Há uma expressão que me chateia
‘Estado vegetativo’; não respeita nem as plantas nem as pessoas.
Dúvida
Será que vocês mulheres feitas, mães de família, que lavais tudo bem e com lixívia, esmeradas, bordadeiras e boas cozinheiras, que não descuidais um pesponto, que ao marido dais sempre um certo desconto, que beijais pudica e suavemente para que o vosso homem não se atormente, vós que escolheis sempre as melhores combinações para os cortinados, que adormeceis os vossos filhos sem trinados, que rezais compenetradamente nos dias de finados, vós que tendes sempre a palavra certa à mão, que conheceis as mezinhas certas para a constipação, que sustendes heroicamente uma lágrima de aflição, que amais sem sofreguidão e que acarinhais a roçar a escondida compaixão, vós que tratais piedosamente da incontinência dos vossos pais agora velhos, que sabeis ser humildes sem estar de joelhos, que tendes paciência para juntar todos à mesma mesa, e que nunca deixais ninguém cair na fraqueza, será que vós, sim, era esta a questão, vós também tivestes quinze anos?
Será que vocês mulheres feitas, mães de família, que lavais tudo bem e com lixívia, esmeradas, bordadeiras e boas cozinheiras, que não descuidais um pesponto, que ao marido dais sempre um certo desconto, que beijais pudica e suavemente para que o vosso homem não se atormente, vós que escolheis sempre as melhores combinações para os cortinados, que adormeceis os vossos filhos sem trinados, que rezais compenetradamente nos dias de finados, vós que tendes sempre a palavra certa à mão, que conheceis as mezinhas certas para a constipação, que sustendes heroicamente uma lágrima de aflição, que amais sem sofreguidão e que acarinhais a roçar a escondida compaixão, vós que tratais piedosamente da incontinência dos vossos pais agora velhos, que sabeis ser humildes sem estar de joelhos, que tendes paciência para juntar todos à mesma mesa, e que nunca deixais ninguém cair na fraqueza, será que vós, sim, era esta a questão, vós também tivestes quinze anos?
Uma tal de refundação da direita parece ser então o tema da moda. Nada melhor que um domingo de páscoa para pôr um pouco de ordem no folar. O dicionário não ilustrado apresenta hoje – quase teologicamente - as alternativas que se colocam ao dispor desse lado penhorado do poder. (entradas 986 a 993)
Ressurreição – Processo através do qual um determinado quadrante político ( bela expressão) depois de obrigar os seus fundadores a darem várias voltas nos túmulo, desaparece sem dar cavaco mas, depois dumas trovoadas, esse mesmo cavaco acaba por reaparecer em forma de línguas de fogo a comer bolo rei com a boca cheia.
Transubstanciação – Processo praticamente científico em que uma boa doutrina nos pode pôr a boca a saber a papel. (esta deve-me esgotar a reserva de indulgências plenárias que vim a guardar desde o Natal)
Transfiguração – É pena que não tenha sobejado das eleições muita verba para os efeitos especiais, porque se alguém aparecesse com Moisés dum lado e com Elias do outro, não acredito que a esquerda não se mijasse toda.
Renascimento das cinzas – Com um bocadito de imaginação não será difícil a uns a quantos franganotes pensarem que do churrasquinho das urnas ainda poderão sair que nem Fenix com molho picante. E haverá sempre gente a querer fazer de batata frita.
Canonização – Processo que permitiria a uma força política transformar um dedo em riste numa relíquia, e uma presidência de câmara num andor de procissão. Para milagre basta confirmar-se que ainda estamos de pé.
Parabolização – Escolha-se um filho pródigo lavadinho, escolha-se a terra boa para o semeador e apenas faltará quem se chegue à frente para ser grão de mostrada. Os que estiverem atrasados venham já com o trigo e o joio separado porque depois já não há fermento que chegue para todos.
Alegorização – Se narana fizer de pai natal, se mizé nogueira pinto fizer de polegarzinha, se telmo correia fizer de peter pan, se marques mendes fizer de simba, até o walt disney pedirá a Nossa Senhora para vir brincar às bodas de caná para boliqueime e transforme uma cambada de nabos, chouriços e carrascão, num choucroute com moet chandon
Alquacerquibirização – Modelo teológico de forja nacional em que o menino Jesus deixou as ovelhas e respectivos pastores de turno a cheirar o incenso e a mirra e bazou com o ouro dizendo aos reis magos que ia a uma casa de câmbios. Na manjedoura a vaquinha e o burro ainda aguardam pela taxa de conversão olhando para a palhinha vazia e esperando que o nevoeiro da alternância democrática passe.
Ressurreição – Processo através do qual um determinado quadrante político ( bela expressão) depois de obrigar os seus fundadores a darem várias voltas nos túmulo, desaparece sem dar cavaco mas, depois dumas trovoadas, esse mesmo cavaco acaba por reaparecer em forma de línguas de fogo a comer bolo rei com a boca cheia.
Transubstanciação – Processo praticamente científico em que uma boa doutrina nos pode pôr a boca a saber a papel. (esta deve-me esgotar a reserva de indulgências plenárias que vim a guardar desde o Natal)
Transfiguração – É pena que não tenha sobejado das eleições muita verba para os efeitos especiais, porque se alguém aparecesse com Moisés dum lado e com Elias do outro, não acredito que a esquerda não se mijasse toda.
Renascimento das cinzas – Com um bocadito de imaginação não será difícil a uns a quantos franganotes pensarem que do churrasquinho das urnas ainda poderão sair que nem Fenix com molho picante. E haverá sempre gente a querer fazer de batata frita.
Canonização – Processo que permitiria a uma força política transformar um dedo em riste numa relíquia, e uma presidência de câmara num andor de procissão. Para milagre basta confirmar-se que ainda estamos de pé.
Parabolização – Escolha-se um filho pródigo lavadinho, escolha-se a terra boa para o semeador e apenas faltará quem se chegue à frente para ser grão de mostrada. Os que estiverem atrasados venham já com o trigo e o joio separado porque depois já não há fermento que chegue para todos.
Alegorização – Se narana fizer de pai natal, se mizé nogueira pinto fizer de polegarzinha, se telmo correia fizer de peter pan, se marques mendes fizer de simba, até o walt disney pedirá a Nossa Senhora para vir brincar às bodas de caná para boliqueime e transforme uma cambada de nabos, chouriços e carrascão, num choucroute com moet chandon
Alquacerquibirização – Modelo teológico de forja nacional em que o menino Jesus deixou as ovelhas e respectivos pastores de turno a cheirar o incenso e a mirra e bazou com o ouro dizendo aos reis magos que ia a uma casa de câmbios. Na manjedoura a vaquinha e o burro ainda aguardam pela taxa de conversão olhando para a palhinha vazia e esperando que o nevoeiro da alternância democrática passe.
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dicionário não ilustrado
Surrounded souls
No princípio dos anos 80 Christo montou mais uns dos seus ‘lugares imaginários’ nas ilhas que defrontam Miami. A imaginação, a obstinação, a excentricidade deram origem a um mirabolante cenário de ‘pink & green’ quais cuecas mal vestidas na selva de pêlos púbicos de Biscayne Bay. Sempre gostei deste estado da natureza em pose artificial , fazendo pirraça às passerelles, e mostrando que é o homem quem manda, que se reclinem os chilreares, os riachos a pingar, as neves perpétuas e os corais às cores.
Só o verdadeiro ‘poseur’ ( gira esta palavra ) pode saber que nada vale uma aparência, tal como só o batoteiro sabe que uma boa sequência é uma ilusão de mangas. Jesus morre duma forma carregada de estética, filigrana o sofrimento duma forma arrepiante, e deixa ao cristianismo uma ‘pose de alma’ para ir desvendando, tal como o seu pai, o dito Criador, tinha deixado a natureza à mercê de pessoal que a poderia pintar de cor de rosa, qual blogue de gaja.
