Aquecimento para os manjericos #2

Num sonho todo feito de incerteza,/ (...) é que eu vi teu olhar (...)/ Não era o vulgar brilho da beleza, / nem o ardor banal da mocidade.../ Era outra luz, era outra suavidade. / Uma ventura /feita só (...) da ternura. (...)/ Ó visão, (...)/ fita-me assim calada (...)/ e deixa-me sonhar.

Prosaclite com corruptela do poema de Antero de Quental, 'Virgem Santíssima'.

os animais são nossos amigos (*)

(*) in ghost colours, cut copy
Dia internacional da glândula

Dona Pituitária tomou a palavra e exclamou: «está aberta a 1ª conferência internacional da glândula moderna; o nosso lema será: ‘a cada apalpão uma excreção’». Mme Pineal tinha-se posto um pouco de lado, certamente despeitada por não ter sido escolhida para presidenta da mesa, mas aos poucos foi ganhando à vontade e chegou a lançar uma chalaça às manas Adrenalinas, que não paravam quietas, e metiam-se com toda a gente, especialmente com os manos Testis, uns cavalheiros aprumados mas que, diga-se, também não desgostavam de ser acarinhados. Só que a rainha deste primeiro congresso parecia ser a Frau Sudorípara, uma alemã radicada para os lados do Guincho e que se passeava pelo congresso afirmando em alto convencimento: «vocês podem todas andar aí a flauseanar mas, quando tocar a endocrinar, se eu não aparecer, todos vão desconfiar da qualidade do desfrute». «Olha, não te babes, não» dizia a Señorita Salivar que, desde o casamento falhado com um russo dono dum canil, nunca mais se tinha recomposto. Foi por tudo isto com alguma surpresa que acabou por ser eleita para nova presidenta a Mademoisele Sebácea, uma rapariga vistosa e que se insinuava bem pelos corredores. Dizem que tinha, inclusive, algum pêlo na venta. Não admira assim o novo lema para o próximo ano: «quando a crise roçar nós pomo-la a deslizar». Glândula satisfeita é meio caminho para, no caminho sinuoso até ao Paraíso, não enjoar na viagem.
Para o Azul Cobalto,

que fez agora 5 anos em nova morada, (parte de) um poema que lá li há muito tempo e que nunca esqueci.

A viagem que o meu ser empreende
Começa em mim,
E fora de mim,
Ainda a mim se prende.
A senda mais perigosa.
Em nós se consumando,
Passando a existência
Mil círculos concêntricos
Desenhando.

de Ana Hatherly - A Corrida em Círculos – I
Aquecimento para os manjericos

Olho em volta. (…) / Só para mim as ânsias se diluem / e não possuo mesmo quando enlaço.(…) Toda sem véus (…)/ sob o meu corpo (…) transbordada, / nem mesmo assim (…) eu a teria. (…) Falta-me egoísmo pra ascender ao céu, / falta-me unção pra me afundar no lodo. (…) Serei um emigrado doutro mundo /que nem na dor posso encontrar-me?

Prosaclite com corruptela do poema ‘Como eu não possuo’ de Mário de Sá Carneiro
por uma questão de perfis

Peter Paul Rubens, "Venus vor dem Spiegel" (c. 1613/14), óleo s/ madeira. Vaduz: Kunstmuseum Liechtenstein (Sammlung Fürst von Liechtenstein)
De volta ao ripipilo

Quando entregasse a alma ao criador e a carne aos vermes o seu espólio seria definitivamente doado ao Museu do Narcisismo. Entretanto preparar-se-iam exposições temporárias com as suas poses em fotografias tipo passe tiradas numa loja da rua da Estefânia, e num catálogo raisonée reunir-se-iam todas as suas frases de auto vangloriação, ilustradas com perfis em aguarela duma cunhada que fazia frisos para molheiras da Vista Alegre.

