O Sebastião da Gama comparado com isto é um pindérico
A maturidade dum blog expressa-se ou pelo seu encerramento (opção maricas) ou por começar a responder ao correio dos leitores. Imaginários. Ou não.
Gloria,
minha querida, estimo a sua preocupação em ver-me lido e compreendido, em ver-me mesmo acarinhado por quem as minhas palavras já aqueceram em noites de gélida solidão ou madrugadas de baço orvalho. Constato ainda que se apoquenta um pouco com a presença duma convidada neste espaço de encantos contraditórios e de recantos pouco namoradeiros, mas não leve isso muito a peito trata-se duma amiga de alma provocadora e rebelde, amante das intermitências e dos vazios, e que só não se chega mais à frente porque ainda não confia totalmente em mim e tem medo que eu salte de surpresa em surpresa até ao desprendimento total. A um homem fica mal apregoar-se de confiança, mas eu acho-me pessoa pacata e de quase bucólicos costumes, temeroso de incomodar e de criar sobressaltos de alma a quem quer que seja, quanto muito uns suaves turvamentos ou uns pequenos chiliques, mas nada mais quero do que quem por aqui passe, como a senhora tem a atrevida gentileza de fazer, leve um pouco de mim consigo como se duma merendinha eu me tratasse, como se dum regaço fosse feito o seu olhar. Dizeis-me num esforço de concretização que não cuido em conveniência de quem se esforça por me ler, que não veneio nem venero quem me dá a guarida da sua atenção, que trabalho com arrogância masculina os desejos da ovulação que me circunda, e que assim só me restará ir esperando arrastada e penosamente o dia do absoluto esquecimento. Que seja; será na imensidão dessa solidão que me fabricarei doravante, será deste público degredo que elevarei a minha alma ermitando o ser num penedo de palavreado ora gasto ora em sobejamento. Por si lido será a bênção que qualquer moribundo tem por direito, meu anjo, que lhe chamaria não fosse com a sua pena me poder perder em qualquer engasgaria. Seu, o que por baixo se edita em nome próprio e primeiro.
Conto da idade da gaja lascada
Ela alimentava-se de desgostos de amor e até já lhes achava graça. Tinha-se especializado em ironias relacionadas com enganos e desenganos e nos dias mais inspirados tornava-se sarcástica com amantes de ocasião. Tinha pedido uma autorização especial ao criador para nunca vir a dar serventia a paixões de índole para-sexual e este inesperadamente tinha-lha deferido. Talvez tivesse ajudado ela ter prometido aos santinhos que nunca se deitaria em nenhum divã descodificador de sonhos e de humidades adolescentes e por isso conseguiu garantir uma vidinha de desejos controlados e compactados, uma espécie de love em mp3 na versão iFod toda abonecada. Ser uma mulher jeitosa era algo que também ajudava ao seu modo de vida no qual pavoneava perversidade polvilhada com floreados de inocência e mesmo sem se chamar rosa quando arredondava a saia já sabia o efeito que produzia nos canteiros adjacentes. Parecia doutra era, como que saída dum Woodstock mas com Vidal Sassoon, e fazendo bater as aurículas alheias que nem as cordas do Jimmy Hendrix; e o que ela desfrutava ao ver um coração a riffar por ela que nem lascas na mão dum marceneiro em início de desbaste; mas honra lhe seja feita: nunca deixou nenhum homem apeado, houve sempre uma palavra amiga, houve sempre um ‘talvez pudesses ter sido tu não fora eu me ter entregue a Deus’. Muitos pensavam que afinal ela se calhar era virgem, mas não, ela era mas é uma ganda lasca. Outros tempos, pois agora esta Pandora arrependida vende caixas mas em regime de corações franchisados. Ao não se ter conseguido manter tão enigmática e tão esbelta por mais tempo, combinou as coisinhas com o criador e passou a aconselhar homens com medo do quarto escuro.
Ela alimentava-se de desgostos de amor e até já lhes achava graça. Tinha-se especializado em ironias relacionadas com enganos e desenganos e nos dias mais inspirados tornava-se sarcástica com amantes de ocasião. Tinha pedido uma autorização especial ao criador para nunca vir a dar serventia a paixões de índole para-sexual e este inesperadamente tinha-lha deferido. Talvez tivesse ajudado ela ter prometido aos santinhos que nunca se deitaria em nenhum divã descodificador de sonhos e de humidades adolescentes e por isso conseguiu garantir uma vidinha de desejos controlados e compactados, uma espécie de love em mp3 na versão iFod toda abonecada. Ser uma mulher jeitosa era algo que também ajudava ao seu modo de vida no qual pavoneava perversidade polvilhada com floreados de inocência e mesmo sem se chamar rosa quando arredondava a saia já sabia o efeito que produzia nos canteiros adjacentes. Parecia doutra era, como que saída dum Woodstock mas com Vidal Sassoon, e fazendo bater as aurículas alheias que nem as cordas do Jimmy Hendrix; e o que ela desfrutava ao ver um coração a riffar por ela que nem lascas na mão dum marceneiro em início de desbaste; mas honra lhe seja feita: nunca deixou nenhum homem apeado, houve sempre uma palavra amiga, houve sempre um ‘talvez pudesses ter sido tu não fora eu me ter entregue a Deus’. Muitos pensavam que afinal ela se calhar era virgem, mas não, ela era mas é uma ganda lasca. Outros tempos, pois agora esta Pandora arrependida vende caixas mas em regime de corações franchisados. Ao não se ter conseguido manter tão enigmática e tão esbelta por mais tempo, combinou as coisinhas com o criador e passou a aconselhar homens com medo do quarto escuro.
