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O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p´ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P´ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
‘Quadras’, de Fernando Pessoa, cantado por Camané, no disco ‘Esta coisa da alma’
O Beicinho
Parece-me evidente que o beicinho continua a ser uma manifestação ergonómica da personalidade bastante desvalorizada, se não mesmo injustamente desprezada. Apesar de devidamente apreciada nos exemplares ainda em período de iniciação mamífera, tido inclusive como um dos primeiros esgares de maturidade emocional (o correspondente ao peidinho na maturidade gástrica), o beicinho vai posteriormente perdendo o seu valor iconoclástico e ficando remetido para um simbolismo decadente quase pedo-académico.
Encaro assim a privação do beicinho no humanóide adulto como uma das mais significativas catástrofes culturais e antropológicas, bem ao nível de outras privações mais célebres, seja na literatura, seja mesmo na vida.
O movimento clássico do beicinho (que deve ser devida e esteticamente diferenciado da boquinha de canastrão cinematográfica, género bruce willis quando inspecciona os disjuntores no assalto ao arranha céus) incorpora dois constituintes fundadores da fisionomologia criativa: a extensão e a curvatura, e que exigem análise sucinta mas separada.
A ligeira expansão à proa que a zona labial revela neste processo reflecte, geralmente, o grau de insatisfação instalado. Se a insatisfação apresentar uma tal relevância que a coloque já em níveis técnicos de tristeza, o movimento de extensão beiçal terá tendência para exibir algum vibrato, distanciando-a assim de forma decisiva do mero amuo, que na gíria se chama de beicinho d’anjo. As personalidades mais dadas à complexidade afectiva costumam igualmente incorporar neste movimento a retracção das zonas de contacto labial (leia-se a parte inferior do lábio superior e a parte superior do lábio inferior) provocando uma ilusória figura de insuflação, mas que nunca quer significar, e jamais confundir-se, com o corriqueiro enfartamento.
Mas julgo ser na gestão da curvatura onde se encontra a verdadeira pedra de toque do beicinho. Trata-se duma váriavel critica numa fórmula facial de excelência. Nem em excesso, o que poderia facilmente descambar semioticamente em displicência, nem em defeito, pois poderia assemelhar-se a um sorriso em fase de amarelamento, a curvatura do beicinho deve desenhar um arco ainda típico de fase pré-gótica, deixando bem claro que estamos perante um momento crucial da interioridade, durante o qual se intersectam na alma os sentimentos mais nobres com as sensações mais desesperadas.
É pena que dentro dos subprodutos da socialização e amadurecimento humanos também se tenha incluído a anulação da exibição serena dalguns dos nossos instintos mais profundos e belos. Sem o beicinho, o homem adulto perdeu assim um dos instrumentos de superlativa eloquência da expressão fisionómica da alma, colocando nos olhos, nas palavras, e nas erupções da pele todo o fardo comunicacional.
Encaro assim a privação do beicinho no humanóide adulto como uma das mais significativas catástrofes culturais e antropológicas, bem ao nível de outras privações mais célebres, seja na literatura, seja mesmo na vida.
O movimento clássico do beicinho (que deve ser devida e esteticamente diferenciado da boquinha de canastrão cinematográfica, género bruce willis quando inspecciona os disjuntores no assalto ao arranha céus) incorpora dois constituintes fundadores da fisionomologia criativa: a extensão e a curvatura, e que exigem análise sucinta mas separada.
A ligeira expansão à proa que a zona labial revela neste processo reflecte, geralmente, o grau de insatisfação instalado. Se a insatisfação apresentar uma tal relevância que a coloque já em níveis técnicos de tristeza, o movimento de extensão beiçal terá tendência para exibir algum vibrato, distanciando-a assim de forma decisiva do mero amuo, que na gíria se chama de beicinho d’anjo. As personalidades mais dadas à complexidade afectiva costumam igualmente incorporar neste movimento a retracção das zonas de contacto labial (leia-se a parte inferior do lábio superior e a parte superior do lábio inferior) provocando uma ilusória figura de insuflação, mas que nunca quer significar, e jamais confundir-se, com o corriqueiro enfartamento.
