóspede que era um amor.
Os caixotes enchiam a suite, o desafio estava ali, ri-te ri-te, depois de comer umas migas a camareira desapertou as ligas e fez-se à vida sob o olhar da nossa querida.
Sai-lhe logo um difícil, ‘Seis personagens à procura de um Godot’, de um tal de Pirandeckett, obra de teor religioso-ficcional em que na última ceia metade dos discípulos bazaram e foram jogar à sueca para o monte das Oliveiras. «Ler isto deve ser um frete, ponho-a na prateleira dezassete».
Rapidamente saca o segundo, um enigmático mas bem ilustrado « Mete a morfose no ovídeo» livro de poemas de Kafkavis, um grego encontrado numa cesta junto ao Bom Jesus de Praga e criado por uma família judia de comerciantes de ananases que depois se transformavam em maçãs rainetas. A camareira nem hesitou: «este vai para a prateleira sete e meia a das noites de diarreia»
Quase em acto contínuo tira da caixa um volume colorido com o título ‘ Agarra-me-o-non’ de um obscuro Esquilmodovar, obra de culto nas mesinhas de cabeceira dos hotéis gay friendly, onde Zeus é preso à cama e Hermes faz-lhe festinhas com a pena duma garça shakespeariana, e que foi directamente para a prateleira vinte e três «a daqueles que nunca lês»
Sem se ter apercebido desta intimidade de tratamento tuteante, avança para outro caixote donde retira o expressivo ‘A cantora marreca de Notre dame’ de Vitor Huguionesco Cardinale, romance picaresco que bebe da novela quixoteana na medida em que uma rabanada de vento faz cair duas gárgulas na carola duma fadista parecida com a marisa, que fica do tamanho da suzana félix, e foi directamente para a prateleira doze « leia disto, minha querida, mas não abuse!»
Sem esperar pela resposta, pega no inesperado ‘Casa de bonecas de Luxo’ de Ibsen Capote, obra enigmática sobre uma mulher que entra num sonho e se vê rodeada de homens de costas largas, longas, apolíneas, recitando de cor o ‘Ulisses no país das maravilhas’ de Homer Joyce Carrol e dando conferências sobre a importância da teoria da relatividade na curvatura dos raios laser, enquanto explicava as nuances do verde alface na obra de Rembrant , e que, quando acorda, decide mudar a cor dos cortinados da sala. «Vais direitinho para a prateleira quarenta e oito que é para se ler depois do ...»...«Estou esclarecida!» interrompeu a nossa residente que já estava estarrecida, «vamos mas é as duas fumar um charro e apanhar uma ganda fedra e depois vamos ao buffet de verduras comer uma saladinha de racines com tartufos para desintoxicar e mostrar ao mundo que somos umas molières d’armas.» E acabaram a ver o pôr do sol com o ‘A gata do tio vânia num telhado de zinco quente’ dum tal de Tenesschkov Williams, que saiu da prateleira cinquenta, daqueles que já não se aguenta.
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Um conflito de territorialidade geralmente leva à necessidade de invenção de diversos espaços com funções de aliviar as pressões, gerir as tensões, potenciar as eventuais oportunidades, atenuar as ameaças e aspergir convenientemente os olhos com areia. Hoje o dicionário não ilustrado dedica-se então a um momento hezbollevax ultra. (entradas 1220 a 1227)
Zonas Tampão – tipo de zona onde as medidas higiénicas superficiais não garantem um serviço limpinho e é necessário actuar com outras em maior profundidade mesmo que estejam presas por um fio.
Zonas Húmidas – zona de potencial e sofisticada nidificação, e por isso especialmente sensível ao uso de repelentes para insectos, fungicidas e outros pesticidas, apesar de servir de encalhe para muitas moscas mortas.
Zonas Protegidas - Zonas de circulação restrita, geralmente apenas ao alcance de pessoal devidamente autorizado e desparasitado; contudo o uso de vedações tem caído em desuso face à actual valorização dos potenciais paisagísticos
Zonas Demarcadas – Zonas destinadas a garantir uma qualidade constante e distintiva ao utilizador do produto, e que permitem separar o trigo do joio, apesar de não eliminarem totalmente a ilusão de que nem tudo no que luz é oiro.
Zonas Francas – Zonas em que com o mínimo esforço se consegue alcançar o máximo desfrute, a superlativa inveja e a exponencial cobiça.
Zona de Transição – Zonas de forte ambiguidade e incerteza que vivem da performance dos compromissos de ocasião, cruzados com as técnicas de movimentação.
Zonas Históricas – Zonas onde houve vida e animação no passado e que agora servem para entreter a imaginação, enriquecer o pessoal dos postais ilustrados e fornecer material didáctico sem medo de estragar nem destruir as provas da pretérita felicidade.
Zona de Caça – São zonas onde a vegetação específica permite a boa alimentação e reprodução das espécies certas e não impedem as vistas ao caçador nem a escapatória à caça.
[Nota de edição: confirmo que não existem repetições numéricas ou de entradas, nem pleonasmos, nem erros ortográficos ou de sintaxe, nem metonímias avulsas ou oxímoros descarados e nem sequer, pasme-se!, caroços de azeitonas. a.]
Zonas Tampão – tipo de zona onde as medidas higiénicas superficiais não garantem um serviço limpinho e é necessário actuar com outras em maior profundidade mesmo que estejam presas por um fio.
Zonas Húmidas – zona de potencial e sofisticada nidificação, e por isso especialmente sensível ao uso de repelentes para insectos, fungicidas e outros pesticidas, apesar de servir de encalhe para muitas moscas mortas.
Zonas Protegidas - Zonas de circulação restrita, geralmente apenas ao alcance de pessoal devidamente autorizado e desparasitado; contudo o uso de vedações tem caído em desuso face à actual valorização dos potenciais paisagísticos
Zonas Demarcadas – Zonas destinadas a garantir uma qualidade constante e distintiva ao utilizador do produto, e que permitem separar o trigo do joio, apesar de não eliminarem totalmente a ilusão de que nem tudo no que luz é oiro.
Zonas Francas – Zonas em que com o mínimo esforço se consegue alcançar o máximo desfrute, a superlativa inveja e a exponencial cobiça.
Zona de Transição – Zonas de forte ambiguidade e incerteza que vivem da performance dos compromissos de ocasião, cruzados com as técnicas de movimentação.
Zonas Históricas – Zonas onde houve vida e animação no passado e que agora servem para entreter a imaginação, enriquecer o pessoal dos postais ilustrados e fornecer material didáctico sem medo de estragar nem destruir as provas da pretérita felicidade.
Zona de Caça – São zonas onde a vegetação específica permite a boa alimentação e reprodução das espécies certas e não impedem as vistas ao caçador nem a escapatória à caça.
[Nota de edição: confirmo que não existem repetições numéricas ou de entradas, nem pleonasmos, nem erros ortográficos ou de sintaxe, nem metonímias avulsas ou oxímoros descarados e nem sequer, pasme-se!, caroços de azeitonas. a.]
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dicionário não ilustrado
Kultur'link
Um dos mais graves problemas com que se debateu, durante algum tempo, esta hóspede-a-dias do Blogger foi a incapacidade total e absoluta do dito em proporcionar condições para uma citação adequada. Sim, adequada. Por exemplo, na citação anterior - um excerto da obra de Pirandello (sita na estante 2, coluna 3, prateleira 5, zona Teatro cá da casa) - não me foi possível fazer o elo (para os puristas; tradução de link) directo para a prateleira, situação bem mais fácil e cómoda que escrever uma bibliografiazinha pela norma APA. De umas voltas dadas, não ao Sol mas as estrelas doutras constelações, reparei ser frequente - porventura porque de maior qualidade e economia de leitura do que tê-los, tirá-los da prateleira, lê-los e transcrevê-los - elaborar elos (para os puristas: tradução de links) a livros existentes em serviços de venda pela internet (para os puristas; tradução de online). Resolvido que fica o problema intelecto-tecno-logístico, admito a minha inaptidão para esta via cultural: se algum leitor quiser ler a obra integral de Pirandello "Seis personagens à procura de um autor" por aqui ou por ali, não o conseguirá. Isso é certo. Certinho, aliás, embora o possa fazer por outras vias, como por exemplo as edições livres disponibilizadas pelo Projecto Gutenberg, pelo ebookgratis ou pelo manybooks. Triste engano o de uma cultura info-onanística colada ao cuspo de listas de elos (para os puristas; tradução de links). É que o livro até é muito barato, mas o custo é bem capaz de ser lê-lo. Ou seja, cada prateleira no seu lugar e assunto bibliográfica e devidamente catalogado e encerrado.
Um dos mais graves problemas com que se debateu, durante algum tempo, esta hóspede-a-dias do Blogger foi a incapacidade total e absoluta do dito em proporcionar condições para uma citação adequada. Sim, adequada. Por exemplo, na citação anterior - um excerto da obra de Pirandello (sita na estante 2, coluna 3, prateleira 5, zona Teatro cá da casa) - não me foi possível fazer o elo (para os puristas; tradução de link) directo para a prateleira, situação bem mais fácil e cómoda que escrever uma bibliografiazinha pela norma APA. De umas voltas dadas, não ao Sol mas as estrelas doutras constelações, reparei ser frequente - porventura porque de maior qualidade e economia de leitura do que tê-los, tirá-los da prateleira, lê-los e transcrevê-los - elaborar elos (para os puristas: tradução de links) a livros existentes em serviços de venda pela internet (para os puristas; tradução de online). Resolvido que fica o problema intelecto-tecno-logístico, admito a minha inaptidão para esta via cultural: se algum leitor quiser ler a obra integral de Pirandello "Seis personagens à procura de um autor" por aqui ou por ali, não o conseguirá. Isso é certo. Certinho, aliás, embora o possa fazer por outras vias, como por exemplo as edições livres disponibilizadas pelo Projecto Gutenberg, pelo ebookgratis ou pelo manybooks. Triste engano o de uma cultura info-onanística colada ao cuspo de listas de elos (para os puristas; tradução de links). É que o livro até é muito barato, mas o custo é bem capaz de ser lê-lo. Ou seja, cada prateleira no seu lugar e assunto bibliográfica e devidamente catalogado e encerrado.
Os passos perdidos
Il capocomico: D'un autore? Che autore?
Il padre: D'uno qualunque, signore.
Il capocomico: Ma qui non c'è nessun autore, perché non abbiamo in prova nessuna commedia nuova.
La figliastra: Tanto meglio, tanto meglio, allora, signore! Potremmo esser noi la loro commedia nuova.
Qualcuno degli attori: Oh, senti, senti!
Il padre: Già, ma se non c'è l'autore!
[Al capocomico: Tranne che non voglia esser lei...]
Il capocomico: Lor signori vogliono scherzare?
Il padre: No, che dice mai, signore! Le portiamo al contrario un dramma doloroso.
La figliastra: E potremmo essere la sua fortuna!
Il capocomico: Ma mi facciano il piacere d'andar via, che non abbiamo tempo da perdere coi pazzi!
Il padre: Oh, signore, lei sa bene che la vita è piena d'infinite assurdità, le quali sfacciatamente non han neppure bisogno di parer verosimili; perché sono vere.
Il capocomico: Ma che diavolo dice?
Il padre: Dico che può stimarsi realmente una pazzia, sissignore, sforzarsi di fare il contrario; cioè, di crearne di verosimili, perché pajano vere. Ma mi permetta di farle osservare che, se pazzia è, questa è pur l'unica ragione del loro mestiere.
Pirandello, L. (1997). Six personnages en quête d’auteur. Folio, edição bilingue. Paris: Gallimard. (p. 107-111).
Il capocomico: D'un autore? Che autore?
Il padre: D'uno qualunque, signore.
Il capocomico: Ma qui non c'è nessun autore, perché non abbiamo in prova nessuna commedia nuova.
La figliastra: Tanto meglio, tanto meglio, allora, signore! Potremmo esser noi la loro commedia nuova.
Qualcuno degli attori: Oh, senti, senti!
Il padre: Già, ma se non c'è l'autore!
[Al capocomico: Tranne che non voglia esser lei...]
Il capocomico: Lor signori vogliono scherzare?
Il padre: No, che dice mai, signore! Le portiamo al contrario un dramma doloroso.
La figliastra: E potremmo essere la sua fortuna!
Il capocomico: Ma mi facciano il piacere d'andar via, che non abbiamo tempo da perdere coi pazzi!
Il padre: Oh, signore, lei sa bene che la vita è piena d'infinite assurdità, le quali sfacciatamente non han neppure bisogno di parer verosimili; perché sono vere.
Il capocomico: Ma che diavolo dice?
Il padre: Dico che può stimarsi realmente una pazzia, sissignore, sforzarsi di fare il contrario; cioè, di crearne di verosimili, perché pajano vere. Ma mi permetta di farle osservare che, se pazzia è, questa è pur l'unica ragione del loro mestiere.
Pirandello, L. (1997). Six personnages en quête d’auteur. Folio, edição bilingue. Paris: Gallimard. (p. 107-111).
Somos cada vez mais barro, cada vez mais à mercê de oleiros incompetentes
Todos somos manipuláveis. Isso é duma evidência que até chateia. E todos gostamos de ser manipuláveis. Isto ainda aborrece mais. Todos gostávamos de chegar à verdade pela via da morte dum desgraçadinho, duma evidência feita carne, ou duma exclusão de partes que nos fosse servida que nem uns filetes de polvo tenrinhos, no fundo todos gostaríamos de viver numa satisfação de sacristia ao nos consolarmos por tomar conta do mundo como um paramento que não se pode sujar.