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contos
O dicionário não ilustrado faz das tripas coração e dedica-se às anatomias alternativas de peito feito, procurando no entanto não se transformar numa mera língua de trapos. ( entradas 1078 a 1085)
Pé de atleta – Ao contrário do que se pensa uma boa micose é a única real garantia de que deixamos rasto
Rabo pelado – Aparentando representar uma vida cheia de experiência, muitas vezes não passa dum sinal de que vivemos arrastando-nos pelas paredes mas apreciando um falso rei na barriga.
Ouvidos de mercador – Saber ouvir é a solução de recurso para aqueles que não conseguem saber olhar. As palavras escondem-se sempre nas conjugações, vivem dos sinais de fumo dos advérbios e por isso quando chegam os adjectivos a mentes mais esclarecidas já estão mas é na sesta.
Jogo de cintura – Apesar de também poder ser utilizado numa daquelas inexplicáveis fraquezas da natureza humana que é a dança, deverá ser considerado como uma vantagem sempre que seja necessário enroscar a existência numa cavilha apertada e evitar que a bucha se esteja a desfazer. Não abusar por causa do fenómeno da rosca moída.
Mãos de fada – Uma boa solução para quem não consegue coçar-se em condições é desenvolver os seus dotes a construir escovas que ajudem a trazer a existência sempre limpinha das erupções de natureza escamosa da culpa.
Pêlo na venta – Dado que o criador não nos concebeu depilados, há que aproveitar este desígnio genético e ter sempre alguma penugem em posição de combate ou a fazer de corda de violino
Sebo nas canelas – Saber fugir sempre foi uma das prerrogativas da espécie e a excessiva lubrificação de algumas pastes do ser não raras vezes esteve associada a momentos ou de grande esclarecimento, ou de grande misticismo ou de grande cagaço. Trazer o credo na boca sempre constituiu um adicional a valorizar.
Coração nas mãos – Face ao incómodo que este órgão geralmente apresenta, uma solução muito em voga é tê-lo sempre em posição de lhe dar lustro para que pelo menos não envergonhe na decoração.
Pé de atleta – Ao contrário do que se pensa uma boa micose é a única real garantia de que deixamos rasto
Rabo pelado – Aparentando representar uma vida cheia de experiência, muitas vezes não passa dum sinal de que vivemos arrastando-nos pelas paredes mas apreciando um falso rei na barriga.
Ouvidos de mercador – Saber ouvir é a solução de recurso para aqueles que não conseguem saber olhar. As palavras escondem-se sempre nas conjugações, vivem dos sinais de fumo dos advérbios e por isso quando chegam os adjectivos a mentes mais esclarecidas já estão mas é na sesta.
Jogo de cintura – Apesar de também poder ser utilizado numa daquelas inexplicáveis fraquezas da natureza humana que é a dança, deverá ser considerado como uma vantagem sempre que seja necessário enroscar a existência numa cavilha apertada e evitar que a bucha se esteja a desfazer. Não abusar por causa do fenómeno da rosca moída.
Mãos de fada – Uma boa solução para quem não consegue coçar-se em condições é desenvolver os seus dotes a construir escovas que ajudem a trazer a existência sempre limpinha das erupções de natureza escamosa da culpa.
Pêlo na venta – Dado que o criador não nos concebeu depilados, há que aproveitar este desígnio genético e ter sempre alguma penugem em posição de combate ou a fazer de corda de violino
Sebo nas canelas – Saber fugir sempre foi uma das prerrogativas da espécie e a excessiva lubrificação de algumas pastes do ser não raras vezes esteve associada a momentos ou de grande esclarecimento, ou de grande misticismo ou de grande cagaço. Trazer o credo na boca sempre constituiu um adicional a valorizar.
Coração nas mãos – Face ao incómodo que este órgão geralmente apresenta, uma solução muito em voga é tê-lo sempre em posição de lhe dar lustro para que pelo menos não envergonhe na decoração.
