O Estado Marsupial
Depois de ter sido decretado o óbito do chamado Estado Social
toda a comunidade politóloga e sociolofílica se reuniu para desenvolver um novo
modelo de Estado que, para além de lhes continuar a dar trabalho, pudesse igualmente
dar aviamento à quantidade de impostos que começariam a sobejar nas contas
públicas. Tendo acordado em manter uma posição de apriorismo na definição de
Estado, oposta, portanto, à recente tendência pragmatóina, (na qual o Estado é
o que derem os impostos, uma espécie de Estado em regime de trabalho temporário)
os especialistas começaram por construir o enquadramento conceptual para um
Estado neoplatónico, um Algo que tem de
estar ali, leviatanico e seguro, mesmo que não se veja nem sinta.
Arredada a vertente minimalista de Estado-central-da-securitas, em que cada cidadão estaria ligado a um posto de intervenção rápida que enviaria um piquete apenas em caso de arrombamento social, estabilizou-se num conceito de Estado-como-central-de-acolhimento. Afastados os extremos de Estado-sopa-dos-pobres e Estado-resort, as várias sensibilidades centraram-se em torno de modelos mais biológicos, procurando inspiração na natureza que deus nosso senhor nos propiciou na sua infinita magnanimidade e inclusive espírito prático, avant darwin.
A primeira sedução filosófica veio da corrente que desenvolveu o conceito de Estado-concha, naquilo que ficou conhecido como o neo-Bibalvismo. No entanto, rapidamente esta corrente desembocou nos previsíveis rousseauniamismos avulsos, chegando-se a ouvir afirmar que cada cidadão seria uma pérola em potência apenas à espera dum Estado-joalheiro que se enfeitasse com ele. Quando parecia poder instalar-se um impasse ideológico, um grupo de filósofos sugeriu que se deveria procurar uma fórmula de Estado naquilo que de mais íntimo a natureza humana albergava. Tentativamente simularam-se modelos de Estado-vulva, tomando em consideração que a sodomia já está demasiado usada e que haveria de voltar às origens, nas quais o Estado era o grande fecundador de consciências, uma espécie de viveiro de sonhos de cidadania, liberdades & magnas cartas. Alertados para o problema que se levantaria com o ressurgimento das nações-vulva, que automaticamente atrairiam uns problemas do caralho, souberam ainda assim não esmorecer e, vendo o entusiasmo crescente dos defensores dum Estado-balancete eternamente depende do espasmo fiscal, e em paralelo as mãos caídas dos herdeiros desfalcados do tal Estado-Social, alguns elementos dum think-tank denominado 'roer-o-osso' reuniram-se em segredo para formular uma Teoria de Estado que o voltasse a colocar no coração das pessoas.
Surgiu assim o modelo consensual de Estado-Marsupial. Este tipo de Estado é claramente uma mais-valia e uma solução de compromisso, no qual o cidadão pode encontrar o aconchego que precisa mas em que, simultaneamente, pode pôr de vez em quando a cabecinha de fora para tomar ar. O Estado-Marsupial tem uma característica fundamental: está sempre disponível; mesmo que não existam grandes recursos há sempre um mínimo de calor interior que permitirá aquecer o cidadão, dar-lhe guarida, e inclusivamente ajudá-lo a dar o salto para qualquer sítio. O próprio sub-grupo recentemente criado dos refundacionistas, que pretendiam criar um modelo de estado-das-sobras, considerou que este modelo marsupial não era incompatível desde que o cidadão não desse muitos traques fora da bolsa, pois nesta fase não se pode perder nada independentemente do que cheire. Espera-se agora que as instituições se adaptem progressivamente e inclusive não se dêem reacções despropositadas de lobis mais envolvidos em compromissos com o estado-coninhas, também conhecido como o estado liberal.
Arredada a vertente minimalista de Estado-central-da-securitas, em que cada cidadão estaria ligado a um posto de intervenção rápida que enviaria um piquete apenas em caso de arrombamento social, estabilizou-se num conceito de Estado-como-central-de-acolhimento. Afastados os extremos de Estado-sopa-dos-pobres e Estado-resort, as várias sensibilidades centraram-se em torno de modelos mais biológicos, procurando inspiração na natureza que deus nosso senhor nos propiciou na sua infinita magnanimidade e inclusive espírito prático, avant darwin.
A primeira sedução filosófica veio da corrente que desenvolveu o conceito de Estado-concha, naquilo que ficou conhecido como o neo-Bibalvismo. No entanto, rapidamente esta corrente desembocou nos previsíveis rousseauniamismos avulsos, chegando-se a ouvir afirmar que cada cidadão seria uma pérola em potência apenas à espera dum Estado-joalheiro que se enfeitasse com ele. Quando parecia poder instalar-se um impasse ideológico, um grupo de filósofos sugeriu que se deveria procurar uma fórmula de Estado naquilo que de mais íntimo a natureza humana albergava. Tentativamente simularam-se modelos de Estado-vulva, tomando em consideração que a sodomia já está demasiado usada e que haveria de voltar às origens, nas quais o Estado era o grande fecundador de consciências, uma espécie de viveiro de sonhos de cidadania, liberdades & magnas cartas. Alertados para o problema que se levantaria com o ressurgimento das nações-vulva, que automaticamente atrairiam uns problemas do caralho, souberam ainda assim não esmorecer e, vendo o entusiasmo crescente dos defensores dum Estado-balancete eternamente depende do espasmo fiscal, e em paralelo as mãos caídas dos herdeiros desfalcados do tal Estado-Social, alguns elementos dum think-tank denominado 'roer-o-osso' reuniram-se em segredo para formular uma Teoria de Estado que o voltasse a colocar no coração das pessoas.
Surgiu assim o modelo consensual de Estado-Marsupial. Este tipo de Estado é claramente uma mais-valia e uma solução de compromisso, no qual o cidadão pode encontrar o aconchego que precisa mas em que, simultaneamente, pode pôr de vez em quando a cabecinha de fora para tomar ar. O Estado-Marsupial tem uma característica fundamental: está sempre disponível; mesmo que não existam grandes recursos há sempre um mínimo de calor interior que permitirá aquecer o cidadão, dar-lhe guarida, e inclusivamente ajudá-lo a dar o salto para qualquer sítio. O próprio sub-grupo recentemente criado dos refundacionistas, que pretendiam criar um modelo de estado-das-sobras, considerou que este modelo marsupial não era incompatível desde que o cidadão não desse muitos traques fora da bolsa, pois nesta fase não se pode perder nada independentemente do que cheire. Espera-se agora que as instituições se adaptem progressivamente e inclusive não se dêem reacções despropositadas de lobis mais envolvidos em compromissos com o estado-coninhas, também conhecido como o estado liberal.
a economia da estupidez
Ser estúpido é algo que requer uma utilização criteriosa de
amplos recursos. Em geral podem encontrar-se 2 grandes tipos de estupidez: a natural
e a elaborada. O primeiro tipo está bastante bem difundido pela espécie e é uma
das chaves mestras da nossa sobrevivência a par do polegar pênsil, do uso do
fogo, do cartão de crédito e da roda. No entanto, mesmo esse nosso talento
inato para colocar a realidade ao serviço das nossas entranhas mais íntimas
exige treino e interacção com vários recursos, designadamente o desprezo pelo
semelhante e , nos casos mais sofisticados, o desprezo por nós próprios.
Deixando um pouco de lado este tipo de estupidez natural, debruçar-me-ei no
segundo tipo que chamarei de estupidez-elaborada. Quando se diz, por exemplo:
não há limites para a estupidez - é precisamente desta que estamos a falar.