Quando se inventou o conceito de ‘filho da puta’, que deve também ser o conceito técnico mais velho do mundo, (se bem que se possa discutir se foi a puta se o filho da dita quem apareceu primeiro) ainda não existiria a televisão, ainda Gaza não era uma faixa, Moisés ainda não seria um profeta a quem as águas se abririam, nem sequer os Sumérios fariam bacalhau à Brás e muito menos Cleópatra usaria ‘Dove’ em vez de leite (era de cabra não era?) ou a Índia caminhava para ser o maior país do mundo (acho que também é a maior democracia se excluirmos aquela excentricidade das vacas). É um conceito feliz apesar de mesmo assim não conseguir esgotar todos os matizes da natureza humana, daí o aparecimento mais tardio de conceitos híbridos como ‘bárbaros’, ou o rico leque dos ‘anti’s’ ou mesmo dos ‘fóbicos’.
Tenho de confessar que viveria com uma fé mais sólida se Deus nosso Senhor tivesse feito aquela coisa da terra prometida ali entre o Mississipi e os Grandes Lagos, que, já se sabe, no próximo degelo, daqui a 5 ou 6 anos (acho que vem antes da OTA) ainda vão ficar mais longe da gente. No entanto, ainda tenho bastante fé nesta coisa do aquecimento global para subir o nível das águas do mediterrâneo, a Córsega ficava tipo Berlengas (e acabava-se-nos a inveja) e um tal de médio oriente passava a extremo após duas luas cheias, mas, lá está, se calhar estou a ser manipulado e por lá o povo até é sereno e bonacheirão só que amante de garraiadas com katiuskas desemboladas. O desaparecimento do Algarve também me parece uma boa decisão e a ria formosa passaria a deixar de ser um problema para os ambientalistas porque ficava húmida para sempre, mas dou de barato que possa estar a ser manipulado pelo lobby das cadelinhas que acho que querem é um sossego igual ao do lince da serra da Malcata.
Parece que me afastei do tema, mas é apenas impressão vossa, porque estamos todos demasiado habituados a que a papinha venha já servida com as evidências e as dúvidas de turno. E eu também gosto assim, que se note, apesar de, depois lá no fundo da alma, apenas acreditar em três condições de equilíbrio no mundo:
A Gengiscânica - só com a existência de vencedores e derrotados bem definidos se estabelece um momentinho de calma
A Ecológica - Só um cataclismo natural resolve com algum grau de consistência problemas que a civilização se encarregou de ir acumulando sem controlo
A Baudelairiana - Só com a suspensão da causalidade se forjaram os reais momentos de mudança da humanidade, desde a revelação cristã à teoria da relatividade, passando pela descoberta de que uma mijadela numa semente pode resultar numa árvore e daí num fruto, e de que a psique humana funciona com tantas regras quantas as máquinas de lavar loiça: o homem só usa o programa económico e geralmente esquece-se de pôr a pastilha do detergente, e a mulher fica a apreciar a cena para poder recriminar mais ou menos histericamente e dalguma forma poupar em anti-depressivos.
Também descortino uma condição Lambshopiana mas agora o jmf anda muito sensível ( é verdade, vão ter um disquito novo e vêm cá em Dezembro; pode ser que nessa altura a Condolezza já se tenha apaixonado por um cristão maronita – como a papiróloga – e o mundo esteja protegido por uma grande batina branca) e não quero arriscar.
Todos somos manipuláveis. Isso é duma evidência que até chateia. E todos gostamos de ser manipuláveis. Isto ainda aborrece mais. Todos gostávamos de chegar à verdade pela via da morte dum desgraçadinho, duma evidência feita carne, ou duma exclusão de partes que nos fosse servida que nem uns filetes de polvo tenrinhos, no fundo todos gostaríamos de viver numa satisfação de sacristia ao nos consolarmos por tomar conta do mundo como um paramento que não se pode sujar.
Quando se inventou o conceito de ‘filho da puta’, que deve também ser o conceito técnico mais velho do mundo, (se bem que se possa discutir se foi a puta se o filho da dita quem apareceu primeiro) ainda não existiria a televisão, ainda Gaza não era uma faixa, Moisés ainda não seria um profeta a quem as águas se abririam, nem sequer os Sumérios fariam bacalhau à Brás e muito menos Cleópatra usaria ‘Dove’ em vez de leite (era de cabra não era?) ou a Índia caminhava para ser o maior país do mundo (acho que também é a maior democracia se excluirmos aquela excentricidade das vacas). É um conceito feliz apesar de mesmo assim não conseguir esgotar todos os matizes da natureza humana, daí o aparecimento mais tardio de conceitos híbridos como ‘bárbaros’, ou o rico leque dos ‘anti’s’ ou mesmo dos ‘fóbicos’.
Tenho de confessar que viveria com uma fé mais sólida se Deus nosso Senhor tivesse feito aquela coisa da terra prometida ali entre o Mississipi e os Grandes Lagos, que, já se sabe, no próximo degelo, daqui a 5 ou 6 anos (acho que vem antes da OTA) ainda vão ficar mais longe da gente. No entanto, ainda tenho bastante fé nesta coisa do aquecimento global para subir o nível das águas do mediterrâneo, a Córsega ficava tipo Berlengas (e acabava-se-nos a inveja) e um tal de médio oriente passava a extremo após duas luas cheias, mas, lá está, se calhar estou a ser manipulado e por lá o povo até é sereno e bonacheirão só que amante de garraiadas com katiuskas desemboladas. O desaparecimento do Algarve também me parece uma boa decisão e a ria formosa passaria a deixar de ser um problema para os ambientalistas porque ficava húmida para sempre, mas dou de barato que possa estar a ser manipulado pelo lobby das cadelinhas que acho que querem é um sossego igual ao do lince da serra da Malcata.
Parece que me afastei do tema, mas é apenas impressão vossa, porque estamos todos demasiado habituados a que a papinha venha já servida com as evidências e as dúvidas de turno. E eu também gosto assim, que se note, apesar de, depois lá no fundo da alma, apenas acreditar em três condições de equilíbrio no mundo:
A Gengiscânica - só com a existência de vencedores e derrotados bem definidos se estabelece um momentinho de calma
A Ecológica - Só um cataclismo natural resolve com algum grau de consistência problemas que a civilização se encarregou de ir acumulando sem controlo
A Baudelairiana - Só com a suspensão da causalidade se forjaram os reais momentos de mudança da humanidade, desde a revelação cristã à teoria da relatividade, passando pela descoberta de que uma mijadela numa semente pode resultar numa árvore e daí num fruto, e de que a psique humana funciona com tantas regras quantas as máquinas de lavar loiça: o homem só usa o programa económico e geralmente esquece-se de pôr a pastilha do detergente, e a mulher fica a apreciar a cena para poder recriminar mais ou menos histericamente e dalguma forma poupar em anti-depressivos.
Também descortino uma condição Lambshopiana mas agora o jmf anda muito sensível ( é verdade, vão ter um disquito novo e vêm cá em Dezembro; pode ser que nessa altura a Condolezza já se tenha apaixonado por um cristão maronita – como a papiróloga – e o mundo esteja protegido por uma grande batina branca) e não quero arriscar.
