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Finzes

Lamento, mas o melhor final de Gogol é o do ‘Casamento'. Pela voz de Fiokla: « vê-se bem que não percebes nada de casamentos. Ainda se ao menos ele tivesse fugido pela porta, vá lá... Mas quando um noivo foge pela janela, desculpa-me, não há realmente nada a fazer»

Quaresma XXXVIII e nove e quarenta
( e porra que já não aguento mais esta coisa)

E então, dispersos, porque uno: só mesmo Deus.

Amores pré revolucionários

«Embala, senhor, o meu amado até mim, para que não tenha
que lhe enviar o meu choro de madrugada pelo mar»

in ‘A gesta do principe Igor’ , épica medieval russa, (ed Cotovia, pg 33)

Comércios pré berardianos

«O marchand viu-as ( Les demoiselles d’Avignon) depois de Braque e de Derain: o primeiro achara que era como se alguém bebesse petróleo e cuspisse fogo, o segundo que o autor um dia seria encontrado enforcado atrás do quadro.(...)’Lembro-me simplesmente de que imediatamente disse a Picasso que achava as suas telas admiráveis, porque estava completamente perturbado’. Foi o começo de uma amizade.(...) ‘A nossa vida dos tempos heróicos do cubismo era uma vida simples e sem cuidados porque, repeti-lo-ei sempre, estávamos seguros da vitória, estávamos seguros de nós’ (...)mas ‘não sei se hoje seria ainda possível fazer o que eu fiz. A vida tornou-se muito cara’»

De José-Augusto França, num artigo sobre D. Kahnweiler- e citando-o muitas vezes- marchand de Picasso, por ocasião da sua morte e integrado em ‘Quinhentos Folhetins’ (ed Casa da Moeda, pg 223)

Retóricos estados de alma

«Le caractère 'languissant' est un de vices possibles du style. Il vient essentiellement ou d’une sorte de déplétion dans l’expression, dans l’organisation et dans la suite des phrases, ou de répétitions mal gérées, ou d’un un excès de uniformité, ou de la prolixité»

In ‘Dictionnaire de rhétorique’ de George Molinié ( ed ‘Le livre de Poche’)

Outras línguas outras rimas

«No quarto do poeta em desgraça fazem
a Musa e o medo, por turnos, sua velada,
e continua a noite
que não conhece madrugada»

de A Akhmatova em ‘Voronej’ (em russo a rima faz-se entre ‘poeta’ e ‘madrugada’)

Profissões alternativas

« Agora é tudo muito mais fácil. As marcas nas cartas já saíram de moda. Actualmente as pessoas (...) tentam descobrir a chave do padrão na parte de trás das cartas. (...) Numa cidade, cujo nome não menciono, há um indivíduo muito precioso que não faz absolutamente mais nada. Todos os anos recebe várias centenas de baralhos de cartas de Moscovo. Quem lhos manda? É um mistério. A sua principal obrigação consiste em analisar a marca de cada carta e enviar a chave. Observa como são feitos os duques de um baralho e qual a diferença dos outros. Só por isso ele recebe cinco mil rublos limpos todos os anos»

por Utiechitelni, uma das personagens de ‘Os Jogadores’ de Gogol (ed Civilização, pg 124/5)


Pastorais americanas

«Sim, estamos sós, profundamente sós e haverá sempre, à nossa espera, uma camada de solidão, ainda mais profunda. Não há nada que possamos fazer para contrariar isso. Não, por mais espantoso que isso nos pareça, a solidão não nos deveria surpreender. Podemos virar-nos todos cá para fora, mas a única coisa que acontece nessa altura é ficarmos virados para fora e sozinhos em vez de ficarmos virados para dentro, sozinhos. Minha Merry estúpida, minha querida estúpida Merry, ainda mais estúpida do que o teu pai, nem sequer ajuda mandar um edifício pelos ares»

por Philip Roth na dita ‘Pastoral Americana’ (ed D. Quixote, pg 222)


E agora refazer-me-ia, sim, em refinados refastelamentos

«A Regency carved rosewood chaise longue, the back and seat with green and cream striped upholstery, the seat rail and turned tapering legs with lotus carved decoration (201 cm)»

in ‘Miller’s Antiques Price Guide’ – professional handbook - ed 1993, pg 258, preço indicativo 2.500 libras.