Mas julgo ser na gestão da curvatura onde se encontra a verdadeira pedra de toque do beicinho. Trata-se duma váriavel critica numa fórmula facial de excelência. Nem em excesso, o que poderia facilmente descambar semioticamente em displicência, nem em defeito, pois poderia assemelhar-se a um sorriso em fase de amarelamento, a curvatura do beicinho deve desenhar um arco ainda típico de fase pré-gótica, deixando bem claro que estamos perante um momento crucial da interioridade, durante o qual se intersectam na alma os sentimentos mais nobres com as sensações mais desesperadas.
É pena que dentro dos subprodutos da socialização e amadurecimento humanos também se tenha incluído a anulação da exibição serena dalguns dos nossos instintos mais profundos e belos. Sem o beicinho, o homem adulto perdeu assim um dos instrumentos de superlativa eloquência da expressão fisionómica da alma, colocando nos olhos, nas palavras, e nas erupções da pele todo o fardo comunicacional.
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Chico esperto
Chicô buarqui ou buarc ou o caralho sempre foi na sua essência um ícone tropicálio para gajas, honra lhe seja feita, gajas de todas as idades, mamas & feitios. Mas Homem que é homem nunca deverá lançar encómios exagerados ao dito cantor, e apenas está autorizado a ter um ou outro disco de êxitos que demonstrará com evidências ter pertencido à irmã mais velha, ou, na falta, prima chegada com quem lanchava no verão. Certo é também que o supracitado cantor se revelou in su dia com carteira de escritor, espanto meu, - e doutros com igualmente elevado e apurado gosto - com um ‘Estorvo’ bem apresentável. Ora então tínhamos: um gajo que a) faz musiquinha laroca que fica no ouvido a renhaunhauzar; b) escreve livrinho apresentável e nem precisou de ser encalhamaçado; e c) ainda para mais tem sucesso quase generalizado no exigente mundo das gajas; ou seja: é inveja garantida para o homem representante do vasto universo do chamado homem normal. Só lhe falta também fazer banda desenhada ou ir parlamentar para a Europa com franja negligé. Mas o espanto torna-se maior quando uns anos depois ele se sai com ‘Budapeste’, um livro todo ele também bastante mais além do que o apresentável e, fixem-se nisto, bem distante daquela escrita polvilhada de insinuaçãozinha e levemente erofilizada que tipicamente faz sucesso com gajas, certo tipo de. A escrita-sensível-para-mulheres-ligeiramente-cultivadas está devidamente prototipada com rapaziada género Kunderas, Austeres, e Calvinos, e mais recentemente também obsequiada por aquele escritor de piña colada, de seu nome agualusa, uma espécie de tintim de barbicha para gajas de cio instável, mas registem aí: o tal de buarque não é esse tipo de escritor, mesmo que, em cada 2 leitores de Seu Chico, 3 possam ser mulheres oprimidas pela sensualidade, segundo sondagem secreta da euroexpansão com a devida distribuição de indecisos. O cabrão, - e só pode sê-lo, face ao circunstanciado acima sumamente exibido - fez agora uma fusão cheirosa de Roth & Assis, - que se lê com imenso e raivoso gosto - e não tarda, se lhe derem um fim do mundo e um carrinho de supermercado ainda nos escreve uma ‘Estrada’ em bossa nova. Não é bem como um bloco de esquerda, mas também irrita.
Algumas Notas sobre o Aparecimento do Anjo Gabriel a Vitalino Canas
Estava uma tarde solarenga no jardim botânico e a borboleta Alzira brincava aos polícias e ladrões com o aranhiço Vicente, numa harmonia nunca vista para aqueles lados. Junto às palmeiras mexicanas corria uma brisa que transportava Vitalino para os mares do sul enquanto escrevia um discurso sobre a emancipação das tílias, - que Sócrates haveria de dar ao mundo no dia internacional das reservas ecológicas - onde Portugal era descrito como o novo al-mansur, uma Bagdad das mil e uma crises, e onde as únicas escolhas seriam as campas com gladíolos ou as campas com hortênsias.