De qualquer modo tinha tudo alinhavado para estar presente no dia da inauguração do auditório para hologramas, com o seu nome gravado numa chapa de 30x40, mas uma arreliadora fistula retirou-lhe esse prazer e passou o serão a ganir enquanto lhe lancetavam o, digamos, o cu.

Era contudo um rabo narcísico e imediatamente pensou numa série de fotogramas baseados na sua nádega esquerda que tinha sido enormemente gabada por uma enfermeira moldava, se bem que em surdina, contudo, qualquer narcísico profissional tem ouvido de tísico.

Uma nádega de macho desirmanada passava por ser um tema controverso, mas a sua autoconfiança acabou por convencer, e inclusive deslumbrar, toda a gente. Arrancou assim uma instalação dedicada ao tema em apreço, intitulada: entre a ‘fistula e o selim’, numa também velada homenagem aos seus tempos de ciclista especialista em contra-relógios a descer.

Inesperadamente foi um êxito. Peidola de narciso não era um tema muito explorado e desde uma caixa de sapatos com furinhos atravessada por uma trança de cebolas de Rauschenberg que não era visto tanto consenso entre a crítica especializada. A comunidade gay insurgiu-se pela falta da outra nádega, especulando sobre um fenómeno de peidofobia, mas isso ainda serviu para acicatar mais a curiosidade, chegando Saramago a lançar um livro em que a sociedade era assolada por um vírus que selava o olho do cu a todos; «uma merda total» comentou Lobo Antunes, mas isto é um à parte.

O museu foi cimentando a sua fama vanguardista, e uma nova sala de espelhos foi inaugurada para potenciar o efeito narcísico do singular semi-rabo pós-fistular, tendo inclusivamente sido feita uma réplica da nádega direita com gesso decorado em tromp d’oeil.
Já a sala dos ecos se mostrou de sucesso mais periclitante, mas para tal pode ter contribuído a arrojada aposta num trecho de Eric Satie em formato de assobio de rouxinol como som ambiente. Só que ele tinha feito muita questão: dizia possuir um ripipilar d’anjo. Bochechudo, inclusive.
Segundo Sentido

Tomado em consideração que a lagartada este ano jogou o pior futebol desde que Maria Elisa tem dores nas costas, e nem teve a dignidade, como outrora, de se despedir no Natal, passando assim o ano todo a brindar-nos com uma via sacra de futebol de merda que só acabou ontem, penso que a grande mensagem desta época é a obscena dignificação do segundo-lugar-com-brinde. Durante anos o segundo teve sempre o desgraçado estigma de ser o primeiro dos últimos, mas este ano os lagartos trouxeram para o Olimpo dos grandes valores civilizacionais o sentimento de que o segundo-com-brinde é, em certas condições de humidade, temperatura e cólon espasmódico, sentido como primeiro, designadamente se um tal de primeiro, quando chega ao momento de tentar achincalhar um tal de segundo, parece um testículo a olhar para um orgasmo, promovendo inclusivamente um mecanismo inverso: a tripeirada teve o condão de, sendo um primeirão, sendo algebricamente (leia-se, a somar pontos) muito melhor, ficar a segurar a taça do ‘mas’.

Ao lagartos conseguiram libertar o mundo da ruinosa máxima do tudo ao nada, e permitem-nos pensar que a cauda da Europa pode ser afinal uma versão metafórica plena de segundos sentidos. Abanemo-nos.
Descontos para grupos

