Desaparecidas as ideologias em parte incerta e depois de uns
anos à volta de super-estruturas de desenrasca tipo civilização, ocidente,
tolerância, ética e outras avulsas da família das convicções, aterrámos na era
dos conceitos. Como estamos ainda numa fase embrionária escondemo-nos frequentemente
em figuras de estilo de maior ou menor efeito, metáforas de atavio, fazendo
apelo a uma imaginação que vive descompensada por falta daquilo que antes lhe
dava gás que eram os famosos valores. Assim,
nesta era emergente dos conceitos - à qual ainda nos adaptamos quais
netherdales do pensamento abstracto - já tivemos de pôr de lado as grandes
motivações e os grandes desafios e estacionámos na berma, junto ao maravilhoso
mundo dos possíveis. Começamos, e bem, por baixo. Definimos os novos
sofrimentos, as novas decadências e assim pensamos fugir aos cálculos piedosos
da miséria e do desespero. De rabo a dar definimos como roubo a falta de jeito
e como bomba o apertão, dando assim algum lastro para os conceitos terem espaço
para montar a sua tenda. O Capital e a Bíblia, cumprindo o seu ciclo, voltam a alimentar os mesmos comensais.
Quando não se sabe, ensina-se, quando não se sabe ensinar, explica-se, quando
não se sabe explicar conceptualiza-se. Vivemos o conceptualismo criativo. Nem
está mal visto.
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