A certa altura um remoinho de vento exige-lhe a atenção e é recompensado com uma visão de branco galáctico, que cedo percebeu não ser a careca de Jaime Gama. «Salve Canas, que a Vitalinidade nunca te abandone». Vitalino não se desmanchou e tentando mostrar uma determinação ao nível do chefe, disse «Gabriel, vejo que és um anjo positivo e que estais connosco!». Gabriel, que é anjo mas não é parvo, teve alguma condescendência e disse-lhe «Meu Vicalinas, vinha dizer-te que o melhor é o teu PS recolher ao deserto, alimentar-se dos restos dos gafanhotos que o João Baptista deixou, e voltar ao oásis só quando o povo ficar outra vez baralhado». Vitalino encheu-se de brios e não se acanhou: «E até lá, Gabriel, como fazemos? O que vai fazer aquele Grande José que até foi considerado dos mais sexy’s do mundo? Como poderá um país piqueno como o nosso dar-se ao luxo de desperdiçar um homem tão…tão ». Gabriel viu então que tinha de accionar os mecanismos mais pirotécnicos e fez aparecer nas nuvens uma sondagem. «Credo...» disse Vicalinas prostrado, «mas isso são só sondagens…e os anjos por vezes também se podem enganar…ainda há pouco no largo do rato eu mostrei uma ao chefe que tinha feito no meu prédio e que nos dava 73%... ». Gabriel, estupefacto perante a falta de fé de Vitalino, projectou em cima duma canforeira de 20 metros uma imagem de Manuel Alegre, João Cravinho e João Soares a rirem-se e a fazerem bolinhas de sabão. Vitalino, já quase sem forças e esmagado pela visão, e com aquela cara de quem acaba de ser beijado na boca pelo Bruce Willis, entregou-se: «diz-me Gabriel, o que devemos então fazer?» Gabriel, depois de hesitar face ao estado de evidente impreparação mística de Vitalino, lá avançou «vai, e diz ao teu chefe para aproveitar esta fase que se aproxima a tirar um curso de teologia, inclusive eu tenho conhecimentos na área e posso tornar a coisa quase tão fácil como o de engenharia». Vitalino, com o rabo já colado ao musgo, não conseguia conter a incredulidade, «mas se depois de pormos o socialismo na gaveta tirarmos de lá a religião o Louçã vai chamar-nos copperfields de trazer para casa, e então está mesmo tudo perdido», Gabriel suspirou, sacudiu dois pardais das asas (revelações em jardins botânicos têm destes percalços), exortou por graças especiais e com paciência explicou, «Repara, Vicalinas, o poder ao teu chefe caiu-lhe do céu, trazido por uma pombinha de raça sampaia, - já aí ele devia ter tentado perceber mais desse processo teológico – depois tentou os deuses com o candidato soares, e recebeu um valente rugido dos céus, vai daí virou-se para o estilo ‘grande marcha’, que foi refinando com estilo, mas agora como, com a crise e as europeias, ficou sem tempo nem verbas para acabar a grande muralha, só tem duas saídas: ou treina o estilo messias, ou o estilo ecuménico…» Vitalino já pedia a Deus que o transformasse numa liana e só balbuciava «mas como, Gabriel, como?» e o Anjo terminou então a sua mensagem « se seguir a táctica ecuménica começará por prometer ao Miguel Portas um consulado em Gaza, ao Rosas a encomenda duma história de Portugal em fascículos para o diário da republica, e à Drago uma colecção de calças à boca de sino, e por aí fora, mas se optar pela táctica do messias, começa a dizer ao Santana Lopes que ele não é homem não é nada se não se candidatar outra vez…» e nesta altura um relâmpago rasga o céu fazendo desaparecer Rafael por entre os cedros do Líbano, e deixando o nosso Vitalino com aquele seu ar de elton john depois de ter sido sodomizado pela tina turner, para além do aranhiço Vicente ter aproveitado a ocasião para fazer a folha à borboleta Alzira, mais, de caminho, a sua prima Dulce que tinha vindo ao bebedouro procurar a aguinha com melaço.
