Canónicas #12

«Os bons sempre foram o começo do fim»

F. Nietzsche, 1883, in Assim Falava Zatarusta, trad. ed Guimarães
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por aí

Constant (c. 1969) “New Babylon”. Aguarela e pastel s/ papel, 24” x 30.5”.

‘metafisica superata’


Não adiro com facilidade à ideia de que a Igreja tenha responsabilidades na criação para além da salvação, - aliás na carola dum cristão que se preze nem se devia conseguir bem distinguir os conceitos - mas adoro as metafísicas superadas. E não sendo a abordagem ecológica do homem uma novidade absoluta, Bento XVI esteve fantástico no seu discurso, mesmo que ele possa ficar na história como o discurso da floresta tropical. Mas eu cá apanhava-lhe o balanço e juntava só mais uma metaforazinha com o amazonas: o Homem como sinuosidade. (não confundir com sinusite)
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Luna Park

«… e encostaram timidamente as faces. Os carinhos frugais são os mais bonitos, os mais calorosos, os mais eloquentes.»

in Sinal de Fogo, 'Histórias de Amor', Robert Walser, Relógio d’Água, 2008
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Luna Park

«A vida é extremamente complexa, e os acasos são, por vezes, necessários»

Álvaro de Campos (FP), em entrevista ao jornal A Informação, a 17 Setembro de 1926.

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No processo de google-patience que desenvolvi no post anterior confirmei até à exaustão que há milhares de mulheres bonitas, milhares de gajas com corpos de fazer estremecer a espinha e zonas adjacentes, milhares de poses que fariam abrir as águas antes que Moisés levantasse sequer os olhos aos céus. A beleza feminina tornou-se uma banalidade, a exposição da carne da fêmea perdeu o seu desígnio principal de máquina de tesão e fez o seu caminho de tentativa de transformação numa merda estética ao nível duma paisagem dos alpes. Mas a mulher como objecto perdeu a sua guerra: ninguém porá uma gaja boa na sala de jantar a concorrer com uma travessa de cantão. A mulher continua a parecer reservada para objecto de coração.

Para aliviar das mamas das claudias irinas

2009

twelve not so obvious women to stay with us during the crisis. No fundo uma dúzia de escolhas para nos preocuparmos em conjunto. São tudo moças que preocupam muito bem, e assim evitam-se as bellucis, scarletes, therons & outras penélopes afins. Um pirelli alternativo.

Janeiro

Ashley Judd

No início do ano teremos uma moça altiva a dar um tom de optimismo. Apresentando um U shape a tentar timidamente mostrar que se pode transformar num V shape. É uma carinha semi triste, mas dalguma forma dando a entender que com ela podemos atacar o ano de peito feito.

Fevereiro

Cate Blanchet

Neste mês devemos fazer-nos acompanhar dum clássico de distinta preocupação, uma espécie de desencanto com pedigree. Cate desafiando os discursos da tanga com o discurso da rendinha.

Março

Emmanuelle Béart

No ano de 2009 não haverá primavera como já foi anunciado. Março será pois um mês bastante triste, teremos muita tendência para nostalgicamente olharmos para o arvoredo sem flor, e nada melhor que uma moça que nos vai exigir muita companhia, fortes possibilidades de exigência de algum colo, e assim mais facilmente esqueceremos a ingratidão dos deuses.

Abril

Gillian Anderson

Neste mês a coisa vai começar a ficar preta, as informações começarão a ser contraditórias, o mundo vai parecer-nos um ficheiro secreto. É altura de irmos dar apoio à Gillian, rapariga com nome de doce, e duma tristeza enigmática mas segura, a companhia ideal para um mês de transição e mistério.

Maio

Jennifer Morrison

Neste mês, o do coração, - lembrar-se-ão certamente - parece-me apropriado ficarmos com aquela moça que tão mal tratada era pelo House. Acabou desprezada por ele, e sabe muito bem o que é sermos abandonados pela sorte e refugiados apenas na ciência e na imaginação.

Junho

Jennifer Anniston

Ah Junho. Neste momento o ano dá pela primeira vez um ar da sua graça, a Jennifer põe umas jardineiras e convida-nos para trocar amarguras num banco de jardim. Adormeceremos a contar solstícios e só nos deixaremos espantar pelas camisas de alças.