Sobre as dúvidas e as inquietações dum crente ( isto até dava um bom nome para um chá purgante) já tanta gente mandou palpites que estas quase se tornaram tão importantes e exegéticas como a própria fé; numa lógica de belo efeito se Christo nos envolvesse a carola com uns paninhos de renda, para metade do mundo seríamos um enorme vibrador e para outra metade seríamos uma mesa de cabeceira. Mas a verdade é que não passávamos duns parvos com cara de cu e a fazer figura de ursos. Somos obviamente almas sitiadas e rodeadas por caprichosos jogos de verdade e consequência, para os quais a fé é a única saída. Colorida.
Neste sábado de Cristo morto-não-morto o mundo bem podia ser uma ‘surrounded island’ por onde Ele se passeasse baralhando-nos as cores, tricotando-nos as formas. Vá, fazias isto de novo, e eu deixava de ter esta mente conspurcada e já não via florestas pélvicas onde apenas estão panos de polipropileno rosa a envolver pequenos bosques triangulares no meio das coxas do mar. Punhas-me com um sexto sentido, sim até pode ser como o tal das mulheres, deixava de ser como aqueles marmanjos e só jogava ao sete e meio com os anjos, vê lá, ainda vais a tempo, esquece esse capricho de nós termos de ser livres, faz a malta perceber logo esta coisa toda, depois haveremos de arranjar qualquer esquema para safar a festa do juízo final, ainda sobejaram aqueles foguetes do S. João que não rebentaram no ar, vê bem, tens até domingo para pensar.
No princípio dos anos 80 Christo montou mais uns dos seus ‘lugares imaginários’ nas ilhas que defrontam Miami. A imaginação, a obstinação, a excentricidade deram origem a um mirabolante cenário de ‘pink & green’ quais cuecas mal vestidas na selva de pêlos púbicos de Biscayne Bay. Sempre gostei deste estado da natureza em pose artificial , fazendo pirraça às passerelles, e mostrando que é o homem quem manda, que se reclinem os chilreares, os riachos a pingar, as neves perpétuas e os corais às cores.
Só o verdadeiro ‘poseur’ ( gira esta palavra ) pode saber que nada vale uma aparência, tal como só o batoteiro sabe que uma boa sequência é uma ilusão de mangas. Jesus morre duma forma carregada de estética, filigrana o sofrimento duma forma arrepiante, e deixa ao cristianismo uma ‘pose de alma’ para ir desvendando, tal como o seu pai, o dito Criador, tinha deixado a natureza à mercê de pessoal que a poderia pintar de cor de rosa, qual blogue de gaja.
Sobre as dúvidas e as inquietações dum crente ( isto até dava um bom nome para um chá purgante) já tanta gente mandou palpites que estas quase se tornaram tão importantes e exegéticas como a própria fé; numa lógica de belo efeito se Christo nos envolvesse a carola com uns paninhos de renda, para metade do mundo seríamos um enorme vibrador e para outra metade seríamos uma mesa de cabeceira. Mas a verdade é que não passávamos duns parvos com cara de cu e a fazer figura de ursos. Somos obviamente almas sitiadas e rodeadas por caprichosos jogos de verdade e consequência, para os quais a fé é a única saída. Colorida.
Neste sábado de Cristo morto-não-morto o mundo bem podia ser uma ‘surrounded island’ por onde Ele se passeasse baralhando-nos as cores, tricotando-nos as formas. Vá, fazias isto de novo, e eu deixava de ter esta mente conspurcada e já não via florestas pélvicas onde apenas estão panos de polipropileno rosa a envolver pequenos bosques triangulares no meio das coxas do mar. Punhas-me com um sexto sentido, sim até pode ser como o tal das mulheres, deixava de ser como aqueles marmanjos e só jogava ao sete e meio com os anjos, vê lá, ainda vais a tempo, esquece esse capricho de nós termos de ser livres, faz a malta perceber logo esta coisa toda, depois haveremos de arranjar qualquer esquema para safar a festa do juízo final, ainda sobejaram aqueles foguetes do S. João que não rebentaram no ar, vê bem, tens até domingo para pensar.
De peito feito, com os corações ao alto, mas
já agora «volgi li occhi in giúe:
Buon ti sarà, per tranquillar la via,
veder lo letto de le piante tue.»(*)
sabendo que a seguir à noite vem o dia,
que o coração não sua, mas ama,
que o mundo é uma bola fugidia
and after spring comes summer
and swet, e agora vou para a cama.
(*) Dante, Divina Comédia, canto XII, Purgatório
já agora «volgi li occhi in giúe:
Buon ti sarà, per tranquillar la via,
veder lo letto de le piante tue.»(*)
sabendo que a seguir à noite vem o dia,
que o coração não sua, mas ama,
que o mundo é uma bola fugidia
and after spring comes summer
and swet, e agora vou para a cama.
(*) Dante, Divina Comédia, canto XII, Purgatório
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Dante
Conto a que é preciso dar um certo desconto
Olivier tinha chegado tarde a Cannes, na pensão já todos dormiam menos o Sean Penn que estava a colar na caderneta os últimos cromos da colecção da Madonna. O seu filme sobre os mestres pasteleiros da Croácia tinha-lhe corrido bem mas o Kusturica à última hora faltou-lhe com a sequência original dum casamento de ciganos marados que lhe teria caído que nem ginja na parte final; acabou por substitui-la pelos cortes não aproveitados duma corrida de carros filmada pelo Carpenter, e até encaixou bem porque um dos carros era guiado por uma ruiva que ia com as mudanças desengatadas e enfiava-se de frente na montra duma pastelaria. Olivier ainda alimentava alguma esperança no prémio principal, mas havia um lobby forte para um documentário sobre os efeitos perversos dos brincos de argolas no estereótipo da beleza feminina. Uma rábula em torno da figura de Xantipa preparava-se para ser a grande revelação; tratava duma moça prendada que tricotava camisolinhas de lã para pensadores-filósofos mas inscritos no sindicato e que punha um feitiço no fio que os transformava incomodamente a todos em liberais anglo-saxónicos e defensores de quotas para mulheres. A rapariga que fazia de Xantipa estava na mesma pensão de Olivier e encontraram-se ao pequeno-almoço, mas infelizmente já não chegaram a tempo dos palmiers porque se tinha gerado um grande reboliço logo pela manhã quando se soube que o realizador do documentário sobre os brincos de argolas tinha sido pago por fora pela Majorica; já não havia uma indignação tão grande desde aquele ano em que se descobriu que o Tarkovsky era patrocinado pelo Xanax. A rapariga que fazia de Xantipa gostava de brincos de pérolas e quando se enervava só bebia copos de água, era uma rapariga discreta, e tinha ficado com aquele papel porque o realizador não apreciava mulheres vistosas, nem convinha, tal como não convém às mulheres usarem brincos de argolas. O outro tal documentário estava bem feito e até aparecia a Nadia Comaneci com uns brincos de pendentes formato cavalo com arções; ela tinha montado uma churrascaria a meias com o Bill Murry que se punha ao balcão a galar as freguesas e a cantar músicas da Edie Brickell em falsete enquanto besuntava as frangas de piri piri. Mas Olivier no fundo estava por tudo desde que as pessoas gostassem daquele grande plano da torta de figo com amêndoas no qual ele se tinha esmerado tanto, e em que a Victoria Madsen se embebedava e tudo, com o ‘cheval blanc’ de 61 ( acho que é neste ano que essa colheita está no seu melhor - tal como acontece com outras espécimes da natureza, diga-se). Só que o reescrever da história de Xantipa comoveu muito o júri feminino, no fundo demonstrava-se que uma mulher só se torna rabugenta porque muitas vezes se limita a viver ‘sitting, waiting and wishing’. Olivier acabou por receber o prémio de consolação e foi assim com ela comer uns palmiers cobertos, daqueles mal cozidos e em que a cobertura se desfaz na boca tal como a verdade quando vem com demasiado açúcar a pecar sobre o ovo. Curiosamente a rapariga que recuperou a imagem de Xantipa em Cannes tapava cuidadosamente as orelhas com o seu cabelo indomável. Mas Olivier também não tinha nada de jeito para dizer, mal bolos sabia fazer.