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(ou da abdução)
«Só estou louco quando o vento vem de norte-noroeste. Com vento sul, distingo entre o falcão e a garça.»
Shakespeare, ‘Hamlet’ II.2
(ou da abdução)
«Só estou louco quando o vento vem de norte-noroeste. Com vento sul, distingo entre o falcão e a garça.»
Shakespeare, ‘Hamlet’ II.2
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Concerning the kiss file
Basicamente, e tentando o aprofundamento do tema pelas técnicas cruzadas ‘du prochain au distant’ e ‘du familier au inconnu’ ( é francês) , encontro dois tipos de homens face ao erotismo: o homem-abelhinha e o homem-pica-pau.
O homem-abelhinha está vocacionado para polinizar. Por isso, o beijo para ele á algo que surge com naturalidade, o lábio é um constituinte do corpo quase como uma extensão da mão ou da franja, ou vice-versa. Transmite e perpetua mais forte e genuinamente os seus sentimentos por essa via, praticamente bíblica, que é o beijo, seja ele aplicado em que parte for, seja ele recebido da maneira que for, seja qual for a humidade subjacente e/ou envolvente. Todas as outras manifestações clássicas do erotismo já lhe saem com maior artificialismo, o intercourse ( lá está, em estrangeiro é outra loiça) mais parece um motor a dois tempos, a dita autosatisfação põe-lhe a consciência a remoer que nem um passe-vite e o próprio roçar explicito de corpos lhe sai quase sempre como um acto de carteirista desajeitado.
Enquanto isto, o homem-pica-pau nasceu para fornicar; aquilo corre-lhe como quem bebe uma ginginha, qualquer posição parece uma finta do ronaldinho gaucho e tudo resulta num siamezismo abençoado, como se já tivesse nascido de pila coquillé et éjaculatoire (fui ao dicionário , atenção!) . Mas, ao invés, não consegue alcançar o prazer do beijo; ou é do nariz , ou do queixo, ou do céu da boca, sente sempre que estão ali uns órgãos a mais e outros que não há meio de aparecerem, já para nem falar das mãos que parecem degorgés ( soa melhor assim) de canos nas mãos dum pompier. O beijo representa-lhe sempre uma fuga para trás, um «mas isto ao certo serve para quê», sem querer abusar da imagem, é uma espécie de síndroma da Vesícula de Mexia.
Poderia aqui agora tentar discernir as categorias intermédias, nas quais todos no fundo nos encontramos. Mas, para que servem as categorias intermédias, para nos aborrecer certamente. Eu cá acho que sou homem-colibri, o que me resulta uma imagem engraçada apesar de não saber ao certo o que poderá significar.
Basicamente, e tentando o aprofundamento do tema pelas técnicas cruzadas ‘du prochain au distant’ e ‘du familier au inconnu’ ( é francês) , encontro dois tipos de homens face ao erotismo: o homem-abelhinha e o homem-pica-pau.
O homem-abelhinha está vocacionado para polinizar. Por isso, o beijo para ele á algo que surge com naturalidade, o lábio é um constituinte do corpo quase como uma extensão da mão ou da franja, ou vice-versa. Transmite e perpetua mais forte e genuinamente os seus sentimentos por essa via, praticamente bíblica, que é o beijo, seja ele aplicado em que parte for, seja ele recebido da maneira que for, seja qual for a humidade subjacente e/ou envolvente. Todas as outras manifestações clássicas do erotismo já lhe saem com maior artificialismo, o intercourse ( lá está, em estrangeiro é outra loiça) mais parece um motor a dois tempos, a dita autosatisfação põe-lhe a consciência a remoer que nem um passe-vite e o próprio roçar explicito de corpos lhe sai quase sempre como um acto de carteirista desajeitado.
Enquanto isto, o homem-pica-pau nasceu para fornicar; aquilo corre-lhe como quem bebe uma ginginha, qualquer posição parece uma finta do ronaldinho gaucho e tudo resulta num siamezismo abençoado, como se já tivesse nascido de pila coquillé et éjaculatoire (fui ao dicionário , atenção!) . Mas, ao invés, não consegue alcançar o prazer do beijo; ou é do nariz , ou do queixo, ou do céu da boca, sente sempre que estão ali uns órgãos a mais e outros que não há meio de aparecerem, já para nem falar das mãos que parecem degorgés ( soa melhor assim) de canos nas mãos dum pompier. O beijo representa-lhe sempre uma fuga para trás, um «mas isto ao certo serve para quê», sem querer abusar da imagem, é uma espécie de síndroma da Vesícula de Mexia.
Poderia aqui agora tentar discernir as categorias intermédias, nas quais todos no fundo nos encontramos. Mas, para que servem as categorias intermédias, para nos aborrecer certamente. Eu cá acho que sou homem-colibri, o que me resulta uma imagem engraçada apesar de não saber ao certo o que poderá significar.
O blog-exemplo
Really Nothing To Say
Acabo de o descobrir: um texto simples, escorreito, despretensioso. Uma assinatura do mais fino recorte e bom gosto (NaOH é a fórmula do hidróxido de sódio - btw soda cáustica para quem não saiba Química). E a descrição? No fundo a que todos os bloggers secretamente invejam (e não têm coragem de admitir). Mas o texto, céus... somos capazes de deixar nele perder o olhar horas a fio e ainda assim se descobrem semelhanças fundamentais com o Abrupto. No template, por exemplo. Sim, exemplar!
Really Nothing To Say
Acabo de o descobrir: um texto simples, escorreito, despretensioso. Uma assinatura do mais fino recorte e bom gosto (NaOH é a fórmula do hidróxido de sódio - btw soda cáustica para quem não saiba Química). E a descrição? No fundo a que todos os bloggers secretamente invejam (e não têm coragem de admitir). Mas o texto, céus... somos capazes de deixar nele perder o olhar horas a fio e ainda assim se descobrem semelhanças fundamentais com o Abrupto. No template, por exemplo. Sim, exemplar!
Momento cultural
Todas as questões existenciais se resolvem, afinal, de forma simples. Quem, sim quem?, nunca fez a si próprio (a língua, falada, é irrelevante) a pergunta "Am I a good kisser?" que atire a primeira pedra.
Se, por mero acaso, é uma dessas aves raras, não se desgaste a atirar pedras e opte por uma das seguintes, e muito mais saudáveis, soluções:
a) envie um mail explicando sucintamente os motivos por que se considera acima do existencialismo oscular e na volta ser-lhe-á enviado um tema de música "chill out" pronto a aplicar no iPod.
b) aproveite o tempo que, pelos vistos, lhe sobra - ou não estaria a perdê-lo a uma hora destas, lendo blogs no serviço, com o tempinho de praia que está lá fora - e faça este quiz:
Se, por acaso, o seu resultado disser que é um "Play-By-Play Lip Locker", resigne-se: não é o primeiro nem será o único a não ter jeito nenhum.