Priscila Bosch organizava visitas guiadas ao Museu do Inconsciente. Era uma moça de tendência discreta, mas quando tocava a dissertar sobre os tesouros da sub-psique expostos naquele museu transformava-se numa eloquente amazona, galopando pelas salas como se fossem relicários em período de cruzadas.
Na sala de entrada, dedicada aos Sonhos, as cuecas que tinham drenado o primeiro sonho erótico de Napoleão eram a peça em destaque e Priscila invocava extasiada que nesse sonho já Josefina teria aparecido vestida de mini-saia, antecipando modas muito posteriores e provando a grande autonomia ontológica do visionário inconsciente napoleónico; ainda sob o olhar incrédulo dos visitantes, Priscila avançava rapidamente para a sala das Pulsões deixando-os petrificados com a sua descrição pormenorizada de como o inconsciente de Tamerlão funcionava enquanto degolava, em séries alternadas, meia dúzia de persas e monhés, intervalando com nêsperas de Samarcanda. Em exposição estava o palito feito com restos de tíbias de afegãos - povo conhecido por ter perna rijinha - que Tamerlão usava na sua higiene dentária. O termo pulsão derivava precisamente do movimento que o grande mongol fazia com a extremidade do seu bracinho quando apalpava caucasianas antes de lhes fazer tatuagens de cornucópias no cocsis, fetiche até aí desconhecido pelos antropólogos.
A zona das exposições temporárias apresentava uma colecção de Complexos de Édipo de jogadores de Basquetebol americano. A peça estrela eram uns brinquinhos em madrepérola que Michael Jordan ofereceu à sua namorada aquando do primero ginger ale que tomaram juntos, e que se seguiu duma lição da tabuada dos nove. Segundo Priscila, a principal razão de sucesso de Michael no basquete estava ligada a uma paixão que ele foi desenvolvendo por um cestinho em tricot que a mãe lhe tinha feito em algodão de Kandahar, e que ele usava para guardar os abafadores e os tomates dos hamsters depois de os capar com um x’ato.
Geralmente, como a ala das Associações Livres estava fechada há muitos anos por causa dum ataque de fungos provocados por uma neurose da múmia do Nabucodonosor que se tinha dado mal com a humidade, a visita passava logo para a sala dos Recalcamentos. Era uma sala forrada a seda adamascada em tons sépia e que tinha uma bateria de vitrinas em pau santo, acolchoadas, com preciosidades várias; a que deixava Priscila mais incandescente era um lápis viarco nº 2 usado por Marilin Monroe quando jogava à batalha naval. Era dotado de forte simbolismo pois estava todo roído a dois terços e, segundo as teorias mais recentes, representava a sua ansiedade mórbida quando pressentia um míssil a avançar em direcção ao seu porta-aviões. Diz-se, por isso, que guardava a sua castidade à dentada.
Finalmente a visita terminava no salão dos Lapsus Linguae e, depois de todos ouvirem uma gravação de Ramalho Eanes a dar uma lição de artilharia pesada baseada na teoria do ‘cone de minhe prime’, Priscila Bosch despedia-se, trocando inadvertidamente o ‘r’ do seu nome, num processo de transferência entre o Priscila e o Bosch, pondo-se totalmente ao dispor de qualquer inconsciente que se quisesse imortalizar na paz aconchegada de umas coxas, perdão, colchas.
Desmaker Corner

Fora do ambiente das bibliofosquices, este movimento de aquisição e concentração na actividade editorial é olhado com naturalidade. Gente ‘dos negócios’, da actividade empresarial, detectou uma oportunidade por aproveitar, estava motivado, conseguiu congregar e motivar capitais e pessoas, avançou. Lembro que só estaremos perante boas operações se aumentar o interesse geral pela leitura/livros como entretenimento e/ou forma de enriquecimento e/ou elemento decorativo e, consequentemente, o número de livros lidos/comprados. Se este se mantiver inalterado, estaremos perante meras operações de redução de custos de estrutura que seriam irrelevantes para o montante das operações montadas, e não tornariam os investimentos bem sucedidos. Assim, o que irá acontecer forçosamente é um aumento de qualidade geral de edição, uma aposta na diversidade, concorrência mais forte e não pulverizada, e o aparecimento de nichos estruturados, ou seja, a coca cola a vender-se como coca cola e o moet & chandon como moet & chandon. O mundo da escritualha saracoteia uma despeitada nervoseira porque, obviamente, gostam de ler e escrever todos uns ao colo dos outros; mas para isso já existem os blogues; à borliu. Os escritores são, em primeiro lugar, trabalhadores da escrita em particular e do entretém alheio em geral.
'Te per orbem terrarum sancta confitetur Ecclesia' (*)

