Querem fazer o favor de assobiar (*)
À semelhança de pintores, patés, blogs, after shaves e marcas de lingerie existem muitos escritores sobreavaliados. Raymond Carver é um dos casos mais paradigmáticos. Diz-se que inventa ambientes como se estivéssemos a falar dum hemofílico a lamber uma ferida; pois eu cá vou mas é finalmente entregar todos os livros que tenho dele à obra do padre Américo, algo que já venho a adiar desde que o lobo antunes começou a escrever livros que nem um neurónio art deco enfiado numa massa encefalica manuelina.
Desconfiem sempre de gajos que só estão bem com os mundos criados pela cabeça deles, pois nenhuma cabeça está à altura duma salada de búzios, ou duns profiteroles. Aliás, o verdadeiro teste dum escritor é vê-lo a descrever uma receita de cozinha; não é uma foda, nem um pôr do sol, nem uma pilha de nervos, nem uma ida à pesca, nem uma senhora a passear com um cão, não, isso qualquer tcheckov fazia no intervalo de duas radiografias aos pulmões, vão por mim: testem-no a descrever a nhanha margarínica a espraiar-se no fundo da frigideira, e depois os míscaros, aos risinhos nervosos, a tomarem o contacto com quentinho, e só aí saberemos se estamos perante um escritor ou se será apenas um proust com o hemorroidal mais sensivel. Raymoooond Caaaarver, foda-se é que só de nome, já enerva. Podia-se ter ficado por fazer finais enigmáticos de romances policiais, ou por crónicas a coktails de apresentação de cabriolets com estofos coçados, mas não: tinha logo de se arvorar em saber dizer com poucas dúzias de linhas, e com gajos que em beckett nem serviriam para levar chás de tília às mesas, o que outras almas se têm de esmifrar que nem rodrigues dos santos a descrever mamadas. Num dos seus contos uma personagem diz algo como «essa história não é preciso nenhum tolstoi para contá-la», como se dissesse que não é preciso ir ao gambrinus para comer um prego, como, no fundo, justificando todo o mundo, toda a escrita, do Raimundo. É por essas e por outras que há tipos que escrevem livros banais e depois quem inesperadamente os leia como se fossem fois gras do fauchon; até o Borges dizia que os livros dele só andavam a servir para ser oferecidos como presente e não para ser lidos.
Morreu em 88; claro um gajo destes só podia ter morrido em 88. Nesse dia eu até ia para a praia.
(*) pode ser o ‘let me kiss you’ do morrissey, se conseguirem. Nota técnica: não abusem dos trinados que fica foleiro
À semelhança de pintores, patés, blogs, after shaves e marcas de lingerie existem muitos escritores sobreavaliados. Raymond Carver é um dos casos mais paradigmáticos. Diz-se que inventa ambientes como se estivéssemos a falar dum hemofílico a lamber uma ferida; pois eu cá vou mas é finalmente entregar todos os livros que tenho dele à obra do padre Américo, algo que já venho a adiar desde que o lobo antunes começou a escrever livros que nem um neurónio art deco enfiado numa massa encefalica manuelina.
Desconfiem sempre de gajos que só estão bem com os mundos criados pela cabeça deles, pois nenhuma cabeça está à altura duma salada de búzios, ou duns profiteroles. Aliás, o verdadeiro teste dum escritor é vê-lo a descrever uma receita de cozinha; não é uma foda, nem um pôr do sol, nem uma pilha de nervos, nem uma ida à pesca, nem uma senhora a passear com um cão, não, isso qualquer tcheckov fazia no intervalo de duas radiografias aos pulmões, vão por mim: testem-no a descrever a nhanha margarínica a espraiar-se no fundo da frigideira, e depois os míscaros, aos risinhos nervosos, a tomarem o contacto com quentinho, e só aí saberemos se estamos perante um escritor ou se será apenas um proust com o hemorroidal mais sensivel. Raymoooond Caaaarver, foda-se é que só de nome, já enerva. Podia-se ter ficado por fazer finais enigmáticos de romances policiais, ou por crónicas a coktails de apresentação de cabriolets com estofos coçados, mas não: tinha logo de se arvorar em saber dizer com poucas dúzias de linhas, e com gajos que em beckett nem serviriam para levar chás de tília às mesas, o que outras almas se têm de esmifrar que nem rodrigues dos santos a descrever mamadas. Num dos seus contos uma personagem diz algo como «essa história não é preciso nenhum tolstoi para contá-la», como se dissesse que não é preciso ir ao gambrinus para comer um prego, como, no fundo, justificando todo o mundo, toda a escrita, do Raimundo. É por essas e por outras que há tipos que escrevem livros banais e depois quem inesperadamente os leia como se fossem fois gras do fauchon; até o Borges dizia que os livros dele só andavam a servir para ser oferecidos como presente e não para ser lidos.
Morreu em 88; claro um gajo destes só podia ter morrido em 88. Nesse dia eu até ia para a praia.
(*) pode ser o ‘let me kiss you’ do morrissey, se conseguirem. Nota técnica: não abusem dos trinados que fica foleiro
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