Pinturas morais

(ou, pomposamente, apontamentos avulsos para uma história da consciência - agora que se descobriu que ela é mais intocável que uma virilha consagrada)

Foi recentemente descoberta o que se julga ser a verdadeira consciência do homem de Neandertal. Vinha embrulhada em folhinhas de palmeira polvilhadas com caganitas de albatroz e um bocadinho desbastada, por causa, certamente, dum acto sexual mal conseguido ou mesmo rechaçado, que teria levado a espécime a arrastar com a carola pelas paredes rugosas da caverna por mais de duas luas cheias.

Os testes com o carbono 7238 trouxeram à epiderme científica não só a datação do primeiro problema moral, que aparentou estar relacionado com a criação duma ‘zona de não mascadores de folha de urze de Madagáscar’, como, surpreendentemente, o momento do primeiro remorso (da dita consciência): quando se sentiu responsável (não culpada, porque a ‘culpa’ aparentemente só foi descoberta anos mais tarde quando um tal de Moisés andou a brincar às enfermeiras com uma princesa egípcia) por uma crise no harém tradicional, ao ter decidido enveredar pela traumática e revolucionária experiência monogâmica (com uma flausina bronzeada pelo sol mediterrânico pois ainda cheirava um pouco a azeite e queijo feta).

A primeira tentação sodómica aparece definida em sulcos numa zona parietal e teve inequivocamente a ver com a satisfação com o uso do paracetamol em versão scud no ataque da primeira febre dos fenos da pré-história, segundo os especialistas. A adopção de papa-formigas bebés por casais de caracóis hermafroditas levantou uma crise no bando, sendo isso patente num conjunto de cornucópias lilases desenhado junto ao cocuruto da dita consciência.

O tema da ‘propriedade’ chegou certamente a ser abordado pois existem vestígios claros de traulitada na zona frontal, e estará até relacionada com o aparecimento da noção de fé num Deus regulador e apaziguador pois começou a andar tudo ao molho e Hobbes ainda não era sequer um artista rupestre, nem o R. Sruton escrevia livros sobre o sentimento de ‘pertença’. O velho problema da vida intra-uterina pensa-se que não tenha chegado a ser equacionado por aquela consciência específica pois ainda não tinham aberto as clínicas em Badajoz, nem a corporation dermoestetica, e a primeira consciência liberal é, sabe-se, coeva do primeiro aborto espontâneo.

No entanto, parece evidente que a consciência encontrada terá sobrevivido a dois referendos que lhe foram muito exigentes: um, antes do grande degelo, quando se equacionou se as monções deveria ser utilizadas para acabar de vez com a raça dos chineses (ao que terá votado não porque ainda mostrava a marca duns auriculares de mp3 comprados a 1 euro), e um outro sobre a possibilidade de um feto de javali às 10 semanas já poder servir para rojões à minhota (ao que terá votado sim porque a dita consciência foi encontrada junto a uma taça em ferro fundido com restos de petingas em cebolada).

A consciência apresentava ainda o seu material esponjoso relativamente limpinho e viçoso e apenas na zona que se associa ao complexo de Édipo vinha com uns raminhos de salsa incrustados, ao que a equipa do CSI residente associou ao visionamento duma escandalosa cena de sexo entre progenitores em plena copa, mal arejada, da caverna; daí até, agora a título infroamtivo, a expressão que derivou: copular.

Parece pois tratar-se duma consciência relativamente bem formada, o único recalque possível de demonstrar prende-se com facto ter ficado de uma vez entalada entre duas coxas dum mamute fêmea – até deu origem à depravação voyeurista, presume-se – no intervalo duma caçada às rolas, e parece ter-se despedido do corpo de forma tranquila pois não havia vestígios nem de ter lido proust ou tomas mann, nem de ter roubado os calhaus bons do melhor amigo, e muito menos de ter usado em excesso o esfoliante do arrependimento como vaselina para os respectivos descargos.

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