Memórias do dr. Betonilha. A definição.

Luis Areia cedo descobriu que as melhores – do ponto de vista teórico - consciências em período de convalescença penitencial eram as dos políticos traumatizados com grandes decisões. O fenómeno da ‘grande decisão’ é, a par da pedra na vesícula e das pernas da Cláudia Vieira, a maior fonte de recalcamentos Édipo-free de vastas franjas da humanidade. Depois de algumas sessões com casos de consciência-pesada-associada-a-mão-leve, e consciência-dorida-associada-a-conversa-mole, Luis Areia desenvolveu um modelo terapêutico de base factorial dinâmica, em que a consistência da tranquilização funcionava em directa e inversa dependência com a rigidez do arrependimento. Royaltizou a tese com a denominação de ‘Terapia da Argamassa’ (pois tratava-se duma técnica que envolvia séries de 4 sessões de laquemento de culpas com 1 sessão de alongamento de reminiscências, sempre devidamente acompanhadas da dose certa de uns pozinhos de talking cure) e quase que obteve para o texto teórico o nihil obstat do imprimatur por um bispo do Ceará (negado à ultima hora por causa duma infeliz – e desnecessária, diga-se – alusão no texto ao ‘felacio de consciências’ pelos media mainstream).
Já com o seu prestígio bem cimentado, o prof Betonilha (como ficou – previsivelmente - conhecido na comunidade científica) especializou-se em projectos de pesquisa junto de políticos dados a lapsus de índole metafórica com marcas de alimentação pré-edipiana, e a comentadores-jornalistas com os nervos à flor da púbis.
Com o patrão a rebentar de fama e proveito, Miriam, a sua secretária de olhar cândido, promoveu um robustecimento polimérico de peitos que a deixou praticamente iconografável, e o seu número de telemóvel passou a ser o maior segredo nacional depois do boletim de vacinas do neto da Ferreira Leite.

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