Somos cada vez mais barro, cada vez mais à mercê de oleiros incompetentes

Todos somos manipuláveis. Isso é duma evidência que até chateia. E todos gostamos de ser manipuláveis. Isto ainda aborrece mais. Todos gostávamos de chegar à verdade pela via da morte dum desgraçadinho, duma evidência feita carne, ou duma exclusão de partes que nos fosse servida que nem uns filetes de polvo tenrinhos, no fundo todos gostaríamos de viver numa satisfação de sacristia ao nos consolarmos por tomar conta do mundo como um paramento que não se pode sujar.

Quando se inventou o conceito de ‘filho da puta’, que deve também ser o conceito técnico mais velho do mundo, (se bem que se possa discutir se foi a puta se o filho da dita quem apareceu primeiro) ainda não existiria a televisão, ainda Gaza não era uma faixa, Moisés ainda não seria um profeta a quem as águas se abririam, nem sequer os Sumérios fariam bacalhau à Brás e muito menos Cleópatra usaria ‘Dove’ em vez de leite (era de cabra não era?) ou a Índia caminhava para ser o maior país do mundo (acho que também é a maior democracia se excluirmos aquela excentricidade das vacas). É um conceito feliz apesar de mesmo assim não conseguir esgotar todos os matizes da natureza humana, daí o aparecimento mais tardio de conceitos híbridos como ‘bárbaros’, ou o rico leque dos ‘anti’s’ ou mesmo dos ‘fóbicos’.

Tenho de confessar que viveria com uma fé mais sólida se Deus nosso Senhor tivesse feito aquela coisa da terra prometida ali entre o Mississipi e os Grandes Lagos, que, já se sabe, no próximo degelo, daqui a 5 ou 6 anos (acho que vem antes da OTA) ainda vão ficar mais longe da gente. No entanto, ainda tenho bastante fé nesta coisa do aquecimento global para subir o nível das águas do mediterrâneo, a Córsega ficava tipo Berlengas (e acabava-se-nos a inveja) e um tal de médio oriente passava a extremo após duas luas cheias, mas, lá está, se calhar estou a ser manipulado e por lá o povo até é sereno e bonacheirão só que amante de garraiadas com katiuskas desemboladas. O desaparecimento do Algarve também me parece uma boa decisão e a ria formosa passaria a deixar de ser um problema para os ambientalistas porque ficava húmida para sempre, mas dou de barato que possa estar a ser manipulado pelo lobby das cadelinhas que acho que querem é um sossego igual ao do lince da serra da Malcata.

Parece que me afastei do tema, mas é apenas impressão vossa, porque estamos todos demasiado habituados a que a papinha venha já servida com as evidências e as dúvidas de turno. E eu também gosto assim, que se note, apesar de, depois lá no fundo da alma, apenas acreditar em três condições de equilíbrio no mundo:

A Gengiscânica - só com a existência de vencedores e derrotados bem definidos se estabelece um momentinho de calma

A Ecológica - Só um cataclismo natural resolve com algum grau de consistência problemas que a civilização se encarregou de ir acumulando sem controlo

A Baudelairiana - Só com a suspensão da causalidade se forjaram os reais momentos de mudança da humanidade, desde a revelação cristã à teoria da relatividade, passando pela descoberta de que uma mijadela numa semente pode resultar numa árvore e daí num fruto, e de que a psique humana funciona com tantas regras quantas as máquinas de lavar loiça: o homem só usa o programa económico e geralmente esquece-se de pôr a pastilha do detergente, e a mulher fica a apreciar a cena para poder recriminar mais ou menos histericamente e dalguma forma poupar em anti-depressivos.

Também descortino uma condição Lambshopiana mas agora o jmf anda muito sensível ( é verdade, vão ter um disquito novo e vêm cá em Dezembro; pode ser que nessa altura a Condolezza já se tenha apaixonado por um cristão maronita – como a papiróloga – e o mundo esteja protegido por uma grande batina branca) e não quero arriscar.

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