Todas as questões existenciais se resolvem, afinal, de forma simples. Quem, sim quem?, nunca fez a si próprio (a língua, falada, é irrelevante) a pergunta "Am I a good kisser?" que atire a primeira pedra.
Se, por mero acaso, é uma dessas aves raras, não se desgaste a atirar pedras e opte por uma das seguintes, e muito mais saudáveis, soluções:
a) envie um mail explicando sucintamente os motivos por que se considera acima do existencialismo oscular e na volta ser-lhe-á enviado um tema de música "chill out" pronto a aplicar no iPod.
b) aproveite o tempo que, pelos vistos, lhe sobra - ou não estaria a perdê-lo a uma hora destas, lendo blogs no serviço, com o tempinho de praia que está lá fora - e faça este quiz:
Se, por acaso, o seu resultado disser que é um "Play-By-Play Lip Locker", resigne-se: não é o primeiro nem será o único a não ter jeito nenhum.
Por muito simpática que a caracterização lhe pareça, repare bem e decida se quer mesmo ser tratado como um eufemismo; se não, olhe... treine muito e repita o questionário quando vier de férias!
Conto do pixel desphotobucketado
Roçando o descaminho, o pixel da nossa história tentou desesperada, mas previsivelmente, o refúgio numa servidora clássica: uma mijinha primeiro, servicinho em dose pré-estabelecida depois, outra mijadela no final, tudo se consumaria, como de costume: satisfeito e devidamente desinfectado. Porquê mexer em fórmulas de sucesso, já testadas por pecadores devidamente iluminados e santos devidamente contritos e com atestado por caducar, porquê deixar para a confissão pecados de menor monta, porquê queimar genuflexões com meros flirts de ocasião, porquê deixar os anjos da guarda ainda ganharem alergias perante impurezas de fraco porte ou adormecerem face a húmidas perversões de adolescente, porque dar trunfos à vergonha a troco de desvios de segunda categoria. Só que o nosso pixel não poderia prever a rejeição do servidor que o tinha acolhido em tantos daqueles dias de dorida desformatação. Aparentemente tinha chegado o momento em que os seus pecados também começariam a ter de nivelar por baixo, ou então os seus dilemas passariam a colocar-se entre o casto esquecimento do hardware e a mera auto-estimulação do software. ‘Se ao menos ainda fosse um trilema’ ficou ele a pensar abrigado neste trocadilho de fraca iluminação… ‘bolas, todos arranjam sempre uma descompactaçãozinha para aliviar, que diabos’! Também ele haveria de arranjar uma photoshopa jeitosa que lhe aproveitasse os megas ao limite e lhe pusesse a memória a fermentar outra vez que nem uma cerveja belga. Mas aqui o narrador não o poderá mesmo ajudar: foi-me encomendada uma história com um desenlace rápido e moralmente limpinho: o pixel terá de se contentar com a mera gestão da observação de aves ou com a rebentação das ondas. Terá de saber viver com a rejeição, terá de saber satisfazer-se ali algures entre a alegoria e a sublimação, roendo pen-disks até ao osso, já de si também elas desgastadas por terem guardado tanta emoção consumada à pressa e sem pixélias por perto.
Roçando o descaminho, o pixel da nossa história tentou desesperada, mas previsivelmente, o refúgio numa servidora clássica: uma mijinha primeiro, servicinho em dose pré-estabelecida depois, outra mijadela no final, tudo se consumaria, como de costume: satisfeito e devidamente desinfectado. Porquê mexer em fórmulas de sucesso, já testadas por pecadores devidamente iluminados e santos devidamente contritos e com atestado por caducar, porquê deixar para a confissão pecados de menor monta, porquê queimar genuflexões com meros flirts de ocasião, porquê deixar os anjos da guarda ainda ganharem alergias perante impurezas de fraco porte ou adormecerem face a húmidas perversões de adolescente, porque dar trunfos à vergonha a troco de desvios de segunda categoria. Só que o nosso pixel não poderia prever a rejeição do servidor que o tinha acolhido em tantos daqueles dias de dorida desformatação. Aparentemente tinha chegado o momento em que os seus pecados também começariam a ter de nivelar por baixo, ou então os seus dilemas passariam a colocar-se entre o casto esquecimento do hardware e a mera auto-estimulação do software. ‘Se ao menos ainda fosse um trilema’ ficou ele a pensar abrigado neste trocadilho de fraca iluminação… ‘bolas, todos arranjam sempre uma descompactaçãozinha para aliviar, que diabos’! Também ele haveria de arranjar uma photoshopa jeitosa que lhe aproveitasse os megas ao limite e lhe pusesse a memória a fermentar outra vez que nem uma cerveja belga. Mas aqui o narrador não o poderá mesmo ajudar: foi-me encomendada uma história com um desenlace rápido e moralmente limpinho: o pixel terá de se contentar com a mera gestão da observação de aves ou com a rebentação das ondas. Terá de saber viver com a rejeição, terá de saber satisfazer-se ali algures entre a alegoria e a sublimação, roendo pen-disks até ao osso, já de si também elas desgastadas por terem guardado tanta emoção consumada à pressa e sem pixélias por perto.
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Para aliviar dos auschwitz a céu aberto
Denoto algum desalento da parte do estrogen-dependent side of this blog por sentir uma certa inibição em aqui exprimir com mais exuberância a sua capacidade para se desvanecer perante a masculinidade explícita de certos exemplares da espécie e do género mais ou menos inacessíveis.
Denoto algum desalento da parte do estrogen-dependent side of this blog por sentir uma certa inibição em aqui exprimir com mais exuberância a sua capacidade para se desvanecer perante a masculinidade explícita de certos exemplares da espécie e do género mais ou menos inacessíveis.
Picasso (Primavera-Verão 1906). Joven a caballo. Carvão s/ papel. 46,6 x 30,4 cm. Paris, Colecção particular (Zervos VI, 682)
Parece-me um anseio legítimo se for exercido dentro dos limites impostos pela santa madre igreja e pelas últimas descobertas da ciência antropológica e urológica, e face ao explícito fascínio pela parte oposta ao ventre, deixo como mote e presentinho a imagem lombar acima exposta.
Afigura-se-me no entanto básico lembrar-lhes que a beleza masculina é um valor em decadência, apelo à perdição de mulheres já de si dadas à vulnerabilidade, corruptela da verdadeira e inexpugnável beleza, neblina para a transcendência, alívio ilusório dos traumas de Eva e expediente hollywoodesco.
Com o corpo masculino, e as suas mais ou menos inebriantes manifestações, deve coabitar-se nunca perdendo de vista o que diz a nossa Maria Laurinda: «os homens têm segundas intenções até quando perguntam as horas».
