Miss Diore & Miss SheisedoOnde está um taco e umas bolas nem sempre estão três tabelas disponíveis para os servirem.
Miss Diore – Sabes querida, há por aí quem nos queira comparar…
Miss Sheisedo – Nem estou a ver o que possamos ter a ver uma com a outra..
Miss Diore – Talvez o facto de não haver homem que nos ligue mais do que aqueles 3 minutos que a curiosidade leva a tomar fervura no tachinho da concupiscência.
Miss Sheisedo – Credo, que palavreado; em ti eles olham para o vértice inferior, compreendo-os, mas comigo sinto-os a reterem-se em tudo aquilo que eu sou e os inspira.
Miss Diore – Minha linda, tens-te numa conta que quase estás a descrever o cruzamento entre uma estrela de Hollywood com uma personagem bíblica. Não tens aquela coisa com pêlos à volta que liga a tua vida interior ao mundo, ou besunta-la com pão ralado como quem disfarça bofe um panado?
Miss Sheisedo – Estás focando nesse interstício da feminiloide – até me fazes gerundiar, credo – porque só sabes abrir as pernas ao mundo, quanto à cabeça, mantém-se fechada, e tão irrelevante como uma panela de pressão cheia de bolinhas de sabão.
Miss Diore – A última vez que usei a cabeça de que falas foi a escolher um restaurante próximo do hotel onde estava. E digo-te, fiz logo asneira porque o tipo que estava comigo não me parava de olhar para a empregada moldava que tinha umas mamas parecidas com um abacaxi com vinho do Porto que uma vez tinha comido à beira mar a descansar duma f…
Miss Sheisedo – Poupa-me os pormenores, já sei que dominas as artes do sexo como a minha Alzira passa a ferro os colarinhos: primeiro deixa-los esticar, depois põe-los húmidos, e de seguida pões-te em cima deles que até a espada do rei Artur ficaria a parecer uma colher de pau a mexer umas claras em castelo.
Miss Diore – És um amor a descrever-me, e para ti deixas o quê, os problemas filosóficos da conicidade ou as reacções químicas dos restos dos cremes esfoliantes com o saco lacrimal descaído do homem.
Miss Shisedo – Tu gostas de te fazer mais parva do que realmente és; isso tem-te dado bons resultados na carteira e na pele, é?
Miss Diore – Os homens têm medo de mulheres muito inteligentes, porque o mito da inteligência sempre andou a roçar-se com o mito da errância.
Miss Sheisedo - Chiça, temos mulher! Olha, para te afastar dessa homosexualidade mitológica, só te digo, as melhores cabeças são as que de movimento constante, sincopado, previsível, vertical.
Miss Diore – Lindo! Agora já estou a gostar de te ouvir falar; quando estamos naqueles banhos de espuma de hormonas nem vale a pena arranjar padrões para nos compararem: somos apenas penugem e ovulação e cacarejo.
Miss Sheisedo – É pá, nem me fales nisso, a ultima vez que me chamaram galinha, desatei a escrever um tratado de misoginia que não consegui ter uma foda limpinha durante mais de dois meses, só via raposas em cima de mim e outras galinhas a correrem aos pulinhos e a gozar-me, vestidas com casacos de vison compridos.
Miss Diore – Chiça, mulher, para teres sonos assim deves ter o inconsciente a fazer de arca de Noé dentro dum jardim zoológico; o mais parecido que sonhei foi uma vez comigo a fazer de bo derek num cavalo e com o john wayne atrás de mim a recitar versos soltos das ‘flores de erva’, e digo-te todos os homens me cheiraram a cavalo durante mais de dois anos.
Miss Sheisedo – Acho que ao falar contigo estou a descer ao éden antes da costela do Adão se ter transformado em entrecosto. Pois eu continuo a achar que os homens, tirando aqueles primeiros momentos em que o pensamento vem a irrigar de baixo para cima que nem o delta do nilo, acabam por se deter naquilo que a gente tem de melhor: os sentimentos ambivalentes e oscilatórios; eles gostam da nossa inconstância, como os planetas ficam seduzidos pelos cometas mesmo tendo medo deles.
Miss Diore – Uns mais e outros muito menos, aviso-te, já me deixaram uma vez a comprar oreos numa bomba de gasolina por causa dum paleio q um dia me deu para os catalogar conforme a forma como guiam.
Miss Sheisedo – Ah, eu já me deixei de definir tipos de homens; nem acho sequer que eles sejam todos iguais, mas isso é um bocadinho como aquela discussão sobre a cor do mar, será azul, será verde, será prata, não interessa: nós é que fazemos os homens, vai por mim, eles são o que nós quisermos, temos esse poder, já vivemos dentro deles unindo-lhes os esterno com a espinha, não há órgão vital que não lhes tenhamos conhecido com intimidade.
Miss Diore – Lá está, o gajo donde eu saí devia ter as costelas descaídas porque o orgão vital que eu conheço melhor está mais abaixo…
Miss Sheisedo – Ó rapariga, os órgãos dos homens são praticamente todos iguais, aquilo é uma monotonia, parecem saidínhos directamente de seres unicelulares sem terem passado por anémonas do mar, livra; vai pró mim, redu-los a um código genético binário e nunca te enganarás: se tiveres mais de 33% da tua superfície epidérmica à vista, o sangue corre-lhes todo para um lado, se mostrares menos desses 33% é a imaginação que se lhes movimenta. Aliás, é essa a razão do trocadilho básico da psicologia feminina: o homens são um produto da sua ivaginação.
Miss Diore – Nem sei o que nos trouxe até esta conversa…
Miss Sheisedo – Ah, isso é obvio…a falta de homens interessantes por perto, sim, homens, esse ser que precisa sempre duma mulher para se poder definir. Tal como uma mulher precisa duma franja. Isto cada um tem o Levinas que merece.