A certa altura um remoinho de vento exige-lhe a atenção e é recompensado com uma visão de branco galáctico, que cedo percebeu não ser a careca de Jaime Gama. «Salve Canas, que a Vitalinidade nunca te abandone». Vitalino não se desmanchou e tentando mostrar uma determinação ao nível do chefe, disse «Gabriel, vejo que és um anjo positivo e que estais connosco!». Gabriel, que é anjo mas não é parvo, teve alguma condescendência e disse-lhe «Meu Vicalinas, vinha dizer-te que o melhor é o teu PS recolher ao deserto, alimentar-se dos restos dos gafanhotos que o João Baptista deixou, e voltar ao oásis só quando o povo ficar outra vez baralhado». Vitalino encheu-se de brios e não se acanhou: «E até lá, Gabriel, como fazemos? O que vai fazer aquele Grande José que até foi considerado dos mais sexy’s do mundo? Como poderá um país piqueno como o nosso dar-se ao luxo de desperdiçar um homem tão…tão ». Gabriel viu então que tinha de accionar os mecanismos mais pirotécnicos e fez aparecer nas nuvens uma sondagem. «Credo...» disse Vicalinas prostrado, «mas isso são só sondagens…e os anjos por vezes também se podem enganar…ainda há pouco no largo do rato eu mostrei uma ao chefe que tinha feito no meu prédio e que nos dava 73%... ». Gabriel, estupefacto perante a falta de fé de Vitalino, projectou em cima duma canforeira de 20 metros uma imagem de Manuel Alegre, João Cravinho e João Soares a rirem-se e a fazerem bolinhas de sabão. Vitalino, já quase sem forças e esmagado pela visão, e com aquela cara de quem acaba de ser beijado na boca pelo Bruce Willis, entregou-se: «diz-me Gabriel, o que devemos então fazer?» Gabriel, depois de hesitar face ao estado de evidente impreparação mística de Vitalino, lá avançou «vai, e diz ao teu chefe para aproveitar esta fase que se aproxima a tirar um curso de teologia, inclusive eu tenho conhecimentos na área e posso tornar a coisa quase tão fácil como o de engenharia». Vitalino, com o rabo já colado ao musgo, não conseguia conter a incredulidade, «mas se depois de pormos o socialismo na gaveta tirarmos de lá a religião o Louçã vai chamar-nos copperfields de trazer para casa, e então está mesmo tudo perdido», Gabriel suspirou, sacudiu dois pardais das asas (revelações em jardins botânicos têm destes percalços), exortou por graças especiais e com paciência explicou, «Repara, Vicalinas, o poder ao teu chefe caiu-lhe do céu, trazido por uma pombinha de raça sampaia, - já aí ele devia ter tentado perceber mais desse processo teológico – depois tentou os deuses com o candidato soares, e recebeu um valente rugido dos céus, vai daí virou-se para o estilo ‘grande marcha’, que foi refinando com estilo, mas agora como, com a crise e as europeias, ficou sem tempo nem verbas para acabar a grande muralha, só tem duas saídas: ou treina o estilo messias, ou o estilo ecuménico…» Vitalino já pedia a Deus que o transformasse numa liana e só balbuciava «mas como, Gabriel, como?» e o Anjo terminou então a sua mensagem « se seguir a táctica ecuménica começará por prometer ao Miguel Portas um consulado em Gaza, ao Rosas a encomenda duma história de Portugal em fascículos para o diário da republica, e à Drago uma colecção de calças à boca de sino, e por aí fora, mas se optar pela táctica do messias, começa a dizer ao Santana Lopes que ele não é homem não é nada se não se candidatar outra vez…» e nesta altura um relâmpago rasga o céu fazendo desaparecer Rafael por entre os cedros do Líbano, e deixando o nosso Vitalino com aquele seu ar de elton john depois de ter sido sodomizado pela tina turner, para além do aranhiço Vicente ter aproveitado a ocasião para fazer a folha à borboleta Alzira, mais, de caminho, a sua prima Dulce que tinha vindo ao bebedouro procurar a aguinha com melaço.