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dicionário não ilustrado
Agora fiquei embouchado
Confesso que não estava à espera que esta casa séria fosse de rompante invadida pela odalisca loira e adolescente que Boucher pintou para o maninho da mme Pompadour, se bem que pelos vistos a modelo terá ido ao atelier do artista sempre acompanhada pela mãezinha, benza-a Deus. Este rapaz que hoje seria certamente fornecedor exclusivo dos calendários da Michelin e que levaria a playboy a ter de mudar de ramo, converteu-me a iconoclasta militante – dado que para iconocasto já vai tarde – no dia em que há muitos anos fui ver ao Louvre uma tal de ‘Diana a sair do banhinho’ que Renoir terá dito ‘ser a primeira pintura que lhe ficou gravada para sempre, e que Boucher seria um dos homens que melhor percebia o corpo feminino: com umas nádegas jovens e umas ligeiras ondulações fazia precisamente apenas o que era preciso’(*). Ora aquilo não me convenceu totalmente tanto mais que o quadro mostrava apenas uns joelhitos e umas mamitas e um adolescente quer mais, dir-se-ia mesmo: tem o direito antropológico a mais. Foi então que descobri que Proust gramava mais o folhinhos do Watteau e vai daí pensei, vou ter de dar outra oportunidade ao gajo das mamitas. Abençoada a hora, pois a partir desse momento o sítio onde as costas mudam de página no dicionário nunca mais foi o mesmo, e a covinha que fazem as ditas costas ali na sacristia do cocsis passou a fazer de berço à minha inocência perdida. É então nessa altura que reparei numa miúda que está ali num cantinho da ‘Descida do Sol’ (**) a olhar feita parva para o Apolo e que deve ser a irmã gémea da moça do post aqui de baixo ( abençoada gemada de esperma ) e a partir daí valha-me Deus nunca mais larguei o Boucher nem para um cházinho com torradas, pois que o fardo do decorativismo lhe seja leve! Digo assim que se o Jerónimo de Sousa prometesse que em cada casa portuguesa haveria uma chaleira de Alcobaça com a ‘Chloe ao colo do Daphnis’, até eu me fazia pastor e lhe daria bucolicamente o meu voto pondo apenas como condição que aquela outra odalisca turca, morena e gordita que está no Louvre deitada num amarfanhado de veludos azuis passasse a cunhar as moedas de um euro como prova de que a nação poderá ser um dia um paraíso de luxo e volúpia até nas caixas de esmolas. Mas como Deus até está nas pequenas coisas, nas de 50 cêntimos também podia ficar a Vénus quando foi surpreendida pelo Vulcão a brincar às enfermeiras com o Marte. No fundo, o problema da nação sempre foi termos pouco jeito para lidar com as demasias e com afrontamentos.
Confesso que não estava à espera que esta casa séria fosse de rompante invadida pela odalisca loira e adolescente que Boucher pintou para o maninho da mme Pompadour, se bem que pelos vistos a modelo terá ido ao atelier do artista sempre acompanhada pela mãezinha, benza-a Deus. Este rapaz que hoje seria certamente fornecedor exclusivo dos calendários da Michelin e que levaria a playboy a ter de mudar de ramo, converteu-me a iconoclasta militante – dado que para iconocasto já vai tarde – no dia em que há muitos anos fui ver ao Louvre uma tal de ‘Diana a sair do banhinho’ que Renoir terá dito ‘ser a primeira pintura que lhe ficou gravada para sempre, e que Boucher seria um dos homens que melhor percebia o corpo feminino: com umas nádegas jovens e umas ligeiras ondulações fazia precisamente apenas o que era preciso’(*). Ora aquilo não me convenceu totalmente tanto mais que o quadro mostrava apenas uns joelhitos e umas mamitas e um adolescente quer mais, dir-se-ia mesmo: tem o direito antropológico a mais. Foi então que descobri que Proust gramava mais o folhinhos do Watteau e vai daí pensei, vou ter de dar outra oportunidade ao gajo das mamitas. Abençoada a hora, pois a partir desse momento o sítio onde as costas mudam de página no dicionário nunca mais foi o mesmo, e a covinha que fazem as ditas costas ali na sacristia do cocsis passou a fazer de berço à minha inocência perdida. É então nessa altura que reparei numa miúda que está ali num cantinho da ‘Descida do Sol’ (**) a olhar feita parva para o Apolo e que deve ser a irmã gémea da moça do post aqui de baixo ( abençoada gemada de esperma ) e a partir daí valha-me Deus nunca mais larguei o Boucher nem para um cházinho com torradas, pois que o fardo do decorativismo lhe seja leve! Digo assim que se o Jerónimo de Sousa prometesse que em cada casa portuguesa haveria uma chaleira de Alcobaça com a ‘Chloe ao colo do Daphnis’, até eu me fazia pastor e lhe daria bucolicamente o meu voto pondo apenas como condição que aquela outra odalisca turca, morena e gordita que está no Louvre deitada num amarfanhado de veludos azuis passasse a cunhar as moedas de um euro como prova de que a nação poderá ser um dia um paraíso de luxo e volúpia até nas caixas de esmolas. Mas como Deus até está nas pequenas coisas, nas de 50 cêntimos também podia ficar a Vénus quando foi surpreendida pelo Vulcão a brincar às enfermeiras com o Marte. No fundo, o problema da nação sempre foi termos pouco jeito para lidar com as demasias e com afrontamentos.
