Da moral do indivíduo à conservação da espécie passando por reduzidos afloramentos sexuais
Hoje todos nos arrepiamos com quem dá ares de professor de moral. «Quem é este gajo para estar a dizer o que se deve fazer» é o gargarejo mental com que imediatamente bochechamos a nossa dita consciência livre, e que queremos tão tranquila que nem um bebé depois de bolçar.
E é assim que, progressivamente, se vão instalando os discursos de tolerâncias bacocas e ‘enquadramentos relativizantes’, deixando campo aberto tanto para a ignorância ético-patológica, como para aquele tipo de arrogância zoológica de quem olha para a banana chamando-lhe abacaxi e esperando que os outros salivem em carreirinha. Ou seja, as modernas alergias ao correcto e incorrecto e os clássicos pruridos morais e amorais, convivem agora alegremente com aquela força que move os novos iluminados, aqueles tais que ‘sabem o que deve ser feito’, ou aqueles que, ao mesmo tempo que vão dizendo: «eu não quero dar lições de moral a ninguém», rematam sempre com um previsível «mas acho que isto devia ser feito assim»
É certo que todos procuramos um mínimo de base para o pêndulo. Uns precisam do achatamento arredondado típico dum sempre-em-pé, outros da quilha dum salva vidas inafundável, outros a rede que está por baixo da corda de trapezista, e há ainda os que eriçam o pêlo em sky surfings, à espera de que as emoções fortes dos ares ascendentes lhes dêem o que não conseguiram com o cerelac de pimenta verde ou com a ameaça do óleo de fígado de bacalhau, mas certinha certinha é a necessidade dum padrão mínimo de comportamento que pode ser decorado desde a bajulação precoce até ao espasmo livre e prolongado.
‘Todos temos cabeça para pensar e saber o que é melhor para cada um de nós’ é uma ideia que chega a assolar a zona esponjosa intracraneana de muito boa gente. Mas é algo que não está provado. Sabe-se que juntamos conceitos, sabe-se que juntamos recordações, sabe-se que há produtos químicos a tratarem da lubrificação dos neurónios, sabe-se até que há zonas mais dadas à brincadeira e outras mais dadas aos assuntos da lida da casa, enfim, sabe-se quase tudo menos o que interessa, ou seja: não se sabe que filha da puta de mecanismo nos levará ao caminho do certo e do errado e nos faria dispensar os bons conselhos de outros gajos que produzindo produtos químicos do mesmo género do nosso, até dá ideia de que são de melhor marca. Aquela mítica zona ética do cérebro é tanga, não existe, e a noção do bem e do mal mantém-se filha mais ou menos bastarda da cultura e do gene. Cada vez somos menos autónomos na distinção do que é feitio e do que é defeito, do que é virtude e do que deve pôr o sol a entrar-nos apenas pelas frestas.
Mais ou menos todos os ocidentais sabem que somos enteados da porra duma moral parida entre desertos e mares barrentos, mal enjoricada (não sei como se escreve isto) por profetas, viúvas, reis vaidosos, fornicadores olímpicos e arrependidos profissionais, amancebada com metáforas, refém de decifragens e escorada no cabrão dum betão com fissuras por todo o lado onde a humidade trabalha que nem corrimento numa profissional da satisfação masculina.
Mas o que antes nos sossegava hoje apoquenta-nos. Preferimos uma certeza de ocasião na mão a várias perenes a voar, e gostamos de conselhos que nos façam sentir confiantes, e crentes e auto-insuflados na nossa natureza mamífera. Transformámo-nos todos em empresas em reestruturação, que ora downsizam, ora spinoffam, ora diversificam, ora concentram, ora reciclam, ora fazem merda, mas precisam sempre de mercado e de concorrência.
A nossa natureza pede companhia. Somos uma mistura bichos de estimação com fama de grandes felinos, e liliputeanos com fama de gulliveres, fornicadores resignados com fama de masturbadores esclarecidos. Abençoados serão os que nos disserem o que fazer com voz meiguinha.
Toda a moral é adquirida, e nós pelamo-nos por saldos; e a mudança de estação é a raiz da nossa sobrevivência. A espécie aguenta-se porque tem conseguido ir combinando uma moral airosa num manequim abonecado, e na montra Deus pôs vidros fumados.