Olivier tinha chegado tarde a Cannes, na pensão já todos dormiam menos o Sean Penn que estava a colar na caderneta os últimos cromos da colecção da Madonna. O seu filme sobre os mestres pasteleiros da Croácia tinha-lhe corrido bem mas o Kusturica à última hora faltou-lhe com a sequência original dum casamento de ciganos marados que lhe teria caído que nem ginja na parte final; acabou por substitui-la pelos cortes não aproveitados duma corrida de carros filmada pelo Carpenter, e até encaixou bem porque um dos carros era guiado por uma ruiva que ia com as mudanças desengatadas e enfiava-se de frente na montra duma pastelaria. Olivier ainda alimentava alguma esperança no prémio principal, mas havia um lobby forte para um documentário sobre os efeitos perversos dos brincos de argolas no estereótipo da beleza feminina. Uma rábula em torno da figura de Xantipa preparava-se para ser a grande revelação; tratava duma moça prendada que tricotava camisolinhas de lã para pensadores-filósofos mas inscritos no sindicato e que punha um feitiço no fio que os transformava incomodamente a todos em liberais anglo-saxónicos e defensores de quotas para mulheres. A rapariga que fazia de Xantipa estava na mesma pensão de Olivier e encontraram-se ao pequeno-almoço, mas infelizmente já não chegaram a tempo dos palmiers porque se tinha gerado um grande reboliço logo pela manhã quando se soube que o realizador do documentário sobre os brincos de argolas tinha sido pago por fora pela Majorica; já não havia uma indignação tão grande desde aquele ano em que se descobriu que o Tarkovsky era patrocinado pelo Xanax. A rapariga que fazia de Xantipa gostava de brincos de pérolas e quando se enervava só bebia copos de água, era uma rapariga discreta, e tinha ficado com aquele papel porque o realizador não apreciava mulheres vistosas, nem convinha, tal como não convém às mulheres usarem brincos de argolas. O outro tal documentário estava bem feito e até aparecia a Nadia Comaneci com uns brincos de pendentes formato cavalo com arções; ela tinha montado uma churrascaria a meias com o Bill Murry que se punha ao balcão a galar as freguesas e a cantar músicas da Edie Brickell em falsete enquanto besuntava as frangas de piri piri. Mas Olivier no fundo estava por tudo desde que as pessoas gostassem daquele grande plano da torta de figo com amêndoas no qual ele se tinha esmerado tanto, e em que a Victoria Madsen se embebedava e tudo, com o ‘cheval blanc’ de 61 ( acho que é neste ano que essa colheita está no seu melhor - tal como acontece com outras espécimes da natureza, diga-se). Só que o reescrever da história de Xantipa comoveu muito o júri feminino, no fundo demonstrava-se que uma mulher só se torna rabugenta porque muitas vezes se limita a viver ‘sitting, waiting and wishing’. Olivier acabou por receber o prémio de consolação e foi assim com ela comer uns palmiers cobertos, daqueles mal cozidos e em que a cobertura se desfaz na boca tal como a verdade quando vem com demasiado açúcar a pecar sobre o ovo. Curiosamente a rapariga que recuperou a imagem de Xantipa em Cannes tapava cuidadosamente as orelhas com o seu cabelo indomável. Mas Olivier também não tinha nada de jeito para dizer, mal bolos sabia fazer.
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contos
Apenas à janela burilando poligamicamente o real
( é o que dá a actualidade estar assim a modos que empolgante e ter acabado de ouvir o Peseiro)
O avatares termina um texto escrevendo: «Só um amor vivido merece disputar com o fim e com a sua memória». Ora isto leva-me antes à ideia de que só um eterno ‘amor por viver’ é que tem a capacidade de disputar, e com possibilidade de vitória, a luta contra essas míticas bestas que são o ‘abandono’ e a ‘recordação’. Não se trata sequer daquela receita básica de tentar nunca esgotar uma relação amorosa, por sofreguidão ou por economia, é mais saber antes nunca começá-la, saber resistir e nunca tirar a cabecinha de fora da caverna. A receita para nunca viver refém do eterno «should I stay or should I go now», é ir desfiando o tal ‘novelo de "momentos" de crença viajada’, apenas sonhando, e nunca correndo o risco de trazer a mesma coisa duas vezes ao coração (ouvir os Clash é opcional). E é também por isso que o amor dos místicos, até mesmo à luz dos pressupostos de eros, será sempre o único que se está a borrifar para os levianos caprichos da memória. São eles os verdadeiros que-se-foda-lovers.
E agora vou para dentro porque apanhei outra corrente d’ar pela certa.
( é o que dá a actualidade estar assim a modos que empolgante e ter acabado de ouvir o Peseiro)
O avatares termina um texto escrevendo: «Só um amor vivido merece disputar com o fim e com a sua memória». Ora isto leva-me antes à ideia de que só um eterno ‘amor por viver’ é que tem a capacidade de disputar, e com possibilidade de vitória, a luta contra essas míticas bestas que são o ‘abandono’ e a ‘recordação’. Não se trata sequer daquela receita básica de tentar nunca esgotar uma relação amorosa, por sofreguidão ou por economia, é mais saber antes nunca começá-la, saber resistir e nunca tirar a cabecinha de fora da caverna. A receita para nunca viver refém do eterno «should I stay or should I go now», é ir desfiando o tal ‘novelo de "momentos" de crença viajada’, apenas sonhando, e nunca correndo o risco de trazer a mesma coisa duas vezes ao coração (ouvir os Clash é opcional). E é também por isso que o amor dos místicos, até mesmo à luz dos pressupostos de eros, será sempre o único que se está a borrifar para os levianos caprichos da memória. São eles os verdadeiros que-se-foda-lovers.
E agora vou para dentro porque apanhei outra corrente d’ar pela certa.
The Clerasil Country
O povo andava escandalizado, até as dores de cabeça já tinham perdido a dignidade! Agora vai de atestar o carro e depois baixinho dizemos: «olhe e... por acaso para as hemorróidas não têm nada», e vai daí a gajita do balcão diz quase aos berros «olhe dou-lhe mais 200 pontos no cartão se comprar um vasenol de aloe vera, e damos-lhe ainda duas latas de fanta maracujá se comprar uma pílula do dia seguinte», ora porra (porque agora não se pode dizer palavrões) eu geralmente até é mais dores de cabeça mas…«paciência Benurons é só com o ‘Diesel’ e o sr. aviou-se de ‘sem chumbo’, mas se quiser uma lavagem com aspiração estamos a dar de brinde o cremezinho para a furunculose que tem dado muito resultado nos taxistas», mete a furunculose no rabo julgas que estás a falar com quem, a coisa estava a azedar, mas entretanto apareceu um arrumador que vendia na candonga ‘números únicos’ de grávidas com isenção de taxa moderadora, eu disse-lhe que se calhar parecia mal e que a minha barriga também não estava nesse estado deplorável, mas ele viu-me a tremer de impaciência e impingiu-me então por 100 euros o ‘número único’ dum gajo com Parkinson que tinha marado debaixo dum viaduto do IC19, mas entretanto a menina do balcão não perdia tempo, «e a sua senhora não quererá aproveitar o ‘kit menstruada’, compra uma mudança de óleo e leva duas caixinhas de Trifene com um pacote de Evax Durão Barroso», aquilo já roçava a falta de respeito e a graçola de mau gosto, «mas com o ‘sem chumbo’ estamos é a dar creme Barral para as estrias na barriga», sinceramente também não achava que estivesse assim tão mal, «mas já se sabe, se não quiser fica com o talão de compras no Ikea e depois lá pode trocar por umas senhas no Feira Nova e se fizer aí despesa dá 10% de desconto na Lanidor que por sua vez dão direito a 10 litros do Diesel ultra-plus-aditivado-high-star e então começa tudo de novo, por isso eu aconselhava-lhe já mas era a aproveitar a promoçãozinha do Alibut em gel»; uma pessoa fica por tudo e com a cabeça em água até traz qualquer coisa só para ver se ela se cala, mas então, pensando que já está quase ao caminho nas graças de S. Cristovão, ainda se leva a estocada final quando ao microfone aquela vozinha de guelra metalizada avisa : «o senhor que abasteceu na bomba três esqueceu-se do creme para as hemorróidas aqui no balcão ao pé do líquido para as lêndeas do menino». Bem, agora o povo já pode dizer foda-se, ou ainda não?