(*) Isto foi sacado duma citação lida num livro qualquer sobre o Boucher da Wallace collection mas que agora não estou com pachorra para escrever.
(**) Este está mesmo na Wallace Collection do lado direiro de quem sobe as escadas. Acho.
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sanatório
Apenas meia dúzia de entradas do dicionário não ilustrado para arejar dos empolgantes dias que correm, desimpedir as fossas nasais e editar um palavrão. ( entradas 1072 a 1077)
Recessão na blogosfera – Prova de que não basta um peseiro para haver problemas de micoses no balneário mental.
Faixa de gaza - Tratamento sucedâneo ao da liga de gaze em que se substitui o betadine por pomadinha de colonatos em pachos quentes
Mensalão – Prova de que à falta de Collor houve que dar um cheirinho à coisa
Cartazes das autárquicas – Prova de que Deus e o livre arbítrio existem, Noé foi abençoado mais a sua arca que nem era frigorífica, mas as tipografias ficaram entregues aos bichos sem parceiro. ( e alguém pode limpar os óculos da MJNpinto faxavor)
Portugal Armandilhado- ‘Fábrica de chocolate’ gerida pelo ‘gang dos tubarões’
Fogos – Se arder sem se ver é amor, mas ao se vir é fodido
Recessão na blogosfera – Prova de que não basta um peseiro para haver problemas de micoses no balneário mental.
Faixa de gaza - Tratamento sucedâneo ao da liga de gaze em que se substitui o betadine por pomadinha de colonatos em pachos quentes
Mensalão – Prova de que à falta de Collor houve que dar um cheirinho à coisa
Cartazes das autárquicas – Prova de que Deus e o livre arbítrio existem, Noé foi abençoado mais a sua arca que nem era frigorífica, mas as tipografias ficaram entregues aos bichos sem parceiro. ( e alguém pode limpar os óculos da MJNpinto faxavor)
Portugal Armandilhado- ‘Fábrica de chocolate’ gerida pelo ‘gang dos tubarões’
Fogos – Se arder sem se ver é amor, mas ao se vir é fodido
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dicionário não ilustrado
pirron(o)crash(ia)
Surpreender – Devemos entrar para a arena apetrechados de nariz encarnado e de chicote, mas só no final verdadeiramente descobriremos se fomos palhaços ou domadores, consoante as palmas e os risinhos venham das crianças ou dos leões.
Marc Chagall (1970). "Le grand cirque", lápis e guache s/ papel, 68 x 101 cm. Museum der Moderne, Salzburg
Surpreender – Devemos entrar para a arena apetrechados de nariz encarnado e de chicote, mas só no final verdadeiramente descobriremos se fomos palhaços ou domadores, consoante as palmas e os risinhos venham das crianças ou dos leões.
Post sem qualquer interesse, apenas sexo implícito.
Um dos múltiplos ‘desafios’ das artes plásticas é a utilização dos chamados materiais com sensualidade. Esta é além disso mais uma daquelas boas expressões, e sedutora diga-se, que utiliza duas palavras igualmente jeitosas: ‘material’ e ‘sensualidade’. É pois bem verdade que a borracha é mais interessante (esta palavra também me persegue) que o papel cavalinho, a espuma mais estimulante que o cartão canelado, a gelatina mais insinuante que uma chapa quinada, há quem faça milagres com o teflon que nem os melhores silicones suspeitariam, e isto agora chega senão nunca mais acabava de exemplos (todos os maximalistas militantes sucumbem à tirania efusiva do exemplo).
Não é o sexo que comanda a vida, isso é verdade, não será no coito onde mais nos entalamos, e nem será até o orgasmo sequer a sensação mais limite que a nossa natureza carnal pode produzir, no entanto é em torno da nossa condição sexual, e erótica se quisermos ser mais abrangentes, que se movimentam muitas das nossas inquietações e dos nossos graus de liberdade. Ora a arte tem esse condão de relativizar, de desmoralizar se quisermos, uma realidade que é para todos – incluindo os relaxantes extremos puritano ou libertino – enigmática ou até indecifrável. A arte demonstra assim poder chegar onde nem a religião nem a ciência conseguem chegar. Nem Freud, nem São Tomás de Aquino, nem Montaigne conseguem explicar como é que a mama destapada do ‘nascimento de vénus’ do Botticelli (sem falar dos cabelos dourados e serpenteantes) podem aproximar mais de Deus do que o seu ‘sto Agostinho’ agarradinho aos livros e ao peitinho contrito, e muito menos explicam como é que apetece entrar pelos banhos turcos de Ingres adentro para ver se o material é mesmo sensual ou se Deus nosso senhor inventou as nossas capacidades plásticas para ver até que ponto conseguíamos metonomizar o pincel.
E claro, muito cuidado com o pessoal que tem a Lua em escorpião. Mas se calhar escorpião que ladra não morde porque se perde completamente com aquele movimento que faz com a língua a ‘desenhar’ o ‘l’ da palavra sensualidade. Que é para já não falar naqueles dois 's' separados pelo serpenteante 'en'. Até gemem. Bem, soletrar 'material' é que já me parece algo do foro do sexo explícito e para isso eu já não estou autorizado. O grafismo dos kanji parece escolástica comparado com esta nossa orgia alfabética tão subestimada.
Um dos múltiplos ‘desafios’ das artes plásticas é a utilização dos chamados materiais com sensualidade. Esta é além disso mais uma daquelas boas expressões, e sedutora diga-se, que utiliza duas palavras igualmente jeitosas: ‘material’ e ‘sensualidade’. É pois bem verdade que a borracha é mais interessante (esta palavra também me persegue) que o papel cavalinho, a espuma mais estimulante que o cartão canelado, a gelatina mais insinuante que uma chapa quinada, há quem faça milagres com o teflon que nem os melhores silicones suspeitariam, e isto agora chega senão nunca mais acabava de exemplos (todos os maximalistas militantes sucumbem à tirania efusiva do exemplo).
Não é o sexo que comanda a vida, isso é verdade, não será no coito onde mais nos entalamos, e nem será até o orgasmo sequer a sensação mais limite que a nossa natureza carnal pode produzir, no entanto é em torno da nossa condição sexual, e erótica se quisermos ser mais abrangentes, que se movimentam muitas das nossas inquietações e dos nossos graus de liberdade. Ora a arte tem esse condão de relativizar, de desmoralizar se quisermos, uma realidade que é para todos – incluindo os relaxantes extremos puritano ou libertino – enigmática ou até indecifrável. A arte demonstra assim poder chegar onde nem a religião nem a ciência conseguem chegar. Nem Freud, nem São Tomás de Aquino, nem Montaigne conseguem explicar como é que a mama destapada do ‘nascimento de vénus’ do Botticelli (sem falar dos cabelos dourados e serpenteantes) podem aproximar mais de Deus do que o seu ‘sto Agostinho’ agarradinho aos livros e ao peitinho contrito, e muito menos explicam como é que apetece entrar pelos banhos turcos de Ingres adentro para ver se o material é mesmo sensual ou se Deus nosso senhor inventou as nossas capacidades plásticas para ver até que ponto conseguíamos metonomizar o pincel.
E claro, muito cuidado com o pessoal que tem a Lua em escorpião. Mas se calhar escorpião que ladra não morde porque se perde completamente com aquele movimento que faz com a língua a ‘desenhar’ o ‘l’ da palavra sensualidade. Que é para já não falar naqueles dois 's' separados pelo serpenteante 'en'. Até gemem. Bem, soletrar 'material' é que já me parece algo do foro do sexo explícito e para isso eu já não estou autorizado. O grafismo dos kanji parece escolástica comparado com esta nossa orgia alfabética tão subestimada.
No girls, no gods, só guedelhudos, alcool free.