Hoje todos nos arrepiamos com quem dá ares de professor de moral. «Quem é este gajo para estar a dizer o que se deve fazer» é o gargarejo mental com que imediatamente bochechamos a nossa dita consciência livre, e que queremos tão tranquila que nem um bebé depois de bolçar.
E é assim que, progressivamente, se vão instalando os discursos de tolerâncias bacocas e ‘enquadramentos relativizantes’, deixando campo aberto tanto para a ignorância ético-patológica, como para aquele tipo de arrogância zoológica de quem olha para a banana chamando-lhe abacaxi e esperando que os outros salivem em carreirinha. Ou seja, as modernas alergias ao correcto e incorrecto e os clássicos pruridos morais e amorais, convivem agora alegremente com aquela força que move os novos iluminados, aqueles tais que ‘sabem o que deve ser feito’, ou aqueles que, ao mesmo tempo que vão dizendo: «eu não quero dar lições de moral a ninguém», rematam sempre com um previsível «mas acho que isto devia ser feito assim»
É certo que todos procuramos um mínimo de base para o pêndulo. Uns precisam do achatamento arredondado típico dum sempre-em-pé, outros da quilha dum salva vidas inafundável, outros a rede que está por baixo da corda de trapezista, e há ainda os que eriçam o pêlo em sky surfings, à espera de que as emoções fortes dos ares ascendentes lhes dêem o que não conseguiram com o cerelac de pimenta verde ou com a ameaça do óleo de fígado de bacalhau, mas certinha certinha é a necessidade dum padrão mínimo de comportamento que pode ser decorado desde a bajulação precoce até ao espasmo livre e prolongado.
‘Todos temos cabeça para pensar e saber o que é melhor para cada um de nós’ é uma ideia que chega a assolar a zona esponjosa intracraneana de muito boa gente. Mas é algo que não está provado. Sabe-se que juntamos conceitos, sabe-se que juntamos recordações, sabe-se que há produtos químicos a tratarem da lubrificação dos neurónios, sabe-se até que há zonas mais dadas à brincadeira e outras mais dadas aos assuntos da lida da casa, enfim, sabe-se quase tudo menos o que interessa, ou seja: não se sabe que filha da puta de mecanismo nos levará ao caminho do certo e do errado e nos faria dispensar os bons conselhos de outros gajos que produzindo produtos químicos do mesmo género do nosso, até dá ideia de que são de melhor marca. Aquela mítica zona ética do cérebro é tanga, não existe, e a noção do bem e do mal mantém-se filha mais ou menos bastarda da cultura e do gene. Cada vez somos menos autónomos na distinção do que é feitio e do que é defeito, do que é virtude e do que deve pôr o sol a entrar-nos apenas pelas frestas.
Mais ou menos todos os ocidentais sabem que somos enteados da porra duma moral parida entre desertos e mares barrentos, mal enjoricada (não sei como se escreve isto) por profetas, viúvas, reis vaidosos, fornicadores olímpicos e arrependidos profissionais, amancebada com metáforas, refém de decifragens e escorada no cabrão dum betão com fissuras por todo o lado onde a humidade trabalha que nem corrimento numa profissional da satisfação masculina.
Mas o que antes nos sossegava hoje apoquenta-nos. Preferimos uma certeza de ocasião na mão a várias perenes a voar, e gostamos de conselhos que nos façam sentir confiantes, e crentes e auto-insuflados na nossa natureza mamífera. Transformámo-nos todos em empresas em reestruturação, que ora downsizam, ora spinoffam, ora diversificam, ora concentram, ora reciclam, ora fazem merda, mas precisam sempre de mercado e de concorrência.
A nossa natureza pede companhia. Somos uma mistura bichos de estimação com fama de grandes felinos, e liliputeanos com fama de gulliveres, fornicadores resignados com fama de masturbadores esclarecidos. Abençoados serão os que nos disserem o que fazer com voz meiguinha.
Toda a moral é adquirida, e nós pelamo-nos por saldos; e a mudança de estação é a raiz da nossa sobrevivência. A espécie aguenta-se porque tem conseguido ir combinando uma moral airosa num manequim abonecado, e na montra Deus pôs vidros fumados.
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