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Civilização

Quando foi do «porque no te callas’ de Juan Carlos a Chavez, ficou-me a dúvida se estava ali apenas mais uma excentricidade borbónica ou se havia algo mais. Hoje encontrei a chave num livro do Umbral - comuna que Deus tenha - onde, dissertando sobre o sangue azul num capítulo do seu ‘Amado siglo XX’, acaba por definir-me um dos lados bons da civilização: «Una liberdad de maneras que es una nueva respiración, un aire limpio de gente que es más osada porque es más educada. Eso es lo que sin saberlo veníamos buscando». A boa ousadia é filha da boa educação. É um bocadinho irritante mas é verdade.
Já de aeroportos não se pode dizer o mesmo


‘Toda guerra promueve genios’. Com esta frase errada termina Umbral a sua última crónica em Julho do ano passado.
Quaresma XXV

Ainda a fazer a depilação do existencialismo...

«La gente ha buscado siempre en el arte corroboración ingeniosa de vida. Pero la literatura y el arte son subversivos porque perpetúan y evidencian la distancia entre el hombre y la naturaleza. No es cierto que seamos unas bestias sumisas de la Creación, sino que en algún momento se produjo la ruptura y el hombre está atenido sólo a si mismo. Esa ruptura, las religiones la han capitalizado como caída, como mal.»

…F. Umbral em ‘La noche que llgué al café Gigón’ ( ed Destino Libro, 1980, pg 168), memórias dos seus primeiros tempos em Madrid, numa altura em que procurando o estado de graça ainda não era tão engraçado. Não falava ainda da roupa interior da mme Bovary mas já dizia isto…

«Frente al culturalismo de los críticos, los pintores, en su tertulia de café, casi nunca hacían estas virguerías sino que hablaban de tierras y cocinas, de la calidad de un lienzo (…) o de un barniz, y hasta de los marcos hablaban mucho. De lo que nunca hablaban, benditos sean, era de Metafísica. Conocían su oficio como el tornero conoce su torno, y eso era todo.»

… e o mal de muitos é não se ficarem pela terebentina.
O Poder e o humor



No início dos seus “ Testamento traídos” , Kundera citando O. Paz refere que o humor é uma espécie do cómico que “ torna ambíguo tudo o que toca “

É nesta ambiguidade que se encontra a grande afinidade entre estes dois processos.

a) O poder é mais forte na expectativa do que no seu exercício. No entanto, se não se concretiza não é poder.

Temos assim que o poder tende a ser mais forte em potência do que em acto. As formas insinuadas de humor são também por vezes mais seguras que as formas explícitas. (ex : «... andámos de paixão em paixão até ao pagamento por conta final ». - Ou seja, um poder eternamente em potência descamba numa coisa sem piada nenhuma )

b) O outro outro-eu, quando entrevistou Umbral , sacou-lhe : “ Essa é também a história da minha vida: pôr em prosa toda a minha poesia para poder cobrá-la “ . O poder também tem de gerir esse equívoco : precisa de se transformar em realidade para se concretizar. Tem, portanto, de deixar de ser poder para ser poder. O humor aparece para captar esse momento de pura ambiguidade. ( ex : «...se um GNR que esteja com “ termo de identidade e residência “ me mandar parar na estrada ...quem pede os documentos a quem ?...») Aqui o poder Judicial ao ser exercido banalizou o poder legislativo e o humor não perdoou...

c) H. Bergson no seu livro “ O Riso “ diz a certa altura “ ...Daí o carácter equívoco do cómico . Não pertence nem completamente à arte nem completamente à vida” . Com o poder passa-se o mesmo ( Ex : O ministro Carlos Borrego foi demitido (por Cavaco S.) por ter contado uma anedota inconveniente – Só de nos lembrarmos disto nos rimos , ou seja, uma verdadeira situação cómica do exercício do poder, que é transportada para a nossa imaginação pelos mecanismos do humor.



Dir-se-ia : No fundo, tudo se resume ao facto dos políticos serem um alvo fácil. Até aqui a similitude é cruel : Pensemos num alvo, e vejamos se um político não é também alguém que está aí , mesmo a jeito, com um discurso sempre às voltas do mesmo, e com números espalhados por todo o lado...