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Conto do ibseniano escrupuloso
Não cabia em si de contente quando soube que a história de Gynt era inventada, que afinal Deus compreendia sem ser necessário apresentar atestado de sofrimento, ou prova de esforço, bastaria um electrofodiograma normalzinho, e que Deus tinha inventado o suspiro mas passava bem sem ele naquele momento em que a sabedoria de vida valerá tanto como um carrocel sem crianças. Era ibseniano desde que aprendera a gerir o ‘eterno adiamento’, desde que soubera suspender o tempo, enrolá-lo, mas com o passar dos dias tinha-se deixado atormentar pelo sucesso, e pelo insucesso, pelas encruzilhadas mal assinaladas na vida; nem tudo poderia continuar a ser como a vesícula de Mexia, ou como o violino de Ingres ou como os frúnculos na virilha de Napoleão, alguma realidade teria de ser condimentada, cozinhada, senão tudo se resumiria a uma vida crua, a uma alma tártara. Tinha chegado a congeminar um casamento por interesse, virou-se depois para uma paixão impossível de chegar a vias de sopa de legumes e pijama aquecido, tentou ainda uma ligação desprendida mas realista e sem bichos de estimação, mas acabou fechado sobre si próprio a apregoar morais à façon entre negócios de merchandise com uma percentagem controlada de contrafacção. Conseguiu um papel de chave na mão numa vida de pouco palco mas encomendada por uma plateia de sorrisos amarelos e rabos dormentes. Fazia tudo bem feitinho porque tinha aprendido que nas existências possíveis não havia lugar para ilusões incompetentes, e que, tal como Peer tinha dito às raparigas, há sempre ‘espaço suficiente para enfiar uma alma’; certamente o que o criador também terá pensado no dia em que imaginou um casal de orangotangos de mão dada.
Não cabia em si de contente quando soube que a história de Gynt era inventada, que afinal Deus compreendia sem ser necessário apresentar atestado de sofrimento, ou prova de esforço, bastaria um electrofodiograma normalzinho, e que Deus tinha inventado o suspiro mas passava bem sem ele naquele momento em que a sabedoria de vida valerá tanto como um carrocel sem crianças. Era ibseniano desde que aprendera a gerir o ‘eterno adiamento’, desde que soubera suspender o tempo, enrolá-lo, mas com o passar dos dias tinha-se deixado atormentar pelo sucesso, e pelo insucesso, pelas encruzilhadas mal assinaladas na vida; nem tudo poderia continuar a ser como a vesícula de Mexia, ou como o violino de Ingres ou como os frúnculos na virilha de Napoleão, alguma realidade teria de ser condimentada, cozinhada, senão tudo se resumiria a uma vida crua, a uma alma tártara. Tinha chegado a congeminar um casamento por interesse, virou-se depois para uma paixão impossível de chegar a vias de sopa de legumes e pijama aquecido, tentou ainda uma ligação desprendida mas realista e sem bichos de estimação, mas acabou fechado sobre si próprio a apregoar morais à façon entre negócios de merchandise com uma percentagem controlada de contrafacção. Conseguiu um papel de chave na mão numa vida de pouco palco mas encomendada por uma plateia de sorrisos amarelos e rabos dormentes. Fazia tudo bem feitinho porque tinha aprendido que nas existências possíveis não havia lugar para ilusões incompetentes, e que, tal como Peer tinha dito às raparigas, há sempre ‘espaço suficiente para enfiar uma alma’; certamente o que o criador também terá pensado no dia em que imaginou um casal de orangotangos de mão dada.
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conto da papiróloga asmática
A sua tese de doutoramento tinha sido ‘ eu cá se fosse primeiro cristão também vos havia de foder o juízo’, e ganhava balanço a defender o papel dos ácaros no fortalecimento da fé, no aparvalhamento das ciências historico-líricas e no enriquecimento dos audiovisuais de charme.
Apanhada um dia a rezar o terço às escondidas e de cócoras na sacristia sombria duma abadia escocesa, foi imediatamente desconsiderada e mesmo ostracizada pelos seus pares, que nem se apiedaram com o ataque de espirros que a surpreendeu quando lhe saltou para o olho uma traça que vivia entalada no meio de dois hieróglifos que fornicavam apocrifamente entre os fólios 68 e 70. Não fora o toys r’us se ter interessado pelo seu trabalho científico e desenvolvido um baralho de cartas - especialmente destinado para paciências -inspirado nas seitas gnósticas dos cainitas, ofitas, naassenos e sethianos, que ainda hoje a boa da nossa papiróloga passaria o tempinho a traduzir Filastrios e Epifânios de copta para grego e grego para copta, e jamais teria chegado a ser conhecida carinhosamente no meio como a ‘bisca dos cainitas’.
A recuperação definitiva da sua imagem e credibilidade junto da comunidade dos paleontólogos amestrados do mar morto deu-se quando descobriu num post-it de folha de amendoeira que N. Senhora trocava de pechisbeques com Maria Madalena, e que teriam chegado mesmo a discutir quem iria usar uns brincos de madre pérola que o judas tadeu lhes tinha comprado numa loja de macabeus ( os chineses ainda não tinham chegado à zona). A história parecia possuir forte conteúdo teológico, até porque se encaixava com o manuscrito 4Q184 fls 27 e segs que falava duma mulher de forte conteúdo erotificante que ‘erguia as pálpebras travessamente para rasteirar os homens rectos e perverter os seus caminhos para longe dos mandamentos deixando-os a marchar fora dos trilhos da rectidão’. Parecia desmontada a charada, poderia agora extrapolar-se sem dificuldade: os primeiros cristãos queriam era franchizar os terços em madre pérola, enquanto uma seita gnóstica da comunidade de Qumran fez um lobbing tremendo para o uso maciço das continhas em madeira de cedro com tratamento envernizante. Era este o grande cisma oculto do início da cristandade, desmentindo a ideia da tardia introdução desta piedosa tradição.
Mas entretanto, um belo dia, a nossa papiróloga esqueceu-se de pôr a mão à frente, e com outro belo par de espirros lixou um documento que falava do problema de queda de cabelo que apoquentava Moisés e o fez derramar sobre as tábuas da lei um frasquinho inteiro de aminexil do Líbano, deixando-as que nem uma floresta de carapinha. Num duplo acidente forjado pelos desígnios da história, palentóloga e múmia juntaram-se para nos enfaraóficar a molécula, e para sempre a dúvida permanecerá: seria ‘não invocar o nome de Deus em vão’ e ‘não cobiçar a mulher do próximo’ , ou seria antes ‘não cobiçar a mulher em vão’ e ‘não invocar o nome de Deus ao próximo’. É que faz alguma diferença. Instalou-se então a ansiedade histamínica, o escrúpulo apocrifóbico e a alteração do ciclo hormonal na cientista dos papiros.
«Venham mas é daí uns gajos com uma aguarrás decente e resolvam-me esta trampa faxavor», foram as últimas palavras da papiróloga viciada em ventilan e febre dos fenos, que acabou por fugir com um maronita modelo da Esquire para uma gruta fresquinha e em início de escavação, patrocinada pela ‘Control’ e pela ‘Budweiser’, ali para os lados da polinésia francesa, onde Deus nosso Senhor poderia perfeitamente ter feito ultimas ceias à base de lagostins e percebes, e ter deixado os mandamentos inscritos em conchinhas da lei. Até porque a fé é biválvica, só se safa guardada dentro da esperança e da caridade.
