E quem não salta é lampião

P. Arroja, o ‘eles falam falam’ da blogosfera política, e que ‘voltou’ como uma espécie de kit mãos livres da opinião liberal, chegou-se à frente, sprayou com a laca de belo efeito ondulação permanente e acenou com o abano refrescante do ‘big brother liberal’ (infelizmente não tem fornecido sevilhanas).

O chamado liberal moderno (ou antigo, mas pintado com cores mais folclóricas), e praticamente científico e teológico, tem uma característica peculiar: é ele que autodefine o que é absoluto e o que é relativo. Mas, aqui, P. Arroja foi mais à frente e alargou, refinando simultaneamente, o rol das definições: o que é de moral e o que não é, no fundo, o que se resolve por si (ou, leia-se, o que ele não sabe resolver) e o que precisa de intervenção dele (ou, leia-se, o que os outros não sabem resolver).

O liberalismo ‘filosófico’ assenta numa sonsice intelectual, e também ela sofismática: ‘não existe uma avaliação absoluta das coisas desde que cada um as possa medir a seu proveito’; resumindo, em versão kitchnete: quando não se sabe se o melhor é agrião ou feijão verde… canjinha para todos.

Só há uma forma de afirmar que um valor é absoluto: relacioná-lo com outro valor absoluto. Existe apenas um bem absoluto: Deus. Para quem Deus não ‘existe’, nenhum valor pode ser absoluto. Mas se não tomássemos posições circunstancialmente absolutas sobre bens relativos e também eles circunstanciais, o mundo seria uma espécie de revueltos de cogumelos, mas sem ovos.

A moral sem Deus é uma pura paneleirice. A ética sem Deus é uma passagem de modelos. Há que goste, claro, e até quem desfrute. Mas.

Mas afirmar – na linguagem corrente – que um assunto é ‘moral’ e que, portanto, o melhor é deixá-lo ao sabor das paneleirices de cada um, levanta duas consequências bem conhecidas: a) quem define o que é de ordem moral ou não (será a velocidade na estrada um assunto moral, será o tabaco um assunto moral, será a propriedade privada um assunto moral, será o fardamento dos polícias um assunto moral, será o ordenado dos deputados um assunto moral, será a decoração dos cemitérios um assunto moral, será o decibel da chicotada sadomaso um assunto moral, será a taxa de juro um assunto moral, será a altura da saia da primeira dama um assunto moral, etc); b) quem decide quanto tempo demora – ou deve demorar - a um assunto moral a resolver-se por si mesmo, e/ou até quanto deve uma sociedade ( na suposição que tal exista) aguentar a ‘confusão’ até que ela se resolva. Aparentam ser, no entanto, tudo questões de fácil resolução: quem saberá resolver isso sem complicações é o pessoal que tem a cédula profissional de ‘esclarecidos’e que certamente ajudou o Euclides a desenhar o que é da esfera pessoal e o que é da esfera colectiva.

O que se deve referendar são, então, precisamente, as listas de iluminados que decidem da natureza moral das coisas. Questão certa: ‘Deve o sr X servir como barriga de aluguer nas questões morais que se levantam nas pobres cabecinhas de quem tem filhos para parir?. Não se podendo referendar consciências, referendavam-se cabecinhas pensadoras.

Devemos tratar o new liberalism (é melhor não soletrar muito depressa porque se pode confundir com o cunilingus) como ele trata as chamadas questões de moralidade que o asfixiam: deixá-lo seguir o seu caminho, entre o badaró e o batatinha, ‘até se tornar irrelevante’. Mas temos o dever de o informar que a ‘Civilização’ foi evoluindo desta forma: todos os assuntos são políticos. Todos. Até a organização pública da relação com Deus é um assunto de César, uma coisa é a ‘mão invisível’ outra coisa é a feira de Carcavelos.

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