Na semana passada as sapatarias Laurentino fizeram uma
promoção singular: por cada sapato esquerdo ofereciam o direito. Desde que o
comércio nacional foi compelido à oferta generalizada dos seus produtos em regime
de unidose, que as mangas das camisas são facturadas à parte e as sapatarias ficaram
obrigadas a vender em separado cada unidade de sapatos. O que parecia ser uma
operação de marketing bizarro acabou por se saldar numa jogada de sucesso para
as sapatarias Laurentino, e julgo até que para a semana a Super Bock vai lançar
a primeira imperial apenas com espuma com a marca 'Mustacha' e a metade do
preço. Esta crise tem agilizado a imaginação nacional e inclusivamente a
televisão pública já franchizou as orelhas de Rodrigues dos Santos - as
rodriguelhas - que agora podem ser utilizadas pelos mais diversos pivots pelo
mundo inteiro para proveito e gáudio dos espectadores. Somos hoje uma economia
de vanguarda, onde o preço de quem vende deixou de ser um custo para quem
compra, o que interessa é o espírito da
coisa, a nossa reinvenção do zeitgeist,
a que o escritor Ernesto Mourão já chamou de oazeitégás, querendo demonstrar
que para um português nos dias que correm nada se deve desperdiçar e se já
sabíamos que se quem mais chora menos mija, agora também se aplicará o: quem
mais tempera menos bufa. Não é por isso de estranhar que, no último mês, o
produto fabricado em Portugal que mais contribuiu para as nossas exportações,
depois do WV Sharan, tenha sido a caneca das caldas com a pilinha do nosso
Cossaco (os tin-tins são vendidos como equipamento extra), desaparecida em circunstâncias ainda por apurar aquando do falecimento
da escritora Custódia Passos, provando-se assim que somos um povo que se
habituou a foder com aquilo que tem mais à mão. Um país do caneco.
A Unidose
Etiquetas:
Flávio Cossaco
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2 comentários:
não me diga que veio à louça das caldas...caneco.
beijinhos
As caldas estão sempre no coração de qualquer português que se preze! beijinhos
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