As anotações de um picheleiro dos afectos
Caderno 1 - Tratado de educação sentimental para homens bons
Caderno 1 - Tratado de educação sentimental para homens bons
5º capitulo - Cauda-de-pavão
Este pequeno estudo não podia deixar de elaborar sobre uma das situações mais trágicas do jogo amoroso. Ora a mulher, tendo também alguns traços humanos, esporádica, mas muito raramente, é acometida de momentos de fragilidade e fraqueza que a levam a iniciativas de pendor sincero e carinhoso para com o seu parceiro afectivo. A riqueza científica destes momentos está precisamente no tipo de reacção do homem e não tanto no tipo de carinho desenvolvido pela fêmea em estado de quebra psicológica passageira (não passam, contudo, daquelas absurdas festinhas no ombro, e um ou outro toque de raspão nas patilhas do homem – única razão para a sua existência, registe-se).
Por não pretender ser exaustivo vou apenas tratar dos dois principais tipos de reacção: a ‘reacção de espanto e terror’ e a ‘reacção de inchaço de peito’.
A ‘reacção de espanto e terror’ é a que ocorre com mais frequência na fase de maturidade afectiva do homem. A este, perfeitamente consciente da baixíssima probabilidade de ocorrência do fenómeno-carinho-sincero na mulher em situações de pressão e temperatura normais, a primeira explicação que lhe atravessa a sua sofisticada mente masculina é: «ela está doentinha». Efectivamente um homem fica adverbialmente marado se suspeita de qualquer maleita na fêmea que o destino pós diluviano lhe concedeu, e as reacções são quase sempre cruéis e imprevisíveis, desde a erupção cutânea, até às (vou-me arrepiar novamente) séries consecutivas de beijinhos-botão-de-rosa em zonas carnudas, passando pelos clássicos «queres que te prepare alguma coisinha, querida?» ditos com a meridiana do rosto a inclinar progressivamente para os trágicos 45 graus.
No entanto, é no segundo grupo de reacções – as de ‘inchaço de peito’ – que se encontram as verdadeiras epifanias do canónico ridículo masculino, que eu sintetizaria: ele julga-se ser adorado que nem um cruzamento de Buda com Van Damme. Geralmente o homem assume uma postura empertigada mas semi-negligente, simulando o distanciamento e a nobreza duma estátua num quartel de cavalaria, e querendo fazer crer a todo o mundo - que o olha nesse momento, obviamente - uma autoconfiança só ao alcance dum torpedeiro rodeado por traineiras. No fundo, trata-se de um homem a ser adorado em concreto por uma mulher, com as manifestações físicas que elas costumam ter nas sapatarias, ou, no caso das mais religiosas, com as imagens do Senhor dos Passos. O homem-inchado-por-indução-de-movimento-afectivo-sincero da mulher pode assim considerar-se como um património antropológico e deve ser bem preservado.
Não gostaria de terminar este capitulo sem frisar que esse sub-produto da relação afectiva-amorosa que é o sentimento feminino, é ainda um fenómeno pouco estudado, mas alguns autores inclinam-se para resquícios duma mutação que ficou incompleta durante o Grande Degelo, em que uma mulher não conseguiu terminar com sucesso a sua transmutação genética para bloco de gelo com pernas.
Por não pretender ser exaustivo vou apenas tratar dos dois principais tipos de reacção: a ‘reacção de espanto e terror’ e a ‘reacção de inchaço de peito’.
A ‘reacção de espanto e terror’ é a que ocorre com mais frequência na fase de maturidade afectiva do homem. A este, perfeitamente consciente da baixíssima probabilidade de ocorrência do fenómeno-carinho-sincero na mulher em situações de pressão e temperatura normais, a primeira explicação que lhe atravessa a sua sofisticada mente masculina é: «ela está doentinha». Efectivamente um homem fica adverbialmente marado se suspeita de qualquer maleita na fêmea que o destino pós diluviano lhe concedeu, e as reacções são quase sempre cruéis e imprevisíveis, desde a erupção cutânea, até às (vou-me arrepiar novamente) séries consecutivas de beijinhos-botão-de-rosa em zonas carnudas, passando pelos clássicos «queres que te prepare alguma coisinha, querida?» ditos com a meridiana do rosto a inclinar progressivamente para os trágicos 45 graus.
No entanto, é no segundo grupo de reacções – as de ‘inchaço de peito’ – que se encontram as verdadeiras epifanias do canónico ridículo masculino, que eu sintetizaria: ele julga-se ser adorado que nem um cruzamento de Buda com Van Damme. Geralmente o homem assume uma postura empertigada mas semi-negligente, simulando o distanciamento e a nobreza duma estátua num quartel de cavalaria, e querendo fazer crer a todo o mundo - que o olha nesse momento, obviamente - uma autoconfiança só ao alcance dum torpedeiro rodeado por traineiras. No fundo, trata-se de um homem a ser adorado em concreto por uma mulher, com as manifestações físicas que elas costumam ter nas sapatarias, ou, no caso das mais religiosas, com as imagens do Senhor dos Passos. O homem-inchado-por-indução-de-movimento-afectivo-sincero da mulher pode assim considerar-se como um património antropológico e deve ser bem preservado.
Não gostaria de terminar este capitulo sem frisar que esse sub-produto da relação afectiva-amorosa que é o sentimento feminino, é ainda um fenómeno pouco estudado, mas alguns autores inclinam-se para resquícios duma mutação que ficou incompleta durante o Grande Degelo, em que uma mulher não conseguiu terminar com sucesso a sua transmutação genética para bloco de gelo com pernas.
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