A estupidez elaborada tem, desde logo, um ponto de contacto
muito relevante com a natural, trata-se da pose. A pose estúpida é a combinação
do talento natural-estúpido com um trabalho artesanal que inclui trejeitos,
tiques e fosquices, sem menosprezar esgares diversos. É, no entanto, objecto de estudo dos fisionomistas-pantomínicos
e deixamos para outra ocasião. Situemo-nos agora na observação dos mecanismos
mais recorrentes na elaboração da estupidez. Em primeiro lugar temos a fenómeno
da 'sobranceria'. O uso da sobranceria deve ser concretizado de forma muito parcimoniosa,
não se deve esbanjar sobranceria pois se ela transbordar poderá conduzir a que
não sejamos levados a sério. Um verdadeiro estúpido condimenta sempre a sua
sobranceria com momentos de comiseração patética. A comiseração patética
distingue-se da comiseração lúdica porque implica a maior utilização de
trejeitos de lábio e em menor grau os de nariz ou testa (os olhares terão
direito a dissertação específica). É talvez um tema demasiado técnico para este
documento e podemos passar ao segundo elemento constituinte da estupidez-elaborada, trata-se do convencimento-misterioso. Um estúpido-elaborado
apresenta-se sempre senhor de um conhecimento oculto, também conhecido nalguns
fóruns técnicos como o graal-de-merda. Este aleph do estúpido deve concentrar
um efeito anestesiante nos auditórios que o rodeiam e apenas tem de se ter
cuidado com o efeito-fronteira da irritação alérgica. Um estúpido no ponto
rebuçado deve sempre causar irritação mas jamais deve permitir que esta vire
alergia. A alergia é a grande inimiga do estúpido-elaborado e funciona quase
como o mau hálito do padre num confessionário, que, designadamente, pode
fomentar pensamentos perturbadores do género do foda-se perdoa-me lá esta merda
e afasta o bafo de cima de mim. Por último, e para não nos alongarmos neste
estudo que se quer sucinto, - e eu hoje sinto-me sucinto - devemos debruçar-nos
sobre o tema do olhar do estúpido-elaborado. Em primeiro lugar há que afastar o risco de
confusão com o olhar de peixe, pois nem todo o olhar de peixe está afecto a um
estúpido (por vezes é um peixe mesmo) e nem todos os estúpidos têm olhar de
peixe. Uma coisa é clara, e todos os trabalhos de campo que efectuei o
demonstram, o estúpido deve estar dotado de algum esgazeamento de olhar, algo
assim entre a névoa e o alheamento e que vai muito bem juntamente com umas
olheiras discretas. Há, contudo, certos patrimónios genéticos que não permitem
este tipo de olhar e têm de recorrer a outros mecanismos fisionómicos, como sejam o do
carneiro-mal-mortismo que é de bastante mais fácil acesso a qualquer estúpido-em-elaboração. Os olhares com tendência mais inerte poderão ter de se socorrer do
plano B que se encontra no esbugalhamento. Este olhar esbugalhado é algo arriscado, e já ouve
muitos espécimes que foram encarados como meros curiosos, mas afinal acabaram por
funcionar muito bem como estúpidos-cientistas sociais, uma nova sub-espécie em
expansão. À laia de conclusão poderemos dizer que a estupidez elaborada dá-se
muito bem em ambientes de credulidade assistida, ou seja, em situações
históricas nas quais, à falta de catacumbas para nos escondermos duns cabrões
em legião, nos refugiamos em pastiches econométricos, o verdadeiro paraíso
simbólico do novo-estúpido, fazendo as vezes daquilo que o mercedes já
significou para o novo-rico. Não queria no entanto deixar-vos sem uma breve
alusão à nova preciosidade da estupidez moderna que é o uso da filosofia
política como muleta de estupidez. Com o advento do estúpido-com-estudos veio a
tentação de sedimentar a estupidez em algo de semelhante ao que, no passado, o piolho já tinha representado
para o estúpido medieval ou a cabeleira postiça para o estúpido ancien regime.
Hoje o estúpido-culto ancora-se numa visão integrada do mundo, vivendo com uma
espécie de clister hiper-estruturalista sempre enfiado, camuflado, digamos. Assim, é uma estupidez
que resulta muitíssimo bem, sempre fornecida de eficientes retóricas de ocasião,
e permitindo o desenvolvimento sustentado de uma das quinta-essências da
estupidez-elaborada que é o desdém pelo semelhante, conferindo-lhe aquela
auréola de iluminismo requentado de tão belo efeito, e que inclusive vai bem com qualquer tipo de botão-de-punho.
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windianápolis #n
The wind
blew all my wedding-day,
And my wedding-night was the night of the high wind;
And a stable door was banging, again and again,
That he must go and shut it, leaving me
Stupid in candlelight, hearing rain,
Seeing my face in the twisted candlestick,
Yet seeing nothing. When he came back
He said the horses were restless, and I was sad
That any man or beast that night should lack
The happiness I had.
And my wedding-night was the night of the high wind;
And a stable door was banging, again and again,
That he must go and shut it, leaving me
Stupid in candlelight, hearing rain,
Seeing my face in the twisted candlestick,
Yet seeing nothing. When he came back
He said the horses were restless, and I was sad
That any man or beast that night should lack
The happiness I had.
Philip
Larkin in Wedding Wind
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windianápolis #4
O wild West
Wind, thou breath of Autumn's being,
Thou, from
whose unseen presence the leaves dead
Are driven,
like ghosts from an enchanter fleeing,
Yellow, and
black, and pale, and hectic red,
Pestilence-stricken
multitudes: O thou,
Who
chariotest to their dark wintry bed
The winged
seeds, where they lie cold and low,
Each like a
corpse within its grave, until
Thine azure
sister of the Spring shall blow
Her clarion
o'er the dreaming earth, and fill
(Driving
sweet buds like flocks to feed in air)
With living
hues and odours plain and hill:
Wild
Spirit, which art moving everywhere;
Destroyer
and preserver; hear, oh hear!
.
de Percy B. Shelley, in Ode to West Wind
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Pussy Diet
De todos os grandes compensadores psico-fisiológicos da
humanidade ( álcool, tabaco, velocidade e sexo) apenas o sexo não contribui
devidamente para a cobrança fiscal. Por estar muitas vezes associado a
actividades proibidas por lei, nalguns casos penalizado pela chamada moral
vigente, e em muitas culturas ligado aquilo que geralmente se chama a esfera
íntima de cada um, o sexo tem estado arredado da fiscalidade tradicional. Ora,
sendo, destes quatro compensadores, aquele que está presente junto de nós há
seguramente mais tempo e sendo aquele que, julgo, nos está mais amplamente consolidado,
não parece normal que viva arredado dum papel activo de contribuição para a
fazenda nacional. A dieta libidinosa a que o nosso orçamento do Estado se tem
submetido deverá pois chegar ao fim. Até há alguns anos, a prática sexual , ao
contrário dos outros compensadores, não compelia à utilização de nenhum
produto, costume esse que com o tempo se foi alterando via o uso e consequente
comercialização generalizada dos preservativos. Face à dificuldade da
tributação do acto sexual em si, a possibilidade de tributar o produto associado ao
acto parece ser o caminho mais razoável (da mesma forma que não se tributa o
acto de beber e sim os produtos alcoólicos conexos, não se tributa o acto de
fumar mas sim os cigarros ou afins e não se tributa o uso da velocidade mas sim
a compra de viaturas e de refinados petrolíferos). Mesmo que a prática
sexual possa estar associada a mais produtos para além dos referidos
preservativos (toalhetes, motéis, algemas, lingerie ou até vendas para os olhos,
entre outros) afigura-se-me pouco plausível que se alcancem resultados fiscais
convincentes sem a utilização daqueles como matéria colectável. Assim sendo,
dois caminhos se apresentam possíveis: ou a sua comercialização ser totalmente
controlada pelo Estado (como acontece com os produtos alcoólicos ou até o
tabaco nalguns países), ou a tributação ser exclusivamente efectuada no produto,
independentemente dos seus canais de distribuição, com a obrigatória e solene selagem oficial. Na primeira modalidade
poderiam utilizar-se as redes de lojas do cidadão, ou dos CTT, ou até a
monopolização de novas máquinas dispensadoras a licenciar. Poder-se-ia
inclusive conceder alvarás para lojas acreditadas (com a consequente receita
adicional) o que até permitiria revitalizar sectores actualmente em esforço
como a restauração ou as imobiliárias, constituindo-se assim um apetitoso
cluster dos preservativadores, ou , passe o trocadilho neologístico, os novos condomínios. Se esta medida pode causar,
à primeira vista, alguma estranheza, convenhamos que é meramente
circunstancial, pois, repare-se bem, também não está no núcleo conceptual dos
conceitos de beber álcool, fumar ou andar de carro a noção de que são actividades tributáveis, sendo
que a colecta a elas associada é absolutamente artificial e só nos está
entranhada por mera acostumação. Constataremos até que, neste caso, cada
contribuinte sentirá que a sua participação no Orçamento do Estado é algo que
lhe está bem junto ao corpo, numa verdadeira fiscalidade de proximidade, como
uma segunda pele. Será obviamente natural que esta medida de tributação avulsa,
e de alguma forma de emergência, leve a comportamentos de ajuste ou até evasão,
quer sejam eles a utilização de alternativas sexuais, quer sejam níveis de abstinência
mais elevados que os previstos pelos modelos, quer sejam o mero contrabando ou
contrafacção. No entanto, uma coisa é clara, poderá não ser o fim da pica mas
seguramente dará algum descanso à crica.