(mad’am, não sei ao certo se com tanta converseta não terei repetido alguma coisinha, uma piadinha forçada, uma metáfora, um neologismo, ou assim)
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No divã
Sempre que me lembro de escrever o provérbio "a humildade precede a glória" (*) sai-me o primeiro substantivo sem éle o que me faz imediatamente pensar no aforismo popular "quem se deita com miúdos acorda molhado". O que nunca percebi foi o que tem um a ver com o outro. Se é que têm.
(*) Bíblia (Provérbios, 18, 12)
Sempre que me lembro de escrever o provérbio "a humildade precede a glória" (*) sai-me o primeiro substantivo sem éle o que me faz imediatamente pensar no aforismo popular "quem se deita com miúdos acorda molhado". O que nunca percebi foi o que tem um a ver com o outro. Se é que têm.
(*) Bíblia (Provérbios, 18, 12)
Porque
um presente se honra ao usá-lo:
Go thy great way!
The Stars thou meetst
Are even as Thyself -
For what are Stars but Asterisks
To point a human Life?
e se retribui:
Speech is one symptom of Affection
And Silence one -
The perfectest communication
Is heard of none -
Exists and its endorsement
Is had within -
Behold, said the Apostle,
Yet had not seen!
Emily Dickinson, "1638" e "1681", in Poemas, Madrid, Catedra, 2000
um presente se honra ao usá-lo:
Go thy great way!
The Stars thou meetst
Are even as Thyself -
For what are Stars but Asterisks
To point a human Life?
e se retribui:
Speech is one symptom of Affection
And Silence one -
The perfectest communication
Is heard of none -
Exists and its endorsement
Is had within -
Behold, said the Apostle,
Yet had not seen!
Emily Dickinson, "1638" e "1681", in Poemas, Madrid, Catedra, 2000
dos blogues
- «é verdade que Carlos Leone (…) está de momento em pousio» um tal de Eduardo Pitta no ‘da literatura’
- «não me acho de pousio» um tal de CLeone no ‘esplanar’
- «Estar de pousio significa estar afastado» do referido Eduardo Pitta no ‘da literatura’
- «é verdade que Carlos Leone (…) está de momento em pousio» um tal de Eduardo Pitta no ‘da literatura’
- «não me acho de pousio» um tal de CLeone no ‘esplanar’
- «Estar de pousio significa estar afastado» do referido Eduardo Pitta no ‘da literatura’
Tenho boas notícias...Luís de Camões voltou!
Vejam com os vossos próprios olhos...http://www.youtube.com/watch?v=GV_-clplFis
Vejam com os vossos próprios olhos...http://www.youtube.com/watch?v=GV_-clplFis
O mundo tem vindo, e continuará, tudo aponta, a construir-se peri-marxista e airosamente por entre a luta entre contrários, procurando distrair-se do real (ou virtual, é bom deixar todas as hipóteses em aberto) conflito que o homem leva consigo próprio (evitei criteriosa e filosoficamente a palavra ‘alienação’). Hoje o dicionário não ilustrado, vai directo às grandes clivagens que ajudaram o mundo a tornar-se mais telegénico do que a Teresa Guilherme, ou o Goucha ou mesmo as partes baixas do Ricardo Carvalho. (entradas 1211 a 1219)
Indivíduo / Estado – Conflito clássico, no qual radica o entretenimento de muito boa gente desde taxistas a liberais encartados; em regra qualquer indivíduo que se preze diz cobras e lagartos do Estado e qualquer Estado consciencioso faz de pântano para servir de melhor habitat às ditas espécies.
Crítico /artista – Representativo do eterno conflito entre os que não sabem fazer mais nada e os que não têm mais nada para fazer
Mulher /homem – Conflito que se baseia numa demasiada proximidade biológica jamais explicada pelas teorias da evolução, e que, cobardemente, deixaram tudo para resolver pelas teorias do coração.
Patrão / empregado – Fricção fundadora do movimento de capitalização do universo, claramente a alavanca que faltou descobrir a Arquimedes, o estado da natureza esquecido por Aristóteles, o big bang que escapou aos astrónomos.
Pila / preservativo – Mal sabia a serpente que o mundo ainda se iria dividir pelos problemas levantados por uma 2ª pele. Mas nunca saberemos ao certo se o bom ladrão alguma vez terá dito a alguém: «a bolsa ou a vida»; a redenção aqui veio sem parábola e sem legenda.
Comprador / vendedor – O equilíbrio entre a oferta e a procura é, como se sabe, o mesmo que se obtém entre o lixo e a co-incineração: só ganha realmente quem está longe a brincar com as derivadas ou os fees.
Ingleses/ Ricardo – Praticamente com a mesma força que o amor à primeira vista, este conflito é alimentado a creme esfoliante a fazer as vezes da vaselina
Norte/Sul – Desde os tempos em que os neandertales se encontravam com os cromagnons ali na côte d’azur, e não era para fazer sardinhadas, que este conflito anima o imaginário antropológico. O sul jamais se conformará em que o norte seja mais magnético, e o norte invejará sempre um sul mais poético.
Acção/ Pensamento – O sonho comanda a vida e a comichão comanda a mão. O pleno faz-se coçando-nos a dormir.
Indivíduo / Estado – Conflito clássico, no qual radica o entretenimento de muito boa gente desde taxistas a liberais encartados; em regra qualquer indivíduo que se preze diz cobras e lagartos do Estado e qualquer Estado consciencioso faz de pântano para servir de melhor habitat às ditas espécies.
Crítico /artista – Representativo do eterno conflito entre os que não sabem fazer mais nada e os que não têm mais nada para fazer
Mulher /homem – Conflito que se baseia numa demasiada proximidade biológica jamais explicada pelas teorias da evolução, e que, cobardemente, deixaram tudo para resolver pelas teorias do coração.
Patrão / empregado – Fricção fundadora do movimento de capitalização do universo, claramente a alavanca que faltou descobrir a Arquimedes, o estado da natureza esquecido por Aristóteles, o big bang que escapou aos astrónomos.
Pila / preservativo – Mal sabia a serpente que o mundo ainda se iria dividir pelos problemas levantados por uma 2ª pele. Mas nunca saberemos ao certo se o bom ladrão alguma vez terá dito a alguém: «a bolsa ou a vida»; a redenção aqui veio sem parábola e sem legenda.
Comprador / vendedor – O equilíbrio entre a oferta e a procura é, como se sabe, o mesmo que se obtém entre o lixo e a co-incineração: só ganha realmente quem está longe a brincar com as derivadas ou os fees.