«Ratzinger não se cansa de repetir duas coisas. A primeira, que a Igreja não faz proselitismo. A segunda, que deve estar preparada para "viver" em minoria». Escreve-se no Portugal dos Pequeninos. (**)

Ora esta não pode passar em branco porque se trata de querer ajustar o Catolicismo - por legítimíssima necessidade e/ou idiosincrasia espiritual particular, eventualmente - ao que ele não é. A Igreja Católica é Universal por natureza; ponto. O Vaticano não é o principado do Mónaco com mais bibliotecas e dourados. É a sede temporal duma Igreja Universal. Para não ser proselitista , Jesus não tinha edificado a Sua Igreja na cabeça do S.Pedro, mas sim numa merda duma marquise. Para não ser proselitista o Cristianismo não tinha deixado vincado que queria sair da coutada moralificante do povo eleito. Para não ser proselitista, em vez do Calvário, Jesus tinha escolhido um churrasquinho na Galileia.

Sem a chama dum chamamento universal a Igreja seria uma masturbetice doutrinária.

O Apostolado católico é um património. Civilizacional, Cultural, Social, Religioso. Cruzadas, Inquisições & Freirinhas agachadas incluídas.


(*) in ‘Te Deum’, fodasse.
(**) nem o Papa alguma vez diz disse isso
Dou consultas às quartas. Atendimento por ordem de chegada.

Vou directo ao assunto: Passos Coelho devia pôr os olhos em António Guterres. O seu sonho juvenil de marcar território com uma mijadela neo-liberal não o leva a lado nenhum. No poder está uma emulação cavaquista e, olhando para o passado, a fórmula de sucesso, já testada, de sheltox para cavacos é o guterrismo. (Santana e Ferreirinha serão obvias pêras doces para Sócrates)
A memória do Guterrismo é de tempos de anestesiamento e felicidade, juros e petróleo barato, diálogo e medidas transversais. Ora o que é que todos queremos hoje?: precisamente um sossego transversal, uma longa epiduralização da existência, um 'fodam para aí essa merda toda mas não me chateiem'. E isso só o guterrismo pode prometer e cumprir. Sem stresses nem ansiedades, e um ar porreiraço entre o bonacheirão e o sacristão; entrada de lago com patinhos e saída de pântano para chernes.
Guterres deve pois ser o modelo para onde Passos deve olhar. Ir para Sócrates de falinhas mansas mas sincopadas, ameaçando-o com o inferno por não respeitar a paz interior da nação, entremear com um empolgamento vangelisco e deixar acamar com um olhar de ternura.
A entrada pelo nicho comuna deverá fazê-lo pelo método Pacheco-pereirianoo, oferecendo vouchers de cabeleireira para todas as mulheres desempregadas têxteis, devendo igualmente piscar o olho à dentadura de Manuel Monteiro, e entregar-lhe generosamente a canela de Portas.
Finalmente, a iconografia é o esquema do costume: agrisalhar a zona das patilhas, dar a saber que tem um primo afastado que é paneleiro, e ser conhecido por ter ajudado a pagar o restauro da pia benta duma paróquia de mães solteiras.
Prometer, prometer, apenas a felicidade.
VPValente sujeito a teste americano

(Inspirado no seu artigo de hoje no Público em que, depois de demonstrar que a Rússia é uma ditadura asiática, ‘diz’ que: norte de Itália, País Basco, Catalunha, Galiza, Andaluzia e Escócia ficarão independentes antes de estar construído o aeroporto de Alcochete, e a Bélgica extingue-se até ao Natal; não se pronunciou em relação ao Monte de Saint-Michel e às Ilhas Selvagens)


1. «Portugal é o único país do Ocidente em que, depois do colapso soviético, sobreviveu (e prospera) um partido comunista com a força do nosso»

R: Verdadeiro

(nota técnica: o comunismo foi, afinal, mais um dos cluster’s que Porter deixou de fora, mas deverá agora ser recuperado por Pinho para enriquecer a marca ‘Portugal’, a par da sardinha assada, da via verde, da carapinha da Marisa e da rolha de cortiça)



2. «Portugal é o único país do Ocidente em que o autoritarismo, acompanhado ou não pela insignificância e a mediocridade, é uma recomendação decisiva para o eleitorado»

R: Verdadeiro

(nota técnica: diria mais – ‘acompanhado ou sim’)


3. «Portugal é o único país do Ocidente que espera do Estado a sua salvação»

R: Falso

(nota técnica: em Portugal é 'desespera'; e os outros países já foram salvos pelos respectivos Estados antes dos americanos chegarem à lua)


4. «A política não criou um português diferente, como tanta gente (boa e má) sonhou: um português tolerante, democrático, solidário, com autonomia e iniciativa»

R: Falso

(nota: esqueceu-se certamente do amigo Pacheco Pereira, designadamente na sua defesa intransigente e solidária do direito da mulher portuguesa em ir ao cabeleireiro e ao arrábida shopping)


5. «A política mascarou o português que por aí anda com alguns sinais de civilização»

R: Falso

(nota: o único português que oficialmente ‘anda por aí’ dispensa máscara)



Errou 3 em 5. Talvez uma das suas melhores performances nos últimos anos, incluindo a clássica de ‘Fátima como fenómeno do Entroncamento’.

Bem, e aparentemente vai «ressurgir o velho mundo». Só não avisou se é anterior ou posterior à invenção da imprensa. Tem o condão de me deixar impaciente.
Voltando à pêra rocha

Como acompanhei durante uns dias a transferência meta-cerebral de Ludwig para bits, li nas caves do seu blog o seguinte (e assim termino um tríptico dedicado aos que, como ele também escreveu, julgam saber qual é a «escala destas coisas») : «responsabilidade moral advém do controlo autónomo e não do conceito vago de "podia ter sido de outra forma"»

Na sofreguidão engana-se. A ‘Responsabilidade Moral’ advém em primeira instância de se poder falar destes dois conceitos: ‘responsabilidade’ e ‘moral’. O ‘determinismo’ ou o ‘indeterminismo’ são meros labirintos mentais.

Ora ‘responsabilidade’ é um conceito que exige ‘finalidade’. Sem fim não há meio, sem ponta não há cabo. Sem o conceito duma ‘vontade externa’, ‘responsabilidade’ é um artifício literário, uma táctica de sobrevivência, um capítulo dum livro da Paula Bobone. Pouco melhor que uma mão cheia de nada.

E a moral, também não vale a pena elaborar muito, é apenas um efeito secundário da existência dum Ser que nos transcende; podemos fazer correr rios de tinta, falar do holocausto e do pirilampo mágico, falar do bem, do mal, e do assim-assim, mas não passa disso. A nossa condição implica uma moral da mesma forma que o trapezista em suspensão está sempre dependente em primeiro lugar do serralheiro que montou o trapézio, e só depois pode inventar nas piruetas para ver se anima a assistência e se ganha algum; e, então, até pode sonhar que voa por conta própria. Mas, sem serralheiro o trapezista é pouco mais que um cavalinho de cortesia.

É por isso que na hidráulica religiosa a moral é algo que também se ‘negoceia’ com Deus. Já aqui citei uma vez a ironia de C.S. Lewis em ‘The Screwtape letters’ : «Existem dois tipos de pessoas: aquelas que dizem a Deus: ‘ Muito bem, assim será feito’, e aquelas a quem Deus diz: ‘ Está bem, então faz isso à tua maneira’». Estamos sempre entre o trapézio e o túnel de vento. Depois de Paulo Bento todas a noções de tranquilidade devem ser reavaliadas.

