A populaça tem dificuldade em reagir contra um poder ineficiente ou negligente. Os mais letrados e esclarecidos dissertam sobre a crise de representatividade. Os mais rústicos enfabulam sobre o “fodido e mal pago”. Hoje o novo dicionário não ilustrado coloca-se estrategicamente na encruzilhada da cidadania ( ou julgavam que eu andava aqui a brincar aos blogues) e elenca as hipóteses de reacção: ( entradas 581 a 590)



Manifestações de rua – Pôr a expressão corporal ao serviço do bem estar público, sem ter de pagar mensalidade no health club, mas sabendo que mostrar o rabo continua a ser a única garantia de sucesso.



Abaixo-assinados – Rabisco gostoso porque não produz um débito de conta automático. Infelizmente a eficiência não está subordinada à beleza do hieróglifo



Usar T´shirts obscenas – Como o algodão não engana há quem crie muitas expectativas na estampagem. Os corantes em saldo podem fazer com que eficácia das mensagens debote ridiculamente com a lavagem dos dias



Fazer partidos “nova-qualquercoisa” – Um símbolo e uma sigla dão sempre mais dignidade ao papel timbrado. A eficiência está dependente do nº de envelopes que recebe o tesoureiro.



Fazer “buzinões” – Forma popular de atenuar o deficit democrático reforçando a educação musical das hostes sem abusar no subsídio. A desgraça é se a buzina começa a soar a chocalho.



Escrever tratados de ciência política – Depois de saturados das palavras cruzadas, sempre podemos usar os mesmos nomes mas todos na horizontal. A eficiência está no número de buracos negros que se consiga evitar, o risco encontra-se, como de costume, nas maçadoras virgulas, e nos rebuscados tempos verbais.



Escrever autobiografias – Todos temos o direito à nossa história picante. A sonhar que demitimos “à tripa forra”, que alimentámos uma clientela esbugalhada, que servimos a crueldade de forma fria e vinagrada. A verdade é um acidente entre coincidências desgovernadas.



Escrever cartas ao MarceloRSousa – Se uma bala não tem o alvo a jeito, ao menos que faça um ricochete em condições.



“Cagar e andar” – Apesar de não ser expressão dum irrepreensível canonismo e erudição, consegue refletir dois actos que efectuados em separado dão bastante alívio, mas se efectuados em simultâneo provocarão situações bem desagradáveis. A eficiência desta atitude está dependente do que se come regularmente e da força nas pernas.



Entrevistar-se a si próprio – É a revolta serena do intimismo. Nós, connosco, rebolando-nos na areia e sem abrir a boca para não arranhar a língua. Cuspir deverá ser sempre o último recurso.



E mais uma vez resisti à entrada óbvia de “ ter um blog”.

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