O dicionário não ilustrado faz das tripas coração e dedica-se às anatomias alternativas de peito feito, procurando no entanto não se transformar numa mera língua de trapos. ( entradas 1078 a 1085)
Pé de atleta – Ao contrário do que se pensa uma boa micose é a única real garantia de que deixamos rasto
Rabo pelado – Aparentando representar uma vida cheia de experiência, muitas vezes não passa dum sinal de que vivemos arrastando-nos pelas paredes mas apreciando um falso rei na barriga.
Ouvidos de mercador – Saber ouvir é a solução de recurso para aqueles que não conseguem saber olhar. As palavras escondem-se sempre nas conjugações, vivem dos sinais de fumo dos advérbios e por isso quando chegam os adjectivos a mentes mais esclarecidas já estão mas é na sesta.
Jogo de cintura – Apesar de também poder ser utilizado numa daquelas inexplicáveis fraquezas da natureza humana que é a dança, deverá ser considerado como uma vantagem sempre que seja necessário enroscar a existência numa cavilha apertada e evitar que a bucha se esteja a desfazer. Não abusar por causa do fenómeno da rosca moída.
Mãos de fada – Uma boa solução para quem não consegue coçar-se em condições é desenvolver os seus dotes a construir escovas que ajudem a trazer a existência sempre limpinha das erupções de natureza escamosa da culpa.
Pêlo na venta – Dado que o criador não nos concebeu depilados, há que aproveitar este desígnio genético e ter sempre alguma penugem em posição de combate ou a fazer de corda de violino
Sebo nas canelas – Saber fugir sempre foi uma das prerrogativas da espécie e a excessiva lubrificação de algumas pastes do ser não raras vezes esteve associada a momentos ou de grande esclarecimento, ou de grande misticismo ou de grande cagaço. Trazer o credo na boca sempre constituiu um adicional a valorizar.
Coração nas mãos – Face ao incómodo que este órgão geralmente apresenta, uma solução muito em voga é tê-lo sempre em posição de lhe dar lustro para que pelo menos não envergonhe na decoração.
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