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La vie au Tanga; Banjos e Harmónios
Estão quase a chegar as rainhas cláudias
Uma coisa enerva e dalguma forma exaspera a direita portuguesa: o sucesso do Bloco de Esquerda. E irrita, de facto. Aparentemente superado – e nas urnas – o estigma seminarínico de Louçã, que vai passeando incólume uma semi-aurea com lastro revolucionário de bancada e pluma, alcançam eleitorado sem sequer abusar muito do culto personalístico, e até, reconheça-se, com uma arriscada estratégia de pulverização de egos. Conseguem inclusive enfiar uma miúda - que não envergonha - nos cartazes sem ser apelidada de coisus berlusconicus. Mas o que mais irritará a direita popular é que acaba por ser ela própria a ter de assumir as despesas do estalinismo democrático para alcançar algum sucesso eleitoral, mesmo que isso lhe possa custar o envio dum sex simbol para Bruxelas, e uma suplementar despesa em blasers com o líder crónico. Estragando poucas famílias, a esquerda-em-formato-bloco dissemina-se num pântano – lá está ele outra vez – de falsa irreverência, literacia de cuspo, e anti-socratismo, como que ignorando o destino de extinção que a história lhe tem reservado, obviamente, de brinde para daqui a uns tempos. Irrita, de facto. Passeiam a careca de fusão do iluminismo comunista com o charme burguês, - que lhes foi descoberta logo desde o início – agora já sem necessidade de boina, porque garantiram uma corte de fiéis para a afagarem com gosto, movidos pelo sempre terno e sedutor amor ao contra-poder. Enquanto a direita tem de revolver bem no saco para ir encontrando estrelas que aguentem decentemente uma maquilhagem e um penteado negligé, a nossa esquerda-berloque vai sacando em leque uns-qualquer-uns como quem não quer a coisa. A direita semi-liberaldina, surpreendida pelo sucesso da estratégia de arrolamento de votos on the blocks, não está a aguentar bem a cena, e é um sapo difícil de continuar a engolir, temos de convir, até porque está cada vez mais inchado, mesmo tendo-se dado ao luxo de sacudir Sá’s-fernandes como quem faz purgas com perfume. Enquanto não vierem as cisões e os envenenamentos, a louçania vai continuar a fazer medrar cogumelos de esponjosa e fúngica ideologia, alimentando-se até da oxigenação que a decadência de Sócrates e a irritação da direita lhe fornecem, e o mais que esta pode começar a tentar fazer é pôr-se a procurar umas agripinas e messalinas para andarem com os revolucionários ao colo. Mas é de irritar, realmente.
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La vie au Tanga
Manifesto pela Desigualdade
A desigualdade no acesso ao casamento civil é uma questão de justiça que merece o apoio de todas as pessoas que se opõem à parvoíce e à banalização.
Uma das grandes evidências da criação - desde que nos libertámos das filosofias impregnadas de má jeropiga idealista - é que somos todos muito desiguaizinhos benza-nos Deus. Aliás este próprio Deus quando por cá andou, perdoe-se o plebeísmo da expressão, tratou todos de maneira diferente, desde um Lázaro que ressussitou, até aos vendilhões que expulsou, já para não falar dos ladrões que com ele arrumaram as botas no gólgota. E se um ou outro cego foi curado por Jesus, nunca insinuou que éramos todos ceguinhos. A igualdade é por isso uma construção piedosa e meramente retórica e instrumental, e mesmo na religiosíssimamente correcta declaração ‘somos todos filhos de Deus’ não se arrisca tal arrojo, sabe-o bem quem experimenta a paternidade em qualquer das suas versões mais ou menos cinematográficas.
Ora sendo a desigualdade perante o outro, perante a natureza em geral, e perante deus, absolutas evidências empíricas, exigir à lei que venha pôr cobro a essa malandrice da criação é, obviamente, pedir-lhe muito, tanto mais que apenas dar-se a perceber já não seria mau de todo.
É por isso que o esforço que as leis devem fazer não é o de ir em busca dessa quimeralada, mas antes aliviar (sem relaxar) aquilo em que ela – a desigualdade - possa ser um excessivo fardo, e potenciar aquilo em que ela possa ser uma bênção.
Sendo tanbém uma curiosa realidade da criação que certas almas se empaneleirem umas com as outras, (seja mais porque nasceram assim, ou seja mais porque viram na televisão, ou seja mais porque o paizinho respectivo não lhes deu uma pista scalextrix na festa dos 10 anos), a santa lei (ou, como dizem os gajos que tiveram agora 26% dos votos: ‘a ética da república’) deve facilitar primordialmente que isso possa ser vivido no máximo asseio e respeito pela vistas. Assim, passar da homolibertinagem obscura ou exibicionista directamente para o casório de cartório sem passar pelo estado intermédio da reserva ecológica, seria o mesmo que pegar numa pele de bezerro e enfiá-la logo à volta da cintura sem a devida lavagem e curtição. Acarinhar e melhorar o exercício da soberana desigualdade não será nunca pela via de mascará-la do seu oposto. O que a natureza e/ou os bons costumes desuniram não deverá a lei unir, fazendo de madrinha de guerra a marujos de doca seca.