O povo andava escandalizado, até as dores de cabeça já tinham perdido a dignidade! Agora vai de atestar o carro e depois baixinho dizemos: «olhe e... por acaso para as hemorróidas não têm nada», e vai daí a gajita do balcão diz quase aos berros «olhe dou-lhe mais 200 pontos no cartão se comprar um vasenol de aloe vera, e damos-lhe ainda duas latas de fanta maracujá se comprar uma pílula do dia seguinte», ora porra (porque agora não se pode dizer palavrões) eu geralmente até é mais dores de cabeça mas…«paciência Benurons é só com o ‘Diesel’ e o sr. aviou-se de ‘sem chumbo’, mas se quiser uma lavagem com aspiração estamos a dar de brinde o cremezinho para a furunculose que tem dado muito resultado nos taxistas», mete a furunculose no rabo julgas que estás a falar com quem, a coisa estava a azedar, mas entretanto apareceu um arrumador que vendia na candonga ‘números únicos’ de grávidas com isenção de taxa moderadora, eu disse-lhe que se calhar parecia mal e que a minha barriga também não estava nesse estado deplorável, mas ele viu-me a tremer de impaciência e impingiu-me então por 100 euros o ‘número único’ dum gajo com Parkinson que tinha marado debaixo dum viaduto do IC19, mas entretanto a menina do balcão não perdia tempo, «e a sua senhora não quererá aproveitar o ‘kit menstruada’, compra uma mudança de óleo e leva duas caixinhas de Trifene com um pacote de Evax Durão Barroso», aquilo já roçava a falta de respeito e a graçola de mau gosto, «mas com o ‘sem chumbo’ estamos é a dar creme Barral para as estrias na barriga», sinceramente também não achava que estivesse assim tão mal, «mas já se sabe, se não quiser fica com o talão de compras no Ikea e depois lá pode trocar por umas senhas no Feira Nova e se fizer aí despesa dá 10% de desconto na Lanidor que por sua vez dão direito a 10 litros do Diesel ultra-plus-aditivado-high-star e então começa tudo de novo, por isso eu aconselhava-lhe já mas era a aproveitar a promoçãozinha do Alibut em gel»; uma pessoa fica por tudo e com a cabeça em água até traz qualquer coisa só para ver se ela se cala, mas então, pensando que já está quase ao caminho nas graças de S. Cristovão, ainda se leva a estocada final quando ao microfone aquela vozinha de guelra metalizada avisa : «o senhor que abasteceu na bomba três esqueceu-se do creme para as hemorróidas aqui no balcão ao pé do líquido para as lêndeas do menino». Bem, agora o povo já pode dizer foda-se, ou ainda não?
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La vie au Tanga
‘I want my money back’
O pessoal das farmácias já fez avisar que querem receber o voto deles de volta, e que se o Freitas lá lhes aparecer para aviar uma pílula do dia seguinte, porque não quer correr o risco de ser o pai da direita portuguesa, eles aviam-lhe mas é uma pomada para as frieiras para ele esfregar no dia em que ficar à porta da Casa Branca a arrastar os pés à espera de receber a renda das Lages. E quem quiser ir aliviar das micoses, ou das calosidades da nádega por causa da dança das cadeiras, bem pode dirigir-se à bomba de gasolina mais próxima, porque os gajos já só estão a servir pó de talco a quem apresente as virilhas húmidas por causa da tanga ter estado apertada e ser em material sintético rasca.
O pessoal das farmácias já fez avisar que querem receber o voto deles de volta, e que se o Freitas lá lhes aparecer para aviar uma pílula do dia seguinte, porque não quer correr o risco de ser o pai da direita portuguesa, eles aviam-lhe mas é uma pomada para as frieiras para ele esfregar no dia em que ficar à porta da Casa Branca a arrastar os pés à espera de receber a renda das Lages. E quem quiser ir aliviar das micoses, ou das calosidades da nádega por causa da dança das cadeiras, bem pode dirigir-se à bomba de gasolina mais próxima, porque os gajos já só estão a servir pó de talco a quem apresente as virilhas húmidas por causa da tanga ter estado apertada e ser em material sintético rasca.
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La vie au Tanga
Conto da parva e do consolado
Eu cá se fosse a vocês recusava-me a ser personagem desses novos romances que agora escrevem por aí. Tratam-vos mal, não vos dão miúdas decentes para confraternizar, casamentos felizes poucos, filhos – quando os há – cheios de problemas na escola, sexo é mal e porcamente, angústias em barda, chegam a chamar-vos feios, quando não velhacos, e até vão ao cúmulo de se porem a falar com vocês em discurso indirecto; mandem-nos àquela parte, os gajos ou são escritores ou são motoristas de táxi, vão lá brincar às figuras de estilo com os amiguinhos deles; O Jack e a Louise ganhavam a vida a fazer de personagens na nova prosa americana, chegaram a entrar num livro do Roth num papel secundário da Pastoral e saíram-se bem, deu para acabarem de mobilar a casa, só que sentiam que lhes faltava qualquer coisa, apenas situações de construção de personalidade já não lhes enchiam as medidas, gostavam de experimentar as sensações fortes dum romance à antiga, ele queria mesmo medir forças com um sogro dominador (mas não castrador) e ela não se importava de ter de lutar contra uma amante daquelas vistosas e tudo, mas ela era um bocado parva. Apareceu-lhes então um romance com disponibilidade para uma trama assim, passava-se na zona dos Grande Lagos, na altura da Primavera, os capítulos eram curtos, eram pagos ao trocadilho, à graçola e ao gemido, e havia bónus para diálogos aforísticos, pareceu-lhes bem e até arejavam, é que foda-se desde o último que tinham feito do Carver - e só com meia dúzia de páginas - tinham ficado a cheirar álcool e tabaco que até tresandava. O livro aparentemente tinha tudo para correr bem, Jack chegaria mais tarde ao enredo porque só entrava no 4º capítulo, aproveitou essa folga para um biscate com umas falas rápidas e obscenas num conto brasileiro curto, tipo Ruben Fonseca mas dizendo cona mais vezes, onde testavam agora – para desenjoar –americanos, pais de família gordos e castos; mas quando chegou aos Grandes Lagos a coisa começou logo a cheirar-lhe a esturro: Louise não estava na roullote à hora do jantar como previsto . Pelos vistos não aparecia desde o 2º capítulo, um tipo que fazia assim meio de narrador, meio de personagem – por falta de verba, julgo – acabou por lhe confidenciar: ela foi fazer jet-ski com uma miúda que tinha feito de puta fina num livro do Rushdie. Foda-se, com outra gaja! Jack estava confuso e perplexo, nunca tinha faltado aos seus deveres, ele cozinhava, ele ejaculava, ele até arranjava os focos de halogénio nos tectos falsos, ele apalpava-a nos sítios certos - tipo discos pedidos - numa cadência sempre certinha e com aquela coisa de rodar o dedinho até tinha apanhado uma porra duma tendinite, ele carregava com a merda da lenha, ele num livro de aventuras até chegou a levar uma patada dum urso para a defender, e a parva agora ia fazer jet-ski com uma fufa e nem esperava por ele no 4º capitulo. Foi pedir explicações ao escritor. Este cabrão, estava-se mesmo a ver, não conseguia endrominar uma história em condições e pôs as duas a trocarem mimos, ora já se sabe, gajas, o marido duma fora - ainda para mais se calhar a ajudar umas brasileiras a vestirem-se para o volei de praia - não perdoaram claro, e o 3º capítulo já tinha sido um vê se te avias completo. Mais valia ter ido ajudar o Martins Amis a fazer a porra da autobiografia dele, desabafou Jack, o meu amigo Jack, sim foi nessa altura que eu me fiz amigo dele, depois de ter alugado o barco àquelas putas. Pareciam mesmo umas personagens dum livro do Kundera a quem eu tinha ajudado a pôr o motor fora de borda uns anos antes, assim também eu escrevia livros com gajas daquelas a sacudirem a areia à minha frente; decidi-me então a dar uma mão ao Jack, falei com o escritor daquela trampa e arranjei um lugarzito discreto no meio do 4º capítulo. O ambiente estava tenso, chegou-se a temer que o 5º capítulo ficasse uma cangalhada parecida com o Mal de Montano, ao escritor ainda lhe deu uma ameaça de ataque nos divertículos, a coisa estava preta, as gajitas tinham-se afeiçoado uma à outra, um estúpido que tinha péssimo mau hálito, e que nem se conseguiu aguentar em condições no 1º capítulo porque tiveram medo que deixasse mau cheiro no papel, dizia à boca cheia que era um imenso carinho que as unia, e eu não aguentei aquilo e fui falar com o tipo que tinha feito o prólogo. Não era bem o Borges mas também vivia com uma gaja com apelido de máquina fotográfica de contrabando e ouviu-me atentamente, pareceu sensível à minha ideia de que um homem tem direito à sua dignidade, um homem que até já tinha sofrido como personagem num romance do Coetzee quando foi necessário pagar umas prestações do carro, porra, um gajo assim tinha claramente direito a um capítulo em condições, podia não ter massagens tailandezas mas pelo menos havia de se lhe arranjar um jantar em família com o bolo de chocolate do carrefour. Só que depois de tanta coisa - esses gajos da escrita são sensíveis mas é o caralho - tenho de vos confessar, o melhor que lhe consegui arranjar foi o Jack também ter ido dar uma volta de jet ski no 6º capítulo. Mas pareceu-me consolado e Louise ria-se que nem uma parva. Eu cá, no meio da confusão, acabei como personagem principal porque o editor achou-me parecido com o D.Quixote, mas porra só espero não acabar um dia a enfeitar umas canecas de café.
Eu cá se fosse a vocês recusava-me a ser personagem desses novos romances que agora escrevem por aí. Tratam-vos mal, não vos dão miúdas decentes para confraternizar, casamentos felizes poucos, filhos – quando os há – cheios de problemas na escola, sexo é mal e porcamente, angústias em barda, chegam a chamar-vos feios, quando não velhacos, e até vão ao cúmulo de se porem a falar com vocês em discurso indirecto; mandem-nos àquela parte, os gajos ou são escritores ou são motoristas de táxi, vão lá brincar às figuras de estilo com os amiguinhos deles; O Jack e a Louise ganhavam a vida a fazer de personagens na nova prosa americana, chegaram a entrar num livro do Roth num papel secundário da Pastoral e saíram-se bem, deu para acabarem de mobilar a casa, só que sentiam que lhes faltava qualquer coisa, apenas situações de construção de personalidade já não lhes enchiam as medidas, gostavam de experimentar as sensações fortes dum romance à antiga, ele queria mesmo medir forças com um sogro dominador (mas não castrador) e ela não se importava de ter de lutar contra uma amante daquelas vistosas e tudo, mas ela era um bocado parva. Apareceu-lhes então um romance com disponibilidade para uma trama assim, passava-se na zona dos Grande Lagos, na altura da Primavera, os capítulos eram curtos, eram pagos ao trocadilho, à graçola e ao gemido, e havia bónus para diálogos aforísticos, pareceu-lhes bem e até arejavam, é que foda-se desde o último que tinham feito do Carver - e só com meia dúzia de páginas - tinham ficado a cheirar álcool e tabaco que até tresandava. O livro aparentemente tinha tudo para correr bem, Jack chegaria mais tarde ao enredo porque só entrava no 4º capítulo, aproveitou essa folga para um biscate com umas falas rápidas e obscenas num conto brasileiro curto, tipo Ruben Fonseca mas dizendo cona mais vezes, onde testavam agora – para desenjoar –americanos, pais de família gordos e castos; mas quando chegou aos Grandes Lagos a coisa começou logo a cheirar-lhe a esturro: Louise não estava na roullote à hora do jantar como previsto . Pelos vistos não aparecia desde o 2º capítulo, um tipo que fazia assim meio de narrador, meio de personagem – por falta de verba, julgo – acabou por lhe confidenciar: ela foi fazer jet-ski com uma miúda que tinha feito de puta fina num livro do Rushdie. Foda-se, com outra gaja! Jack estava confuso e perplexo, nunca tinha faltado aos seus deveres, ele cozinhava, ele ejaculava, ele até arranjava os focos de halogénio nos tectos falsos, ele apalpava-a nos sítios certos - tipo discos pedidos - numa cadência sempre certinha e com aquela coisa de rodar o dedinho até tinha apanhado uma porra duma tendinite, ele carregava com a merda da lenha, ele num livro de aventuras até chegou a levar uma patada dum urso para a defender, e a parva agora ia fazer jet-ski com uma fufa e nem esperava por ele no 4º capitulo. Foi pedir explicações ao escritor. Este cabrão, estava-se mesmo a ver, não conseguia endrominar uma história em condições e pôs as duas a trocarem mimos, ora já se sabe, gajas, o marido duma fora - ainda para mais se calhar a ajudar umas brasileiras a vestirem-se para o volei de praia - não perdoaram claro, e o 3º capítulo já tinha sido um vê se te avias completo. Mais valia ter ido ajudar o Martins Amis a fazer a porra da autobiografia dele, desabafou Jack, o meu amigo Jack, sim foi nessa altura que eu me fiz amigo dele, depois de ter alugado o barco àquelas putas. Pareciam mesmo umas personagens dum livro do Kundera a quem eu tinha ajudado a pôr o motor fora de borda uns anos antes, assim também eu escrevia livros com gajas daquelas a sacudirem a areia à minha frente; decidi-me então a dar uma mão ao Jack, falei com o escritor daquela trampa e arranjei um lugarzito discreto no meio do 4º capítulo. O ambiente estava tenso, chegou-se a temer que o 5º capítulo ficasse uma cangalhada parecida com o Mal de Montano, ao escritor ainda lhe deu uma ameaça de ataque nos divertículos, a coisa estava preta, as gajitas tinham-se afeiçoado uma à outra, um estúpido que tinha péssimo mau hálito, e que nem se conseguiu aguentar em condições no 1º capítulo porque tiveram medo que deixasse mau cheiro no papel, dizia à boca cheia que era um imenso carinho que as unia, e eu não aguentei aquilo e fui falar com o tipo que tinha feito o prólogo. Não era bem o Borges mas também vivia com uma gaja com apelido de máquina fotográfica de contrabando e ouviu-me atentamente, pareceu sensível à minha ideia de que um homem tem direito à sua dignidade, um homem que até já tinha sofrido como personagem num romance do Coetzee quando foi necessário pagar umas prestações do carro, porra, um gajo assim tinha claramente direito a um capítulo em condições, podia não ter massagens tailandezas mas pelo menos havia de se lhe arranjar um jantar em família com o bolo de chocolate do carrefour. Só que depois de tanta coisa - esses gajos da escrita são sensíveis mas é o caralho - tenho de vos confessar, o melhor que lhe consegui arranjar foi o Jack também ter ido dar uma volta de jet ski no 6º capítulo. Mas pareceu-me consolado e Louise ria-se que nem uma parva. Eu cá, no meio da confusão, acabei como personagem principal porque o editor achou-me parecido com o D.Quixote, mas porra só espero não acabar um dia a enfeitar umas canecas de café.
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contos
Podia ser um conto. Mas nem sei.
Há coisa de um ano vi escrito por aí – num belo aí - que «uma cicatriz, seja física ou moral, não se renega, estima-se: mais do que um sinal de sobrevivência é a garantia de uma nova oportunidade». Na altura não dei muita importância, hoje reli-a, ou melhor, eu hoje procurei-a mesmo, forcei-a a coincidenciar-se comigo, e pensei - de repente - que às vezes mais vale sermos cicatriz do que sermos mera borbulhagem, que até pode dar aquela comichão gira, aquele prazer de coçar, até pode fornecer um revirar de olhos no clímax da fogagem,
mas depois vai ser comida pela voragem
do tempo, que se reclina perante as cicatrizes mas despreza as alergias; às vezes apetece tanto fazer merda só para poder chegar e dizer: dá-me outra oportunidade,
nem que seja mentir, para depois poder dizer a verdade.
É terrível ‘competir’ com uma cicatriz, nem sequer é ‘viver por um triz’, é como um olhar a competir com um beijo, encanta mas não arrebata, finge que acerta mas nunca mata; deixemo-nos de tretas, o segredo foi afinal guardado pelo ganadero, confia mais no ferro do que na cerca, tal como o carinho dum abraço não vale o fogo dum coito; poderemos ser bons a sarar uma ferida,
mas para sacarmos o leite da vaca ela terá de ser mungida;
Infelizes dos que nunca experimentaram o sabor duma segunda oportunidade e se perderam no bem-estar duma agradável sensação, que não passava dum rappel de salão, duma segurança de circo, dum grand-slalom de mesa de bilhar e nunca arriscaram a ser cicatriz de ninguém, pouco mais produziram que um choro de mãe. Limitaram-se a rolar lisos e a dar ricochetes certos nas tabelas combinadas,
e nunca experimentaram o gume dumas facadas.
Há coisa de um ano vi escrito por aí – num belo aí - que «uma cicatriz, seja física ou moral, não se renega, estima-se: mais do que um sinal de sobrevivência é a garantia de uma nova oportunidade». Na altura não dei muita importância, hoje reli-a, ou melhor, eu hoje procurei-a mesmo, forcei-a a coincidenciar-se comigo, e pensei - de repente - que às vezes mais vale sermos cicatriz do que sermos mera borbulhagem, que até pode dar aquela comichão gira, aquele prazer de coçar, até pode fornecer um revirar de olhos no clímax da fogagem,
mas depois vai ser comida pela voragem
do tempo, que se reclina perante as cicatrizes mas despreza as alergias; às vezes apetece tanto fazer merda só para poder chegar e dizer: dá-me outra oportunidade,
nem que seja mentir, para depois poder dizer a verdade.
É terrível ‘competir’ com uma cicatriz, nem sequer é ‘viver por um triz’, é como um olhar a competir com um beijo, encanta mas não arrebata, finge que acerta mas nunca mata; deixemo-nos de tretas, o segredo foi afinal guardado pelo ganadero, confia mais no ferro do que na cerca, tal como o carinho dum abraço não vale o fogo dum coito; poderemos ser bons a sarar uma ferida,
mas para sacarmos o leite da vaca ela terá de ser mungida;
Infelizes dos que nunca experimentaram o sabor duma segunda oportunidade e se perderam no bem-estar duma agradável sensação, que não passava dum rappel de salão, duma segurança de circo, dum grand-slalom de mesa de bilhar e nunca arriscaram a ser cicatriz de ninguém, pouco mais produziram que um choro de mãe. Limitaram-se a rolar lisos e a dar ricochetes certos nas tabelas combinadas,
e nunca experimentaram o gume dumas facadas.
Mas não sei.
Mensagem do grande chefe da tribo dos ‘pilas tortas’
Ouvi ontem o sr presidente Sampaio dizer que a nossa sociedade tinha «enviusamentos masculinocêntricos». Felizmente já não estamos de tanga. O tipo pensou em tudo, pá.
Ouvi ontem o sr presidente Sampaio dizer que a nossa sociedade tinha «enviusamentos masculinocêntricos». Felizmente já não estamos de tanga. O tipo pensou em tudo, pá.
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La vie au Tanga
A dra Girassol ansiosa por me ver experimentar novos tratamentos disse-me que ‘chato’ tinha de ser elevado a conceito. Ai está ele. E até foi para esse conceito que Deus nosso Senhor inventou a famosa interjeição : fóoooodaaaaasssse. Meia dúzia de entradas no dicionário não ilustrado. (980 a 985)
Chato-pirrónico – É o seu estado mais perfeito; jamais se pode chegar ao Olimpo dos chatos se não formos capazes de repetir à exaustão uma ideia, duvidar ao limite da fadiga de que acreditam em nós, solicitar irritantemente provas de amizade e carinho, no fundo impor ao mundo que se explique, e timtim por timtim.
Chato-piquinhas – É o tipo que não se contenta com a formulação duma generalidade, exige a concretização, reclama o exemplo sem excepção, busca incansavelmente a causa que está por detrás do efeito numa espécie de sodomização dialéctica da realidade.
Chato-calimero – O ‘ninguém-gosta-de-mim-zismo’ é um must da alma em estado caramelo. Geralmente esses espécimes acabam por se agarrar um bocadinho nos dentes se nos esquecermos de chupar e de estar constantemente a dizer-lhes: ‘ai és tão docinho’.
Chato-vidrinho – É praticamente condição sine qua non para que se possa levar alguém ao estado de perfeita exasperação. Transportar a sua sensibilidadezinha sempre no extremo mais delicado, ver um bisturi em cada unha mal limada, é um dos estados mais cristalinos que pode atingir uma alma desenhada para encher o saco do alheio e ficar a olhar lá para dentro.
Chato-coisinho – Este é o tipo que está sempre a segurar na mãozinha da menina, a fazer-lhe festas com o polegar, depois passa-lhe com as pontas dos dedos pelas franja, delicadamente com as costas da mão pela cara e ainda chega ao cúmulo de lhe beijar a dita mão, como se uma mulher fosse um paramento à beira da procissão e um gajo um mero abanador de incensários.
Chato-complexado – É uma espécie da cereja no topo do bolo. Apresentar esta força interior que transporta qualquer complexo geralmente conduz a um ser ao qual é praticamente impossível não se lhe querer dar um belo e desanuviador par de estalos, se lá chegarmos claro, porque um dos complexos mais interessantes é o da perseguição e nem todos os chatos se chamam Bach.
Chato-pirrónico – É o seu estado mais perfeito; jamais se pode chegar ao Olimpo dos chatos se não formos capazes de repetir à exaustão uma ideia, duvidar ao limite da fadiga de que acreditam em nós, solicitar irritantemente provas de amizade e carinho, no fundo impor ao mundo que se explique, e timtim por timtim.
Chato-piquinhas – É o tipo que não se contenta com a formulação duma generalidade, exige a concretização, reclama o exemplo sem excepção, busca incansavelmente a causa que está por detrás do efeito numa espécie de sodomização dialéctica da realidade.
Chato-calimero – O ‘ninguém-gosta-de-mim-zismo’ é um must da alma em estado caramelo. Geralmente esses espécimes acabam por se agarrar um bocadinho nos dentes se nos esquecermos de chupar e de estar constantemente a dizer-lhes: ‘ai és tão docinho’.
Chato-vidrinho – É praticamente condição sine qua non para que se possa levar alguém ao estado de perfeita exasperação. Transportar a sua sensibilidadezinha sempre no extremo mais delicado, ver um bisturi em cada unha mal limada, é um dos estados mais cristalinos que pode atingir uma alma desenhada para encher o saco do alheio e ficar a olhar lá para dentro.
Chato-coisinho – Este é o tipo que está sempre a segurar na mãozinha da menina, a fazer-lhe festas com o polegar, depois passa-lhe com as pontas dos dedos pelas franja, delicadamente com as costas da mão pela cara e ainda chega ao cúmulo de lhe beijar a dita mão, como se uma mulher fosse um paramento à beira da procissão e um gajo um mero abanador de incensários.
Chato-complexado – É uma espécie da cereja no topo do bolo. Apresentar esta força interior que transporta qualquer complexo geralmente conduz a um ser ao qual é praticamente impossível não se lhe querer dar um belo e desanuviador par de estalos, se lá chegarmos claro, porque um dos complexos mais interessantes é o da perseguição e nem todos os chatos se chamam Bach.
