Já estávamos bem dentro do segundo milénio antes da vinda do
Redentor, (para fazer um stress test de campo ao funcionamento do Plano de
Inseminação Transcendente de Almas) quando, para as bandas das margens do Nilo,
um povo, que estava a servir de amostra numa análise de comportamento levada a
cabo por uma comissão de acompanhamento nomeada pelo Anjo Lineu, decidiu armar
barafunda.
Em princípio, estava previsto no PITA que, a dada altura, se
teria de perceber se o homem tinha capacidade ou não de pôr de lado as evidências
e entregar-se – de corpo e alma - àquilo que se chamava ‘Vontade de Deus’. Ou seja,
teria a inseminação da alma transcendente colocado o corpo em sentido, ou os resíduos
de homo habilis que residiam no sapiens ainda tinham muito peso? Era o homo
sapiens ainda um mamífero com uma alma em ovulação, ou estávamos já a falar de potenciais
filhos de Deus com algumas reservas de vida selvagem?
A capacidade (tendência) humana de unir esforços seria
superior à pulsão de isolamento. Confiar seria mais natural que desconfiar.
Resistir seria mais comum que atacar. Mas não havia dúvida que isto de meter ‘uma
alma de PITA’ num corpo nunca havia sido testado e eram imprevisíveis as
relações que se estabeleceriam nestes novos mamíferos transcendentados (com uma
dentada de transcendência) , seja entre eles, seja com os outros animais,
fossem estes gatos amestrados, melgas sedentas de plasma, ou serpentes de estômago
elástico e contrato assinado com o discovery channel.
Gostariam os homens do jugo protetor de outros homens, prefeririam
eles a incerteza da liberdade individual, ou tenderiam apenas para olhar sempre
para ver o que estava a fazer o vizinho do lado? Nem uma temporada a banhos no
Nilo deu para perceber. Talvez os ares do mediterrâneo fossem melhores que os
do mar vermelho.
O aparente Dilema de Deus não era de menor envergadura:
mostro-Me mais ou jogo às escondidas? Jogamos às tabuinhas da Lei ou enfio-lhes com meia dúzia de profecias arrasadoras no bucho?
O anjo Lineu ainda desabafou ao Altíssimo: só sei que cada praga
está a custar-nos para cima de um dinheirão, sinto que estamos a empurrar o Juízo
Final com a barriga. «Não te dei asas para teres sentimentos», foi a Divina resposta.
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