Não terá um apelido de Belanciano ou Bonifácio, os verdadeiros BB da crítica musical do Público, mas sim P. Rios que nos apresenta o disco dos Vetiver com uma sobriedade estilística que me fazia quase ficar ‘pachorrento’ e com a ‘percussão verbal suavizada’ não fora a possibilidade que me dá de falar do Devendra Banhart que também dá a sua mãozinha neste disco, e me desvia assim da enorme tentação que seria escrever sobre uma outra crítica (que vem logo acima na mesma página) e que se intitula ‘soul desconstrucionista’ e me lembra vertiginosamente esta nova tendência da moda de tornar a filosofia numa panaceia, como que fosse uma técnica saída duma espécie de mistura de igreja maná para letrados em iniciação poética com terapias budistas embebidas em chá verde. Mas no fundo o sonho de muitos filósofos será serem Paulos Coelhos com pedigree. Pessoal, a filosofia faz ao espírito pouco mais que um laxante a um intestino preguiçoso: alivia o gemido, liquefaz o problema, adia o espasmo, e no limite até produz um sorriso ternurento de criança. Voltemos à música, infelizmente já ouvi o disco dos Vetiver o que me limita a contra-critica, pois falar com conhecimento de causa é um total absurdo, e por isso aproveito e avanço directamente para o próprio Devendra que aqui para nós que ninguém nos ouve fui ver ao Sudoeste sem que a família soubesse pois julgavam que tinha ido ouvir os Oasis e comer umas amêijoas ao cabo sardão. E agora aqui uma nota tipo apontamento de reportagem: aquela coisa do haxe já deve ter tido os seus dias, ou então agora misturam aquilo com Valdispert, porque parecia tudo saidinho duma sesta; ora se aquilo eram charros, o café duplo também devia ser proibido. Bem, mas o guedelhudo é bom, essa é que é essa. Metade do pessoal não sabia quem ele era nem conseguiam dizer bem o nome e quando o viram a cantar a ‘hermafrodita esquizofénica’ alguns até começaram a dançar uma coisa que se assemelhava bastante a um movimento misto de vindimar e de fazer umas drenagens linfáticas. Mas aparentemente sentiam-se bem, e acho que quem não se mexesse minimamente – grupo singular no qual me incluía – nem era digno do rabo que Deus lhe tinha providenciado, quanto mais de ouvir o ‘dedilhado trademark’ do amigo Devendra Banhart que, diga-se de passagem, tem este nome porque os paizinhos se alucinavam à vez com as filosofias orientais e se esqueceram de ler schopenauer para desenjoar no intervalo das vaporizações de incenso. Da crítica em apreço retenha-se que o tal disco beneficia da ‘atmosfera relaxada’ da ‘sala de estar de Cabic’, mas verdade verdadinha, quem chupa uns rebuçadinhos do prof Banhart não precisa de ouvir aquilo, tal como não precisa da filosofia nem para encontrar um caminho para a vida, nem para lhe aliviar das dores das costas, nem para se acalmar com a filha que está desde as sete da tarde ininterruptamente ao telefone. Mas também lhes digo outra coisinha: escrever como eu aqui umas centenas de palavras sem querer dizer rigorosamente nada pode ser uma terapia do caneco, pois como diria – quase… - o Nietzche pela verve simbólica do Zaratustra ( ou se calhar pensavam que eu me ia embora sem cumprir o meu papel de desvenda banhadas) : ‘bastante me custa já conservar todas as minhas opiniões e mais de uma enguia já me fugiu ao ensopado’ e por isso ‘um pouco de voluptuosidade e um pouco de tédio’ e ouvir o ‘Rejoicing the hands’ do fininho do Devendra é o que ainda há de melhor para acompanhar uma limonada fresquinha.
Não terá um apelido de Belanciano ou Bonifácio, os verdadeiros BB da crítica musical do Público, mas sim P. Rios que nos apresenta o disco dos Vetiver com uma sobriedade estilística que me fazia quase ficar ‘pachorrento’ e com a ‘percussão verbal suavizada’ não fora a possibilidade que me dá de falar do Devendra Banhart que também dá a sua mãozinha neste disco, e me desvia assim da enorme tentação que seria escrever sobre uma outra crítica (que vem logo acima na mesma página) e que se intitula ‘soul desconstrucionista’ e me lembra vertiginosamente esta nova tendência da moda de tornar a filosofia numa panaceia, como que fosse uma técnica saída duma espécie de mistura de igreja maná para letrados em iniciação poética com terapias budistas embebidas em chá verde. Mas no fundo o sonho de muitos filósofos será serem Paulos Coelhos com pedigree. Pessoal, a filosofia faz ao espírito pouco mais que um laxante a um intestino preguiçoso: alivia o gemido, liquefaz o problema, adia o espasmo, e no limite até produz um sorriso ternurento de criança. Voltemos à música, infelizmente já ouvi o disco dos Vetiver o que me limita a contra-critica, pois falar com conhecimento de causa é um total absurdo, e por isso aproveito e avanço directamente para o próprio Devendra que aqui para nós que ninguém nos ouve fui ver ao Sudoeste sem que a