Contos duma mulher ali em combinação e que nem sequer olha para a janela

sem palavrões, sem sexo, sensaboria



Mas a mim não me enganas. Passaste estes anos todos sentada nessa cama, vestida só com uma camisa de dormir, fazias-te triste a olhar para um papel desdobrado mas sem nada escrito, ó julgas que eu não topei logo. Eu deixei foi a coisa ir correndo, as mulheres são umas sonsas, isso já se sabe, mesmo quem não sabe nada de mulheres isso pelo menos sabe, e então vestida só com uma “combinação”- que deliciosa palavra- ali com a alcinha a babar-se por ver um beijinho no ombro e o pescoço a treinar a sensualidade dum acto esquivo, ali com o cabelo arredondado, a fingir um carrapito, a dar-te um ar genuinamente sério e desgraçadinho, quero-te avisar isso comigo não pega. Vamos jantar fora ou não vamos? Decide-te, então! Detesto perder tempo em quartos de hotel. Não sabes ao certo se eu sou o homem da tua vida. Acontece, é uma dúvida que acontece, mas se pensasses bem verias que eu sou o homem da vida de qualquer mulher. Estou calhado para agradar. Estou talhado para vos fazer felizes. Tu serás mesmo a única que comigo aqui se deixaria ficar a olhar para uma folha de papel sem nada, nem sequer olhas para a janela como as outras. Se eu escrevesse ensaios a metro diria que tu eras ‘o símbolo duma mulher armadilhada na sua condição’. Sim outras, claro que já estive aqui com outras. Fazia-lhes a folha a todas, e nem ficavam a olhar para o desdobrável como tu. Só que nunca ficavam tristes e pronto eu precisava de experimentar uma triste, não esperava é que desse nisto; até já estou baralhado, pelo menos podias piscar-me o olho e eu ficava a perceber que era mesmo tudo uma sonsice.
Um homem com mulheres assim nunca sabe as coisas ao certo.


Sem comentários: