Contos em que a companhia era uma merda também



A cidade era Dublin, a chuva era estúpida, o céu benza-o Deus, o gajo do taxi era maluco, excêntrico era uma palavra muito comprida, o hotel era uma merda, a companhia era uma seca, mas o viajante era pouco exigente, e no fundo não passava da primeira vez.
O bar era típico mas horrível, a cerveja era doce e sofrível, a música quase não se percebia e inesperadamente recitavam poesia. Ele não tinha saco para poemas, não apreciava fumar erva, só que a companhia era uma merda, tem de se repetir isto porque senão nem parece possível, a cerveja já enjoava e cheirava a cânhamo, foda-se se aquilo era a Irlanda vou ali e já venho, bem vamos lá tentar perceber o que é que eles diziam, merda não se percebe nada, parece que miam, que filha da puta de pronúncia, e nem são escoceses os cabrões, é que ele pensava mesmo assim, com muito fumo, com muita cerveja morna e uma companhia de merda só se consegue pensar à base de palavrões, caralho ó menos vendem o livro dos poemas no fim, que se foda ele compra, a companhia também era uma merda e o hotel uma merda ainda maior, e ele ainda era praticamente um puto, e um puto precisa muito de companhia, que se foda comprou mesmo, “Favourites Poems we Learned in School”, olha dá a uma gaja qualquer. Não deu, mas o livro tinha uma dedicatória picante e ele quase ainda se fodeu com uma outra companhia que veio a ter, daquelas assim já a doer, não sei se estão a perceber, daquelas que ainda por cima já lá não vão com uma boa rima, querem mesa posta e toalha fina. E um dia destes, já não tão desesperado com a companhia, ele ainda lá leu ao de leve nesse livro comprado no meio da levedura - e que até estava sublinhado, a companhia devia ter sido mesmo um achado :

We are the music-makers,

And we are the dreamer of dreams,

Wandering by lone sea-breakers,

And sitting by desolate streams; -

World-losers and world-forsakers,

On whom the pale moon gleams:

Yet we are the movers and shakers

Of the world for ever, it seems.

Dum tal de Artur O’Shaughnessy; pelo menos é o que diz o livro, porque os gajos que declamavam já estavam podres de bêbedos e ele já nem se lembrava de nada até porque ainda para mais a companhia era um merda e o sotaque a lúpulo até saia pelos sovacos. Mas se os gajos aprendiam isto na escola, foda-se, assim também eu, mesmo com companhias de merda; e o que me lixa é que se calhar nunca mais é como da primeira vez, mesmo que estivesse carregadinha de ordinarice; e caraças, se calhar, que parvoíce, somos todos uns forsakers de primeiras vezes. Como ele.

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