família soubesse pois julgavam que tinha ido ouvir os Oasis e comer umas amêijoas ao cabo sardão. E agora aqui uma nota tipo apontamento de reportagem: aquela coisa do haxe já deve ter tido os seus dias, ou então agora misturam aquilo com Valdispert, porque parecia tudo saidinho duma sesta; ora se aquilo eram charros, o café duplo também devia ser proibido. Bem, mas o guedelhudo é bom, essa é que é essa. Metade do pessoal não sabia quem ele era nem conseguiam dizer bem o nome e quando o viram a cantar a ‘hermafrodita esquizofénica’ alguns até começaram a dançar uma coisa que se assemelhava bastante a um movimento misto de vindimar e de fazer umas drenagens linfáticas. Mas aparentemente sentiam-se bem, e acho que quem não se mexesse minimamente – grupo singular no qual me incluía – nem era digno do rabo que Deus lhe tinha providenciado, quanto mais de ouvir o ‘dedilhado trademark’ do amigo Devendra Banhart que, diga-se de passagem, tem este nome porque os paizinhos se alucinavam à vez com as filosofias orientais e se esqueceram de ler schopenauer para desenjoar no intervalo das vaporizações de incenso. Da crítica em apreço retenha-se que o tal disco beneficia da ‘atmosfera relaxada’ da ‘sala de estar de Cabic’, mas verdade verdadinha, quem chupa uns rebuçadinhos do prof Banhart não precisa de ouvir aquilo, tal como não precisa da filosofia nem para encontrar um caminho para a vida, nem para lhe aliviar das dores das costas, nem para se acalmar com a filha que está desde as sete da tarde ininterruptamente ao telefone. Mas também lhes digo outra coisinha: escrever como eu aqui umas centenas de palavras sem querer dizer rigorosamente nada pode ser uma terapia do caneco, pois como diria – quase… - o Nietzche pela verve simbólica do Zaratustra ( ou se calhar pensavam que eu me ia embora sem cumprir o meu papel de desvenda banhadas) : ‘bastante me custa já conservar todas as minhas opiniões e mais de uma enguia já me fugiu ao ensopado’ e por isso ‘um pouco de voluptuosidade e um pouco de tédio’ e ouvir o ‘Rejoicing the hands’ do fininho do Devendra é o que ainda há de melhor para acompanhar uma limonada fresquinha.
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Desmaker residance
Noites de reza & dança
Eram o grupinho dos desiludidos da filosofia. Acreditavam que o pensamento depois de nietzsche e de wittgenstein já não é o que era, a sua desvalorização tinha-o colocado no devido lugar, ao mesmo nível do caril ou do escabeche ou da coentrada, e pouco mais serviria que para decorar e tornar mais atraente e suportável uma existência destinada a pulverizar-se. Barthes e Bachelardes enchiam-lhes o goto, e depois caíam em êxtases psicadélicos com os grandes místicos: diziam que deus apenas lhes solicitava a imolação do seu prazer, e assim dançavam e ofereciam o corpo esvaído em movimento e som e transcendência em saldo. O resto da comensalidade distraía-se com aquilo, os joelhos das mulheres libertavam-se da sua função de dobradiça e revelavam-se como rótulas de anjos, era bom para o negócio, subia quase sempre o consumo do gin tónico o que ainda para mais garantia um novo festim de ressacas. Não se via em mais lugar nenhum deus tão próximo da carne, a consciência tão próxima da inconsciência, o pensamento tão próximo do prazer, a oração tão próxima do coração. O pecado tinha ficado à porta porque anda sempre mal vestido e não sabia dançar. E não se aceitavam indecisos: era tudo ou gin ou sopas.
Noites de reza & dança
Eram o grupinho dos desiludidos da filosofia. Acreditavam que o pensamento depois de nietzsche e de wittgenstein já não é o que era, a sua desvalorização tinha-o colocado no devido lugar, ao mesmo nível do caril ou do escabeche ou da coentrada, e pouco mais serviria que para decorar e tornar mais atraente e suportável uma existência destinada a pulverizar-se. Barthes e Bachelardes enchiam-lhes o goto, e depois caíam em êxtases psicadélicos com os grandes místicos: diziam que deus apenas lhes solicitava a imolação do seu prazer, e assim dançavam e ofereciam o corpo esvaído em movimento e som e transcendência em saldo. O resto da comensalidade distraía-se com aquilo, os joelhos das mulheres libertavam-se da sua função de dobradiça e revelavam-se como rótulas de anjos, era bom para o negócio, subia quase sempre o consumo do gin tónico o que ainda para mais garantia um novo festim de ressacas. Não se via em mais lugar nenhum deus tão próximo da carne, a consciência tão próxima da inconsciência, o pensamento tão próximo do prazer, a oração tão próxima do coração. O pecado tinha ficado à porta porque anda sempre mal vestido e não sabia dançar. E não se aceitavam indecisos: era tudo ou gin ou sopas.
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desmaker residence
no rules, acabou-se a massa folhada, ‘tá de chuva, no scotch, great music.
