Senhores de uma pívia intelectual de bom porte os
novos-sábios vieram tomar o lugar dos novos-ricos. Aparentemente tudo apontaria
para que ficassemos mal servidos. Mas até não. A energia que antes fazia
desabrochar fábriquetas de peúgas e tshirts, se bem que algumas de duvidoso
porte vindas do grande maná da esperteza saloia, hoje dá à luz dondocas de salão
de chá não dançante com o pomposo nome de comentadores. Gente incapaz de
produzir um mínimo de riqueza que se possa apalpar com dedos de gente, (aquilo
que agora a gíria chama de bens transaccionáveis) encaixou-se na fresta dos grandes
bordéis do pensamento e fez nascer o novo cluster dos entertaineres de opinião,
opinioristas praticamente de cédula garantida e com rodado preparado para
qualquer tipo de piso. Mas o facto é que dalguma forma houve bom time to market
nesta decisão dos mediamakers. Os canais generalistas têm novelas, reality
shows e um ou outro concurso, e os canais de notícias fazem a festa com estes banality
shows, permitindo até a alguns dos artistas-da-opinião saltarem de canal em
canal para que ninguém se fique a rir. A chamada opinião livre está para a
sociedade livre como o tremoço está para as terras cansadas. Ou seja, para o
povo relaxar da ficção redundante ou da notícia anestesiante, os media fornecem
um entretenimento que propicia algum fôlego benigno, algo que também dá muito
boa serventia enquanto se passa a ropinha da máquina da lavar para a de secar,
e que se pode ir desbastando sem comprometer nenhuma colheita essencial; não
chega a dar sombrinha mas também não dá guarida a nenhum pássaro que acabe por
nos cagar em cima. Ou seja, os opinioristas revelam-se não tanto os exemplares
menores da caderneta da liberdade de expressão, mas antes os grandes guardiões
do pensamento inerte, verdadeiras pílulas do nem-aquece-nem-arrefece,
ventiladores de baixo custo e brisa morna garantida. Estes retalhistas do
pensamento livram-nos da conceptualização cartelizada dos grossistas das academias e da erudição, e permitem-nos aceder à eterna graça que é esterilidade do raciocínio
humano, consolidando-se como uma das bem-aventuranças dos tempos modernos em
que o melhor que se pode fazer com uma notícia é tricot e, vá, um ou outro
crochet decorativo para consciências em estado cívico.
2 comentários:
muito em retalhado. mantenho a ilusão de que estou livre disso porque só permito ao meu aparelho ter o módulo básico de 4 canais. e viva o velho! e quase não o ligo, mas o que mais apanho são os salpicos da enxurrada dos ditos opinadores.
beijinho AJ e bom fim-de-semana.
Bem...entre o barulho da centrifugação da máquina de lavar roupa e a voz esganiçada da clara ferreira alves...ainda sou capaz de aguentar melhor esta última :)
Beijinho, MC, e bom resto de fim de semana!
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