Mais de dois anos passaram desde a última vez que lá fui. O
restaurante tinha feito ligeiras adaptações à decoração mas que me causaram um imediato
efeito de dejà-vu. Sentei-me rapidamente para não alimentar os olhares. Peguei
na ementa e fingi interesse em lê-la. Ninguém ousou aproximar-se. Estive assim
mais de 5 minutos. Parecia um génesis sem criação. Sabia pouco da vida de L.
durante estes anos e estava curioso. Fixei o olhar num ponto junto da entrada e
fui interrompido por um empregado novo que vinha com espírito de missionário. As
novidades estão aqui, lançou-se. Prefiro um clássico para começar. Faz bem, a
Srª também me avisou que seria essa a sua escolha. Então L. agora era a Senhora - o que me deixou intrigado.
Onde há Senhora há Senhor. Bem, lá para a sobremesa talvez já estivesse mais
esclarecido. Comi um folhado de bacalhau que vinha acompanhado com uma espetada
de tomate cherry com pérolas de mozarela de búfala. Via-se que esta variante de
acompanhamento trazia qualquer código. Talvez fosse uma predilecção do Senhor.
Eu detesto tomate cherry e L. sabe bem disso. Estava dada a mensagem: o tempo
passara e eu passara com ele. Comi com o coração sintonizado em modo raiva. Saí rápido, sem
sobremesa, sem café, como um Noé a sair da Arca com o rabo entre as pernas
depois de não ter havido sequer um aguaceiro. Nem esbocei a intenção de pedir a
conta, também já esqueci se o fiz para testar a reacção se foi apenas por
pura desorientação. Dos distraídos é o Reino dos Céus, já se sabe.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário