Quando Gaspar descobriu que na caverna do estado social
estavam escondidos quatemimnhões foi a correr contar a Passos.
- E como é que lá
entramos?
- 'Abre-te selassié',
acho que é a senha, e se lá conseguirmos entrar vai ser canja pormos as mãos
nos quatemimnhões!
- Achas que não vai estar lá mais ninguém?
- Vamos num dia em que haja manifestações!
Gaspar e Passos esfregavam já as mãos com a imagem de um
pote cheio de quatemimnhões quando lhes apareceu Portas a dizer que também
queria ter uma palavra a dizer sobre os quatemimnhões.
- Mas tu não sabes qual é a senha! - rematou logo Gaspar.
- Sei sissinhora, é:
'Abre-te Lagarde'!
- Não é, Toma! E essa só manda no departamento de bijutaria
e marroquinaria e os quatemimnhões são despesas sociais.
- Então vou perguntar ao Bagão Felix e ele diz-me a senha
- Ora, ora, espertinho, a senha já não é a mesma, ehehe,
pensas o quê!?
Portas irritado manda chamar Mota Soares.
- Mota, então não eras tu o dono do estado social, porra!?
Mandei-te para lá e agora deixaste mudar a senha e perdemos o controlo à coisa!
- Chefe, desde que descobriram que estavam lá os
quatemimnhões andam todos fechados em copas e a fazer panelinha com o selassié
- Sabes o número desse gajo?
- Não, ele liga-me sempre dum anónimo
- Cabrão...e agora fazemos o quê?
- Sei lá, olha, para já pomos o puto-almeida a esbracejar e depois
logo se vê
Entretanto Gaspar e Passos foram para a porta do estado
social e começaram a dizer baixinho:
- Abre-te selassié, abre-te selassié...
E então, num movimento lento e majestoso, as portas blindadas
do estado social abrem-se de par em par e eis que um tesoiro exuberante,
doirado e resplandecente de subsídios de desemprego e pensões de reforma lhes aparece a tilintar
e luzir.
- Meu Deus, tanta riqueza?! Já viste ali aquela pensão de
viúva? Linda de morrer!? e aquele subsídio de funeral!? Que jóia...
- Sim, Gaspar, sim, deslumbrante, e olha ali para aquela
bolsa de estudo! Parece um pergaminho raro!
- Estava aqui um pote de quatemimnhões e nós nem sabíamos!
- Olha, começa a meter no saco aqueles abonos de familia que
estão todos espalhados e ainda podem voar com a corrente de ar
- E cheiram tão bem...são uma autêntica especiaria social
- Não sejas depravado, Gaspar, não é para brincares com
isso!
- Ao menos deixa-me ficar só esta noite com uma taxa
moderadora, para brincar com ela, vá lá, depois amanhã eu trago
- Sim, mas não digas nada ao Macedo, que o gajo é invejoso,
e ainda vai querer meter a unha nos nossos quatemimnhões!
- Nada disso, os quateminhões são nossos! Fomos nós que os
descobrimos!
- Sim! Credo, já viste, nem pensar, com os nossos quatemimnhões
ninguém brinca...Eu sou o número dois, não sou?...
- Claro, Gaspar, meu rei mago, tu és o meu número dois, pronto.
- E mais ninguém vai saber do nosso segredo, pois não,
número um?
- Não, ninguém!
- Nem o Marques Mendes?
- Não...
- Humm...quatemimnhões só para nós e para os nossos modelos
escanzelométricos, nham, nham.