The human side of Man
Desenjoando do empolgante tema dos têxteis chineses

Introdução
Descobrir o lado animal do homem é tarefa fácil para qualquer engenheiro de som (género psicólogo enxertado em esventrador de minhocas), descobrir o seu lado transcendental está ao alcance de qualquer arquitecto paisagístico (tipo mistura de antropólogo com depilador de malmequeres) mas agora para descobrir o lado humano do homem nem sempre basta ter uma profissão decente (género canalizador ou montador de cozinhas italianas), mesmo que leve de vez em quando uns valentes cagaços epistemológicos.

Nota técnica
Boris Vian no prólogo da 'Espuma dos dias' diz qualquer coisa como no mundo só existem duas coisas: o amor de todas as maneiras, com mulheres bonitas, e a música de Duke Ellington. O resto é feio.
Ora o ‘amor’ e a ‘arte’ aparecem há muito tempo a dar uma mão quando queremos pôr uma cara lavadinha à nossa condição; a malta agradece o jeito e hoje até me deu para lhes retribuir. Somos uma espécie perdida, mas temos direito à nossa boa imagem e ao nosso bom nome. Eternamente transitando em julgado, óbvio.

Capitulo um, ou também chamado primeiro – We all are a love story
Nós, já se sabe, sentimo-nos algures entre o orangotango (mas já mais afastados da alforreca, nos melhores dias) e o Anjo Gabriel (mas ainda assim afastados de Pan mesmo que vestido pelas melhores casas) mas temos de conviver com um universo de definições que aguenta desde as sangrias do fornicador de viúvas Rabelaisiano, até ao 'vai ver se eu estou lá fora' Beckettiano, para já não falar do que vai na cabeça daqueles tipos como eu que até rezam terços de joelhos. E se Shakespeare soubesse realmente alguma coisa sobre a alma humana, o príncipe da dinamarca não teria dito à filha de Polónio ' that's a fair thought to lie between maid's legs ' (só que em português isto soa um bocado pornográfico a mais, e agora até já enjoa de blogs com gajas a mostrar as mamas a três quartos) continuando depois a falar de traições e paneleirices afins.
Ora o ‘amor’ convive nesta miscelânea conceptual como o raspador de ganga, ou seja, aquilo que no final vai tornar-nos uma espécie apresentável, griffada, de aspecto pré lavado e sem termos a cintura demasiado descaída quando nos apresentarmos no grande tribunal das espécies. E a frase : ‘eu cá uma vez apalpei uma miúda calculando que um dia a poderia amar’, derramará certamente lágrimas de ternura a qualquer criador que se preze, e Noé hoje escolheria invariavelmente um par de manjericos apaixonados para representar o nosso genoma na arca.

Capitulo dois, ou também chamado segundo– We all are half collage and half installation
Geralmente só nos realizamos com profissões inúteis, tipo historiador de arte ou engenheiro electrotécnico, actividades no fundo relacionadas com coisas que mais tarde ou mais cedo viremos a descobrir que não existem, tal como a beleza e a electricidade. No entanto, a história da nossa espécie passa pela compreensão progressiva, de inspiração kantiana, ( o gajo disse isto com toda a certeza) que a matéria fluida é mais antiga que a matéria sólida, e por isso a imaterialidade e a confusão são desígnios da nossa condição. O secreto desejo que todos temos de que o mundo afinal não passe dum grande frigorífico no frost decorado com penduricalhos do A. Calder leva-me a pensar que se não fosse a inutilidade nada faria sentido. E quando Nietzche dizia que o homem não é o artista mas sim a obra de arte, o mármore mais precioso, a conclusão que podemos tirar é que mesmo estando com uma grande pedra ainda haverá alguém a cuidar de nós, juntando os cacos e ligando-nos outra vez à corrente para podermos continuar a mexer as perninhas.
Nota final
Para descobrir o lado humano do homem basta olhá-lo de frente, cortando a espuma aos dias, e emborcando rápido para ficarmos só com o sabor apaixonado do final. É esta a arte, ‘and I should fall from grace with god’ como diriam the Pogues.

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