E ao terceiro dia a brincar aos mártires no restaurante, a
minha intuição dizia que desta vez é que seria. O restaurante estava cheio e
tive de esperar a minha vez. Foi um teste à tática de observado passivo. Um dos
empregados mais antigos passou por mim e disse-me: senta-se já na mesa do
costume. Ora se há coisa que nunca tive foi mesas-do-costume. Detesto
combinações do costume, e L. sabe isso, era uma afronta típica. Iria provocar
um desencontro e não queria ficar como a má da fita. Num espaço pequeno,
fechado, confinado, é difícil usar o expediente do telemóvel esquecido, mas uma
mulher quando despreza gosta de fazer de boazinha. O substantivo incompreendido
quando é declinado no feminino tem outro requinte. Já sentado foi-me oferecido
um amuse bouche com recado: petinga de escabeche. Não lhes toquei, quis ver a
reacção. Nenhuma. Conclui que já estava a jogar o campeonato do desprezo. L.
ainda nem sequer tinha aparecido, nenhum empregado tinha feito qualquer alusão
a pratos especiais, eu nem sequer já servia para fazer de arlequim. Era um
indigente, alguém a quem suportavam pelos serviços prestados no passado à
Senhora. Uma refeição social de inserção, um faz-te à vida em forma de
escalopes de vitela. A mulher quando muda de homem torna-se uma máquina demolidora
de humilhação. Pedi mousse de chocolate antes de tocar no que quer que fosse.
Comi-a saboreando o doce como se fossem as batatas marcianas do Matt Damon e
saí de queixo empinado para ser atropelado com estilo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário