Jamais este blog poderia ficar indiferente aos avanços da Esmeraldísica, a ciência que estuda os ‘supremos interesses das crianças’.
O dicionário não ilustrado (1303 a 1311 ) faz então hoje a categorização essencial, numa espécie de aristotelismo da paternidade.
O dicionário não ilustrado (1303 a 1311 ) faz então hoje a categorização essencial, numa espécie de aristotelismo da paternidade.
Reims, pormenor da Catedral de
Pais biológicos – somos óbvios elos duma cadeia de esperma, que delicadamente apelidamos de sangue, e, mesmo que nalguns casos se tenham intrometido o leiteiro ou o homem da tv cabo, afinal todos nos apresentamos banhados por um qualquer óleo de linhagem. O que pouparmos no adn acabamos por gastar na graxa.
Pais afectivos – a noção de sentimento é muito importante para a espécie, e sem ele poderíamos resumir-nos a um cocktail de azias e flatulências. Uns pais que se sentem são condição para que o imprescindível e estruturante remorso futuro esteja garantido.
Pais adoptivos – Sabermo-nos filhos também duma verdadeira vontade burocrática e não apenas duma mera tesão deveria engrandecer o nosso carácter. Todos deveríamos ser pelo menos uma vez adoptados na vida para experimentar o que era escolherem-nos apenas pelo que não somos e exclusivamente pelo que querem fazer de nós.
Pais ideológicos – sendo a ideologia uma das maiores conquistas da espécie depois do shampoo com amaciador, propiciando-lhe periódicas lavagens terapêuticas ao cérebro, seria arriscado deixá-lo nas mãos duma mulher-a-dias sem pedigree.
Pais espirituais – toda a crença acarinha uma genealogia sob pena de nos moldarmos em fés de barro. E como à saída duma básica espiritualidade paternalista, facilmente damos de caras com elaborados racionalismos de filhos da puta, um pai de fé é uma razoável oportunidade para uma civilização de lares e orfanatagens. Toda a autoridade legítima do pensamento é um subproduto da religiosidade.
Pais afectivos – a noção de sentimento é muito importante para a espécie, e sem ele poderíamos resumir-nos a um cocktail de azias e flatulências. Uns pais que se sentem são condição para que o imprescindível e estruturante remorso futuro esteja garantido.
Pais adoptivos – Sabermo-nos filhos também duma verdadeira vontade burocrática e não apenas duma mera tesão deveria engrandecer o nosso carácter. Todos deveríamos ser pelo menos uma vez adoptados na vida para experimentar o que era escolherem-nos apenas pelo que não somos e exclusivamente pelo que querem fazer de nós.
Pais ideológicos – sendo a ideologia uma das maiores conquistas da espécie depois do shampoo com amaciador, propiciando-lhe periódicas lavagens terapêuticas ao cérebro, seria arriscado deixá-lo nas mãos duma mulher-a-dias sem pedigree.
Pais espirituais – toda a crença acarinha uma genealogia sob pena de nos moldarmos em fés de barro. E como à saída duma básica espiritualidade paternalista, facilmente damos de caras com elaborados racionalismos de filhos da puta, um pai de fé é uma razoável oportunidade para uma civilização de lares e orfanatagens. Toda a autoridade legítima do pensamento é um subproduto da religiosidade.
Pais responsáveis – tipo de paisagem, perdão, paternidade, que serve para decorar, e assim dar aquela sensação de dever cumprido, realização pessoal e integração dentro do gang. Inclui idas a festas de escola ver números de ballet ou judo como se fossem paraolímpicos , levantamento de papagaios, fazer conversa com mães em estado camomilo-perturbado e, passados alguns anos, entrega da mioleira à ciência ou ao talho.
Pais de galinheiro – comummente encontrados em associação ao conceito de ‘mãe-galinha’, constituem um sub-grupo que se fundamenta nos mitos do poleiro, da choca, e da raposa. Numa alternativa bastante saudável ao Édipo, o Espírito de Galinheiro consolida-se em torno do apriorismo semi-kantiano: antes um pinto bem chocado que uma omeleta queimada.
Pais metafóricos – é o conceito mais rico, e está condensado na expressão «foi um pai para mim». Como qualquer figura de estilo vale essencialmente pelas emoções que proporciona e, mesmo retirados os constrangimentos freudianos, o vaivém entre uma paternidade lírica e uma paternidade simbólica garante uma rica e variada gama de frustrações e empolgamentos.
Temos então que a genética, o sentimento, a lei, a utopia, a crença, a moral e o símbolo convivem e competem entre si (harmoniosa ou desarmoniosamente, conforme a perspectiva) desde que o homem é homem, que é o mesmo que dizer, desde que o gato e o rato são gato e rato.
Algo, de facto, inesperadamente, pode aproximar o cristianismo de alguns cepticismos ateus: «nenhuma ‘corrente indissolúvel’ liga o conhecimento, a virtude e a felicidade» (*). Ou seja, está por provar que um euromilhões na mão não vale mais do que dois pais a voar. E vice-versa.
(*) frase de John Gray em ‘Al Qaeda e o significado de ser moderno’