Nails R Us

Uns dos recantos mais pitorescos da paisagística feminina são as unhas exuberantemente pintadas. Para além das evidentes funções para as quais a morfologia aponta, parece claro que as forças dirigentes da criação (leia-se Deus ou o pirilampo mágico evolucionista) destinaram a estas queratinizadas extremidades um papel singularmente decorativo. Algo a que a mulher chamou imediatamente um figo, e que, depois da orelhinha, se assumiu como o suporte mais procurado para as suas fantasias de cor e luz, e a tornam num autêntico fogo de artifício com pernas, deixando para trás muita passarada tropical, ou peixinho de águas quentes.
No entanto, afigura-se-me que a pintura decorativa de unhas desempenha no universo feminino também uma dupla missão: ajuda a controlar o impulso exibicionista e a manipular a orientação do interesse masculino, que são, como sabemos, os dois calcanhares de Aquiles da feminilidade: gerir simultaneamente a auto-imagem, e o efeito dela em terceiros; a mulher é um puro ser de múltiplas fusões.
Por outro lado, a técnica das unhas pintadas ao conseguir, numa só penada, cumprir um desiderato lúdico e um efeito diversivo – e subversivo - na atenção alheia, permitem à mulher gerir o seu universo fantasioso que tem tudo para a trair, ou pelo menos, para a deixar sem referenciais seguros e previsíveis.
Mas sendo o interesse estético masculino um bem escasso, e muitas vezes algo de natureza quase mineral, a mulher é levada a empolgar-se e a pensar que tem de fauvizar a sua existência, e transformar as pontas dos dedos numa arena portátil sacudida por um paso doble de falangetas. E assim surgem as famosas unhas pintadas de encarnado, um clássico da civilização ocidental, ao nível das colunas dóricas ou das abóbadas góticas, para já não falar nos famosos azulejos em vivendas da beira interior.
As unhas pintadas de encarnado (seja qual for o seu formato) revelam sempre uma mulher em fase de ‘necessidade de domínio’. É aquele momento em que as eventuais inseguranças exigem um acto veemente de tomada de posição; a simbologia é evidente: o sangue acorre às pontas, o coração ficou livre de emoções limitadoras, a melhor defesa é o ataque; o ser objecto confunde-se com o ser sujeito. Uma mulher com unhas pintadas de encarnado é sempre um brinquedo perigoso.
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imagem: capa do último cd dos suecos Hello Saferide

2 comentários:

Anónimo disse...

Refere-se às dos pés ou às das mãos? É só uma conversinha que estou a ter com as minhas 20 pintadas de vermelho...

C.

aj disse...

'as 20'!... isso é q já me parece 'obsessão de domínio'...