À desgarrada para melhor segurar

Ele :
«Milady, é perigoso contemplá-la,
Quando passa aromática e normal,
Com seu tipo tão nobre e tão de sala,
Com seus gestos de neve e de metal »(1)

Ela :
«Chegas ébrio de sonho, ó estranho amigo
E eu não sei se por mim és anjo ou louco.
Esquivo-me: o teu sonho mais instigo
Fujo-te: a tua chama mais provoco» (2)

Ele :
«Quem sou eu entre o solo e o sonho
Danço sozinho ao rumor da folhagem
Conheço a solidão das coisas e enlaço-a
À do meu pensamento e sou aéreo.» (3)

Ela :
«Passas como passa
O riso do vento
Mas na tua graça
Não há pensamento.
Porém, sem teu riso,
Que seria a graça
Do meu pensamento» (4)




(1) Cesário Verde in ‘deslumbramentos’ - ed. Ulisseia
(2) Natália Correia in ‘a alma’ ( com ligeiros ressaltos) - ed. O Jornal
(3) António Ramos Rosa in ‘Voz do solo’ ( com ligeiras mudanças de género) - ed. Quetzal
(4) Pedro Homem de Melo in ‘sopro’ ( não foi preciso mudar género...) - ed. Campo da comunicação

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