Julho

Julliane Moore

Passa-se o Bojador do ano e começaremos a ficar impacientes. Tentamos perscrutar os sinais da recuperação mas dizem-nos que podemos esperar sentados. Ora se é para esperar sentados…e está calor, e ainda estamos só a meio do ano; Humm, queremos mais; moore, give me moore.

Agosto

Kate Winslet

Cansados de tanto esperar sentados, nem nos conseguiremos levantar. A freguesa seguinte é a Kate (que não é mãe da madie). Aparentemente com as perninhas aninhadinhas, nem estou a ver bem porquê, estaremos todos muito cansados; com a crise; é triste e nem se aproveita o luar de Agosto.

Setembro

Sophie Marceau

E quando nos estamos a preparar para pôr em pé outra vez, eis que aparece a Sophie, com o capuz para as noitinhas, que já vão arrefecendo, e traz outra cadeirinha. Arranja-se, evidentemente, sempre espaço para dois, é até uma questão de boa educação. Esperamos juntos, com os olhos no... futuro.

Outubro

Juliette Binoche

Vai-se a ver já estamos em pleno Outono, precisamos novamente duma tristeza clássica, duma preocupação que não levante quaisquer reparos. Aquilo lá atrás da Binoche parecem-me umas perninhas de frango, nada demais.

Novembro

Vera Farmiga

Passámos o ano entre a espada e a parede. Precisamos de qualquer coisa fofinha para nos fazer companhia junto da parede, sob pena de ainda ficarmos espalmados. Nem a Vera se pode picar.

Dezembro

Keira Knightley

O ano vai acabar, já ninguém aguenta isto; aparece a Keira, também sem pachorra e pergunta: então e esse 2010 nunca mais arranca?

Madoff Show (III). Cozido à Portuguesa

Temos que convir que a Madoffolhada é um golpe e peras. Homem respeitado leva à certa outros homens não menos respeitados, num esquema simplérrimo mas aplicado a valores milionários, só faltava mesmo o dinheiro ter sido benzido antes de ser todo perdido.
Reparemos que a situação seria muito semelhante a um cenário deste género: o Ernani Lopes e o Medina Carreira montariam numa garagem um jogo do bicho destinado a amigos banqueiros & afins, que iriam lá uns dias por semana fazer uma espécie de overnight alternativo servido com pãozinho quente com chouriço. Certa noite sairiam os dois para o clássico comprar tabaco e dar uma entrevista na SIC notícias e…não voltariam. Gerar-se-ia a ansiedade, seguida de compulsiva vontade de mijar, e finalmente o pânico…


Armando Vara – É pá, eles estão a demorar-se e eu apostei os PPR’s todos do banco… se calhar amanhã são capaz de me fazer falta.

Manuel Pinho – Logo por azar hoje tinha apostado a Autoeuropa porque me disseram que já estava parada, mas parece que afinal aquilo é duns alemães… devia ter apostado antes as Minas de Aljustrel que agora nem se sabe de quem são…

J. Rendeiro – E eu cá montei um derivado baseado no capachinho do José Cid e ele hoje já me ligou duas vezes a dizer que está com uma fogagem no couro cabeludo, e eu agora não sei o que lhe dizer.

Jo Berardo – Calma, pessoal, não se precipitem, a CGD tem tudo sob controle…

Jardim Gonçalves – Isso é bom de dizer para um gajo que a única coisa que não tem penhorada é a boina. Eu cá apostei três offshores que me custaram muito a ganhar.

Jo Berardo – Go, offchora-me aqui no ombrinho, go.

Armando Vara – Fodasse, e eu que não me lembrei das offshores, caraças, podia ter apostado as offshores em vez dos PPR’s, mas tive medo que o Medina dissesse mal de mim ao Mário Crespo.

Vitor Constâncio – Felizmente eu apostei a divisão de supervisão, também se perder tudo não se vai notar nada.

Manuel Pinho – O importante é manteres as tipografias em bom estado, porque a tua principal actividade no próximo ano vai ser imprimir daqueles papelinhos rectangulares e com bonecos monocromáticos.

Jo Berardo – Eu também quero disso!... Tudo que seja cultura interessa-me!