Resta-nos depois essa ideia interpretativa pós-robótica de que, afinal, nos gerimos num sofisticado esquema de ‘controlo autónomo’, quais uns controleiros de nós próprios: o estalinismo intelectual de que não passaríamos dum algoritmo de personalidade embrulhado de epiderme descolorida; é, de facto, mais uma das extrapolações que inquinam as construções evolucionistas, na ânsia de tudo explicar, de nada pôr de lado, como cozinheiras que fritam os pastéis de bacalhau e os croquetes no mesmo óleo. S. Tomás d’Aquino comparado com esta rapaziada parece um mineralogista.

A espeleologia científica quando sai da gruta corre o risco de ver estalactretas em todo lado.
Gotham City

Viver com hipóteses é uma óptima alternativa num mundo onde se tem de pôr em constante coabitação uma inteligência humana de tendência aglutinadora e assertiva, com uma condição que apela inexoravelmente à suspeita de um desconhecido.

No entanto, ‘viver com o desconhecido’ comporta riscos e, por isso, há que fazer apelo a todas as faculdades humanas: as sensoriais (por exemplo, quando não se vê pode-se cheirar, ouvir melhor, apalpar a trepidação, etc – esta era para o ‘exemplo do carro’, dos comentários do Ludwig), a capacidade de amar, a imaginação, a confiança, o espírito crítico, entre muitas outras.

Ao homem não parece que lhe seja exigido que prove ter uma razão para existir, o próprio esmiuçar do ‘sentido para a vida’, do qual a religião reivindica os direitos de imagem, no limite, é prescindível. Aparentemente a vida fez-se para se consumir e não para se explicar.

A mensagem Cristã, ela mesmo, é uma mensagem de caminho, de chamamento, a grande novidade nem é tanto a existência de Deus, é a forma como Ele se relaciona connosco. Há, de facto, no âmago do cristianismo até um certo desligamento da verdade, (apesar de expressões fortes como «eu sou o caminho, a verdade e a vida») daquele sentido desportivo da verdade enquanto fasquia. É o tal sapo cristão: ‘razão de ser’ muito colada à salvação que é, em certa medida, uma ‘razão de morrer’.

Eu até entendo o esforço de tentar viver sem Deus. É quase uma generosidade limite. Mas, depois, vai-se a ver, é antes uma limitação à generosidade, pois só com Deus é que se pode falar do outro; sem Ele, a individualidade é uma quimera.

Deus tornar-se-á um conceito prático, a certa altura, sim, mas como é mais prático amar um filho se o queremos criar, ou não ser dos lagartos se queremos passar um fim de semana sossegado, mas, depois, o mecanismo da fé – que é preciso conhecer, e com método, saliente-se - transforma-O no grande roubo da nossa vida. E ao ladrão não lhe faz falta nenhuma saber álgebra quando tem o saque à sua frente: quer tudo. Daí que, é verdade, a fé promove a tendência de secar tudo à volta.

Mas os Evangelhos relatam também o exemplo fantástico da relutância em acreditar, da incredulidade, da duplicidade entre o medo e o fascínio que as mensagens mais radicais provocam na natureza humana.

A experiência religiosa a par da experiência do conhecimento é uma riqueza da nossa condição e um património da Criação. Até Deus quis experimentar.
E isto tudo sem citar o David Hume, o que também deve ser assinalado.

Ludwig,

Para que se consiga ter uma conversa de jeito, mesmo não remunerada, sobre ‘essenciais e acessórios’ teríamos de respeitar algumas perguntas básicas, que, a meu ver, poderão ser estas:

(eu a escrever assim certinho ainda me dá alguma coisa má)

1. Deve ser de considerar como hipótese a existência de ‘algo’ (transcendente ou imanente aqui é irrelevante para o caso) que esteja ‘por detrás dos fenómenos’ com os quais temos de conviver e tentar compreender de forma, pelo menos, satisfatória?

2. Um 'método científico fiável' ® é suficiente para alcançar e compreender totalmente uma ‘entidade’ que pudesse, por hipótese, estar colocada para além das suas ‘regras’ (que, por natureza, são de concepção limitadora)?

3. Poderemos/deveremos equacionar, sem histerismos, que existem formas de entender ‘verdades’ não testáveis por ‘método cientifico fiável’ ®, mas que possam conviver com ele em regime de complementaridade (e respeito)?

4. Será plausível considerar que há ‘identidade’/‘subjectividade’ suficiente em cada ser humano que justifique não fazermos todos parte duma massa geral, e, assim, poder cada um relacionar-se individualmente com essa ‘entidade’ que estaria ‘por detrás dos fenómenos’ ?

5. Deverá/poderá essa convivência subjectiva, - também podemos simplificar chamando ‘crença’ - com uma entidade hipotética condicionar formas de viver em ‘sociedade’, e, entre outras coisas, a utilização de ‘métodos científicos fiáveis’ ®?

6. Saberemos nós alguma vez o suficiente para ser intolerantes com qualquer forma especial de conhecimento e relacionamento com ‘verdades’?


Prostituições intelectuais, supersticionismos, fobias à transubstanciação & gelatinas atiradas à parede são decoração.

E isto tudo está-me a fazer passar ao lado da campanha do passos e da manelinha, já quase perdia o rui santos no domingo à noite a dizer que ‘em não se podendo ser primeiro a melhor posição é o segundo’, já só apanhei a Mena Mónica de raspão a dizer que tomou a pílula em 63, e, se não me ponho a pau, ainda perco o ténis em Roma.
Mena Mónica and her own biological watch

«o meu Maio de 68 foi em 61»

na sic ao Crespo
Dimanche en Piquenique

Felix Vallotton, 'L'Été', Lausanne
(depois de terem tomado umas sandes de peito de perú fumado e um ginger ale marca Alvarinho )
...
Antropocentrismo segundo Sebastião da Gama


‘Pequeno poema’
.
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.
.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
(...)
.
(dragão, não sei quem é que tinha ficado de trazer os croquetes; e digam lá que não ficou uma ternura no dia da mãe)
Socrates’s Secret

No mesmo dia em que Sócrates diz que «um hospital não se compra no supermercado» (mas já não se referiu no que concerne a diplomas universitários) e que o «planeamento se deve fazer com muitos anos de antecedência», soube-se que no hospital de s.joão houve favorecimento na ‘redução e aumentos’ mamários de funcionárias (desconhece-se, no entanto, se houve também esticamento de pilas a maqueiros). Para que não haja aborrecimentos no futuro, a selecção de enfermeiras para 2013 deveria começar hoje.

Ora a mama certa para a funcionária hospitalar é o correspondente a uma copa C. É um tamanho de mama que não interfere no ritmo respiratório do paciente aquando da colocação da algália, mas já dá algum aconchego na altura de medir a tensão, ou a tirar os pontos. A mama de copa C no bloco operatório é também o mais aconselhado, pois, em caso de perigo de espirramento de sangue podem ser protegidas suplementarmente com a touquinha, mas sem apertar muito para não trilhar. Nos serviços de fisioterapia a copa C é também bastante adequada para a recuperação de lesões que tenham afectado pulsos e falangetas avulsas, mas já pode ser algo agressiva no tratamento de paralisias faciais (daí ser importante para um hospital contratar também duas ou três copas B). A mama de copa C apresenta-se igualmente com enorme potencial de relaxamento para exames mais intrusivos, foram inclusivamente relatados casos em que, durante uma colonoscopia, o paciente perguntou se não queriam pesquisar também qualquer coisinha no pâncreas, que por ele tudo bem desde que a enfermeira se mantivesse na mesma posição; poderá até reflectir-se nalguma poupança, como se constata.

Eu até estava a gostar disto mas agora vou ter de parar porque a minha mulher apanhou-me a ver o site da victoria’s secret e já está a perguntar se eu ando com algum problema. Já nem deu tempo para pôr aqui uma fotografiazinha. Só contrariedades.
Standing Alone



duplo pingado & vianinha com fiambre
standing next to me



The Last Shadow Puppets - Standing Next To Me