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dicionário não ilustrado
E agora é vão ser elas. Um texto praticamente canónico.
Ou será que eu também deveria utilizar os métodos sintotérmicos de controlo natural da fertilidade da mente, e medir a febre da carola antes de vir para aqui escrever.
Qualquer mulher que se preze e queira construir decentemente a sua aura tem que saber demonstrar empenhado interesse por homens feios & inteligentes. E arriscaria a dizer que enfezados de preferência, porque se forem gordos essa adoração pode estar apenas a disfarçar a necessidade de dar serventia ao adocicado: “se é gordinho deve ser bom rapaz e um bom amigo”. A mulher ‘patrona’ é pois um dos estereótipos mais cravejados de preciosidade do universo feminino. É a que leva pelo braço alguém que poderia ser enjeitado pelas luzes da ribalta, que dá a mão a um desgraçadinho da anatomia e devotadamente lhe faz sobressair o fulgor escondido revelando ao mundo uns neurónios incandescentes que sem ela seriam apenas filamento a oxidar. Toda a mulher de excepção deveria pois ter assim um ‘fraca figura’ de estimação, um cérebro masculino de troféu ( mas não precisa de se esticar tanto como a Salomé). Não se trata apenas de desenjoar um pouco daquela moda generalizada das mulheres exultarem a beleza masculina demonstrando que um homem pode ser tão bom bibelot como uma mulher, não, trata-se mesmo da mulher poder ir construindo a sua virtude e encanto alicerçando-a em obras de caridade para com alguns espécimes do outro sexo nos quais Deus terá começado com entusiasmo pela esponja e que depois já não teve grande pachorra para o cabo.
O homem ‘inteligente e enfezado’ poderá ter tendência para desprezar este carinho, é certo, pois é mais dado à soberba, aos tiques angustiosos, a não atravessar a rua na passadeira, ao azedume sarcástico, mas acabará sempre por sucumbir a um olhar arregalado, a um ‘qualquer dia não te resisto’, a um ‘nunca tinha pensado nisto assim’, e no limite levam-lhe a alma com um bom bife e então se lhe passarem as batatinhas pelo molho e lhas derem na boquinha até verseja sem precisar de desgarrada, ou faz trocadilhos literários sem beber cerveja quente. Mas estes génios que transportam caras mal esquartejadas e penduradas em corpos sifiliticamente envergonhados são incapazes de resistir a um ‘tens de te cuidar, foi pena não te ter conhecido há mais tempo’. Quanto ao género ‘inteligente e anafado’ na maior parte das vezes ou anda excessivamente mergulhado na fantasia da auto-comiseração, disfarçando o trauma com a simulação de que até leva a coisa mais ou menos, ou abusa da piadinha ou da ironia, mas em regra gosta de se pôr a jeito para receber os afagos e é incapaz de resistir a um elogio mesmo que este babe hipocrisia entremeada de piedade, após o qual até poderá citar os clássicos de cor e a preceito ou chegar a fazer recensões de mundos censurados ao olhar normal. Mulher que queira pois patrocinar um cérebro-objecto-masculino envolvido num corpo horrivelmente adiposo e apresentado numa face manteigosa, terá apenas de lhe dizer : ‘estar contigo é uma experiência única’(e até pode ser de facto, se ele for da estirpe ‘distraído’ e se sentar em cima dela).
Mas este espírito de mecenato sexual no feminino, não deverá ser encarado como um exotismo quase zoológico, não, trata-se duma pura racionalidade mesclada de espírito de missão que envolverá de glória e fascínio a mulher e poderá efectivamente corrigir algum desleixo do criador, certamente por estar absorto com algum filme do Clint Eastwood (aliás nestas ‘patronas’ de génios mal paridos aquele ponto de máxima excitação deverá passar a chamar-se ‘clintóris’ e, em vez de gemerem, Deus nosso Senhor devia propiciar-lhes um êxtase de voz rouca e um estrebuchar blazé que nem afrodites agachadas – não confundir com gosma, que é algo que pode acontecer quando se pratica precipitadamente o acto sexual com o croquete do cocktail ainda entalado na garganta, mas agora desviei-me do tema desculpem)
Reparem bem que a mulher que estou a descrever não se trata duma simples musa, não! ser apenas uma mulher inspiradora está praticamente ao alcance de todas desde que se ponham a jeito e não encaracolem demasiado o cabelo, aqui o que se joga é quase um estádio peri-divinal que a mulher pode atingir se encontrar um cérebro masculino mal aparelhado e disponível para que o seu feitiço e a sua mediação actuem. Trata-se praticamente duma religiosidade da 3ª geração a desta mulher que vai terminar o servicinho do criador e pegar num génio tísico ou balofo e, sem o obrigar a morder na maçã, vai permitir que ele ande à chinchada à vontade pelas árvores do paraíso sem ter de usar parras do tamanho das folhas da palmeira.
O grande estigma do feminino não são pois nem inibição a serem padres, nem as regras ensanguentadas e periódicas, nem a celulite, nem as quotas, nem as burkas, mas sim todas precisarem de homens supremamente inteligentes e feios para que se possam realizar com o seu encantador patrocínio salvando-os da miserável decadência que lhes está reservada. E recomendo preferencialmente enfezados porque sempre se podem esconder na pochete.
Ou será que eu também deveria utilizar os métodos sintotérmicos de controlo natural da fertilidade da mente, e medir a febre da carola antes de vir para aqui escrever.
Qualquer mulher que se preze e queira construir decentemente a sua aura tem que saber demonstrar empenhado interesse por homens feios & inteligentes. E arriscaria a dizer que enfezados de preferência, porque se forem gordos essa adoração pode estar apenas a disfarçar a necessidade de dar serventia ao adocicado: “se é gordinho deve ser bom rapaz e um bom amigo”. A mulher ‘patrona’ é pois um dos estereótipos mais cravejados de preciosidade do universo feminino. É a que leva pelo braço alguém que poderia ser enjeitado pelas luzes da ribalta, que dá a mão a um desgraçadinho da anatomia e devotadamente lhe faz sobressair o fulgor escondido revelando ao mundo uns neurónios incandescentes que sem ela seriam apenas filamento a oxidar. Toda a mulher de excepção deveria pois ter assim um ‘fraca figura’ de estimação, um cérebro masculino de troféu ( mas não precisa de se esticar tanto como a Salomé). Não se trata apenas de desenjoar um pouco daquela moda generalizada das mulheres exultarem a beleza masculina demonstrando que um homem pode ser tão bom bibelot como uma mulher, não, trata-se mesmo da mulher poder ir construindo a sua virtude e encanto alicerçando-a em obras de caridade para com alguns espécimes do outro sexo nos quais Deus terá começado com entusiasmo pela esponja e que depois já não teve grande pachorra para o cabo.
O homem ‘inteligente e enfezado’ poderá ter tendência para desprezar este carinho, é certo, pois é mais dado à soberba, aos tiques angustiosos, a não atravessar a rua na passadeira, ao azedume sarcástico, mas acabará sempre por sucumbir a um olhar arregalado, a um ‘qualquer dia não te resisto’, a um ‘nunca tinha pensado nisto assim’, e no limite levam-lhe a alma com um bom bife e então se lhe passarem as batatinhas pelo molho e lhas derem na boquinha até verseja sem precisar de desgarrada, ou faz trocadilhos literários sem beber cerveja quente. Mas estes génios que transportam caras mal esquartejadas e penduradas em corpos sifiliticamente envergonhados são incapazes de resistir a um ‘tens de te cuidar, foi pena não te ter conhecido há mais tempo’. Quanto ao género ‘inteligente e anafado’ na maior parte das vezes ou anda excessivamente mergulhado na fantasia da auto-comiseração, disfarçando o trauma com a simulação de que até leva a coisa mais ou menos, ou abusa da piadinha ou da ironia, mas em regra gosta de se pôr a jeito para receber os afagos e é incapaz de resistir a um elogio mesmo que este babe hipocrisia entremeada de piedade, após o qual até poderá citar os clássicos de cor e a preceito ou chegar a fazer recensões de mundos censurados ao olhar normal. Mulher que queira pois patrocinar um cérebro-objecto-masculino envolvido num corpo horrivelmente adiposo e apresentado numa face manteigosa, terá apenas de lhe dizer : ‘estar contigo é uma experiência única’(e até pode ser de facto, se ele for da estirpe ‘distraído’ e se sentar em cima dela).