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a economia do pensamento
Desaparecidas as ideologias em parte incerta e depois de uns
anos à volta de super-estruturas de desenrasca tipo civilização, ocidente,
tolerância, ética e outras avulsas da família das convicções, aterrámos na era
dos conceitos. Como estamos ainda numa fase embrionária escondemo-nos frequentemente
em figuras de estilo de maior ou menor efeito, metáforas de atavio, fazendo
apelo a uma imaginação que vive descompensada por falta daquilo que antes lhe
dava gás que eram os famosos valores. Assim,
nesta era emergente dos conceitos - à qual ainda nos adaptamos quais
netherdales do pensamento abstracto - já tivemos de pôr de lado as grandes
motivações e os grandes desafios e estacionámos na berma, junto ao maravilhoso
mundo dos possíveis. Começamos, e bem, por baixo. Definimos os novos
sofrimentos, as novas decadências e assim pensamos fugir aos cálculos piedosos
da miséria e do desespero. De rabo a dar definimos como roubo a falta de jeito
e como bomba o apertão, dando assim algum lastro para os conceitos terem espaço
para montar a sua tenda. O Capital e a Bíblia, cumprindo o seu ciclo, voltam a alimentar os mesmos comensais.
Quando não se sabe, ensina-se, quando não se sabe ensinar, explica-se, quando
não se sabe explicar conceptualiza-se. Vivemos o conceptualismo criativo. Nem
está mal visto.
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a economia da virtude
Há muito que o consumo tinha substituído a fé como principal motor da
actividade e da ilusão humana. O consumo veio acompanhado de conceitos
sedutores como a imaginação, a felicidade, o bem-estar, a liberdade, o
progresso, e a fé foi ficando mais ligada a corrupção de almas, a liturgias
bafientas, a estruturas de opressão emocional, a fanatismo , a irracionalidade
e a regressão. Ora nestes tempos em que o processo de moeda ao ar que impregna
toda a evolução humana entrou numa fase em que nos é apresentada a outra face
temos para nos entreter o confronto semi-titânico entre a austeridade e a
temperança. Assim, enquanto a austeridade nos revela os lados negros da
privação, da insatisfação, da frustração, a temperança tem o seu tempo de
antena para nos indicar o caminho da sobriedade, da paciência e da discrição. A
opção para quem se sente fodido e mal pago é empertigar-se casto e ponderado. Se
antes era preciso separar o consumo do desperdício, hoje é preciso separar a
temperança da miséria.
Antes uma boa perspectiva na mão do que dois realismos
mágicos a voar.
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Windianápolis #3
No boughs
have withered because of the wintry wind;
The boughs
have withered because I have told them my dreams
WilliamButler Yeats, in The Withering of the Boughs
William
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Tsunicómio IV - Alvaladoscopia
Enfiaram um tubo pelo rabo do sporting adentro e foram
encontrar uma espécie de pandilha doutro mou, dum memorandum of unconsciousness;
mas nem tudo é o que parece. A parede estava bem lubrificada, todavia contraía-se
por tudo e por nada. O ecrã mostrava movimentos espasmódicos por dá cá aquela
palha, uns divertículos faziam de pombinho e outros de gralha, enquanto alguns
procuravam um treinador que os salvasse outros procuravam um árbitro que não os
tramasse, em ambos os casos evitando a cólica e aproveitando o flato para
energia eólica. Tratava-se dum exame de urgência não houve tempo de esvaziar
bem a tripa oleosa e ainda para lá havia restos de pentelhices misturadas com a
mucosa. Foi avaliada a situação e o diagnóstico dito um em formato solene, que lá
se instalara uma marosca perene. Seriam Lampiões? Sócrates? Um perdido par de
colhões? Algum benefício fiscal desgarrado? Ou restos dum penalty mal
assinalado? Uma virgula mal colocada num decreto? Uma maioria anulada por um
veto? Retirou-se um bocado para análise. Com a bosta bem posta na lamela,
ninguém dava por ela. Pediu-se paciência, circunspecção, coalescência e a uma
puta armada em menina pediu-se cuidado com a verrina. As células acabaram por
dar de si, e mesmo com um aspecto palúrdio houve quem dissesse que só servia um
treinador que custasse um balúrdio. Foram a sortes, e como não havia
treinadores incluídos no Plano Nacional de Leitura, optaram por contratar um
tsu, um treinador saído do olho do cú.
