Efectivamente ‘garrafão’ e ‘bilha’ apresentam uma dinâmica metafísica bastante distinta. Olhemo-la à luz dos transcendentais da nobre ciência:
Antes de tudo, enquanto o ‘garrafão’ praticamente esgota a sua ‘natureza’ nas funções instrumentais de vasilhamento e subsequente facilitação do transporte, a ‘bilha’ apresenta uma dimensão muito mais complexa, relacionada com o moldagem do barro, a forma ondulante, – quando não lubricamente bojuda – a poética do seu manuseamento instável no topo da formosa moleirinha, o cheiro da terra cozida, a fusão dos elementos, etc.
Quanto à ‘forma’ e à ‘substância’ também podemos constatar que se o ‘garrafão’ não apresenta novidades especiais na interdependência entre aqueles dois elementos da famosa dupla metafísica, por exemplo, nada muda no saciar da sede entre o uso dum ‘filha, traz-me dois garrafões de Fastio quando fores ao Modelo’, ou dum ‘a água do garrafão que me trarás do Pingo Doce fará com que todo meu ser balouce’; enquanto que se alguém disser um simples e aparentemente inócuo ‘filha, vamos ao Buçaco encher a bilha’ a sede passa a ser um fenómeno secundário e apenas nos focaremos na citada ‘bilha’. Já no que concerne à ‘forma’, penso que também é evidente: à água nada é acrescentado se for envasilhada num garrafão, continua a ser mera água, enquanto que a água na bilha, passará a ser muito mais ‘aquilo que está dentro da bilha’, ou seja, neste caso, a 'forma' que assume a água – 'água da bilha' - passa a conferir-lhe como que uma nova substância, enquanto que a força metafísica da própria bilha pouco se altera por ter lá dentro água ou não. [reparemos o quão isto é diferente no caso da ‘saca de batatas’, por exemplo. A saca sem batatas não passa dum trapo nojento, mas as batatas sem saca não passam dum monte de tubérculos. Dependem assim completamente uma da outra]
Finalmente no que concerne à dialéctica destes conceitos também encontramos profundas diferenças. Já vimos atrás que enquanto ‘acto’ eles divergem em várias dimensões (e nem sequer me debrucei sobre a problemática do gargalo), mas então enquanto ‘potência’ estamos perante duas realidades metafísicas completamente distintas. Se repararmos, a um garrafão o que se segue? Na melhor das hipóteses é lavado, triturado, transformado em cápsulas de PET e novamente extrudido em garrafão, ou, se tiver muitas impurezas pode vir a fazer de balde do lixo, ou alguidar, ou mesmo fibra de poliester. No entanto, a bilha é, em 'potência', ao se partir, por exemplo, um caco, e todos sabemos o poder metonímico do caco, todos sabemos até o poder da nobre arte do restauro, todos sabemos o encanto duma bilha restaurada com as nervuras das colagens a darem-lhe a força dum delta do Nilo. E convenhamos que dizer que temos a ‘vida feita em cacos’ não é o mesmo que dizer que temos a ‘vida feita em cápsulas de PET’.
Antes de tudo, enquanto o ‘garrafão’ praticamente esgota a sua ‘natureza’ nas funções instrumentais de vasilhamento e subsequente facilitação do transporte, a ‘bilha’ apresenta uma dimensão muito mais complexa, relacionada com o moldagem do barro, a forma ondulante, – quando não lubricamente bojuda – a poética do seu manuseamento instável no topo da formosa moleirinha, o cheiro da terra cozida, a fusão dos elementos, etc.
Quanto à ‘forma’ e à ‘substância’ também podemos constatar que se o ‘garrafão’ não apresenta novidades especiais na interdependência entre aqueles dois elementos da famosa dupla metafísica, por exemplo, nada muda no saciar da sede entre o uso dum ‘filha, traz-me dois garrafões de Fastio quando fores ao Modelo’, ou dum ‘a água do garrafão que me trarás do Pingo Doce fará com que todo meu ser balouce’; enquanto que se alguém disser um simples e aparentemente inócuo ‘filha, vamos ao Buçaco encher a bilha’ a sede passa a ser um fenómeno secundário e apenas nos focaremos na citada ‘bilha’. Já no que concerne à ‘forma’, penso que também é evidente: à água nada é acrescentado se for envasilhada num garrafão, continua a ser mera água, enquanto que a água na bilha, passará a ser muito mais ‘aquilo que está dentro da bilha’, ou seja, neste caso, a 'forma' que assume a água – 'água da bilha' - passa a conferir-lhe como que uma nova substância, enquanto que a força metafísica da própria bilha pouco se altera por ter lá dentro água ou não. [reparemos o quão isto é diferente no caso da ‘saca de batatas’, por exemplo. A saca sem batatas não passa dum trapo nojento, mas as batatas sem saca não passam dum monte de tubérculos. Dependem assim completamente uma da outra]
Finalmente no que concerne à dialéctica destes conceitos também encontramos profundas diferenças. Já vimos atrás que enquanto ‘acto’ eles divergem em várias dimensões (e nem sequer me debrucei sobre a problemática do gargalo), mas então enquanto ‘potência’ estamos perante duas realidades metafísicas completamente distintas. Se repararmos, a um garrafão o que se segue? Na melhor das hipóteses é lavado, triturado, transformado em cápsulas de PET e novamente extrudido em garrafão, ou, se tiver muitas impurezas pode vir a fazer de balde do lixo, ou alguidar, ou mesmo fibra de poliester. No entanto, a bilha é, em 'potência', ao se partir, por exemplo, um caco, e todos sabemos o poder metonímico do caco, todos sabemos até o poder da nobre arte do restauro, todos sabemos o encanto duma bilha restaurada com as nervuras das colagens a darem-lhe a força dum delta do Nilo. E convenhamos que dizer que temos a ‘vida feita em cacos’ não é o mesmo que dizer que temos a ‘vida feita em cápsulas de PET’.
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