António Costa – Eu por acaso apostei uns futuros do terminal de contentores… vai-se a ver devia ter apostado antes o Sá Fernandes…caramba, agora vou parecer eu a cigarra e o Lopes a formiga.

Isabel Jonet – Eu é que estou numa situação muito ingrata, apostei 30 toneladas de arroz na esperança de me saírem mais 30 de bacalhau, e se perder tudo amanhã lá no Banco Alimentar a canja vai ser só com água e caldo knorr.

Manuel Pinho – Calma, estão a bater à porta!, se calhar são os gajos… é pá, afinal são os tipos da ASAE… fosgasse, acho que vão fechar isto por causa do fumo!
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Whatz happenede withe pescoço of Paulo Rangele

Penso que todo e qualquer português a partir de hoje se devia considerar avalizado pelo estado. Todos somos praticamente sistémicos, - cheguei a tomar um anti-sistemínico porque me estava a dar para o pingo no nariz - e os lampiões até são pluribus uno e o caralho. Eu pessoalmente sinto-me a defaultar bastante quando subo um lanço de escadas, já a descer me custa menos. De elevador, menos ainda. Do colinho só tenho boas recordações. Regra geral dilacero um bocado se não confiam em mim, é o meu lado Narciso Miranda, concomitantemente solvabilizo benzinho e mantenho os rácios, nos dias santos chego a aparentar um triple A com pernas. Só estou aqui para tentar ajudar, podeis inclusive fazer todos de cigarra, que eu, mais o Costa, estamos com um formigueiro nas pernas, mas tudo bem.

Madoff Show (II). The Excel Game.

Follow the links & let’s drink a Ponzi.

Financex appeal

«…Entretanto, os movimentos internacionais de capital, que tiveram um papel perturbador na década de 1930, foram também limitados. O sistema financeiro ficou um pouco maçador mas muito mais seguro. E então as coisas ficaram outra vez interessantes e perigosas. Os crescentes movimentos internacionais de capital prepararam o palco para as crises monetárias devastadoras dos anos 90 e para a crise financeira globalizada em 2008…» Paul Krugman, hoje, no Público. Hummm.

Madoff Show. Inevitáveis: soma e segue.


«We're still a long way from Eastern Europe of the 1990s or from the Latin America or Russia of the present. But maybe not as far as we think.» Anne Applebaum, (a tal que escreveu, note-se, The Gulag: A History) na Slate.com

Hardpio

Dou-me bem com a religiosidade miserável. Gosto de igrejas com gente sofrida, de pele enrugada, olhar escondido e pecados à flor da dita, apenas procurando carinho na madeira polida do genuflexório, e disponíveis para dar um bocado do seu braço por troca duma alma ainda na fase dos caboucos. Gente que dá uma na chaga e outra na cicatriz; não acredito em angústias limpas, dúvidas musicadas, teologias libertadoras, credos em cinemascope. Mas também gosto daquela pequena baba da hipocrisia, do esgar do escrúpulo, da gente que pensa conseguir lavar a alma com meia hora de cheiro a cabelos oleosos. No fundo o catolicismo adapta-se bem a gente, como eu, pouco esquisita. Gosto da parte estúpida da fé, da boca cheia de palavras de sentido e gosto duvidoso, do dogma desnecessário, da ameaça escatológica. O que seria da fé cristã se não pudéssemos pensar em Deus morto por nós na cruz enquanto desesperamos por uns bons pastéis de bacalhau. O que seria da fé sem a incompetência para perceber o mundo. O que seria da graça sem a desgraça.

Corrente

Era inevitável a trincadela de Adão, era inevitável a extinção dos dinossauros, era inevitável a queda do império romano, era inevitável a inquisição, era inevitavel a guilhotina, era inevitável o gulag, era inevitável 0 Eusébio ter ido para os lampiões, era inevitável o aproveitamento dos salários baixos, era inevitável a globalização, era inevitável a fome em África, era inevitável a desregulação financeira, era inevitavel a lixadela da camada de ozono, era inevitável a especulação com o petróleo, era inevitável o homem ir para a cozinha, era inevitável a bolha imobiliária, era inevitável o salvamento dos bancos. Melhor que o inevitável só o óbvio.
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A case of you

Just before our love got lost you said /I am as constant as a northern star /And I said, constant in the darkness /Wheres that at? /If you want me I'll be in the bar
Joni Mitchell

Programa Guantanasmus

Sócrates (eng), desiludido com o programa Erasmus desde que uma estudante Finlandesa confundiu o Magalhães com um kit de maquilhagem da Barbie, viu uma chance na proposta pós-revolucionária de Luis Amado, e criou o alternativo programa Guantanasmus, numa espécie de Novas Oportunidades estendida ao segmento do terrorismo internacional, tentando igualmente marcar pontos para ser o Toino Blair de Obama.