Porque sabemos que a luta por uma sã desigualdade nada retira a ninguém, mas antes alarga melhores direitos a mais pessoas, acrescentando dignidade, respeito, reconhecimento e liberdade.
Entre nós, temos agora uma oportunidade para pôr fim ao lariloso processo que visa incluir à pressão uma das últimas corrupções injustificadas na nossa lei. Cabe-nos garantir que Portugal se coloque na linha da frente da luta pelos direitos fundamentais e pelas boas práticas da desigualdade.
Comissão Promotora constituída por ‘gente de carne e osso’
Abílio Pulmão, Adelaide Omoplata, Eduardo Bochecha, Fernanda Glúteo, Joana Tíbia, Nuno Maminha, Luis Falangeta, Francisco Pâncreas, Ana Cotovelo, Alexandra Coxa, António Medula, João Lombinho, Miguel Cartilagem, José Glande, Margarida Costela, Alexandre Virilha, Ricardo Perónio, Inês Beicinho, Diogo Cocsis, Hermano Papudo, Rui Queixada, Vanessa Tripa.
Sincerely,
Uma das grandes evidências da criação - desde que nos libertámos das filosofias impregnadas de má jeropiga idealista - é que somos todos muito desiguaizinhos benza-nos Deus. Aliás este próprio Deus quando por cá andou, perdoe-se o plebeísmo da expressão, tratou todos de maneira diferente, desde um Lázaro que ressussitou, até aos vendilhões que expulsou, já para não falar dos ladrões que com ele arrumaram as botas no gólgota. E se um ou outro cego foi curado por Jesus, nunca insinuou que éramos todos ceguinhos. A igualdade é por isso uma construção piedosa e meramente retórica e instrumental, e mesmo na religiosíssimamente correcta declaração ‘somos todos filhos de Deus’ não se arrisca tal arrojo, sabe-o bem quem experimenta a paternidade em qualquer das suas versões mais ou menos cinematográficas.
Ora sendo a desigualdade perante o outro, perante a natureza em geral, e perante deus, absolutas evidências empíricas, exigir à lei que venha pôr cobro a essa malandrice da criação é, obviamente, pedir-lhe muito, tanto mais que apenas dar-se a perceber já não seria mau de todo.
É por isso que o esforço que as leis devem fazer não é o de ir em busca dessa quimeralada, mas antes aliviar (sem relaxar) aquilo em que ela – a desigualdade - possa ser um excessivo fardo, e potenciar aquilo em que ela possa ser uma bênção.
Sendo tanbém uma curiosa realidade da criação que certas almas se empaneleirem umas com as outras, (seja mais porque nasceram assim, ou seja mais porque viram na televisão, ou seja mais porque o paizinho respectivo não lhes deu uma pista scalextrix na festa dos 10 anos), a santa lei (ou, como dizem os gajos que tiveram agora 26% dos votos: ‘a ética da república’) deve facilitar primordialmente que isso possa ser vivido no máximo asseio e respeito pela vistas. Assim, passar da homolibertinagem obscura ou exibicionista directamente para o casório de cartório sem passar pelo estado intermédio da reserva ecológica, seria o mesmo que pegar numa pele de bezerro e enfiá-la logo à volta da cintura sem a devida lavagem e curtição. Acarinhar e melhorar o exercício da soberana desigualdade não será nunca pela via de mascará-la do seu oposto. O que a natureza e/ou os bons costumes desuniram não deverá a lei unir, fazendo de madrinha de guerra a marujos de doca seca.
Porque sabemos que a luta por uma sã desigualdade nada retira a ninguém, mas antes alarga melhores direitos a mais pessoas, acrescentando dignidade, respeito, reconhecimento e liberdade.
Entre nós, temos agora uma oportunidade para pôr fim ao lariloso processo que visa incluir à pressão uma das últimas corrupções injustificadas na nossa lei. Cabe-nos garantir que Portugal se coloque na linha da frente da luta pelos direitos fundamentais e pelas boas práticas da desigualdade.
Comissão Promotora constituída por ‘gente de carne e osso’
Abílio Pulmão, Adelaide Omoplata, Eduardo Bochecha, Fernanda Glúteo, Joana Tíbia, Nuno Maminha, Luis Falangeta, Francisco Pâncreas, Ana Cotovelo, Alexandra Coxa, António Medula, João Lombinho, Miguel Cartilagem, José Glande, Margarida Costela, Alexandre Virilha, Ricardo Perónio, Inês Beicinho, Diogo Cocsis, Hermano Papudo, Rui Queixada, Vanessa Tripa.
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L’Homme de Trente Ans
Dalguma forma tenho imensa pena. Mesmo. Ou, reformulando num tom mais pragmático: tenho pena de que nos meus trinta anos (‘nos meus trinta anos’ será sempre uma boa expressão) não existissem estas merdas; reparem nisto: aos trinta anos um tipo é parvo com muito mais frescura (e nem queiram saber aos 25), tem uma piada muito mais radicalóide, arma muito melhor as broncas; tem-se uma impaciência mais crocante, mais descomprometida com a memória, menos fodas mal dadas, menos pudores de paternalismo, verbolina mais berrante, pode-se arriscar com sentimentos que ainda não se precisou de reprimir ou enquadrar (foda-se ‘enquadrar’- essa palavra nem era precisa aos 30 anos), dostoievski e camus estão ainda viçosos, e a filha da puta da alma está bem mais diamantina; eu ainda via uma Karenina em cada mulher que me descarrilasse em cima, e apenas via um Freitas do Amaral em cada gajo gordo e chato. Dalguma forma tenho pena que certas músicas de hoje não tenham aparecido quando eu tinha 30 anos, certos livros, certas exposições, certos políticos, certos escândalos, certos terrorismos, certas indiferenças; praticamente tudo estava ali à espera que nós o inventássemos. 30 aninhos, foda-se. Já não se é sashimi e ainda não se é entrecosto; até Jesus se pirou nessa altura. O ‘tempo não se move’, dizia ontem Manuel de Oliveira na televisão. Pois não, o cabrão. Quem não tem pena atire a primeira pedra. Se tivesse a merda das quotas em dia hoje ia votar nos lagartos; chateia-me para o ano ir outra vez ficar em segundo.
E agora uma palavrinha para a santa maturidade, mais a sua serena sabedoria: ide ver se chove que hoje até vos entretínheis.
E agora uma palavrinha para a santa maturidade, mais a sua serena sabedoria: ide ver se chove que hoje até vos entretínheis.
The woman in rose
A existência de quotas para as mulheres (ou quaisquer categorias hormonalmente descriminadas) na política, entre outras vantagens – sempre fui um entusiástico apoiante, registe-se – apresentaria a de trazer para a actividade e debate político um género de peixeirada que, (tirando com os constitucionalistas ex-guardas florestais das ditaduras do proletariado) doutra forma não teríamos acesso. No entanto, este processo poderá também levar à escolha de mulheres discretas, que, e muito bem, encaram a politica como um mero prolongamento da lida da casa, tarefa essa que, como sabemos, se cumpre na humilde e serena – mas eficiente - penumbra do serviço do lar, mesmo que inclua um ou outro tabefe pedagógico na prole biológica ou afectiva.
Continuam a ser assim algumas das representantes do maravilhoso mundo-antes-das-quotas a garantir a frescura do peixe, perdão, do sofisticado discurso político. O trio de grandes mulheres portuguesas que o PS nos apresenta com as cenadoras (como ‘c’ porque quer dizer: ‘as que podem fazer boas cenas’) Edite, Ana & Elisa é uma demonstração disto mesmo. E eu devo confessar que começo a ter um fraquinho pelas três, e penso que a sua escolha revela mesmo a capacidade e olho clínico do PS em condensar -através elas - tudo o que a mulher portuguesa tem alcançado nos últimos anos, na sua luta sem quartel pelas suas legitimas aspirações, (incluindo as lipo) emancipações e implantes vários. Dificilmente um tão perfeito composto de possidonice, brejeirice e balofice se obteria sem o concurso destas três amazonas.
