Agora fiquei embouchado
Confesso que não estava à espera que esta casa séria fosse de rompante invadida pela odalisca loira e adolescente que Boucher pintou para o maninho da mme Pompadour, se bem que pelos vistos a modelo terá ido ao atelier do artista sempre acompanhada pela mãezinha, benza-a Deus. Este rapaz que hoje seria certamente fornecedor exclusivo dos calendários da Michelin e que levaria a playboy a ter de mudar de ramo, converteu-me a iconoclasta militante – dado que para iconocasto já vai tarde – no dia em que há muitos anos fui ver ao Louvre uma tal de ‘Diana a sair do banhinho’ que Renoir terá dito ‘ser a primeira pintura que lhe ficou gravada para sempre, e que Boucher seria um dos homens que melhor percebia o corpo feminino: com umas nádegas jovens e umas ligeiras ondulações fazia precisamente apenas o que era preciso’(*). Ora aquilo não me convenceu totalmente tanto mais que o quadro mostrava apenas uns joelhitos e umas mamitas e um adolescente quer mais, dir-se-ia mesmo: tem o direito antropológico a mais. Foi então que descobri que Proust gramava mais o folhinhos do Watteau e vai daí pensei, vou ter de dar outra oportunidade ao gajo das mamitas. Abençoada a hora, pois a partir desse momento o sítio onde as costas mudam de página no dicionário nunca mais foi o mesmo, e a covinha que fazem as ditas costas ali na sacristia do cocsis passou a fazer de berço à minha inocência perdida. É então nessa altura que reparei numa miúda que está ali num cantinho da ‘Descida do Sol’ (**) a olhar feita parva para o Apolo e que deve ser a irmã gémea da moça do post aqui de baixo ( abençoada gemada de esperma ) e a partir daí valha-me Deus nunca mais larguei o Boucher nem para um cházinho com torradas, pois que o fardo do decorativismo lhe seja leve! Digo assim que se o Jerónimo de Sousa prometesse que em cada casa portuguesa haveria uma chaleira de Alcobaça com a ‘Chloe ao colo do Daphnis’, até eu me fazia pastor e lhe daria bucolicamente o meu voto pondo apenas como condição que aquela outra odalisca turca, morena e gordita que está no Louvre deitada num amarfanhado de veludos azuis passasse a cunhar as moedas de um euro como prova de que a nação poderá ser um dia um paraíso de luxo e volúpia até nas caixas de esmolas. Mas como Deus até está nas pequenas coisas, nas de 50 cêntimos também podia ficar a Vénus quando foi surpreendida pelo Vulcão a brincar às enfermeiras com o Marte. No fundo, o problema da nação sempre foi termos pouco jeito para lidar com as demasias e com afrontamentos.
Confesso que não estava à espera que esta casa séria fosse de rompante invadida pela odalisca loira e adolescente que Boucher pintou para o maninho da mme Pompadour, se bem que pelos vistos a modelo terá ido ao atelier do artista sempre acompanhada pela mãezinha, benza-a Deus. Este rapaz que hoje seria certamente fornecedor exclusivo dos calendários da Michelin e que levaria a playboy a ter de mudar de ramo, converteu-me a iconoclasta militante – dado que para iconocasto já vai tarde – no dia em que há muitos anos fui ver ao Louvre uma tal de ‘Diana a sair do banhinho’ que Renoir terá dito ‘ser a primeira pintura que lhe ficou gravada para sempre, e que Boucher seria um dos homens que melhor percebia o corpo feminino: com umas nádegas jovens e umas ligeiras ondulações fazia precisamente apenas o que era preciso’(*). Ora aquilo não me convenceu totalmente tanto mais que o quadro mostrava apenas uns joelhitos e umas mamitas e um adolescente quer mais, dir-se-ia mesmo: tem o direito antropológico a mais. Foi então que descobri que Proust gramava mais o folhinhos do Watteau e vai daí pensei, vou ter de dar outra oportunidade ao gajo das mamitas. Abençoada a hora, pois a partir desse momento o sítio onde as costas mudam de página no dicionário nunca mais foi o mesmo, e a covinha que fazem as ditas costas ali na sacristia do cocsis passou a fazer de berço à minha inocência perdida. É então nessa altura que reparei numa miúda que está ali num cantinho da ‘Descida do Sol’ (**) a olhar feita parva para o Apolo e que deve ser a irmã gémea da moça do post aqui de baixo ( abençoada gemada de esperma ) e a partir daí valha-me Deus nunca mais larguei o Boucher nem para um cházinho com torradas, pois que o fardo do decorativismo lhe seja leve! Digo assim que se o Jerónimo de Sousa prometesse que em cada casa portuguesa haveria uma chaleira de Alcobaça com a ‘Chloe ao colo do Daphnis’, até eu me fazia pastor e lhe daria bucolicamente o meu voto pondo apenas como condição que aquela outra odalisca turca, morena e gordita que está no Louvre deitada num amarfanhado de veludos azuis passasse a cunhar as moedas de um euro como prova de que a nação poderá ser um dia um paraíso de luxo e volúpia até nas caixas de esmolas. Mas como Deus até está nas pequenas coisas, nas de 50 cêntimos também podia ficar a Vénus quando foi surpreendida pelo Vulcão a brincar às enfermeiras com o Marte. No fundo, o problema da nação sempre foi termos pouco jeito para lidar com as demasias e com afrontamentos.
(*) Isto foi sacado duma citação lida num livro qualquer sobre o Boucher da Wallace collection mas que agora não estou com pachorra para escrever.
(**) Este está mesmo na Wallace Collection do lado direiro de quem sobe as escadas. Acho.
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