Sou pessoa respeitadora
E claro, não há nada como realmente

Pagando - de rojo, qual lagarto - ao Almocreve. E sem graçolas( vamos lá ver se sou capaz). Ganha-se o céu é com estas pequenas coisas, ó o que é que pensam

1.Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Supondo que a pergunta quereria significar ‘se fosses um livro para queimar, que livro gostarias de ser?’; eu fico sem saber bem…porque nunca levei nenhum livro a sério (excepto dois que já irão perceber) e gosto essencialmente de livros que me irritem, porque para coisas boas já me basta a vida. Mas vá, se é para queimar mesmo, e para dar uma chaminha assim laroca e apanascada, queimaria todo o Proust. (o que me daria mais gozo de queimar seria o último, e que não li, claro, já aqui ‘expliquei’ um dia, o meu pai felizmente, temendo pela minha masculinidade, proibiu-me)

2. Já alguma vez ficaste apanhadinho por uma personagem de ficção?
Bem, agradeço que me tenham feito esta pergunta (não resisti); eu gostaria de ter sido aquele homem que Tolstoi escolheria à última hora para segurar no braço de Anna Karenina na estação de comboio.


3 e 4.Qual o último(s) livro(s) que leste? Que livros estás a ler?
Agora vou ter mesmo de ser sincero convosco, algum dia haveria de ser: eu realmente nunca ‘li’ um livro; assim, dentro daquele conceito de ‘ler’ mesmo. Até quando estudava, aquilo era meramente instrumental, aprender nunca me seduziu (tenho uma daquelas profissões em que não se sabe fazer rigorosamente nada), ‘ler’ é de facto algo que apenas conheço de ouvir os outros falar, e uso a palavra mais por mera força do hábito. Agora que livro é que ando há mais dum mês a tentar aproximar-me desse conceito de ‘ler um livro’: ‘A manhã’ de Romain Rolland, que me foi emprestado por uma pessoa muito especial. Vou na página 65 (mas até já morreu um velho). Então dentro dessa experiência assim difusa de ‘ler um livro’ , saiba-se já agora que praticamente nunca acabei de ‘ler um livro’ (excepto a ‘Anna Karennina’ que terei ‘lido’ 20 vezes em salteado e ‘Nicolau e Alexandra’ de Robert K. Massie que ‘terei’ lido umas 10 vezes, livros que, no fundo, estou sempre a 'ler') mas andei uns dias às voltas com uma xaropada enrolada chamada ‘ The cambridge introduction to Russian poetry‘, só que eu já não tenho pedalada para acompanhar aquilo e até confesso tinha vergonha de mostrar em casa que andava a ‘ler’ tamanha aberração com enxertos de cirílico, enquanto a porcaria da misturadora do lava loiça teimava em assumir mais a sua vocação de misturadora relegando a função de torneira para um segundo plano , espirrava água por todo lado, e os olhinhos que a minha mulher fazia eram dignos de aparecer na ‘História da beleza’ do Umberto Eco no capítulo ‘turvo, grotesco e melacólico’.

5. Qual foi o último livro que compraste?
Apesar de não os ‘ler’, de vez em quando compro, tenho de reconhecer, compro, porque adormecer a ‘ler’ uma trampa qualquer é – no entanto bem atrás do absolutamente incomparável ‘mexerem-me no cabelo’ – uma razoável experiência. Nem sei bem se devia dizer, tal a possidonice explícita, mas comprei mesmo (só que haviam de ver a cara da miúda que estava ao balcão, haviam) um tal de ‘Dans le pas de Byron et Tolstoi – du lac léman à l’Oberland bernois’ do Mickhail Chichkine ( reparem que eu disse ‘do’ e não ‘de’, o que faz toda a diferença) que obviamente nunca abrirei sequer, até porque descobri anteontem um massajador japonês de couro cabeludo que me tinha desaparecido há atrasado.

6. Que livros levarias para uma ilha deserta?
É certamente uma pergunta sábia por ser tão repetida. Não levaria de facto nenhum livro, porque não me queria desconcentrar para poder finalmente escrever em condições o ‘kamasutra com árvores’. Mas sendo mesmo obrigado para efeitos deste questionário, levaria o 'Murphy' do Beckett, e como a pergunta vem no plural e eu no essencial sou uma pessoa cumpridora, levaria também as ‘Almas Mortas’ do Gogol ou as ‘Flores do mal’ daquele outro rapazola francês, ou uma recolha de poesias do Abrupto para ter mesmo a certeza que ninguém me vinha chatear a carola. Tudo coisas práticas. Mas agora pensando duas vezes…. o último número da Lux woman que está ali e que traz a entrevista da Maria de Céu Guerra, não sei, não… se calhar também marchava.

7. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
À m. do Azul Cobalto porque ela até vai ficar verde . Ao João do Terras do nunca porque quero saber que raio de livros é que o gajo leu e anda a ler (dado que suponho não ande a fumar daquelas coisas maradas), à Ana do Modus Vivendi para ver se ela areja um bocado e eu poder voltar a meter-me com ela, ao Jaquinzinhos para saber se ele lê isto e cheira-me que gosta tanto de lampiões como eu, e à Mal traçadas para ver se ela escreve mais alguma coisa porra, e porque assim me arrisco a levar ‘cinco tampas’ das boas, o que só me fará bem, se calhar. (olha escolhi cinco, então passa a seis : ao Portugal dos pequeninos, que não percebi bem se vai parar de escrever, e porque é de caras das pessoas mais interessantes a escrever sobre leituras feitas)

E assim temos um desejo de lampião satisfeito,
mesmo que não tenha sido o árbitro a fazer o jeito
Fantasia para dois sargentos e um tanque da roupa



Passaram já umas boas semanas sobre a onda laudatória em relação a uma “livro/literatura” que pretensamente seria uma lufada de ar fresco resgatadora da épica ironia nacional.



Ele era descobridor de caracteres, decifrador de tiques, desenganador de frágeis e ocos mitos, esparramando as debilidades do burgo.

Ele era revolucionário no discurso, rasgador da narrativa convencional, destilada na ordem dos novos “paradigmas romanescos”.

Ele era palavras recuperadas ao ritmo da formiga trabalhadora, verbo sempre fracturante e inimagináveis rotinas semânticas.



Desavergonhada e orgulhosa dos subsídios recebidos, tornou-se até a escrita funcionária mais chique. E a que melhor era lambida pela corte.



Frágil e passageiro consolo o que se baseia no artificialismo das meras técnicas de discurso diferentes, que são tão criativas como um molho de grelos num cocktail de camarão.

Frágil e passageiro consolo o que se baseia num passeio de palavras, como quem leva o caniche a mijar numa esquina diferente todos os dias e pensa que está a descobrir o mundo.

Frágil e passageiro consolo o que não vê que a mera ironia, mesmo atascada de sátira envernizada, não passa dum berbequim descartável refém das buchas de turno.



Quando as personagens trocam piropos com o leitor, ou se entretêm a prometer fama ao escritor, o livro passa a ser um bacanal “apanascado”.



Se um livro deu muito trabalho a fazer, tanto pior para quem o escreveu.

O trabalho não é para ser respeitado. É para ser explorado, pago e eventualmente repetido.



Mas não, não escrevi este texto só para dizer mal à toa, e encher de inúteis bits o servidor da blogger. Escrevi isto porque acho pena que nos deixemos ( todos ) levar pela ilusão do artifício laborioso e imaginativo que nos desfoca da intimidade do mundo e da nobreza da alma humana, trocando-os por um pires de tremoços armado em salmão fumado do Petrossian.



«Para vocês os Gogol nascem como cogumelos» como dizia Bielinsky a Nekrassov, quando este lhe apresentou o primeiro livro de Dostoievski ( “O pobre homem”). Só que aqui a história era outra.



Ah...e também quem não sabe aguentar uma piadita, na Torre de Babel punham-no a dormir no quarto dos fundos, e na arca de Noé só não lhe fariam parelha com o papa-formigas porque o estômago não aguentaria muito ácido.



Pronto, já passou. Siga a marinha. Até porque o número de leitores destas peçonhentas águas-mal-furtadas irá reduzir drasticamente a partir d’agora. Se é que isso ainda é algebricamente possível.
Russos traduzidos

Tenho três traduções de " Almas Mortas ". A segunda nem a li toda. Parecem livros diferentes.

Estou ansioso de ler uma versão traduzida do russo a sério da "Ana Karenina". ou será Anna Karennina... Decidam-se tradutores. E um Oblomov recente, e novo "Pais e Filhos" do Turgueniev ! Já nem falo de Lermontov e de Saltikov Chtchedrine. Pelo menos as biografias do Troyat, que ele escreveu em francês! ( há para aí umas duas traduzidas...) Eu não sou do meio mas... Abrupto e Aviz exerçam as vossas influências ...se é que estão interessados... Eu estou a falar de traduçóes novas, bem feitas, até apanhando esta nova "onda" e seguindo algum bom trabalho recente feito com Dostoievski e Tchekov. E adorava uma tradução para português do "Le Roman Russe " de E.-M de Vogué. O original francês confesso já me custaria a ler outra vez.

Termino : Griboiedov ! Como eu gostaria que houvesse uma tradução!!!

Já desabafei. Pode ser que alguém leia isto.