Os estados d’alma voltam ao dicionário não ilustrado. Há que tratar também das nossas coisinhas e assim. (No fundo todos somos gajas, não será verdade ó almodôvar). Nas entradas 907 a 915, descodificam-se alguns dos mais nobres momentos por que pode passar a nossa condição de seres eleitos se bem que nem todos sufragados. ( e pronto não passei das 10... entradas, claro.)



Estou na merda – Situação de suave decadência, que ao deixarmos fermentar muito poderemos rapidamente passar à condição de meros gasjos naturais.



Estou fodido – Situação de decadência político-sexual em que deixamos de controlar os orgãos de cópula e passamos a estar dependentes da reacção dos ossos do orifício.



Vai-se andando – Situação que ocorre quando tomamos excessivamente consciência da nossa condição de bípedes. Muitas vezes isso atrapalha e afinal nem queremos muito mais do que viver alegremente com uma mão à frente e outra atrás.



Estou puto – Estado d’alma cujo enunciado é aconselhável por decência só no masculino; sendo mulher é socialmente mais bem visto ser apenas caprichosa ou mimadinha. Mas ele há gajas para tudo.



Estou assim, não sei, coiso, percebes – Quando tomamos a verdadeira consciência coisal da nossa condição necessitamos sempre de ser compreendidos pelos outros. Uma coisa tem esta característica: precisa sempre doutra coisa para ser alguma coisa que preste. O que no fundo a distingue da “merda” pois esta autosustenta-se.



Estou para a desgraça – A convicção de que a graça em sobra é um estado que pode causar algum desnorte leva-nos a rumar muitas vezes para leste do Paraíso. Confio que Deus o tenha feito a este também redondinho.



Olha, estou práqui – A consciência do nosso isolamento existencial vivida como se o mundo não passasse duma eterna bicha da caixa. “Kirk & Nitch” não passam de filósofos da taxa moderadora à cata de genéricos.



Estou como hei-de ir – Situação periclitante que acaba por revelar um gajo que nunca consegue estar quieto; e ao parecer estar dominado pelos bichos carpinteiros o melhor mesmo é ir dar um dedo de conversa com o Filho do dito.



Estou no ponto – Quando tomamos consciência de que não passamos dum banho maria a fugir a sete pés duma fritura, mas ainda sonhamos em passar um bom e picante bocado numa salada de grelos.



O agora muito batido “Estou que nem posso” já não reflete um genuíno estado de alma, mas sim apenas um piadinha da estação.

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