Abreviando. Um fenómeno peri-antropológico é claro e conclusivo: os socialistas não conseguem, nunca conseguiram, nunca conseguirão produzir uma única ‘mulher-política’ de jeito.
Continuam a ser assim algumas das representantes do maravilhoso mundo-antes-das-quotas a garantir a frescura do peixe, perdão, do sofisticado discurso político. O trio de grandes mulheres portuguesas que o PS nos apresenta com as cenadoras (como ‘c’ porque quer dizer: ‘as que podem fazer boas cenas’) Edite, Ana & Elisa é uma demonstração disto mesmo. E eu devo confessar que começo a ter um fraquinho pelas três, e penso que a sua escolha revela mesmo a capacidade e olho clínico do PS em condensar -através elas - tudo o que a mulher portuguesa tem alcançado nos últimos anos, na sua luta sem quartel pelas suas legitimas aspirações, (incluindo as lipo) emancipações e implantes vários. Dificilmente um tão perfeito composto de possidonice, brejeirice e balofice se obteria sem o concurso destas três amazonas.
Abreviando. Um fenómeno peri-antropológico é claro e conclusivo: os socialistas não conseguem, nunca conseguiram, nunca conseguirão produzir uma única ‘mulher-política’ de jeito.
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‘Testamento Vital’
O comunismo é algo que se vive de forma religiosa, tribal e virulenta. Por isso, a categoria dos ‘ex-comunistas’ é algo que merece ser estudado convenientemente. Tiques, vícios, rotinas, complexos. Como lidam com eles, como os camuflam, como lutam constantemente para ainda salvar qualquer coisa de decente do seu traumático passado num cocktail de arrogância e impiedade.
Pelo facto do comunismo em Portugal ter assumido um relevo sociológico ímpar na Europa Ocidental (talvez só comparável em dimensão com o fenómeno Berlingueresco de Itália) é por cá que se encontram alguns dos exemplares mais elucidativos deste fenómeno de mutantes da manipulação psicológica e terapia de carácter.
Todos os ex, sejam eles do que forem, transportam simultaneamente uma força e uma fraqueza. Incapazes das separar como água e azeite, refugiam-se numa pose de posse inflexível da verdade, pois sem a verdade seriam, agora e sempre, incapazes de respirar. Vivem assim a chamada tragédia da posse da verdade. O chão que pisam e o ar que os penteia continuam unidos pela estratégia dialéctica da superação.
Sobreviventes duma submersão utópica quase todos alimentam uma obstinação: vingarem-se da dúvida que nunca os acarinhou no momento certo, nunca os trincou quando ainda eram tenrinhos.
A sociedade, que foi incapaz de lhes criar campos de desconcentração, tenta absorvê-los agora como bolsas ecológicas de convicção, rigor, trabalho e seriedade. Mas os que foram treinados para guardiões dum mundo de condicionamento histórico, dificilmente saberão viver de forma saudável quando a história lhes exige apenas um pouco de desconfiança e bons modos.
Pelo facto do comunismo em Portugal ter assumido um relevo sociológico ímpar na Europa Ocidental (talvez só comparável em dimensão com o fenómeno Berlingueresco de Itália) é por cá que se encontram alguns dos exemplares mais elucidativos deste fenómeno de mutantes da manipulação psicológica e terapia de carácter.
Todos os ex, sejam eles do que forem, transportam simultaneamente uma força e uma fraqueza. Incapazes das separar como água e azeite, refugiam-se numa pose de posse inflexível da verdade, pois sem a verdade seriam, agora e sempre, incapazes de respirar. Vivem assim a chamada tragédia da posse da verdade. O chão que pisam e o ar que os penteia continuam unidos pela estratégia dialéctica da superação.
Sobreviventes duma submersão utópica quase todos alimentam uma obstinação: vingarem-se da dúvida que nunca os acarinhou no momento certo, nunca os trincou quando ainda eram tenrinhos.
A sociedade, que foi incapaz de lhes criar campos de desconcentração, tenta absorvê-los agora como bolsas ecológicas de convicção, rigor, trabalho e seriedade. Mas os que foram treinados para guardiões dum mundo de condicionamento histórico, dificilmente saberão viver de forma saudável quando a história lhes exige apenas um pouco de desconfiança e bons modos.
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