no rules, acabou-se a massa folhada, ‘tá de chuva, no scotch, great music.
«A cultura pop tem aquele duplo problema de necessitar tanto da legitimidade do novo como de se fincar em si própria num modelo de repetição e diferença para se outorgar valor próprio». Não, não se trata dum texto teórico de Armando Vara, mas sim o crítico musical de turno no ‘Público’ de 6ª feira passada tomando balanço para nos dar a saborear metonimicamente o novo disco de Archer Prewitt, ‘Wilderness’. Qual filosofo psicanalista da pop -talvez um novo lancan-popperizado em vinagrete – o crítico põe a hermeneutica no divã e praticamente num vol-au-vent de livre associação diz-nos que tudo assenta no triângulo mágico: ‘trejeitos melódicos’-‘maneirismos’-bordejamentos’. E é neste contexto quase erótico a la carte e geométrico-epistemológico que Archer, agora Pitagorizado, consegue descobrir hipotesudas, perdão hipotenusas, e ultrapassar assim a neura do criador musical ao incorporar tranquilamente o freudiano ‘toda a gente rouba’ atenuando o trauma do estupro musical; isto tudo, já se sabe, por detrás do simbolismo gratinado de cada ‘marca de autor’, tudo devidamente sublimado e macerado na matriz pop clássica: ‘sequências de acordes de guitarras’ polvilhadas por ‘metais vários’, tudo bem coado no ‘magnetismo’ duma voz atmosfera. Bem deus te alavanque e condimente, ó prewitt bonifaciado.
Ora se arte será arte, se critica de arte será critica de arte, então a critica de critica de arte será – a lógica é imperatriz - arte novamente. É a crueza desta certeza que me dá forças para continuar, qual politico que se entrega à missão de trazer a beleza da coisa pública ao contacto com os vis interesses do mercado, da concorrência e do corporate finance. E é também consciente de que melhor que um monopólio só mesmo uma concessão, e de que melhor que uma concessão só mesmo «a estrutura ondulante de uma canção» que volto ao tema principal, Archer merece-o, o critico psicanalista também, tanto mais que este é «um disco de arquitecto de vigas bem escoradas na história mais tépida e luminosa da pop, de laborioso cientista empenhado a átomo a átomo controlar cada sensação do ouvinte». Tratar-se-á certamente dum Siza quântico, que mesmo ouvido num vão de escada parecerá estarmos sob uma cúpula gótica contando estrelas cadentes no intervalo dos vitrais. A pop é isto mesmo: bater, riffar e saltear na frigideira da voz, mas se ouvirmos muito temos de preparar um refogado primeiro não vá de secar e enjoar. Em sendo para acompanhar a terapia ocupacional aconselharia antes tomatinhos recheados de uma mousse de requeijão com azeitonas e anchovas. E uma ganza folk à la Sandy Denny.
«A cultura pop tem aquele duplo problema de necessitar tanto da legitimidade do novo como de se fincar em si própria num modelo de repetição e diferença para se outorgar valor próprio». Não, não se trata dum texto teórico de Armando Vara, mas sim o crítico musical de turno no ‘Público’ de 6ª feira passada tomando balanço para nos dar a saborear metonimicamente o novo disco de Archer Prewitt, ‘Wilderness’. Qual filosofo psicanalista da pop -talvez um novo lancan-popperizado em vinagrete – o crítico põe a hermeneutica no divã e praticamente num vol-au-vent de livre associação diz-nos que tudo assenta no triângulo mágico: ‘trejeitos melódicos’-‘maneirismos’-bordejamentos’. E é neste contexto quase erótico a la carte e geométrico-epistemológico que Archer, agora Pitagorizado, consegue descobrir hipotesudas, perdão hipotenusas, e ultrapassar assim a neura do criador musical ao incorporar tranquilamente o freudiano ‘toda a gente rouba’ atenuando o trauma do estupro musical; isto tudo, já se sabe, por detrás do simbolismo gratinado de cada ‘marca de autor’, tudo devidamente sublimado e macerado na matriz pop clássica: ‘sequências de acordes de guitarras’ polvilhadas por ‘metais vários’, tudo bem coado no ‘magnetismo’ duma voz atmosfera. Bem deus te alavanque e condimente, ó prewitt bonifaciado.
Ora se arte será arte, se critica de arte será critica de arte, então a critica de critica de arte será – a lógica é imperatriz - arte novamente. É a crueza desta certeza que me dá forças para continuar, qual politico que se entrega à missão de trazer a beleza da coisa pública ao contacto com os vis interesses do mercado, da concorrência e do corporate finance. E é também consciente de que melhor que um monopólio só mesmo uma concessão, e de que melhor que uma concessão só mesmo «a estrutura ondulante de uma canção» que volto ao tema principal, Archer merece-o, o critico psicanalista também, tanto mais que este é «um disco de arquitecto de vigas bem escoradas na história mais tépida e luminosa da pop, de laborioso cientista empenhado a átomo a átomo controlar cada sensação do ouvinte». Tratar-se-á certamente dum Siza quântico, que mesmo ouvido num vão de escada parecerá estarmos sob uma cúpula gótica contando estrelas cadentes no intervalo dos vitrais. A pop é isto mesmo: bater, riffar e saltear na frigideira da voz, mas se ouvirmos muito temos de preparar um refogado primeiro não vá de secar e enjoar. Em sendo para acompanhar a terapia ocupacional aconselharia antes tomatinhos recheados de uma mousse de requeijão com azeitonas e anchovas. E uma ganza folk à la Sandy Denny.
Sem comentários:
Enviar um comentário