Desmaker residance

Noites de reza & dança

Eram o grupinho dos desiludidos da filosofia. Acreditavam que o pensamento depois de nietzsche e de wittgenstein já não é o que era, a sua desvalorização tinha-o colocado no devido lugar, ao mesmo nível do caril ou do escabeche ou da coentrada, e pouco mais serviria que para decorar e tornar mais atraente e suportável uma existência destinada a pulverizar-se. Barthes e Bachelardes enchiam-lhes o goto, e depois caíam em êxtases psicadélicos com os grandes místicos: diziam que deus apenas lhes solicitava a imolação do seu prazer, e assim dançavam e ofereciam o corpo esvaído em movimento e som e transcendência em saldo. O resto da comensalidade distraía-se com aquilo, os joelhos das mulheres libertavam-se da sua função de dobradiça e revelavam-se como rótulas de anjos, era bom para o negócio, subia quase sempre o consumo do gin tónico o que ainda para mais garantia um novo festim de ressacas. Não se via em mais lugar nenhum deus tão próximo da carne, a consciência tão próxima da inconsciência, o pensamento tão próximo do prazer, a oração tão próxima do coração. O pecado tinha ficado à porta porque anda sempre mal vestido e não sabia dançar. E não se aceitavam indecisos: era tudo ou gin ou sopas.

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