Uma coisa enerva e dalguma forma exaspera a direita portuguesa: o sucesso do Bloco de Esquerda. E irrita, de facto. Aparentemente superado – e nas urnas – o estigma seminarínico de Louçã, que vai passeando incólume uma semi-aurea com lastro revolucionário de bancada e pluma, alcançam eleitorado sem sequer abusar muito do culto personalístico, e até, reconheça-se, com uma arriscada estratégia de pulverização de egos. Conseguem inclusive enfiar uma miúda - que não envergonha - nos cartazes sem ser apelidada de coisus berlusconicus. Mas o que mais irritará a direita popular é que acaba por ser ela própria a ter de assumir as despesas do estalinismo democrático para alcançar algum sucesso eleitoral, mesmo que isso lhe possa custar o envio dum sex simbol para Bruxelas, e uma suplementar despesa em blasers com o líder crónico. Estragando poucas famílias, a esquerda-em-formato-bloco dissemina-se num pântano – lá está ele outra vez – de falsa irreverência, literacia de cuspo, e anti-socratismo, como que ignorando o destino de extinção que a história lhe tem reservado, obviamente, de brinde para daqui a uns tempos. Irrita, de facto. Passeiam a careca de fusão do iluminismo comunista com o charme burguês, - que lhes foi descoberta logo desde o início – agora já sem necessidade de boina, porque garantiram uma corte de fiéis para a afagarem com gosto, movidos pelo sempre terno e sedutor amor ao contra-poder. Enquanto a direita tem de revolver bem no saco para ir encontrando estrelas que aguentem decentemente uma maquilhagem e um penteado negligé, a nossa esquerda-berloque vai sacando em leque uns-qualquer-uns como quem não quer a coisa. A direita semi-liberaldina, surpreendida pelo sucesso da estratégia de arrolamento de votos on the blocks, não está a aguentar bem a cena, e é um sapo difícil de continuar a engolir, temos de convir, até porque está cada vez mais inchado, mesmo tendo-se dado ao luxo de sacudir Sá’s-fernandes como quem faz purgas com perfume. Enquanto não vierem as cisões e os envenenamentos, a louçania vai continuar a fazer medrar cogumelos de esponjosa e fúngica ideologia, alimentando-se até da oxigenação que a decadência de Sócrates e a irritação da direita lhe fornecem, e o mais que esta pode começar a tentar fazer é pôr-se a procurar umas agripinas e messalinas para andarem com os revolucionários ao colo. Mas é de irritar, realmente.
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