Ingleses/ Ricardo – Praticamente com a mesma força que o amor à primeira vista, este conflito é alimentado a creme esfoliante a fazer as vezes da vaselina
Norte/Sul – Desde os tempos em que os neandertales se encontravam com os cromagnons ali na côte d’azur, e não era para fazer sardinhadas, que este conflito anima o imaginário antropológico. O sul jamais se conformará em que o norte seja mais magnético, e o norte invejará sempre um sul mais poético.
Acção/ Pensamento – O sonho comanda a vida e a comichão comanda a mão. O pleno faz-se coçando-nos a dormir.
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dicionário não ilustrado
Cadelinhas à Bolhão Pato
Ingredientes:
2 kg de cadelinhas, alhos q.b., 1 ramo de coentros, limão a gosto, 3 colheres de sopa de azeite, diversos
Modo de preparar:
Descasque os alhos e corte-os em rodelinhas (tipo post mas dos minimalistas). Limpe e pique os coentros (tenha cuidado e não se deixe iludir pela data escrita no pacote). Ponha os alhos ao lume com o azeite, num tacho grande e deixe a alourar ligeiramente (como se fossem madeixas mal feitas), mexendo sempre. Junte as cadelinhas ao preparado (se gritarem não se espante, é normal e não histeria como possa chegar a pensar), a seguir os coentros e tape. Pode ir abanando de vez em quando (se bem que não adiante muito). Quando as amêijoas estiverem abertas (é fácil e rápido, basta que as gabe com algum despudor) regue com o sumo de limão (e aproveite para vê-las retrairem-se de raiva). Sirva logo que possível (mas tendo em atenção a melhor hora para entrar nos frescos) enfeitando com o que lhe vier à rede nessa altura (deixe-se de pormenores de exigência!!!).
Ingredientes:
2 kg de cadelinhas, alhos q.b., 1 ramo de coentros, limão a gosto, 3 colheres de sopa de azeite, diversos
Modo de preparar:
Descasque os alhos e corte-os em rodelinhas (tipo post mas dos minimalistas). Limpe e pique os coentros (tenha cuidado e não se deixe iludir pela data escrita no pacote). Ponha os alhos ao lume com o azeite, num tacho grande e deixe a alourar ligeiramente (como se fossem madeixas mal feitas), mexendo sempre. Junte as cadelinhas ao preparado (se gritarem não se espante, é normal e não histeria como possa chegar a pensar), a seguir os coentros e tape. Pode ir abanando de vez em quando (se bem que não adiante muito). Quando as amêijoas estiverem abertas (é fácil e rápido, basta que as gabe com algum despudor) regue com o sumo de limão (e aproveite para vê-las retrairem-se de raiva). Sirva logo que possível (mas tendo em atenção a melhor hora para entrar nos frescos) enfeitando com o que lhe vier à rede nessa altura (deixe-se de pormenores de exigência!!!).
Salvação nacional – desenvolvimento
Acabadinho de chegar a Portugal no andor , o nosso Scolari toma logo conta dossier GM-Azambuja e sai de imediato a primeira medida radical e de forte impacto : tudo a tirar as bandeirinhas de Portugal e a substitui-las pelas amarelinhas da Opel. De seguida, e para que a sombra da nossa história não perturbe a energia positiva, a terrinha de Salazar muda logo de nome para Sto Combo Dão, passando o referido modelo a ficar devidamente abençoado (e a inspirar uma zona demarcada), e como as instituições têm de dar o exemplo, à frente da Procuradoria ficará um provectrador ( de preferência que venha um novo sem capachinho para poder ser cabriolet); mas as decisões terão de ser rápidas, cirurgicas e abrangentes: os taxistas trocam os Mercedes por Astras com MP3 a tocar o roberto leal e terços em madrepérola, os chulos passam a andar todos de Opel Tigra e os coleccionadores de relíquias vendem os Bentleys e os Morgans e compram Opeles Kadetts bordeaux com uma listinha de xadrez a três quartos. O jmf passa a escrever só sobre louras em Opeles Corsas, e aquele simbolozinho do trovão no meio da bolinha substitui as quinas, o que até facilita o trabalho das bordadeiras; e para que tudo fique mesmo nas mãos de Nossa Senhora, o santuário de Fátima passa a pista de ensaios com a capelinha das aparições apetrechada para os crash testes. Em cada terraço um português montará um robot de soldadura e em cada marquise uma cabine de pintura, e quem não tiver uma coisa nem outra oferece a caixa do correio para depósito de gasolina. O novo ministro Amado chega à ONU e sem perder tempo proporá que o GMT deixe de ser a hora de Greenwich e passe a ser a hora da Azambuja, que fica assim com direito a um meridiano novo só para ela, e, meu Deus, o novo chiste nacional passará a ser: 'espanhóis, malandros, queriam o rabinho lavadinho até cima, pois ide todos para o opel ascona da vossa prima'. É limpinho, num mês, fecha Saragoza e transplantam S.Peterburgo ali para o convento de Mafra. Vereis, isto nem vai precisar de ir a penaltis.
Acabadinho de chegar a Portugal no andor , o nosso Scolari toma logo conta dossier GM-Azambuja e sai de imediato a primeira medida radical e de forte impacto : tudo a tirar as bandeirinhas de Portugal e a substitui-las pelas amarelinhas da Opel. De seguida, e para que a sombra da nossa história não perturbe a energia positiva, a terrinha de Salazar muda logo de nome para Sto Combo Dão, passando o referido modelo a ficar devidamente abençoado (e a inspirar uma zona demarcada), e como as instituições têm de dar o exemplo, à frente da Procuradoria ficará um provectrador ( de preferência que venha um novo sem capachinho para poder ser cabriolet); mas as decisões terão de ser rápidas, cirurgicas e abrangentes: os taxistas trocam os Mercedes por Astras com MP3 a tocar o roberto leal e terços em madrepérola, os chulos passam a andar todos de Opel Tigra e os coleccionadores de relíquias vendem os Bentleys e os Morgans e compram Opeles Kadetts bordeaux com uma listinha de xadrez a três quartos. O jmf passa a escrever só sobre louras em Opeles Corsas, e aquele simbolozinho do trovão no meio da bolinha substitui as quinas, o que até facilita o trabalho das bordadeiras; e para que tudo fique mesmo nas mãos de Nossa Senhora, o santuário de Fátima passa a pista de ensaios com a capelinha das aparições apetrechada para os crash testes. Em cada terraço um português montará um robot de soldadura e em cada marquise uma cabine de pintura, e quem não tiver uma coisa nem outra oferece a caixa do correio para depósito de gasolina. O novo ministro Amado chega à ONU e sem perder tempo proporá que o GMT deixe de ser a hora de Greenwich e passe a ser a hora da Azambuja, que fica assim com direito a um meridiano novo só para ela, e, meu Deus, o novo chiste nacional passará a ser: 'espanhóis, malandros, queriam o rabinho lavadinho até cima, pois ide todos para o opel ascona da vossa prima'. É limpinho, num mês, fecha Saragoza e transplantam S.Peterburgo ali para o convento de Mafra. Vereis, isto nem vai precisar de ir a penaltis.
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