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Terminarei hoje este tríptico inicial sobre os Factores Decisivos de Progresso e logo com um dos mais propícios a engalanar a prosápia: ‘a iluminação e a obstinação’ dos seres predestinados. Mas eis que estava já a preparar-me para afiar a serrilha das analogias, qual brincos pingados de filigrana reflectindo arco-íris na feira das vaidades, quando leio isto: «(…) Em Sófocles é através desta recusa em aceitar as limitações humanas que a humanidade alcança a sua grandeza. É uma grandeza conseguida não pela ajuda e incentivo dos deuses, mas pela fidelidade do herói à sua natureza posta à prova, sofrendo e morrendo; é então um triunfo puramente humano, mas que os deuses, a seu tempo, reconhecem e com que eles, certamente, à sua maneira misteriosa e distante, rejubilam» (*). Pessoal , isto caiu-me mais fundo do que estava à espera, ainda tentei desanuviar insultando metodicamente aquele rapaz vestido de encarnado que andava a dar festinhas ao cabelo do João Moutinho e a mandar o Quaresma rezar o terço, mas, e à falta de queijadinhas de Sintra, nada ficou como dantes: naturezas de excepção merecem deuses de excepção. Uma das consequências básicas do livre arbítrio, e dos hércules e ulisses de pacotilha, é que Deus também se tem ido ajustando aos caprichos dos mortais e lá vai fornecendo filoctetes para usar e abusar.

(*) in ‘The heroic temper, studies on sophoclean tragedy’ de Bernard Knox, transcrito no folheto que acompanha a peça Filoctetes em exibição no T. da Cornucópia.

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