Mas este espírito de mecenato sexual no feminino, não deverá ser encarado como um exotismo quase zoológico, não, trata-se duma pura racionalidade mesclada de espírito de missão que envolverá de glória e fascínio a mulher e poderá efectivamente corrigir algum desleixo do criador, certamente por estar absorto com algum filme do Clint Eastwood (aliás nestas ‘patronas’ de génios mal paridos aquele ponto de máxima excitação deverá passar a chamar-se ‘clintóris’ e, em vez de gemerem, Deus nosso Senhor devia propiciar-lhes um êxtase de voz rouca e um estrebuchar blazé que nem afrodites agachadas – não confundir com gosma, que é algo que pode acontecer quando se pratica precipitadamente o acto sexual com o croquete do cocktail ainda entalado na garganta, mas agora desviei-me do tema desculpem)
Reparem bem que a mulher que estou a descrever não se trata duma simples musa, não! ser apenas uma mulher inspiradora está praticamente ao alcance de todas desde que se ponham a jeito e não encaracolem demasiado o cabelo, aqui o que se joga é quase um estádio peri-divinal que a mulher pode atingir se encontrar um cérebro masculino mal aparelhado e disponível para que o seu feitiço e a sua mediação actuem. Trata-se praticamente duma religiosidade da 3ª geração a desta mulher que vai terminar o servicinho do criador e pegar num génio tísico ou balofo e, sem o obrigar a morder na maçã, vai permitir que ele ande à chinchada à vontade pelas árvores do paraíso sem ter de usar parras do tamanho das folhas da palmeira.
O grande estigma do feminino não são pois nem inibição a serem padres, nem as regras ensanguentadas e periódicas, nem a celulite, nem as quotas, nem as burkas, mas sim todas precisarem de homens supremamente inteligentes e feios para que se possam realizar com o seu encantador patrocínio salvando-os da miserável decadência que lhes está reservada. E recomendo preferencialmente enfezados porque sempre se podem esconder na pochete.
Discurso do estado da nação
Ou do se calhar o melhor é deixar isto assim
Garanti-vos a maioria estável prometida e agora estou a gostar de ver a coisa. O ambiente está calmo, o Santana já não está de perna aberta, o Jerónimo já não tem tosse, o Sócrates talvez já nem precise de tomar posse, fica bem assim só como um sinal da mudança de ciclo, ou mudança de colo, nem precisa de usar gravata, não chove e os desgraçadinhos da ordem começam de novo a reclamar o graveto, responde-se-lhes que se fosse por nós sim, mas agora não dá para decidir, que os novos depois dirão qualquer coisa, os post-it ainda vão tendo cola, o Cavaco prega sermões em Angola, talvez ele ainda tome o gosto ao camarão tigre e fique por lá, o parlamento tem poupado na conta da luz, eu até estou a gostar da coisa mesmo assim, um país sereno, um padre cioso das suas hóstias, o pessoal fala dos óscares, a maior controversia da nação ainda é o regresso do Terras do Nunca, parece que há um tipo aos pulos a dizer que ele tem que dar explicações, e é óbvio, então ele pensa que é quem, assim a ir e vir sem dar cavaco a ninguém, e o Lopes, estão a ver, agora até nem dá gaffes, assentou, o Lexotan fez-lhe bem, e o Louçã extasiado com o sorriso das crianças já nos poupa aos seus trocadilhos morais, mas tenho algumas saudades do dedo em riste do Portas confesso, só que também não se pode ter tudo, arranjei-vos uma maioria benzida, até podemos sangrar mas agora não se dá conta da ferida, o Fernandes Thomaz já pode ir às touradas em paz, crise o tanas, Bruno, é assim mesmo: fala de mamas, eu tenho isto tudo controlado, vocês é que andavam todos nervosos, cá eu e o Peseiro ainda vos vamos surpreender, aproveitem para relaxar, bebam umas cervejitas na roullote, dancem os tangos da Charlotte, para quê irmos agora todos numa fona arranjar um governo à pressa, reparem que até o pudim Marcelo boca-doce já voltou, as taxas de juro nem sobem, e o principais problemas da nação são de caras as portagens dos monovolumes, o molho inglês e o cabelo da MMouraGuedes que não pára de lhe crescer e qualquer dia está maior que as alarvidades que lhe saem pela boquinha. Eu cá, se calhar, se fosse a vocês, deixava isto mesmo assim, estamos consolados na maioria absoluta, para quê metermo-nos em sarilhos, e até pode ser que a Jennifer Lopez cá venha fazer bodyboard com o Marques Mendes a servir de prancha, o Vitorino de nadador-salvador, o Telmo Correia de onda e o Ana Drago de sereia mística declamando poemas em cima de grades de cerveja, e é uma pena a Ana Gomes agora não há quem a veja.
Ou do se calhar o melhor é deixar isto assim
Garanti-vos a maioria estável prometida e agora estou a gostar de ver a coisa. O ambiente está calmo, o Santana já não está de perna aberta, o Jerónimo já não tem tosse, o Sócrates talvez já nem precise de tomar posse, fica bem assim só como um sinal da mudança de ciclo, ou mudança de colo, nem precisa de usar gravata, não chove e os desgraçadinhos da ordem começam de novo a reclamar o graveto, responde-se-lhes que se fosse por nós sim, mas agora não dá para decidir, que os novos depois dirão qualquer coisa, os post-it ainda vão tendo cola, o Cavaco prega sermões em Angola, talvez ele ainda tome o gosto ao camarão tigre e fique por lá, o parlamento tem poupado na conta da luz, eu até estou a gostar da coisa mesmo assim, um país sereno, um padre cioso das suas hóstias, o pessoal fala dos óscares, a maior controversia da nação ainda é o regresso do Terras do Nunca, parece que há um tipo aos pulos a dizer que ele tem que dar explicações, e é óbvio, então ele pensa que é quem, assim a ir e vir sem dar cavaco a ninguém, e o Lopes, estão a ver, agora até nem dá gaffes, assentou, o Lexotan fez-lhe bem, e o Louçã extasiado com o sorriso das crianças já nos poupa aos seus trocadilhos morais, mas tenho algumas saudades do dedo em riste do Portas confesso, só que também não se pode ter tudo, arranjei-vos uma maioria benzida, até podemos sangrar mas agora não se dá conta da ferida, o Fernandes Thomaz já pode ir às touradas em paz, crise o tanas, Bruno, é assim mesmo: fala de mamas, eu tenho isto tudo controlado, vocês é que andavam todos nervosos, cá eu e o Peseiro ainda vos vamos surpreender, aproveitem para relaxar, bebam umas cervejitas na roullote, dancem os tangos da Charlotte, para quê irmos agora todos numa fona arranjar um governo à pressa, reparem que até o pudim Marcelo boca-doce já voltou, as taxas de juro nem sobem, e o principais problemas da nação são de caras as portagens dos monovolumes, o molho inglês e o cabelo da MMouraGuedes que não pára de lhe crescer e qualquer dia está maior que as alarvidades que lhe saem pela boquinha. Eu cá, se calhar, se fosse a vocês, deixava isto mesmo assim, estamos consolados na maioria absoluta, para quê metermo-nos em sarilhos, e até pode ser que a Jennifer Lopez cá venha fazer bodyboard com o Marques Mendes a servir de prancha, o Vitorino de nadador-salvador, o Telmo Correia de onda e o Ana Drago de sereia mística declamando poemas em cima de grades de cerveja, e é uma pena a Ana Gomes agora não há quem a veja.
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