Tsunicómio III
A lagartada afunda-se e nós andamos preocupados com a merda
do país como virgens néscias. O afundamento leonino é algo que nos devia pôr
todos a pensar: há na realidade algo que está por dentro e tudo mina. Não pode
ser só incompetência, não pode ser apenas cancro, não pode ser apenas aldrabice,
não pode ser apenas azar. Mas também seria abusivo dizer que o Sporting encarna
o grande mistério da Impenetrabilidade do Ser, ou seja, meia dúzia de caralhos
que não conseguem - há anos! - pôr a jogar outra meia dúzia de caralhos (não se
escandalizem com tanto caralho e pensem como as boas gentes do norte que dizem
que caralho é virgula) não é o suficiente para definir um problema metafísico.
No entanto, algo estará quanticamente no interior daquele cabrão de sistema
chamado sporting club de portugal e que compete com o misticismo judeu, a
cabeleireira da judite de sousa e até aqueles modelos empíricos do gaspar devidamente
benzidos por borges & macedos. Temos excesso de interioridade e excesso de
litoral, somos demasiado densos, muita uva e pouca parra, concentramos
demasiada energia e precisamos de escapismos seleccionados, mas desgraçadamente
as balizas adversárias não têm estado no caminho dos nossos escapes, tal como
não foi na praia do bom senso que desembarcaram as derivadas de gaspar. Pensemos estar a ensaiar mais um método de interrupção involuntária da sensatez, e
que algo eternamente adiado pode afinal ser apenas um embrião embriagado.
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Windianápolis #2
This is how
the wind shifts:
Like the
thoughts of an old man,
Who still
thinks eagerly
And
despairingly.
The wind
shifts like this:
Like a
human without illusions,
Who still
feels irrational things within her.
The winds
shifts like this:
Like humans
approaching proudly,
Like humans
approaching angrily.
This is how
the wind shifts:
Like a
human, heavy an heavy,
Who does
not care.
Wallace Stevens, «The Wind shifts» in Harmonium,
1923 (recolhido da "Antologia" ed. Relógio de Água, 2005)
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Tsunicómio II
No dia da sua implantação o presidente da dita nem sequer
pode sair à rua. Não é bonito e não há busto que disfarce o desconforto que
isso devia significar para quem tenha um pingo de sensibilidade e bom senso na
pinha. Não se trata de um efeito secundário da hibernação de soberania em que
vivemos, é importante que se diga, trata-se duma má ponderação do momento que
vive o País. Um presidente que não está próximo do país, mesmo que essa
proximidade fosse litúrgica ou fetichista, perdeu a sua função. Já não é
símbolo, já não é refúgio, já não é inspiração e muito menos referência,
tornou-se um saco de boxe, um desabafador, uma espécie de relvas com estudos.
Com a relação entre cidadão e Estado a ficar reduzida e estrangulada numa
relação de sacador-contribuinte vêm abaixo todos os pilares duma sociedade que
se arrastou nos séculos a tentar eliminar despotismos, prepotências e
iniquidades. O presidente eleito duma República devia dar o peito ao saque e ter consciência
que não está ali por nascimento ou golpe de estado, que tem um compromisso de
lealdade para com aqueles que aqui nasceram sob pena de, com a sua pose, se
tornar num portas de boliqueime. As instituições são importantes quando
significam uma organização de poderes e conhecimentos, quando anulam os efeitos
duma turba raivosa ou duma facção sinistra, quando fazem a ligação entre cada indivíduo e todos os indivíduos. O Presidente da República Portuguesa não pode
ser o Administrador duma Fundação de Senadores. Para ser a salvaguarda dos
direitos das pessoas não basta a representatividade, é exigível a comunhão. Ora
actualmente a comunhão que se vive nem mística é, resume-se a um solilóqio num qualquer pátio da galé. E cá fora o povo feito ralé.
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Tsunicómio
Um dos paradoxos básicos da eficiência é que: o mercado será tanto mais eficiente quanto
menor for o nível de eficiência apercebido pelos investidores. Foi como que apostando numa extrapolação teórica deste
paradoxo que muitas medidas orçamentais foram sendo tomadas: os contribuintes iriam eficientemente na onda
porque não percebiam o que estaria realmente por detrás da coisa. Alguma ignorância era assim uma variável
importante do modelo. Mas
aparentemente incorporamos um tal nível de ignorância que faz dar a volta aos
ponteiros do modelo e demos cabo dele. Nem os paradoxos resistem.
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