As zonas íntimas do ser sempre funcionaram como estimulante aos vendedores de afrodisíacos do pensamento. Ora mais ostra, ora mais pau de Cabinda, o ser apresentou-se à humanidade tão despido como os pombinhos do Génesis, mas mais descarado que uma polpa de cicciolina. Viciado na haute-couture desde os primeiros tempos, foi sempre tentado a usar trapinhos feitos à medida: desde o rendilhado mais atrevido da substância, procurando airosamente separar o essencial do acidental, até à Lycra dialéctica do acto e da potência, que lhe permitiram ajustar-se ao bamboleamento e torná-lo mais atractivo, passando pelo invitável corpete da não contradição que sempre o ajudou a manter a ilusão duma cinturinha ao abrigo da flacidez fenomenológica. Ou seja, desde que Mary Parménides Quant o apresentou ao mundo de mini-saia que o ser nunca mais foi uma pouca-vergonha, e nem a burka escolástica, nem o kimono heideggariano, nem o wonderbra desconstrutivista conseguiram empalidecer o fulgor da primeira carne posta ao léu.
Mas ainda hoje, o ser, quer ele esteja mais esquecido pelo apelo erótico do ente, ou mais banalizado pela fácil fotogenia da existência, é o que realmente leva o pensamento a perder-se, a desvanecer-se. Na dança do ventre da realidade, os parvos olham para o rabo, e os mais avisados esperam uma oportunidade para quando o véu caia. Nem que seja só de passagem.
Mas ainda hoje, o ser, quer ele esteja mais esquecido pelo apelo erótico do ente, ou mais banalizado pela fácil fotogenia da existência, é o que realmente leva o pensamento a perder-se, a desvanecer-se. Na dança do ventre da realidade, os parvos olham para o rabo, e os mais avisados esperam uma oportunidade para quando o véu caia. Nem que seja só de passagem.
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