Clímaxes quaresmais


Os pachecos pereiras da bola dizem agora à boca cheia que os lagartos são um clube de resignados, um clube que perdeu a ambição e que se esconde no infortúnio dos Project finance, das mialgias e do Paratyismo. Paulo Bento será mesmo até o reflexo directo e mais perfeito dessa nossa imagem de derrotados: uns olhinhos húmidos a brilhar numa cara calimerosa, à qual uma lagriminha cairia melhor que num quadro de Murillo.
Enfim, talhados para sofrer, destinados ao sacrifício, à dor, à injustiça e à incompreensão, a lagartada este ano tem decorado a preceito o altar desta imolação, e vem aperfeiçoando a vitimologia a níveis nunca antes experimentados, passeando-se na sua via crucis que nem uns josés de arimateias a tomar conta da banca das queijadinhas à beira do calvário sempre a queixar-se da falta de trocos.
Mas muitos estarão esquecidos de que os lagartos se regem há bastante tempo pela máxima socrateana : «o que nos convence não é a força dos números, é a força da razão». Cientes de que o 5º império se vai construir ali entre telheiras e a churrrasqueira do campo grande, os lagartos são um clube de gentes que se sabem forjadas para libertar a civilização dos espartilhos pagãos da vitória e do sucesso, e que em cada lágrima retida de Bento está uma força praticamente catecumenal, tal como em cada pseudo cabeçada de Purovic estão contidas as sete chagas de Cristo.
Espero sinceramente que contra o Bolton, e depois de João Moutinho ter sido forçado a sair por lhe ter rebentado um furúnculo na virilha, e de Vujevic ter uma afta a debilitar-lhe o calcanhar do pé esquerdo, os ingleses marquem um golo já depois da hora, em puro fora de jogo não detectado pelo árbitro, que entretanto olhava para as barbaras elias nos camarotes.

A Quaresma deve ser pois vivida e sofrida a preceito, e para compensar todos os lagartos desta dolorosa e sinuosa via crucis, que certamente lhes propiciará a devida redenção, só que não se sabe é quando nem como, deixo-lhes aqui um atalho alternativo pela via penelopis, mas que também vai lá dar.




Na campanha da Mango, e naquela pose de valha-me-deus-onde-é-que-ela-tem-a-mão.

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