Outono rima com abandono. Bela merda de rima.



A única mulher que abandonou Picasso foi Françoise Gilot, que ficou para sempre como a sua “mulher – flor”. No primeiro dia em que lhe pediu para que se despisse ficou a observá-la durante mais de uma hora sem tocar em nenhum pincel e mais tarde chegou a dizer-lhe que “todos nos parecemos com um animal menos tu”. Picasso não suportou bem essa "derrota" mas já há algum tempo que tinha encontrado em Jacqueline mais uma substituta “servil”; para Picasso as mulheres eram meras utilidades.



Mas o que é um “facto” é que apenas a mulher sabe abandonar. O homem quanto muito deixa, não desenvolveu tão bem essa crueldade da ordem do definitivo. O homem é apenas outonal, viverá, no extremo, apenas deixando cair, enquanto que as mulheres: ou dependem ou desprendem. Ou são flores ou são icebergs. Ou são as duas coisas. Porra, já ando às voltas.



Picasso teria dito a Francoise que ela era a “única mulher que tinha conhecido que tinha a janela aberta para o absoluto”. Mais uma daquelas frases parvas do gajo, mas agora deu-me para reparar que um dos absolutos do feminino é mesmo o abandono. E que merda, rima mesmo com Outono (e ainda por cima está-m’a dar o sono).



Mas há mais rimas possíveis, e a vida não se regula por coincidências de terminações. O que regula a vida, no limite é o ciclo menstrual; que rima praticamente com tudo afinal, mas se a escolha for: mulher-animal ou mulher- flor, não interessa, que seja uma que não recuse a dor, essa não abandonará no final.


Picasso não passava dum homem quadrado. Daí o cubismo, onde nenhuma mulher encaixaria bem, pois, também no limite, verdadeiramente, nenhuma mulher dá a outra face.
nota: os itálicos são retirados do livro "Picasso y las Mujeres" de Paula Izquierdo, Belacqua de ediciones, Barcelona, 2003

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