Não perdendo tempo, mandou a dupla Amado e Anita Gomes para o aeroporto entrevistar os prisioneiros alegadamente alqaedeanos aquando da sua entrada no país, e assim aferir em directo e a cores das suas capacidades de colocação.

(foto fanadex do Público, fonte desconhecida, manifestação em Paris, suponho)


Amado – Então diga-me qual a sua graça, cavalheiro alegadamente bombista.

Prisioneiro – Razia el-Tuinetauer, um seu criado, ex-fervedor de água para chás em Istambul.

Amado – Interessante; quais foram então as experiências que mais o traumatizaram na abominável prisão das Caraíbas?

Prisioneiro – Confesso-lhe que quando me enfiavam ferrinhos em brasa pelo cu acima, perguntando-me o número do telemóvel do camarada Bin, dava-me um certo ardor na próstata.

Amado –Desagradável de facto; e qual pensa ser a sua real e mais profunda vocação?

Prisioneiro – Tirando hoje o meu maior sonho ser conseguir mijar de jacto e sem ficar a pingar no fim, julgo que me integraria bem num programa de avaliação forçada a professores.

Amado – Perfeito, vou integrá-lo no grupo que fica a dormir na arrecadação da mme Lurdes, com direito a duas refeições quentes diárias e a prémio de desempenho pago em estagiárias - também quentes - de línguas clássicas.

Anita Gomes – Próximo!

Prisioneiro – O meu nome é Marmonides del Extremoz e era ladrilhador de palácios no Casaquistão.

Anita Gomes – Curioso; e que me conta sobre as terríveis torturas a que foi sujeito?

Prisioneiro – A que mais me marcou foi obrigarem-me a decorar os posts do ‘Portugal Contemporâneo’ sobre o Bem Comum se eu não lhes desse o pin do Bin.

Anita Gomes – Experiências limite, compreendo, e nem lhe davam bolachinhas de água e sal?

Prisoneiro – Nada, cheguei a implorar por aquela coisa do afogamento que faziam aos que só sabiam ler o Corão.

Anita Gomes –Menos penoso, de facto. E que poderemos nós fazer para lhe extirpar tamanhas e medonhas memórias?

Prisioneiro – Gostava de voltar a ladrilhar sem me gritarem «agarra que é ladrilhão»!

Anita Gomes – Calha bem, porque o camarada Pinto Ribeiro anda a remodelar a casa de banho do ministério da cultura - que lá tinha sido deixada pelo bárbaro Carrilho - com umas faianças que sobejaram da exposição do Hermitage na Ajuda e que os russos não quiseram levar de volta porque os ratos tinham lá mijado dentro.

Amado – Outro!!

Prisioneiro - O meu nome é Rute Suleimano e era travesti de saias largas em Jericó.

Amado – E o que me conta o amável torturado das sevícias por que tem passado?

Prisioneiro – calcule o querido que me faziam cócegas com as plumas até eu dizer a password do Hotmail do Bin.

Amado – Que desfaçatez. Conseguiu resistir?

Prisioneiro – Impossível amor, a password era 'aicredo' e descobriram à primeira, foi assim que ainda foram a tempo de abortar o atentado aos croquetes que engasgaram o Bush!

Amado – bem… e como e onde pensa poder realizar-se aqui no nosso país?...

Prisioneiro – O meu sonho era ter um talco-show…

Amado – Como assim?...

Prisioneiro – Então… eu, por exemplo, convidava os deputados do PP, e eles vinham ainda tenrinhos e humidozinhos e eu secava-os em directo…

Amado – Não sei se isso será possível, mas julgo que podemos colocá-lo num programa de apoio à indústria automóvel a polir tubos de escape na garagem do Mano el-Pinho, se lhe convier.

Anita Gomes – O seguinte!

Prisioneiro – O meu nome é John al-everage e antes do degredo vivia em Bay Lout a gerir fortunas.

Anita – E como se deu pela ilha com as terríveis torturas e privações que lhe impuseram? E ainda para mais depois de ter sobrevoado ilegalmente países livres onde se podia comer bitoque com ovo e arroz basmati sem nos perguntarem onde é que o Bin se abastecia de roupa interior e palitos de la reine?

Prisioneiro – Um pavor! Chegaram a obrigar-nos a preencher as fichas de avaliação da dra milurdes sem poder ver a telenovela!

Anita – Revoltante! Como poderemos compensá-lo dessa experiência degradante?...

Prisioneiro – O meu sonho era poder escrever um grande romance sobre a decadência da sociedade de opulência e consumo e inclusive a oscilação da euribor.

Anita Gomes – Está no país certo. Aqui apenas uma sobrinha estrábica dum sapateiro ali aos Anjos é que ainda não editou um romance. Fica então por cá e arranja-se-lhe de certeza uma quartinho no salão de cabeleireiro do dr Amado.

Amado – Venha o último!

Prisioneiro – Judas Ex-cariotes, prisioneiro e traidor profissional de judeus hesitantes.

Amado – Não esperava vê-lo por aqui…mas… que nos pode contar que possa descrever a sua experiência?

Prisioneiro – É uma longa história, mas ultimamente o meu ‘beijo de judas’ caiu um pouco em desuso e costumam usar mais antrax, ogivas e outras brincadeiras. Fui-me adaptando.

Amado – Mas que torturas especiais lhe infringiram?...

Prisioneiro – Bem… eu era infiltrado sabe… fazia de ex-bombista, - mas aquele fato alaranjado por dentro era do mesmo material que as tshirts do Cristiano Ronaldo – e tentava sacar aos outros o código do pacemaker do bin laden…

Amado – Judicioso, de facto…. Nem sei bem como encaixá-lo na nossa comunidade de fraternal harmonia que é Portugal, reino de beatos e leais condestáveis.

Prisioneiro – Deixem lá, não há problema, em fico bem em qualquer cantinho, uma mesa corrida e uns paposecos chegam-me para continuar a fazer história.

Amado – Bem, só se for lá no conselho de ministros…mas, espera lá, o avozinho das finanças pediu-me um tipo para ir pôr óleo de fígado de bacalhau naquelas pevides que o Medina Carreira parece estar sempre a mastigar nas entrevistas…

Prisioneiro – Não sei… agora na Grécia estão a pagar melhor… se calhar vou antes especializar-me em queijo feta!

Amado - pois.. e para concorrer com o Partenon... o mais parecido que temos é o novo cais das colunas; compreendo.


Sócrates tinha deixado fugir Ex-cariotes por falta de verba, mas mesmo assim era agora a vanguarda na recuperação de ex-pseudo-terroristas com o programa Guantanasmus; e com Chavez sem graveto para pagar o material informático, sabendo-se dos mais elegantes do mundo, e com a Bruni eventualmente a cansar-se de Nicolau... enfim, o mundo dá muitas voltas.

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gogol moments

A melhor coisa para se ter memória é dum cheiro. Melhor que música, melhor que palavras, melhor que fintas do maradona, melhor que festas no cabelo. Um cheirinho, um cheirão, um odor penetrante, essa filh’da puta de sensação que nos impregna o ser até ao tutano, passando por todo o lado sem pedir licença nem deixar cartão de visita. Daí que seja tão bom cheirá-lo de vez em quando sem ser com a memória, cheirá-lo de nariz mesmo, fazer loopings d'olhinhos, recarregar a alma dessa coisa que depois – já se sabe - nos vai perseguir como um rinoceronte insolente a fazer estremecer as entranhas. Se me roubarem esse cheirinho vou ter com o Criador e peço-lhe explicações. Por enquanto passeio-me por dentro, mostrando-lhe os melhores recantos, os sítios onde quero que esse cabrãozito fique sossegadinho à espera de que eu o chame quando mais precisar.

(fotografia gamada em joyceimages.com)

Feno Prof

Qualquer cidadão normal, enquadrado num, soi-disant, agregado funcional estável (unidade sociológica que se caracteriza por não satisfazer os critérios necessários para alimentar uma reportagem da TVI), quando olha para o Estado reconhece-lhe três missões primordiais: aturarem-lhe os filhos, removerem-lhe o lixo, caparem os pedófilos.
Quando a mãe natureza nos induziu à procriação e consequente ilusória perpetuação da espécie, (esteja ela em progressão, regressão ou mero encavalitamento com as outras) subentendeu que em paralelo existiria uma curiosa sub-espécie denominada de professores, e que se encarregaria de aliviar os casais-copuladores-de-esperma-e-óvulo da parte mais maçadora da sobrevivência da dita espécie: educá-la.
O tal de professor deveria assim ser respeitado e mantido numa reserva ecológica, bem nutrido, desinfectado, sexualmente saciado, e com formação específica nas áreas dos agentes alucinogénios, anestesiantes, enfardamento de palha e manipuladores de consciência em geral; pura e simplesmente não se deve depositar esperanças na educação em liberdade. Em liberdade um gajo pode caçar, mijar, lançar papagaios, engatar professoras em cima do feno, ou ajudar o capuchinho vermelho; educar-se, nunca.
O mito arcaicizante da educação em liberdade tem produzido mais equívocos que a contratação de secretárias com mini-saia. O livre pensamento é apenas uma aparente condição neuronal – até bem delimitada pela caixa craniana – e está destinado a ser devidamente controlado e enquadrado por essa corporação de eleitos e protegidos, e que apenas devem prestar contas a Deus nosso senhor, pois o seu, deles, desígnio foi construído à imagem e semelhança das melhores páginas do Pentateuco ilustrado. E em falhando na educação programada, planificada e iluminada, cuidado, ao Estado apenas sobrarão os contentores ou a catana.

(na foto Doris Day e Clark Gable)

Bailoutame mucho

Considerando que a mera soletragem de BPP já dá ares de cuspidela de pêlo púbico (pêlo de cona, como se diria na literatura moderna), considerando que dizer mal de Maria de Lurdes seria dos poucos assuntos que ainda manteria Mario Lino acordado, – juntamente com o sorriso de Mariano Gago – e considerando que há vários ministros de que já ninguém sabe o nome a não ser que inaugurem salas de desfibrilação no museu berardo, considerando isto tudo por atacado ou separado, julgo que actualmente os conselhos de ministros se devem resumir a sequelas de sketches humorísticos. Sócrates gesticula com a mãozinha a fazer pose de cancela de passagem de nível, Pinho faz de Paulo Bento recomendando pia e epidurálica tranquilidade aos agentes económicos, e um outro qualquer avia um ‘vai mas é trabalhar’ ao Pinto Ribeiro, articulando aquela fala de boca a mastigar ranho de urso pardo, enquanto o Luis Amado (haja quem) sibila com o seu ar diplomaticamente enjoado o já canónico 'não havia necessidade' entre duas afagadelas de melenas. Antigamente ainda se governava para as notícias, mas hoje governa-se para as piadas. Hoje olha-se para um político e imagina-se automaticamente uma cena gaga: saímos da sociedade mediática e entrámos na sociedade da chalaça; um banqueiro falido lança um manual de gestão de fortunas no dia em que se deixa bailoutar, um ministro que se demitiu quando caiu uma ponte faz-se presidente duma empresa de obras públicas, um conselheiro de estado trafica desculpas com um vice-governador dum banco central, até os lampiões voltam ao 1º lugar da liga; olha-se para a realidade e já não se descobre às primeiras onde começa a anedota e onde acaba a desgraça.
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(imagem de palhaço de Bernard Buffet)

Vista de perto, toda a gente é monotonamente diversa


(frase de F. Pessoa, no 'Livro do Desassossego', nº83; imagem de 'Hunger')