«A cultura pop tem aquele duplo problema de necessitar tanto da legitimidade do novo como de se fincar em si própria num modelo de repetição e diferença para se outorgar valor próprio». Não, não se trata dum texto teórico de Armando Vara, mas sim o crítico musical de turno no ‘Público’ de 6ª feira passada tomando balanço para nos dar a saborear metonimicamente o novo disco de Archer Prewitt, ‘Wilderness’. Qual filosofo psicanalista da pop -talvez um novo lancan-popperizado em vinagrete – o crítico põe a hermeneutica no divã e praticamente num vol-au-vent de livre associação diz-nos que tudo assenta no triângulo mágico: ‘trejeitos melódicos’-‘maneirismos’-bordejamentos’. E é neste contexto quase erótico a la carte e geométrico-epistemológico que Archer, agora Pitagorizado, consegue descobrir hipotesudas, perdão hipotenusas, e ultrapassar assim a neura do criador musical ao incorporar tranquilamente o freudiano ‘toda a gente rouba’ atenuando o trauma do estupro musical; isto tudo, já se sabe, por detrás do simbolismo gratinado de cada ‘marca de autor’, tudo devidamente sublimado e macerado na matriz pop clássica: ‘sequências de acordes de guitarras’ polvilhadas por ‘metais vários’, tudo bem coado no ‘magnetismo’ duma voz atmosfera. Bem deus te alavanque e condimente, ó prewitt bonifaciado.
Ora se arte será arte, se critica de arte será critica de arte, então a critica de critica de arte será – a lógica é imperatriz - arte novamente. É a crueza desta certeza que me dá forças para continuar, qual politico que se entrega à missão de trazer a beleza da coisa pública ao contacto com os vis interesses do mercado, da concorrência e do corporate finance. E é também consciente de que melhor que um monopólio só mesmo uma concessão, e de que melhor que uma concessão só mesmo «a estrutura ondulante de uma canção» que volto ao tema principal, Archer merece-o, o critico psicanalista também, tanto mais que este é «um disco de arquitecto de vigas bem escoradas na história mais tépida e luminosa da pop, de laborioso cientista empenhado a átomo a átomo controlar cada sensação do ouvinte». Tratar-se-á certamente dum Siza quântico, que mesmo ouvido num vão de escada parecerá estarmos sob uma cúpula gótica contando estrelas cadentes no intervalo dos vitrais. A pop é isto mesmo: bater, riffar e saltear na frigideira da voz, mas se ouvirmos muito temos de preparar um refogado primeiro não vá de secar e enjoar. Em sendo para acompanhar a terapia ocupacional aconselharia antes tomatinhos recheados de uma mousse de requeijão com azeitonas e anchovas. E uma ganza folk à la Sandy Denny.
«A cultura pop tem aquele duplo problema de necessitar tanto da legitimidade do novo como de se fincar em si própria num modelo de repetição e diferença para se outorgar valor próprio». Não, não se trata dum texto teórico de Armando Vara, mas sim o crítico musical de turno no ‘Público’ de 6ª feira passada tomando balanço para nos dar a saborear metonimicamente o novo disco de Archer Prewitt, ‘Wilderness’. Qual filosofo psicanalista da pop -talvez um novo lancan-popperizado em vinagrete – o crítico põe a hermeneutica no divã e praticamente num vol-au-vent de livre associação diz-nos que tudo assenta no triângulo mágico: ‘trejeitos melódicos’-‘maneirismos’-bordejamentos’. E é neste contexto quase erótico a la carte e geométrico-epistemológico que Archer, agora Pitagorizado, consegue descobrir hipotesudas, perdão hipotenusas, e ultrapassar assim a neura do criador musical ao incorporar tranquilamente o freudiano ‘toda a gente rouba’ atenuando o trauma do estupro musical; isto tudo, já se sabe, por detrás do simbolismo gratinado de cada ‘marca de autor’, tudo devidamente sublimado e macerado na matriz pop clássica: ‘sequências de acordes de guitarras’ polvilhadas por ‘metais vários’, tudo bem coado no ‘magnetismo’ duma voz atmosfera. Bem deus te alavanque e condimente, ó prewitt bonifaciado.
Ora se arte será arte, se critica de arte será critica de arte, então a critica de critica de arte será – a lógica é imperatriz - arte novamente. É a crueza desta certeza que me dá forças para continuar, qual politico que se entrega à missão de trazer a beleza da coisa pública ao contacto com os vis interesses do mercado, da concorrência e do corporate finance. E é também consciente de que melhor que um monopólio só mesmo uma concessão, e de que melhor que uma concessão só mesmo «a estrutura ondulante de uma canção» que volto ao tema principal, Archer merece-o, o critico psicanalista também, tanto mais que este é «um disco de arquitecto de vigas bem escoradas na história mais tépida e luminosa da pop, de laborioso cientista empenhado a átomo a átomo controlar cada sensação do ouvinte». Tratar-se-á certamente dum Siza quântico, que mesmo ouvido num vão de escada parecerá estarmos sob uma cúpula gótica contando estrelas cadentes no intervalo dos vitrais. A pop é isto mesmo: bater, riffar e saltear na frigideira da voz, mas se ouvirmos muito temos de preparar um refogado primeiro não vá de secar e enjoar. Em sendo para acompanhar a terapia ocupacional aconselharia antes tomatinhos recheados de uma mousse de requeijão com azeitonas e anchovas. E uma ganza folk à la Sandy Denny.
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