O medo intermédio

Cedo o homem começou a torcer o nariz aos deuses que a sua imaginação concomitantemente forjara. O medo e a sua prima incerteza começaram a ser variáveis com muitos matizes, e as explicações decorativas sobre o funcionamento do mundo foram aparecendo a bom ritmo; inventou-se o cepticismo, o optimismo e a vaselina. A dado momento foi necessário introduzir na equação o, tão sofisticado quanto básico, problema da finalidade. Depois de algumas noites mais mal dormidas e de outras tantas fodas mal dadas o homem concluiu que a dita finalidade não lhe ajudava de forma conclusiva à equação, mas atribuiu-lhe, pelo sim pelo não, um papel contabilisticamente honroso, se bem que fora do balanço. Ficou então destinado que apenas sobreviveriam às crises e aos malogros da espécie: o grupo dos compulsivamente progressistas e de credulidade infinita, - que em geral atraía os espécimes com aparência de maior generosidade - e o grupo dos estruturalmente conservadores e de desconfiança olimpica, -que em geral atraía os de aparência mais inteligente; no meio pululariam gerações e gerações dos chamados indivíduos intermédios, que de tão fodidinhos que vivem o mais que podem aspirar é a que a ignorância e a sonolência os proteja. E assim o medo passou de variável fundadora da civilização a regra distintiva de civilidade e boas maneiras.

2 comentários:

Anónimo disse...

Apesar disto: http://www.petitiononline.com/demissao/petition.html
e confirmado por isto:http:
//ww1.rtp.pt/noticias/?article=376266&visual=26&tema=1

Sobe PS sobe !
(Sondagem para a RR, Expresso e SIC )http://sic.aeiou.pt/online/noticias/pais/sondagemlegislativas.htm
MFerrer

Anónimo disse...

Olha olha, caiu aqui um «incontinente»!

C.