O medo intermédio

Cedo o homem começou a torcer o nariz aos deuses que a sua imaginação concomitantemente forjara. O medo e a sua prima incerteza começaram a ser variáveis com muitos matizes, e as explicações decorativas sobre o funcionamento do mundo foram aparecendo a bom ritmo; inventou-se o cepticismo, o optimismo e a vaselina. A dado momento foi necessário introduzir na equação o, tão sofisticado quanto básico, problema da finalidade. Depois de algumas noites mais mal dormidas e de outras tantas fodas mal dadas o homem concluiu que a dita finalidade não lhe ajudava de forma conclusiva à equação, mas atribuiu-lhe, pelo sim pelo não, um papel contabilisticamente honroso, se bem que fora do balanço. Ficou então destinado que apenas sobreviveriam às crises e aos malogros da espécie: o grupo dos compulsivamente progressistas e de credulidade infinita, - que em geral atraía os espécimes com aparência de maior generosidade - e o grupo dos estruturalmente conservadores e de desconfiança olimpica, -que em geral atraía os de aparência mais inteligente; no meio pululariam gerações e gerações dos chamados indivíduos intermédios, que de tão fodidinhos que vivem o mais que podem aspirar é a que a ignorância e a sonolência os proteja. E assim o medo passou de variável fundadora da civilização a regra distintiva de civilidade e boas maneiras.

Não nos afastemos da fotografia tipo passe

O homem cedo descobriu que tinha de fazer pela vida. Mas imediatamente se deu também conta de que os problemas iam surgindo tanto de dentro como de fora. Com progressiva estranheza constatou que os problemas que se originavam no seu interior eram mais perturbadores que as adversidades externas. Cada vez mais incomodado consigo mesmo foi alimentando crescentes fantasias de si próprio - na arte, na ciência, na religião, na família, no espelho. O resultado está à vista: não temos tendência a ficar bem em fotografia nenhuma, focamos mal e trememos constantemente com o tripé. Somos a prova viva de que entre um torneado lombo renascentista e uma repugnante víscera baconiana vai a distância duma pincelada mal dada. É absolutamente ilógico e bacoco pensar que não há Alguém a tomar conta da gente.

Misererenobispatia

Após a descoberta do pecado (Gen, 3, 6-7, por exemplo) rapidamente se formaram duas correntes: a fatalista e a oportunista; do pecado apenas poderiam então advir duas trágicas – e cómicas – consequências práticas: ou estávamos lixados porque ele nos transportava para uma condição de eternos condenados mendigando avulsamente perdão e remissão, ou lixados estávamos porque era na luta insana contra a tentação e a queda onde deveríamos encontrar a finalidade ad-hoc para a nossa vida; em comum a ambas: a distinta condição merdosa. Ora o homem ainda em estado primitivamente esclarecido e habituado às agruras da mãe natureza e respectivas pintelhices, ora inundação-ora seca, libertou-se deste espartilho criando regras criteriosamente definidas e ditadas no essencial pela fome, tesão e cagaço. Quando se deu conta de que apenas a primeira tinha uma solução duradoira e estável, doirou a pílula criando aquilo a que mais tarde se veio a chamar de cultura. Mas quando o pecado se viu rodeado por essa coisa enfarinhada, enrolou-se e tomou o caminho óbvio: frigideira. Ainda não saímos dessa fase: fritos; em panadinho.

E com este post inicia-se oficialmente a época misantrópica

O homem moderno é a pior construção do homem moderno. É um animal preso a debilidades psicológicas, desgostos de amor, manipulações mediáticas, procuras de identidade e adolescências. Foi incapaz de se realizar apenas com as fragilidades cósmicas do frio, do vento, e da chuva, incapaz de se limitar a procriar, alimentar-se e aquecer-se, incapaz de se satisfazer com mitos simples e duradoiros encontrados na mãe natureza; numa palavra: incapaz. Quis refinar o amor, fodeu-se; quis refinar a liberdade, fodeu-se; quis refinar a religião, fodeu-se; quis refinar o bem-estar, fodeu-se; quis refinar a consciência, fodeu-se. O homem moderno agora tem de crescer, tem de amar, tem de realizar-se, tem de respeitar a liberdade dos outros, tem de gerir os seus sonhos e as suas privações, tem então de fazer milhares e milhares de merdas sem saber ao certo o que significam, nem para o que servem. O homem tornou-se numa filigrana mais pesada que uma bigorna. Já não precisamos de precipícios para nos despenharmos.