Mas quantos é que eles já são? perguntou Deus ao Anjo Lineu.
De facto Lineu nunca tinha pensado nisso. Será que teriam de
controlar o ritmo de reprodução ou aquela invenção do Anjo Mendel sobre um tal
de código genético paralelo à inseminação da alma transcendente seria
suficiente para manter a população controlada.
Numa primeira contagem ficou alarmado: já eram muitos
milhares. Será que a produção de almas acompanha isto, perguntou ele
timidamente ao Altíssimo, que pela primeira vez chamou estúpido a um Anjo em
plenas funções.
Mas organizam-se em tribos, acrescentou Lineu já a medo e
suspeitando que estaria mesmo tudo previsto nas entrelinhas do Plano de
Inseminação Transcendente de Almas… e criam relações estranhas entre eles: «amizade»,
«negócio», «sexo», e inclusive já ouvi uma ou outra referência a um tal de
«amor». Será que do habilis para o sapiens deixámos escapar algum pormenor? Não
tarda ainda inventam a civilização e nós nem damos por isso.
Cerca de 80% envolviam-se no processo de reprodução. Desses,
cerca de metade, envolviam-se de corpo e alma no processo, mas a outra metade
envolvia apenas o corpo. Ambos pariam com a mesma eficácia.
A rivalidade é um sentimento comum, cerca de 90% dos homens
consideram – intimamente - que têm um rival, mas no que toca às mulheres há
referências a um processo reprimido de emancipação. Haverá ajustes a fazer no
PITA?
Começam as distinções entre povos escolhidos e povos
deixados ao deus dará. Há referências explícitas a uns tais de «pagãos». Serão
os que no juízo final vão pagar a conta?
Deixamos isto ir andando ao sabor do vento suão ou avançamos
já com o Anjo Charles? Noutro dia lanchei com ele no Beagle e veio-me outra vez
com a ideia de introduzirmos a tal de «seleção natural» no Programa.
Estou indeciso entre isso e aquela coisa da «luta de classes»
de que fala o Anjo Karl. Mas para já deixamos isto ao Deus dará e pomos o Anjo Malthus
a fazer as contas.