No girls, no gods, só guedelhudos, alcool free.

Não terá um apelido de Belanciano ou Bonifácio, os verdadeiros BB da crítica musical do Público, mas sim P. Rios que nos apresenta o disco dos Vetiver com uma sobriedade estilística que me fazia quase ficar ‘pachorrento’ e com a ‘percussão verbal suavizada’ não fora a possibilidade que me dá de falar do Devendra Banhart que também dá a sua mãozinha neste disco, e me desvia assim da enorme tentação que seria escrever sobre uma outra crítica (que vem logo acima na mesma página) e que se intitula ‘soul desconstrucionista’ e me lembra vertiginosamente esta nova tendência da moda de tornar a filosofia numa panaceia, como que fosse uma técnica saída duma espécie de mistura de igreja maná para letrados em iniciação poética com terapias budistas embebidas em chá verde. Mas no fundo o sonho de muitos filósofos será serem Paulos Coelhos com pedigree. Pessoal, a filosofia faz ao espírito pouco mais que um laxante a um intestino preguiçoso: alivia o gemido, liquefaz o problema, adia o espasmo, e no limite até produz um sorriso ternurento de criança. Voltemos à música, infelizmente já ouvi o disco dos Vetiver o que me limita a contra-critica, pois falar com conhecimento de causa é um total absurdo, e por isso aproveito e avanço directamente para o próprio Devendra que aqui para nós que ninguém nos ouve fui ver ao Sudoeste sem que a família soubesse pois julgavam que tinha ido ouvir os Oasis e comer umas amêijoas ao cabo sardão. E agora aqui uma nota tipo apontamento de reportagem: aquela coisa do haxe já deve ter tido os seus dias, ou então agora misturam aquilo com Valdispert, porque parecia tudo saidinho duma sesta; ora se aquilo eram charros, o café duplo também devia ser proibido. Bem, mas o guedelhudo é bom, essa é que é essa. Metade do pessoal não sabia quem ele era nem conseguiam dizer bem o nome e quando o viram a cantar a ‘hermafrodita esquizofénica’ alguns até começaram a dançar uma coisa que se assemelhava bastante a um movimento misto de vindimar e de fazer umas drenagens linfáticas. Mas aparentemente sentiam-se bem, e acho que quem não se mexesse minimamente – grupo singular no qual me incluía – nem era digno do rabo que Deus lhe tinha providenciado, quanto mais de ouvir o ‘dedilhado trademark’ do amigo Devendra Banhart que, diga-se de passagem, tem este nome porque os paizinhos se alucinavam à vez com as filosofias orientais e se esqueceram de ler schopenauer para desenjoar no intervalo das vaporizações de incenso. Da crítica em apreço retenha-se que o tal disco beneficia da ‘atmosfera relaxada’ da ‘sala de estar de Cabic’, mas verdade verdadinha, quem chupa uns rebuçadinhos do prof Banhart não precisa de ouvir aquilo, tal como não precisa da filosofia nem para encontrar um caminho para a vida, nem para lhe aliviar das dores das costas, nem para se acalmar com a filha que está desde as sete da tarde ininterruptamente ao telefone. Mas também lhes digo outra coisinha: escrever como eu aqui umas centenas de palavras sem querer dizer rigorosamente nada pode ser uma terapia do caneco, pois como diria – quase… - o Nietzche pela verve simbólica do Zaratustra ( ou se calhar pensavam que eu me ia embora sem cumprir o meu papel de desvenda banhadas) : ‘bastante me custa já conservar todas as minhas opiniões e mais de uma enguia já me fugiu ao ensopado’ e por isso ‘um pouco de voluptuosidade e um pouco de tédio’ e ouvir o ‘Rejoicing the hands’ do fininho do Devendra é o que ainda há de melhor para acompanhar uma limonada fresquinha.

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